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quinta-feira, 24 de março de 2016

solta-me e seremos amigos

foto de Lara Rocha 

Era uma vez um jovem rapaz que conheceu uma sereia numa  praia muito perto da sua casa. Quando se encontravam, os dois tinham longas conversas e riam, brincavam, mergulhavam, passeavam e gostavam muito um do outro. 
     Com o convívio, a amizade transformou-se em paixão, o rapaz encantou-se pela sereia, mas não era correspondido pela sereia, pois ela gostava muito dele como amigo. 
    Certo dia o rapaz fez uma maldade: pegou na sereia ao colo e levou-a para um grande aquário, todo contente, mas ela não gostou nada: gritou, esbracejou, bateu no vidro, deu voltas e mais voltas dentro do aquário, e o rapaz ria às gargalhadas, mandava-lhe beijos.
RAPAZ  – Finalmente és minha…!
   O gato do rapaz não gostou do que viu e comenta:
GATO – Então…foste à pesca?
RAPAZ (a rir) – Fui…buscar a mulher da minha vida…o meu amor…!
GATO – Como…?
RAPAZ (orgulhoso) – Esta rapariga é a mulher da minha vida…!
GATO – Mas…quem é?
RAPAZ – É uma sereia…não vês…? Olha que linda que ela é…!
     O Gato olha para ela dentro do aquário, arregala os olhos, abana a cauda, sorri, assobia:
GATO – Sim, é mesmo bonita…mas meteste-a dentro do aquário…? Porquê?
RAPAZ (sorri) – Ela é uma sereia…! Tem que estar dentro de água. (p.c) Assim, ela é só minha…ninguém ma vai roubar!
GATO – Ela é a tua namorada?
RAPAZ (sorri) – Oficialmente ainda não…mas eu sei que ela vai aceitar…
GATO (murmura) – Duvido que ela tenha tão mau gosto…! (para o dono) E tu, vais entrar lá para dentro para namorar com ela?
RAPAZ (sorridente) – Sim, claro…! Assim poderei namorar com ela, sem ninguém me chatear…não é romântico?
GATO – (irónico) - Sim…muito…! (p.c) Mas ela não me parece nada feliz…!
RAPAZ (sorridente) – Ora, ora…estás cheio de ciúmes…querias uma gata assim não era…?! Claro que ela está feliz…! (p.c) Venho já…não lhe faças nada…toma conta dela, mas não te aproveites!
    O rapaz sai, o gato abana a cauda e a cabeça, e murmura:
GATO – Que grande asneira…! Isto não vai acabar bem…pobre rapariga…!
   A sereia ficou muito nervosa, triste, não falou mais com o rapaz, virou-lhe o rabo, e murmura:
SEREIA  Que grande besta! Porque é que ele me fez isto? (p.c) Desgraçado…traidor…! Maldito! (p.c) Eu tenho que sair daqui. Mas não sei como…! (p.c) Deve haver alguma maneira…
    A sereia anda lentamente pelo aquário, olha para um lado e para o outro e pergunta-se:
SEREIA – Mas que porcaria de sítio é este…onde é que ele me meteu…? (p.c) Que parvalhão…eu…já passei por aqui… (entra numa gruta artificial) O que é aqui…? (p.c) Que raio…não está aqui mais ninguém…?! Aqui…não tem nada…só calhaus…!
    Ela volta a sair da gruta, olha em volta para o aquário e vê o gato a olhar para ela. Ela murmura:
SEREIA – Não acredito neste…até pôs policia…! (p.c) Ahhh…mas isto não fica assim…não, não…! Ele tem que me tirar daqui…já sei…
     Ela aparece na superfície e grita para o gato:
SEREIA – Ei…óh paspalho…tira-me daqui. (p.c) Quem és tu?
GATO – Eu…só sou o gato do rapaz…!
SEREIA – Onde é que foi aquele imbecil?
GATO – Não sei.
SEREIA – Tira-me daqui…por favor…!
GATO – Eu…até te tirava, porque não concordo nada com isto que ele fez contigo, mas receio que não posso fazer isso…desculpa…
SEREIA (chateada) – Como não podes fazer isso…? Se não concordas com aquele palerma do teu dono…foi ele que te mandou tomar conta de mim não foi?
