Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O PALHAÇO DESMONTADO


Era uma vez um menino que não tratava muito bem dos brinquedos. Quando estava muito zangado, destruía o primeiro brinquedo que apanhava, depois, o pai e o Avô, pacientemente e com muito carinho concertavam-nos. Mas ele voltava a destrui-los, na zanga seguinte.
- Já te disse que os brinquedos não são para destruir rapaz…! – Dizia o pai
- Eu não destruí! – Diz o rapaz
- Ai não? Então…? Montaste-os? – Pergunta o Pai
- Sim! – Diz o rapaz
- Que mãos! – Resmunga o Pai.
- Outra vez…? – Ralhava o Avô
- Um dia destes não concerto mais nada. – Ameaça o Pai
- Eu já não concertava hoje…tens de aprender a ser um rapaz meigo, até com os brinquedos. Quem tos oferece de certeza que ficaria muito triste ao ver o que fazes com as ofertas. – Diz o Avô.
- Eles não sentem nada. São de madeira. – Argumenta o rapaz
- É claro que sentem… - Garante o Avô
- Isso são histórias que contam à Filipa. – Defende o rapaz
- Ela sim, trata dos brinquedos como deve ser. – Diz o pai
- É menina… - Diz o rapaz
- Sabe comportar-se. E sabe que os brinquedos são para brincar, não são para estragar, porque eles sentem, e são nossos amigos. – Diz o Avô.
O menino pousava os brinquedos todos estragados na bancada do Avô, e virava costas. Desta vez, a vítima do seu nervoso foi um lindo palhaço de madeira, de fato colorido, ao xadrez, e uma cara pintada, risonha, todo articulado, que mexia o corpo todo.
Só porque a mãe não lhe deu o que ele queria, ficou tão zangado que agarrou no palhaço e desmontou-o todo.
- Ai, estás-te a rir…? Espera que já vais ver… - Diz o rapaz raivoso
- O que é que eu fiz?
O pobre palhaço grita, e tenta segurar as suas partes, mas a sua dor começou a tomar conta de si…e deixou de gritar. Perdeu as forças, porque o menino: separou a cabeça do resto do corpo, arrancou a cabeleira, rebentou as cordas do tronco, dos braços, das pernas e dos pés, de tanto que puxou por ele. Depois, ainda não satisfeito, pegou nos pedaços todos e atirou pelo ar…foi uma parte para cada lado. Pobre boneco!
Depois da destruição saiu do quarto amuado e bateu a porta. O boneco geme.
- O que foi isto? – Perguntou uma boneca delicada da irmã
- Mais uma vítima nas mãos daquele estouvado. – Responde outro boneco
- Mas ele é mesmo palerma… - Diz a boneca.
- Olha como ele pôs o desgraçado do palhaço… - Observa outro boneco.
- Mas que terror. E logo um palhaço tão giro. – Suspira a boneca.
- Foi um sonho mau, ou…o que eu…sonhei que aconteceu, aconteceu mesmo? – Pergunta o palhaço
- Desculpa desiludir-te amigo…! Infelizmente aconteceu mesmo! Não foi um sonho mau que tiveste…foi real! Foste mais uma vítima daquele terror…! – Diz o outro boneco
- Óh! Coitadinho. – Lamenta a boneca
- Vamos cuidar de ti. – Diz o outro boneco
- (olha em volta) Estes pedaços são meus?
- Sim! – Respondem os dois
- Óh…não posso acreditar. – Diz o palhaço assustado
- Calma, amigo… vais já ficar como novo. – Assegura o outro boneco
O boneco e a boneca pegam nos pedaços todos, com carinho, aproximam-se dele, e tentam juntar os pedaços.
- É assim, mas falta cola… - Lembra o boneco
- Pois é…está aqui. – Diz a boneca
Pegam no tubo de cola, e colam todos os pedaços do palhaço. Num instante, o palhaço fica como novo.
- Já está! – Diz o boneco sorridente
- Que lindo! – Diz a boneca
- Foi rápido! – Diz o palhaço
- Já temos muita prática! – Assegura o outro boneco.
- E tu até foste mais ou menos fácil de montar, porque temos situações de montagem muito mais complicadas! – Diz a boneca.
- Felizmente, juntos conseguimos sempre. – Diz o outro boneco.
- Pois. E somos sempre nós que reconstruimos os brinquedos que aquele diabo destrói. Não pode ver nada direito! – Resmunga a boneca.
- Agora tens de secar um pouco, amigo! – Diz o outro boneco.
- Está bem, como faço isso? – Pergunta o palhaço?
- Nós levamos-te até ali. – Diz a boneca.
Os dois bonecos arrastam-no com cuidado para o chão onde há sol, e deixam-no ao sol para secar. Enquanto isso, os três bonecos falam e riem alegremente uns com os outros. Quando o palhaço está seco, os três dão as mãos, e fogem para o quarto da Filipa, abraçam-se e beijam-se.
- Conseguimos! – Gritam os três
- Aqui estamos seguros, com toda a certeza! Seremos muito bem tratados. – Garante a boneca.
- Achas que ele não vai dar pela nossa falta? – Pergunta o palhaço
- Claro que não…ele nem para os brinquedos olha…a esta hora já se esqueceu de nós, e do boneco que destruiu…aliás…já deve estar a pensar no próximo boneco ou brinquedo que vai destruir…ele não sabe o que é brincar, nem para que servem os brinquedos. Não valoriza a amizade verdadeira que nós podemos oferecer. – Explica o outro boneco
- Nunca me vou cansar de vos agradecer tudo isto, amigos! Muito obrigado! – Diz o palhaço feliz.
- Não tens de agradecer. A amizade também é para isto…para colar novamente, os pedaços que são separados, e tirar algumas dores, com abraços, carinhos e gargalhadas. – Diz o outro boneco.
- Sim. Vocês são maravilhosos! – Diz o palhaço a sorrir feliz.
O tempo foi passando e, realmente, o menino não se lembrou mais dos três brinquedos, destruiu muitos mais, sempre reconstruidos pelos três bonecos. Algumas amizades na nossa vida também podem ser como a destes três bonecos…para se ajudarem, para se abraçarem e para se reconstruirem uns aos outros…os pedaços que se soltam muitas vezes de nós, e apanhar os estilhaços do coração que se espalham e que nos fazem chorar…na maneira de ser, e nas transformações que vamos sofrendo. Se nos destroem, como o menino fazia com os brinquedos, não são amigos, e devemos mantê-los longe.

