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sexta-feira, 25 de março de 2016

As amigas vacas (Adolescentes e adultos)


foto de Lara Rocha 











Era uma vez uma linda e enorme quinta, numa aldeia entre montanhas. 
Nessa quinta há muito espaço verde, com erva tenra e deliciosa, ar puro, sem poluição, muitos animais diferentes e pessoas boas, simples, simpáticas, trabalhadoras.
Tudo corria bem, na paz. O sol ainda não tinha nascido, é amanhecer. Chega uma nova vaca, muito stressada, que se recusa a entrar no estábulo, mesmo depois dos lavradores se juntarem e tentarem puxar à força a vaca.
As vacas: FLOR, MIMOSA, TÍLIA, acordam sobressaltadas com as vozes dos lavradores e os mugidos da vaca. Olham – se, e a vaca Flor pergunta:
– Que confusão é esta?
        Respondem em coro, e Mimosa e Tília acrescentam:
– Não sei.
– Estou a ouvir muita confusão…muitas vozes…
– Esperem aí…não é hoje que chega a nova vaca?
        Todas têm a mesma lembrança, e a vaca Flor apresenta a justificação para aquela confusão toda:
– Pois é!
– Então é isso…deve ser ela que está lá fora. Se calhar é…volumosa…e não conseguem arrastá-la.
        Abrem-se as portas do estábulo, a nova vaca muge fortemente, e faz força no corpo, esperneia, salta, dá coices. Elas tinham razão, e dizem em coro:
– É a nova vaca.
        Flor e Mimosa olham para a nova amiga e comentam:
– Ela não é assim tão volumosa como eu pensava.
– Então os lavradores devem estar a fazer esta algazarra toda para lhe dar as boas vindas…ou estão felizes com a chegada dela.
As outras vacas apreciam a nova vaca, seguem-lhe os movimentos dos coices, mugem também e riem. Flor, Mimosa e Tília trocam impressões:
– (a rir) Muuuu…Esta é das nossas…!
– Sim. Parece!
– Estou a ver que sim.
– Ela lá terá as razões delas.
– Deve estar cansada de fazer tanta força para não entrar!
        Tília sugere á nova vaca:
– Ei…óh rapariga…entra lá…
        Malhada não cede, e pergunta zangada:
– Estão a falar comigo?
        Respondem em coro:
– Sim.
        Flor aconselha Malhada, mas Malhada é mais forte, e até ameaça os homens:
– Vá lá, não sejas tão teimosa…daqui a pouco ficas sem rabo…
– (zangada) Daqui a pouco eles é que levam com o rabo nas trombas. Já viram como eles me estão a tratar? (p.c) Eu sou uma rapariga…eles não têm o direito de me tratar assim.
        Estão todas de acordo, mesmo assim Mimosa, Flor e Tília incentivam-na a ceder:
– Tens toda a razão.
– Mas entra, querida…não é assim tão mau estar aqui.
– Sim, é melhor cederes, antes que vires já jantar para alguém.
– Sim, entra! (p.c) Daqui a bocado saímos todas.
        A vaca Malhada grita com eles zangada:
– Malditos.
Dá um coice, os lavradores caem todos, ela entra no estábulo toda elegante e importante, e a rir – se. As outras também se riem. Mimosa e Tília elogiam a rir:
– Muito bem.
– Por muito que te custe, acredita que foi melhor teres cedido, e entrado a bem.
Os lavradores gemem, deitados no chão, uns levantam-se, sacodem-se chateados. O lavrador Quim nunca viu daquilo, e comenta:
– Esta vaca é muito estranha. Entrou sozinha…é teimosa!
        A vaca Malhada dá uma gargalhada e comenta:
– Com certeza aprendeu alguma coisa com isto, ou então é tão burro que a seguir está a tratar-me igual.
        O lavrador Mingas comenta, e a vaca Malhada responde à letra:
– Deve ser uma vaca louca.