GATO – Sim…foi.
SEREIA (chateada) – Já viste o que ele me fez…? Sabes alguma coisa sobre isso? Porque raio é que ele me enfiou aqui…?
GATO – Não sei…! 
SEREIA -  O quê? Como não sabes? Estás a encobri-lo e a protegê-lo não é?
GATO - Ele só disse que tu és a mulher dele…ou…namorada…!
SEREIA (chateada) – Mas que mentiroso…isso queria ele…nunca fui namorada dele, nem nunca serei…e agora depois disto muito menos!
GATO – Claro…tens toda a razão…mas ele gosta mesmo de ti…
SEREIA (chateada) – Azar o dele…não quero saber disso…eu quero é que ele ou tu me tirem daqui. (p.c) Achas mesmo que ele gosta de mim…?
GATO – Sim, isso vê-se a quilómetros… e tu gostas dele?
SEREIA (chateada) – Não parece…se gostasse de mim não me prendia neste sitio nojento…pequeno…sem ninguém! (p.c) O que ele está a fazer não é sinal que gosta de mim, muito pelo contrário. Como é que se sai desta porcaria…? Eu aqui nem consigo saltar…! (p.c) Ainda vou afogá-lo…se o apanho. (p.c) Sabes uma coisa…eu até gostava dele como amigo, mas não para ser namorada dele…! Agora, depois disto, nem como amiga gosto dele… (p.c) os amigos não fazem estas maldades uns aos outros…
GATO – Pois…tens razão…mas eu acho que ele não entende isso…
SEREIA (chateada) – Não entende, mas vai ter que entender…a bem, ou a mal…
GATO – Eu sei que estás chateada com ele, mas não é preciso tanto…vais ver que se falares com ele, e disseres tudo o que sentes, ele vai entender e tem que te tirar daí…!
SEREIA (chateada) – E tu não podes tirar-me porquê?
GATO – Porque…sou um gato…
SEREIA (chateada) – Grande coisa…eu sou uma sereia…e daí…?
GATO – Eu…não sei como te tirar daí…
SEREIA (chateada) – Então…metes a pata aqui na água, eu agarro-me a ti…
GATO – Mas…mesmo assim não posso… estaria a trair o meu dono.
SEREIA (chateada) – Assim estás a defender o palerma do teu dono e a concordar com esta maldade…! Não tens que concordar com tudo o que ele diz e faz…
GATO – Não…mas não tenho coragem de fazer isso contra ele…
SEREIA (chateada) – Que raio de gato mais melado…!
GATO (ofendido) – Ei…calma…estás a ofender-me…eu compreendo o teu desespero…mas não te posso ser útil…o meu dono punha-me logo na rua…!
    A sereia mergulha amuada, o rapaz volta a entrar e olha para ela. Ela quase explode de raiva, faz-lhe caretas e bate no vidro, gritando-lhe:
SEREIA – Deixa-me sair daqui…palerma…! Troglodita…!
     O rapaz está eufórico e grita: 
RAPAZ – És minha…! Nunca mais nos vamos separar…minha beleza… (para o gato) Olha que linda…está a seduzir-me…! (o gato espirra e ri-se disfarçadamente) olha que feliz que ela está…!
    Ela começa às cabeçadas e a rodopiar do aquário, muito nervosa. O rapaz fica preocupado, e fala para dentro do aquário:
RAPAZ (preocupado) – Então…? O que é que te deu… (para o gato) deve estar a reconhecer o aquário… (o gato ri-se).
     Ela não responde, e ele volta a perguntar:
RAPAZ – Estás feliz não estás?
   A Sereia faz – lhe uma careta, e cornos com os dedos e vira-lhe o rabo sem responder…
GATO – É claro que não está feliz…
RAPAZ (grita com o gato) – Cala-te…vai dar uma volta…não percebes nada de mulheres…
    O gato sai da sala, sem responder e murmura:
GATO – Vais-te arrepender…! Até parece que percebes muito…!
    O gato mia e esconde-se debaixo do sofá.