                                                          FIM
                                                          Lálá
                   (31/Janeiro/2014)
        


Pequenas magias

Era uma vez uma aldeia onde começaram a acontecer coisas maravilhosas…ninguém sabia como, nem como tudo tinha começado. Os seus habitantes andavam muito sorridentes, serenos, felizes, amigos uns dos outros, e o ambiente da floresta estava muito diferente. As crianças corriam livres com sonoras gargalhadas, e dançavam nos campos ao sabor das ventanias, e das aragens que lhes acariciavam os rostos, ou despenteavam os seus cabelos.
Tudo brilhava, tudo tinha luz, tudo cintilava. As cascatas tinham ganho muita mais água, apareceram mais peixes, que alimentaram os ursos vindos de muito longe, mas viviam em paz com os habitantes.
O sol entrava por todas as brechas entre os pinheiros que se abraçavam, e choviam raios por todo o lado, fazendo com que os campos, flores e tudo onde pousava água, parecessem cristais transparentes.
A aldeia começou a ser visitada por seres muito especiais que nunca antes tinham sido vistos…só nas histórias infantis: fadas, elfos, borboletas bailarinas com asas que pareciam de vidro, delicadas, feiticeiras, e até bruxas boas.
As flores que estavam antes murchas e quase sem cor, abriram de repente, viçosas, perfumadas, coloridas. As árvores que estavam carecas do Inverno, encheram-se de folhas e flores que se abriram e revelaram os seus segredos…os frutos lindos, enormes, suculentos que cada flor guardava em si. Os eucaliptos espirraram, estremeceram e deixaram o seu perfume fresco no ar.
O que estava silencioso entre o gelo, começa a fazer-se ouvir: os passarinhos voam de um lado para o outro, fazem ninhos e guardam os ovos, que em breve trarão vida nova, e a aldeia ganha novos habitantes que estavam debaixo do gelo.
Os lobos regressam de outras aldeias longínquas, e aquecem as suas vozes, com sonoros, arrepiantes e profundos uivos, mas ficam-se pelas montanhas, juntamente com as cabras, vacas e bois que vão pastar no mesmo sítio, mesmo assim, convivem como se fossem família.
O monte com neves eternas nos seus enormes picos era o único que continuava igual…quer dizer…com uma coisa diferente: agora passou a ser habitado por ursos, focas e pinguins.  
         Estava tudo tão bonito. Todos se perguntavam como tudo tinha acontecido, e o que estava mesmo a acontecer! Foram perguntar à senhora mais velha da aldeia, a quem chamavam sábia, com 105 anos, e perguntaram-lhe.
Ela respondeu com um sorriso, que era a junção de todas as luzes que se reuniram em nome da paz, de mãos dadas, numa linda noite de Verão com uma Lua gigante.
Tudo o que estava a acontecer era um prémio para todos…a magia da luz, que vinha dos corações de paz, e de amor, de bondade.
A vida está cheia de pequenos momentos simples de grande magia, como o nascer de vidas, a Natureza e a amizade, a paz, a serenidade, a bondade! Pequeninas belezas que nos enchem a alma.