– Tu é que deves estar louco. Quem disse que iam levar a melhor…?
        A lavradeira Manecas aconselha:
– Deixem – na estar sossegada um bocado. Mudou de sítio, é normal que esteja agitada.
        O lavrador Nucho está nervoso e apresenta uma solução, mas a vaca Malhada ri-se e não se deixa ficar, e a lavradeira Kika ralha ao marido defendendo-o:
– Daqui a pouco espeto-lhe uma injeção com sonífero.
– Áháháhá... (ri-se) Vamos ver quem é que espeta o quê…!
– Não vais espetar coisa nenhuma. Deixa-a em paz. Se não, ela espeta-te outra coisa, e muito bem-feita.
        As vacas estão totalmente a favor:
– Apoiado!
        A lavradeira Quina ameaça o lavrador Nucho, e as outras lavradeiras apoiam:
– Se dás alguma coisa a estas vacas…nem que seja só tentar…nós é que te espetamos…! Num certo sitio…
– É isso mesmo!
Eles engolem em seco.
A vaca malhada fica com a pulga atrás da orelha, ao ouvir aquela resposta, e pergunta:
– Que grande mafioso. Vocês também tomam porcarias?
        As vacas respondem por elas:
– Nós não.
        A vaca Flor acrescenta:
– Mas há quem tome. Nós recusamo-nos, e é por isso que somos tão bonitas…as vacas mais saudáveis da quinta. As senhoras da casa adoram-nos, por isso não permitem que os malditos homens nos deem porcarias.
        A vaca Malhada fica deliciada com a Senhora e responde:
– Tão queridas. Ainda bem.
        O lavrador Mário acrescenta:
– Tem mais amor ao raio das vacas, do que a nós.
As vacas começam a mugir revoltadas, e Malhada acrescenta:
– Não é difícil perceber porque é que elas gostam mais de nós do que desses monstrengos.
As outras riem. A lavradeira Kika protesta contra o marido, e diz muito zangada:
– Dobra – me essa língua podre, cheia de vinho, quando falas das nossas bichas…!
As vacas riem. Flor acrescenta:
– Estas senhoras são uma maravilha!
        Todas respondem em coro a rir. Mimosa e Tília elogiam as senhoras:
– Que lindas.
– Elas estão sempre a defender-nos, e geralmente são elas que tratam de nós, vem dar-nos a erva fresca, água, dão-nos banho, tiram-nos o leite.
– (sorri) São muito carinhosas.
        O lavrador Mário não quer ouvir mais ofensas, e diz muito zangado:
– Vamos embora para eu não matar já esta vaca.
        As vacas respondem em coro:
– Grande estafermo.
        Tília murmura em tom de ameaça em relação ao lavrador. Malhada fica curiosa e muito inocente pergunta-lhe:
– Vais ver quando me tentares mugir…mujo-te outra coisa…!
– O quê?
        Tília responde usando uma metáfora, a rir, mas todas entendem:
– A arte sacra…!
As outras vacas dão uma gargalhada. Mas Malhada fica com dúvidas sobre a interpretação, e Flor explica de outra maneira. Mimosa acrescenta a rir:
– Não sei o que é isso…!
– (a rir) É uma coisa parecida com o que acabaste de fazer àquela besta…mas num sítio especifico…!
– Ora, ora…ainda tens muito que aprender connosco.
        Malhada reconhece e Tília anima a amiga:
– Estou a ver que sim!
– E nós aprenderemos também muito contigo.
        Malhada sorri e comenta:
– Com certeza! Começo a gostar muito de vocês.
        As lavradeiras quase chegam fogo aos maridos e resmungam:
– Ai de vocês!  
Eles saem do estábulo, as senhoras a insultá-los, e a resmungar, fecham a porta do estábulo. As vacas suspiram de alívio:
– Ufff…!
        Tília e Flor acrescentam:
– A paz está de volta ao estábulo!
– Já não os podia ouvir…ainda por cima acordei sobressaltada…!