RAPAZ – Não dizes nada, meu amor…? Nem olhas para mim…?
    Ela não responde nem olha para ele. Ele insiste e pergunta a resmungar:
RAPAZ – Não percebo…! Não falas comigo porquê?
SEREIA (nervosa grita à superfície) – Ainda perguntas, óh abestronço?
RAPAZ – Estás a insultar-me…
SEREIA (nervosa) – Coitadinho, que pena que eu tenho de ti. Eu devia era afogar-te…!
RAPAZ – Então minha rainha sereia, que má…ias afogar o teu homem…?
SEREIA (chateada) – Homem…? Tu…? Achas que eu tenho assim tão mau gosto…? (p.c) Desde quando é que és meu homem…? (p.c) francamente…nem meu amigo, quanto mais homem.
RAPAZ – Não estás feliz por estarmos finalmente juntos, minha fofinha?
SEREIA (nervosa, grita) – Vai chamar fofinha ao raio que te parta…estúpido…palerma! (p.c) Achas que estou feliz aqui nesta coisa onde me meteste sem perguntar se eu queria?
RAPAZ – É um aquário…uma casa nova que fiz para ti…para ficarmos sempre juntos…para nos vermos sempre…
SEREIA (nervosa, grita) – Num aquário? Não tens vergonha nas fuças…? (p.c) Porque raio é que eu ia gostar de estar num aquário? Ainda por cima para te ver todos os dias…francamente! (p.c) Porque é que me enfiaste aqui, sem me perguntar se eu queria…?
RAPAZ – Mas…se eu te perguntasse tu dizias que não querias! E perdia-te! Mas eu não quero perder-te!
SEREIA (nervosa) – O quê? Estás parvo…? Se eu dissesse que não queria, só tinhas que respeitar a minha vontade! (p.c) Como é que me perdias, se eu estou sempre na mesma praia, no mesmo sítio, não vou fugir…
RAPAZ – Eu estou apaixonado por ti…!
SEREIA (nervosa) – O quê…? É pura fantasia da tua cabeça. 
RAPAZ – Tu não gostas de mim…? Eu amo-te…!
SEREIA (nervosa, grita) – Mas que raio de língua é que estás a falar…? Não percebo nada do que estás para aí a dizer.
RAPAZ – Mas eu estou a falar português…e a linguagem do amor, que toda a gente conhece…! Estou a dizer-te que te amo…que…gosto demais de ti!
SEREIA (zangada) – Mas eu não! (p.c) Sempre gostei de ti, mas só como amigo! Mas depois de me teres trazido para aqui…nem sequer como amigo gosto de ti!
RAPAZ – Mas…estás a magoar-me ao dizer isso!
SEREIA (zangada) – Tu magoaste-me muito mais ao meter-me aqui sem eu querer!
RAPAZ – Não tive escolha!
SEREIA (zangada) – O quê? (p.c) Tira-me desta porcaria! Já!
RAPAZ – Não!
SEREIA (zangada) – Não, o quê?
RAPAZ – Não te vou tirar daí…! Se não perco-te!
SEREIA (zangada) – Ordinário…! Foste a maior deceção de sempre!
RAPAZ – Vá lá…não sejas mazinha…és minha…agora mais ninguém nos vai separar…
SEREIA (zangada, grita) – Tu não podes fazer isto comigo…nem com ninguém!
RAPAZ – Mas…eu não fiz nada de mal…só te estou a proteger…a proteger a minha princesa!
SEREIA (zangada, grita) – Eu não sou tua nem de ninguém…sou uma sereia…pertenço ao mar, não é a um aquário ridículo, nem a um paspalho traidor! Malvado…! (p.c) por muito que te custe, eu não gosto de ti…como tu gostas de mim…! Aliás…depois de me teres atirado para aqui, provaste que não gostas de mim!
RAPAZ – É claro que gosto de ti, por isso é que te trouxe para te ter sempre aqui!
SEREIA (zangada) – Isso não é gostar…é possessão! (p.c) Se gostas de mim tens que me deixar livre, não é aqui presa numa porcaria fechada, esta coisa… (p.c. grita) tira-me daqui…devolve-me ao meu sítio! (p.c) Ou eu nunca mais falo contigo!