FIM
Lálá

(31/Janeiro/2013) 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

AS BOLINHAS

NARRADORA – Era uma vez um dia de Inverno, sem chuva, mas com nuvens muito escuras, numa pequena aldeia muito montanhosa e estava um vento gelado. As crianças da aldeia estavam de fim-de-semana, e os adultos foram trabalhar para o campo. Entretanto, nas nuvens há uma grande agitação. Elas têm uma tradição de antes do Natal, largar umas bolinhas muito especiais em aldeias montanhosas, para alegrar os habitantes, que vivem mais isolados. Os habitantes da montanha não sabem dessa tradição, nem sabem como aparecem, mas ficam muito felizes quando recebem as bolinhas. É uma prenda dos antepassados que aqui já viveram, e que agora são estrelas. A nuvem chefe pergunta…
NUVEM CHEFE – Está tudo pronto, meninas?
TODAS (gritam) – Sim!
PORTEIRO – As portas também estão em condições! Posso abrir?
NUVEM CHEFE – Quando eu disser o três!
NARRADORA – Elas estão ansiosas e felizes para descer.
NUVEM CHEFE – Um…dois…três…largar!
NARRADORA – As nuvens abrem uma porta. Na terra aparece um lindo e enorme arco-íris, atrás deste, aparece outro, outro, outro e mais outro…muitos arco-íris…uns maiores, outros mais pequenos, mas todos lindos, brilhantes, luminosos, com estrelinhas.
CRIANÇA 1 – Olhem…o céu está cheio de riscas.
CRIANÇA 2 – Não são riscas, são meios círculos.
CRIANÇA 3 – São arco-íris.
TODOS – Áhhhh!!!
SRA 1 – Tantos…
TODOS (sorriem) – Que lindos!
SRA 2 – Que grande artista que é a Natureza…maravilhoso! Como é que ela consegue fazer aquilo…
SRA 3 (sorri) – Lindos!
SR – Acho que é melhor irmos para dentro…vai chover!
NARRADORA – Quando começam a entrar nas casas, as nuvens abrem as portas e largam milhões de bolinhas, umas maiores, outras mais pequenas, umas são transparentes, outras cheias de cores…mas todas são de comer, com um sabor irresistível. Umas são moles, outras têm líquidos doces. As bolinhas descem pelos arco-íris, umas transparentes que ganham as cores por onde passam, como se fossem escorregar num escorrega de crianças. Os arco-íris parecem uns colchões de molas, como no circo, paras os trapezistas, porque saltam e caem na relva do chão. Os habitantes não querem acreditar no que estão a ver.
SRA 3 – Mas o que é que está a acontecer?
SRA 2 – Está a cair o céu?
CRIANÇA 1 – As nuvens estão a desfazer?
CRIANÇA 2 – Os arco-íris estão a lançar bolas…
SR 1 – Não são os arco-íris, nem as nuvens, nem nada!
SRA 4 – Alguma coisa é! Isto não é normal.
SRA 1 – Ai, valha-me Deus…é o fim do mundo.
SR 1 – Só se for na tua cabeça!
JOVEM 1 – Eu acho que é granizo!
JOVEM 2 – Granizo? Tão leve? Huummm, não!
MÃE 1 – Isto não é água!