        Tília tenta suavizar o susto da amiga, e Mimosa quer saber mais sobre ela, e apresentam-se:
– Não ligues, isto é todos os dias.
– Mas…como te chamas?
– Malhada…e vocês?
– Eu chamo-me Tília.
– Eu chamo-me Flor.
– Eu chamo-me Mimosa.
        Malhada sorri e elogia:
– Que nomes bonitos!
Sorriem. Tília pergunta, Malhada responde, e faz outra pergunta:
– De onde vieste?
– Vim…vim…hummm…não sei, sei que andei muito num camião. Não sei de onde vim, só sei que era um sítio diferente. Ouvi falar que me iam vender. E vocês?
– Nós nascemos aqui.
– Gostam de estar cá?
– Sim.
        Tília pergunta a Malhada:
– E tu gostavas do sítio onde estavas?
– Sim. Havia uns rapazes que me tiravam um leite, como nós gostamos, com carinho.
        Mimosa fica entusiasmada e pergunta a Malhada:
– (maliciosa, sorri) Eram jeitosos?
– (sorridente) Sim, bem bonitos. Era pena não serem bois. Ai se fossem…!
Riem. Flor partilha a sua desilusão, Malhada acrescenta, e todas concordam:
– Que sorte, aqui não temos rapazes jeitosos, mas as senhoras também são carinhosas.
– (sorri) Ai, mas olhem que se o leite for tirado por rapazes jeitosos, é outra coisa.
– (riem) Claro.
        A vaca malhada confessa:
– Eu e o rapaz do estábulo onde estive, éramos muito amigos, mas ele foi traidor. Falso…dizia que gostava muito de mim, era muito querido comigo, eu era tipo uma psicóloga para ele…no fim, o badalhoco deixou-se levar pelo dinheiro, e esqueceu tudo o resto. Se ele gostasse de mim como dizia, e como me fez acreditar, não me vendia não era?
        Tília mostra compreensão e tristeza, Malhada fica surpresa, todas concordam, e Mimosa reforça a ideia:
– Que tristeza. São todos iguais.
– A vocês também já vos aconteceu isso?
– Claro.
– Acontece com toda a gente.
        Malhada pergunta:
– Mas…aqui não há bois jeitosos?
        Todas respondem em coro:
– Infelizmente não.
        Flor explica de outra forma, para não causar má impressão na amiga:
– Quer dizer…para nós não são bonitos, mas podes vir a gostar de algum.
        Malhada quer saber mais coisas sobre aquele novo espaço:
– Mas, contem-me mais sobre este vosso espaço!
As vacas têm uma longa e animada conversa, riem, falam de muitos assuntos, até que chega a lavradeira KIKA. Abre as portas do estábulo, e cumprimenta as vacas sorridentes:
– Bom dia, minhas lindas…Saiam… o sol já nasceu…fiquem à vontade. Passeiem por aí…e não se preocupem que aqueles palermas não vos vão fazer mal.
        Elas respondem em coro:
– Nem nós permitimos.
Elas saem alegremente. Mimosa quer integrar a nova vaca e convida-a:
– Anda para o nosso sítio, Malhada…ali estamos sossegadas, temos sombra, água e a erva é deliciosa.
Vão comer para um espaço, deitam-se à sombra e falam. Malhada suspira e queixa-se:
– Estou cansada.
        Flor mostra compreensão, e Mimosa dá-lhe um conselho:
– É normal…fizeste tanta força há bocado.
– Descansa.
        Malhada sente que vai dormir e diz:
– Sim, acho que vou dormir um bocadinho. Desculpem, falamos mais tarde, está bem?
        Todas respondem em coro:
– Sim, á vontade.
        Está tudo tranquilo. Enquanto a vaca Malhada dorme, as outras falam umas com as outras, riem… e chega a hora da ordenha. Hoje são os filhos mais novos dos casais que vão fazer a ordenha. Elas olham-se, e dizem em coro:
– Eu não acredito…
        Flor e Mimosa perguntam:
– Mas o que é isto?