RAPAZ – É…não…não pode ser…não te posso libertar!
SEREIA (nervosa, grita) – Achas que vou ser feliz aqui…?
RAPAZ – Claro que vais! (p.c) Tu roubaste-me o coração…agora também te posso roubar a ti…mas não te roubei…só te trouxe para a minha beira!
SEREIA (grita) – Nos teus sonhos…! Mas eu sou real, e não quero estar contigo aqui…Liberta-me! Já! (p.c) Eu estou a ser sincera contigo…não gosto de ti como tu gostas de mim, e não podemos fazer nada contra isso! (p.c) tu fizeste uma coisa muito grave, muito feia e muito má…comigo!
RAPAZ – Não digas isso…foi tudo por amor!
SEREIA (nervosa) – Por amor…por amor…tu não sabes o que isso significa…! (p.c) Não é isto que estás a fazer comigo, podes ter a certeza!
RAPAZ – É amor sim, o que eu sinto por ti, por isso é que te quero junto a mim.
SEREIA (grita, nervosa) – Não! Tu queres é ter-me para ti…possuir-me…fazer-me prisioneira…como estás a fazer agora…mas eu não sou objeto…sou peixe…e tu és pessoa! Tanto os peixes como as pessoas não se podem prender umas às outras, só porque dizem que gostam da outra! Os seus corações ficam unidos…quando são amigos, ou quando se amam, mas não se prendem! (p.c) Prender alguém a nós…como tu estás a fazer comigo não é amar alguém… (p.c) eu…ficando aqui…não vou ser feliz, e se tu me amasses, querias que eu fosse feliz…mas não queres a minha felicidade, por isso não me amas! (p.c) Imagina que eu te prendia lá em baixo, no mar…só porque gostava de ti…e tu gostavas de mim só como amiga…ficavas feliz comigo lá em baixo…preso…sem ser correspondido, sem os teus pais e irmãos…sem as tuas coisas favoritas…como te sentias…?!
   O rapaz faz silêncio e fica pensativo…olham-se fixamente. O gato ri baixinho e murmura:
GATO – Boa, miúda…! Diz-lhas boas…a ti, ele é capaz de te ouvir… (p.c) esta é que tem os tomates… (p.c) mulher de pelo na venta…!
RAPAZ – Acho que…não ia ser muito bom!
S (chateada) – Podes ter a certeza que não ias gostar!
RAPAZ – Mas…eu amo-te sereia! Não consigo ficar sem ti!
GATO – E continuamos na mesma…! Ele ainda não viu bem as coisas…
SEREIA (grita, nervosa) – Cala-te com isso! Liberta-me! (p.c) Ou queres-me perder para sempre?
RAPAZ (a chorar) – Não!
SEREIA (zangada) – Não o quê?
RAPAZ (a chorar) – Eu não quero perder-te para sempre!
SEREIA (grita) – Que coisa chata! (p.c) Então tira-me daqui e leva-me de volta para onde eu vim…!
RAPAZ (a chorar) – Não!
SEREIA (zangada) – Não o quê?
RAPAZ (a chorar) – Eu não te quero devolver! E não te vou devolver…porque não te quero perder…
GATO – Coitada da rapariga…
SEREIA – Óh paspalho…se me libertares, continuamos amigos!
RAPAZ (a chorar) – Mas eu não quero…!
SEREIA (zangada) – Não queres a minha amizade? Também não a mereces
mesmo!
RAPAZ (a chorar) – Não…
SEREIA (zangada) – Pois não! Bem me parecia. Não interessa…liberta-me mas é!
RAPAZ (a chorar) – Não!
SEREIA (grita, nervosa) – Não compliques as coisas! Devolve-me…e
continuaremos amigos! Embora não mereças depois do que me fizeste…não me queres infeliz pois não?
RAPAZ (a chorar) – Não.
SEREIA (grita) – Se me amas…liberta-me de uma vez…tira-me desta porcaria deste aquário…ou perdes tudo de mim!
RAPAZ (a chorar) – Prometes…?