JOVEM 1 – Mas quando aparece o arco-íris na terra, é sinal que vai chover e as nuvens não enganam!
CRIANÇA 1 – Esta é uma chuva de bolas…olha Mãe…
MÃE 2 – Mas que bolas são estas?
MÃE 3 – Que coisa mais estranha! Nunca vi uma coisa destas.
CRIANÇA 2 – Quem manda isto?
SRA 3 – Porque é que isto está a acontecer?
SR 2 – Isto deve ser um castigo da natureza pela poluição.
SR 4 – Esta é aquela chuva que há todos os anos por altura do Natal!
TODOS – Áhhh! Pois é!
JOVEM 2 – Estamos quase no Natal…
SRAS – Sim, é verdade!
SR 3 – As do ano passado não podem ser, porque já as comemos…estas são outras!
SRA 4 – Mas será que estas são de comer?
SR 4 – São!
NARRADORA – Continuam a cair bolas e mais bolas, de todas as cores. Os habitantes apanham-nas alegremente, provam algumas e guardam as outras.
TODOS – Huummm…que boas!
CRIANÇA 1 (feliz) – Tantas cores…
CRIANÇA 2 (sorri) – E sabores!
CRIANÇA 4 – Estas são molinhas…Huummm…que delícia.
CRIANÇA 3 (ri) – São doces! E um bocadinho duras.
SRA 1 – Estas são salgadas.
SRA 2 – Estas são doces, mas têm uma travazinha amarga. São boas.
SR 2 – Estas sabem a morango.
SR 4 – Estas sabem a tuti-fruti.
MÃE 1 – Hum, estas sabem a pipocas!
NARRADORA – Vão a casa e enchem sacos e mais sacos com as misteriosas bolas de comer que caíram das nuvens e dos arco-íris, enviadas pelos antepassados, que observam e sorriem orgulhosos das nuvens.
ANTEPASSADO 1 – Que bom, como é bom vê-los felizes!
TODOS (sorridentes) – É!
ANTEPASSADO 2 (sorridente) – É uma recompensa por se lembrarem de nós, o ano todo, e por cuidarem tão bem do que deixamos.
ANTEPASSADO 3 (sorridente) – Bem merecem! Está tudo fantástico…! As crianças muito educadas e todos são trabalhadores, amigos.
ANTEPASSADO 4 (sorri) – Esta é a verdadeira felicidade…no seu estado mais puro…a felicidade nas pequenas coisas, na simplicidade das ofertas…!
(Na Terra todos olham para o céu)
SR 1 – São os nossos antepassados, de certeza!
SRA 1 – Sim, não tenho dúvidas disso.
SRA 2 (sorridente) – Eu também acho…um presente tão especial, e tão simples, tão bom…vindo das nuvens e do arco-íris…só pode ser de alguém especial.
SRA 4 – Sim, e são mesmo especiais…são as estrelas que olham por nós lá de cima!
TODOS – É! Muito obrigado!
SR 3 (sorri) – Até fico emocionado…!
SR 2 – Esta é a melhor lembrança que lhes podemos dar: a união, a amizade entre nós, o carinho, a família, o cuidado, a atenção, a dedicação e o respeito!
MÃE 1 – Sim, é verdade! A boa semente deles, perdura até hoje.
MÃE 3 (sorri) – E está aqui…por toda a montanha…em cada um de nós!
TODOS (sorriem) – Verdade!
(Todos aplaudem, abraçam-se uns aos outros, sorriem e mandam beijos para o céu. Nas nuvens, os antepassados sorriem felizes e orgulhosos, e retribuem as palmas).