– Hoje não são as nossas amigas?
        Respondem todas em coro:
– Aaaaaiiii…
        Malhada fica preocupada e pergunta assustada. Flor e Tília explicam-lhe:
– O que é que se passa?
– É hora da ordenha.
– Hoje são estes frangos depenados…?
        Respondem em coro, dececionadas, e Mimosa acrescenta:
– Parece que sim.
– Ai, a nossa vida!
        Malhada dá uma gargalhada e comenta a gozar:
– Vão ter sorte! (p.c) Coitados, não vão sair daqui hoje.
        Flor comenta:
– Espero que sejam meiguinhos.
        Os rapazes estão um pouco nervosos porque não tem muita experiência nessas coisas. Eles sentam-se em posição, com o balde na posição, e tentam mugir as vacas. Esforçam-se muito, porque não acertam com a força nem tem jeito para puxar.
        O menino Paulinho resmunga, chateado com a vaca Flor, ela e Mimosa riem-se e respondem. Tília goza os rapazes a rir.
– Cruzes…não sai nada…estão sem leite…?
– Que brutamontes…como é que querem ter leite se não estão a fazer corretamente?
– Este palerma só me está a fazer cócegas… ainda não atingiu como se faz.
– Este está-me a apalpar…mas ir ao sítio certo não vai…
Todas riem. Malhada protesta:
– Este bronco não sei o que está a fazer…ainda não senti nada… (dá um forte mugido) Muuuuuuu…que grande besta…
Julinho assusta-se. Malhada sacode o rabo, e dá uma valente fustigada na cara e na cabeça do rapaz. Ele desata a chorar, tenta bater na vaca, mas ela dá de imediato outra fustigada e um coice. Ele cai do banco, levanta-se com dificuldade. Os outros riem-se. As outras vacas também. Ele corre a chorar e a chamar a mãe:
– Óh mãe…aquela vaca deu-me com o rabo na cara e na cabeça e um coice…!
        A mãe (Kika) ri e responde:
– Olha, foi bem-feita. Com certeza não lhe estavas a tirar bem o leite. Em vez de jogar tanto à porcaria da bola, para a próxima vê como é que eu tiro o leite. Vai lavar a cara e anda para lá, vais ver como se faz.
O rapaz vai e volta ainda a choramingar. Kika dirige-se para a vaca, e quando chega à beira dela, acaricia-a, ela muge sorridente, e deliciada.
As vacas sorriem e dizem em coro:
– Assim está bem.
        Outro menino, Ruizinho, muito enojado pergunta à Tia: – Óh Tia…estás a fazer festas a uma vaca? Lhec…não sei como és capaz! Devias era fazer festas em nós. Kika ri-se e responde:
 – E depois…? Todos os animais gostam de carinho…essa agora…eu chego para os meninos e para os animais.
        As vacas riem e respondem em coro:
– Daaahhh…! Claro.
        Pedrinho apoia Ruizinho e acrescenta:
– Essa vaca deu uma fustigada na cara do Julinho…devias era bater-lhe…
        As vacas respondem em coro, irónicas:
– Porque é que terá sido…?
        Malhada acrescenta:
– E vocês também deviam apanhar…
        As vacas perguntam:
– Nós?
        Malhada responde a rir:
– Claro que não! Eles.
        Todas respondem em coro, a rir:
– Áááhh…sim.
        Kika está do lado das vacas:
– Se ela lhe bateu é porque ele fez alguma!
        Carlinhos e Dioguinho respondem agressivos:
– Eu metia-a logo na brasa… (ri) A Tia devia fazer o mesmo.
– Sim, ou assá-la no forno, no nosso almoço ou jantar…
        Tília e Flor nem querem acreditar no que acabaram de ouvir, e respondem:
– Olha-me estes…
– Daqui a pouco eles é que vão para o forno.