SEREIA – Sim…! Se me libertares continuo a ser tua amiga, se quiseres! (p.c) Aqui é que eu não quero ficar…nem serei feliz, muito menos tua amiga!
RAPAZ (a chorar) – Partiste o meu coração!
SEREIA (zangada) – Tu também partiste o meu! Nunca pensei que me fizesses esta maldade.
RAPAZ (a chorar) – Desculpa…não foi com intenção de te magoar…ou de te ver infeliz.
SEREIA (zangada) – Liberta-me…por favor!
      O rapaz pega na sereia ao colo, a chorar e devolve-a à praia e ao mar. Ela respira de alívio com um grande sorriso e diz:
SEREIA (sorri) – Ááááhhh…que alívio! Muito melhor assim! Pousa-me ali…se faz favor!
    A sereia dá um beijo sonoro na cara ao rapaz, ele pousa-a num rochedo de uma poceca, lavado em lágrimas a olhar para a sereia. A sereia sorridente, mergulha feliz, salta, abana a cauda, nada, apanha um baú pequenino com frases de amizade, umas pérolas, umas conchas, uns búzios, umas pedrinhas e volta à superfície, entrega o baú ao rapaz e diz-lhe a sorrir:
SEREIA – Muito obrigada! Muito obrigada por me teres libertado…e para te agradecer…e cumprir a promessa que te fiz…aqui tens um presentinho…! Pela nossa amizade.
RAPAZ (a chorar) – Vejo mais tarde! Agora estou despedaçado…sem coração…ele foi para o fundo do mar…ainda bem que estás feliz…eu não!
SEREIA (sorri) – Se eu encontrar o teu coração lá em baixo, apanho-o, e guardo-o junto do meu. (p.c) Não fiques assim, meu amigo…! Eu gosto de ti…! Estarei sempre aqui…sempre que quiseres ver-me, ou falar comigo…ou…brincar comigo, estarei aqui! Abre quando quiseres…!
    Ele pega no baú, a chorar, levanta-se e vai para casa lentamente muito chorão. A sereia fica com pena dele e murmura:
SEREIA – Coitadinho…ele gostava mesmo de mim…ficou mesmo tristinho…mas…também não podia ficar lá com ele, nem queria…! Aqui é o meu sítio, e o que ele estava a fazer comigo não era sinal de amizade, nem de amor…porque a amizade e o amor não exigem prisão…os corações podem ficar presos, ligados pelo mesmo sentimento, mas não aquela prisão…e quando os amigos se sentem presos…controlados demais uns pelos outros…fogem…não é uma relação saudável. (p.c) nem toda a gente merece ser chamado de amigo. (p.c) Talvez um dia destes ele compreenda isso. A amizade é muito bonita…saudável…é alegria, a mínima liberdade, sem se abandonar o outro, mas também sem o sufocar…é respeito pelos sentimentos um do outro… (p.c) Foi melhor assim…ele vai ver isso! (p.c) Quando a tristeza passar….e há-de passar…!
   O rapaz tristonho, a chorar, em casa, olha para o aquário…vazio…e mergulha lá o baú sem o abrir, chateado e murmura:
RAPAZ – Que injustiça…! (p.c) Que burro que eu fui…porque é que eu a deixei ir embora…?!
GATO – Então pá…? Foi o melhor que fizeste!
RAPAZ (a chorar) – Eu perdi-a…!
GATO – Na, na…muito pelo contrário…ganhaste-a!
RAPAZ (a chorar) – Mas ela foi-se embora…eu levei-a de volta para o mar…!
GATO – Pois claro! E era mesmo para lá que ela devia ir…
RAPAZ (a chorar) – Mas ela ia ser minha para sempre…!
GATO – Desculpa a minha sinceridade, mas ela nunca ia ser tua…vai ser pelo menos tua amiga, quando esquecer a maldade que lhe fizeste…mas tens que lhe dar algum tempo…agora não. E olha, meu, é muito melhor ter as gatas…Aaahhh…quer dizer…as sereias…ou…as meninas…o que for…como amigas do que como namoradas!
RAPAZ (a chorar) – Não é nada!