        Kika ralha:
– Que disparate…E vocês ainda não tiraram nada?
        Respondem em coro. Carlinhos tenta justificar a sua falta de jeito:
– Não.
– Parece que as tetas estão secas.
A vaca Flor dá-lhe uma fustigada com o rabo na cara ao Carlinhos, os outros riem, e ele desata a chorar. As outras desatam a rir, e respondem em coro. Malhada elogia a amiga a rir:
– Muito bem!
– Excelente! Foi mesmo na hora…e tens uma óptima pontaria.
        A vaca Flor agradece, a rir, a lavradeira Kika apoia a atitude da vaca Flor, mas Carlinhos não gostou nada, e protesta, ameaçando, a chorar:
– Obrigada.
– Vês…? Ela não gostou do que tu disseste.
– Bruxa…nunca mais tiro leite a nenhuma vaca.
As vacas riem, e lavradeira Kika não se dá por achada, e acrescenta:
– Áh isso é que vais voltar a tirar…anda cá ver como se faz. Antes que leves outra fustigada ou um coice.  
        Os rapazes juntam-se á volta da Lavradeira Kika e ela explica-lhes como se faz. As vacas sorriem de agrado. Flor e Mimosa acrescentam a rir:
– (todas) Que diferença.
– Aprendam com estas senhoras seus ralés…!
– É. Vejam como se tira o leite com elegância. Broncos…!
A rotina da quinta continua. E o fim da tarde chega. Elas vão para o estábulo. Jantam a falar alegremente, e vão descansar. A vaca Malhada sente saudades do estábulo anterior, e das outras vacas. Não consegue dormir e fica triste. O silêncio da noite é interrompido por um grande estrondo na porta do estábulo, e ouvem-se muitas vozes.
As outras vacas acordam sobressaltadas e muito assustadas. Perguntam ao mesmo tempo:
– O que é isto?
        Flor, Tília e Mimosa tentam adivinhar de onde vem o barulho, e o que será:
– É lá fora, mas não sei o que será…!
– Que confusão…! O que terá acontecido…?
– É muito estranho…mas desde que não mexam connosco…está tudo bem.
        A porta abre-se com outro grande estrondo. As vacas encolhem-se, e entram uns homens entroncados, com facas enormes, acompanhados dos maridos. As esposas desesperadas aos gritos, a chorar, porque estão agarradas. As vacas engolem em seco.
        Um homem pergunta, e os lavradores Nucho e Mingas incentivam à pega das vacas:
– São estas?
– (em coro) Sim.
– Levem-nas, que já não podemos ouvir aquelas histéricas aos gritos.
– Espetem-lhe já a faca, como deve ser…e levem-nas já às postas, à frente daquelas, para aprenderem a dar mais valor aos homens que têm. 
        As vacas nem querem acreditar…e perguntam em coro: – Como é que é?
        Mimosa certifica-se, Malhada responde zangada, mas com coragem:
– Eles vão fazer o quê…?
– Eles vão sentir o que é ser cortados às postas…! Suas bestas…! Vamos mostrar-lhe a arte de espetar a faca…sem faca…!
Todas as vacas riem, olham-se, Flor e Tília acrescentam zangadas:
– Mas quem é que estes pensam que são…?
– Eles estão a pedi-las…!
        As lavradeiras Manecas e Judite gritam de fora:
– Nem se atrevam…! Se as levarem, tem de nos levar a nós também.
– Vocês vão pagar bem caro por isto.
        As vacas começam a perceber que o assunto é sério. E quando vêem as mulheres a gritar agarradas, não pensam duas vezes. A troca de olhares delas disse tudo.
Num impulso, soltam um grande mugido, os homens assustam-se, e põem as facas em punho.
Elas deitam as cancelas abaixo, e atiram-se aos homens, quando eles caem, cada uma senta-se em cima de um homem, manda um peido para as caras deles, daqueles mal cheirosos, e seguem para fora do estábulo a correr.
Lançam-se contra os homens que estão a agarrar as mulheres, e começam aos coices e às marradas. Eles largam-nas.
Todos ficam muito maltratados. As mulheres nem querem acreditar que as suas vacas preferidas as salvaram e salvaram-se. Elas abraçam as vacas, fazem-lhes carinhos, e as lavradeiras chamam ambulâncias, muito orgulhosas das vacas.
        Judite, Manecas, Kika, Quina e Manecas outra vez, desabafam ainda assustadas, depois do susto:
– Ai, que susto! Pensei que vos íamos perder.
– (zangada) Os palermas dos nossos maridos, queriam vender-vos para um matadouro.
– Era…Só por causa da porcaria do dinheiro…! E esqueceram-se do valor que vocês têm para nós.
– E ainda por cima por ciúmes…! Que brutamontes.
– (sorri) Mas vocês salvaram-se mesmo a tempo, e salvaram-nos…muito obrigada.
        Chegam uns enfermeiros, e fazem os múltiplos curativos nos lavradores, e nos talhantes. As vacas estão orgulhosas. As mulheres apreciam os maridos, a rir, e deliciadas. Judite goza de fininho sorridente:
– Olha que bonitos, que eles estão…!
        Todas concordam sorridente:
– Sim!
        Manecas, Quina e Kika acrescentam, a rir de troça:
– Parece um baile de máscaras…!
– Que bem que lhes fica aquelas negras todas…ai…! Estão tão atraentes…!
– Estão mesmo atraentes.
        Os enfermeiros riem dos comentários delas. Os maridos gemem, Mário responde torto, e Manecas não se cala:
– Malditas…! Aaaaaiiii…!
– Parece que queres apanhar mais…não? Agora apanhas de nós.
        Mingas ameaça zangado:
– Vocês…vão ver o que é bom, logo que fiquemos bons…!
        As esposas riem-se e respondem em coro:
– Uuuiiii…que medo!
        Nucho ainda não engoliu o que elas lhes fizeram e protesta:
– Em vez de estarem do nosso lado…Aiiii…estão do lado daquelas…vacas estúpidas…!
        Quina explica, a rir, atribuindo-lhe a culpa, e Mário acrescenta zangado:
– Vocês é que foram estúpidos…! E ai de vocês que se atrevam a fazer mais alguma coisa contra estas vacas…!
– Vocês vão ver…! Traidoras…dão mais valor ao raio das vacas do que a nós…!
        Todas perguntam em coro, Judite ainda ameaça:
– E porque é que será?
– Vocês é que vão ser cortados às postas…! Seus ordinários. Vamos vender-vos num matadouro…o que acham, meninas?
        Todas riem e respondem:
– Excelente ideia!
        Eles respondem:
– Que piada…! Aaaaaiiii…!
        Todas riem e respondem?
– Aaaaaiiii…? Aaaaaiiii…?
        Começam a discutir, as vacas riem e estão orgulhosas, assim como as mulheres estão das vacas. As vacas dizem, e as mulheres subscrevem a rir:
– Bem-feita.
– Bem-feita.
        As coisas acalmam, e tudo volta ao normal. Os maridos não se metem mais com as vacas, e as mulheres continuam a adorá-las e a tratá-las bem.
        Uns tempos depois, as vacas amigas da Malhada vão para a mesma corte, porque são vendidas para aqueles lavradores. Malhada e as amigas ficam felicíssimas, são muito bem recebidas pelas outras, e protegem-se umas às outras.
Deixam-se ser tratadas pelas lavradeiras que as tratam delicadamente, com carinho, e qualquer coisa que os homens tentam fazer contra elas, ou fazem mal, elas defendem-se de imediato, e protegem as mulheres das tentativas dos maus-tratos dos maridos, dando fustigadas com os rabos e até coices, e peidos mal cheirosos.
Tornam-se amigas inseparáveis.

Fim
Lara Rocha 
(2/Março/2012)




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