GATO – É sim…elas não são fáceis de aturar, nem de compreender…muito menos de satisfazer…irrra…! (p.c) Comem a cabeça a um gajo…! Deixa lá a sereia no sítio dela…podes ser amigo dela…mas não mais do que isso… (p.c) Meu…desculpa dizer isto, mas ela não iria ser feliz contigo, aqui…porque tu sabes…aqui este sítio…não é para sereias…vocês não se iam entender!
RAPAZ (a chorar) – Porquê? Por eu ser rapaz e ela seria?
GATO – Também…pá…vocês são muito diferentes…e o que sentiam um pelo outro também! (p.c) Tu queria-la para ti…isso não funciona…é muito mau, porque ela não te queria da mesma maneira.
RAPAZ (a chorar) – Ai…custa tanto…dói tanto!
GATO – Sim, é verdade! Mas há-de passar…e men…ela está perto…as coisas entre vocês podem mudar e melhorar…anda lá moço…espreita o que ela te deu!
RAPAZ – Estás mais interessado que eu…
     O gato sorri e começa a cheirar o baú, saltita…
GATO – Humm…que cheirinho delicioso…! Terá aí alguma coisa para mim também…? Um peixinho…hummm…mnhã…mnhã…!
RAPAZ (sorri) – Acho que não…
  O rapaz tira o baú do aquário, limpa as lágrimas dos olhos, vê os presentinhos, lê as frases, o gato está deliciado e diz:
GATO – Uau…que coisas tão bonitas…Queres um conselho, amigo…?! Conquista-a devagarinho…elas têm de ser tratadas como pétalas preciosas…com delicadeza…tem que ser seduzidas devagarinho…se fores um leão esfomeado como há bocado, elas fogem. Nem tu gostavas que alguma menina que gostasse muito de ti, te levasse para casa dela e te fechasse no forno ou noutro sítio pois não?
RAPAZ – Não!
GATO – Esse baú tem toneladas de carinho e de amizade verdadeira!   
RAPAZ – É! Sim…são coisas bonitas…e ela foi querida…mas…eu preferia tê-la aqui…!
GATO – É melhor que ela esteja no teu coração…e no teu pensamento…mas feliz…na praia…onde ela vive…! (p.c) Vá lá…vais ver que daqui a uns tempos as coisas melhoram! (p.c) Agora estás triste, e magoado…ela também ficou magoada contigo por a teres metido aqui no aquário e por a quereres para ti…mas continua tua amiga, e é isso que deve fazer-te feliz…! (p.c) Deves sentir-te feliz porque nem toda a gente tem a sorte de ter uma amiga sereia…e muita gente gostava! (p.c) deixa as coisas acalmarem e daqui a uns dias encontras-te outra vez com ela! (p.c) E também deves estar feliz por ela ter sido sincera contigo, e ter dito logo que não sentia o mesmo, porque há por aí muitas que se aproveitam…ficam vaidosas e depois…usam e deitam fora…isso ainda dói mais!
    Os dois conversam mais um bocado, o rapaz fica muito triste nos dias seguintes, muito choroso, vai à praia mas não ao sítio da sereia, e a pensar em tudo o que leu, tudo o que lhe disseram. 
   Passado uns dias, o rapaz mais mentalizado mas ainda triste, encontra a sereia na praia feliz na água com outras sereias, a saltar, a cantar e a dançar, e murmura:
RAPAZ – Ela não gosta mesmo de mim…está ali toda feliz…nem reparou que estou aqui, não me veio procurar…!
    O gato que foi atrás dele diz-lhe:
GATO (sorri) – Ainda fica mais bonita feliz! E as amigas também são jeitosas…Dá mais um tempo amigo…! Não penses que ela não gosta de ti! Estás a cobrar-lhe…lembra-te…isso não é bom…elas não gostam disso!
    O rapaz segue os conselhos do amigo gato. Passado um tempo, os dois voltam a falar-se na praia, com frieza por parte dele…mas aos poucos os dois tornaram-se novamente amigos, tiveram longas conversas, muitas brincadeiras juntos, muitos mergulhos e gargalhadas e com o gato também.

FIM.
Lara Rocha 
(10/Dezembro/2011)










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