FIM
Lálá
(23/Janeiro/2014)


O NINHO


foto de Lara Rocha 

        Era uma vez uma menina chamada Rita, que foi passear com o seu Avô, num dia cheio de sol e calor. Pelo caminho os dois cantam alegremente, apanham flores para oferecer à mar da Rita e à Avó, riem e apanham amoras. Quando chegaram a um campo, viram um novelo de palha seca, e ervas, musgo e pauzinhos…uma perfeição, virada para baixo.
Avô, olha o que está aqui?
O que temos aqui? É um ninho!
Um ninho…? De passarinhos? Mas está aqui no chão? Os ninhos não ficam no chão, pois não?
Não! Costumam estar em cima das árvores, nos postes de electricidade, ou nas beiradas das janelas, ou chaminés. Em muitos sítios, menos no chão, a não ser…quando caem.
Será que caiu?
É bem possível que tenha caído desta árvore. Ou deitaram-no abaixo por maldade!
Mas que maldade mesmo…e tem passarinhos?
Acho que não.
        O Avô pega no ninho e quando o levanta vê uns ovinhos pequeninos.
Espera! Estão aqui uns ovinhos.
(Pega nos ovinhos)
Então o ninho tinha passarinhos…
Estes estavam aqui debaixo, por isso devem ser deste ninho! Mas ainda não nasceram.
Áh! Que lindos ovinhos! Ainda não nasceram? E quando vão nascer?
Não sei! Quando quiserem…quando estiverem grandinhos, no tempo certo. Um dia destes.
Avô… podemos levar os ovinhos com o ninho para casa, até eles nascerem?
Não, filha! Vamos deixá-los aqui.
Vá lá Avô…vamos levá-los e aquecê-los. Eles não podem ficar aqui no chão, é um sítio muito perigoso! E frio.
Os pais deles devem estar por aí!
E porque é que não estão à beira deles?
Porque devem ter ido à procura de comida!
Mas pelo menos um, devia ter ficado a aquecê-los e a tomar conta deles, assim, já não caíam!
Eles sabem o que fazem…talvez os passarinhos que estão no ovo já tenham tempo e calor suficiente para não precisarem de ser aquecidos e vigiados.
Por isso mesmo, Avô…vamos levá-los connosco para casa e pomo-los ao sol, ou debaixo de uma luz para aquecerem.
Para que queres levar os passarinhos para casa?
Porque gosto muito de passarinhos e quero mostrar o ninho, e os ovinhos aos manos, e à mamã e ao papá.
Os teus papás já viram muitos ninhos, muitos passarinhos, muitos ovinhos…os teus manos também! Se eles quiserem ver, vem aqui ao campo, não é longe! Estão a meia dúzia de passos de casa.
Mas avô, eles não podem ficar abandonados, alguém lhes pode fazer mal.
Voltamos a pôr o ninho lá em cima, na árvore e eles já ficam seguros. Além disso, eles precisam muito dos pais! Os pais vão ficar muito tristes e muito preocupados se não os virem aqui! Se fosses tu, também ficarias preocupada e triste não era?
Era! Mas os pais não estão aqui!
Olha, fazemos assim: vamos colocá-los ali no ninho, no tronco da árvore, se os pais deles não voltarem a aparecer, nós levamo-los para casa! Combinado?
Achas que os pais vão aparecer?
De certeza que sim…eles não iam abandonar os filhos assim. Agora vamos dar uma volta, e quando regressarmos vemos se eles ainda estão aqui, sem os pais…se estiverem sozinhos, levamo-los.
Está bem. Mas Avô, há pais que não gostam dos filhos, e não querem ficar com eles, abandonam-nos.
Filha, esses são doentes…!
        O Avô pega no ninho e nos ovinhos e coloca-os na árvore, num sítio seguro. Os dois vão dar uma volta e quando regressam, encontram os pais dos passarinhos no ninho, a aquecê-los.
Onde está o ninho, Avô?
É aquele, naquele tronco!
Estão ali dois passarinhos grandes, será que foram eles que deitaram o ninho ao chão?
São os pais dos passarinhos que vão nascer! Eu não te disse que os pais iam voltar?
Óhhh! Que pena…eu queria tanto o ninho e os passarinhos.
Que pena? Devias ficar muito feliz…! Aqueles pássaros também querem muitos os bebés que vão nascer, aliás, eles ainda querem mais que tu…e os bebés passarinhos também querem muito os pais. Precisam muito uns dos outros. Não podíamos tirá-los assim só porque queríamos ou gostávamos! Os teus pais também te querem, e tu queres os teus pais…precisam uns dos outros, e tu também não querem, nem queriam que te tirassem deles, não é? Nem tu!
Pois é! Tens toda a razão Avô.
Um dia destes, vais ver os bebés grandes! A voar livres…mas por agora, estão no calor dos pais, a crescer.
E como vou saber que são eles?
Pelo ninho! E pela árvore!
Áh!
Bom, vamos deixá-los em paz, no amor uns dos outros.
Até um dia destes, passarinhos bebés! Pássaros, pais…cuidem bem dos vossos bebés, e tenham cuidado para não deitarem os ninhos abaixo.
Eles sabem o que fazer, querida! Vamos! - ri o Avô
Está bem.
        Os dois voltam para casa, e os passarinhos nascem alguns dias depois. Quando voltam ao campo, o Avô e a neta reconhecem o ninho, e ficam maravilhados com as criaturas que estavam dentro dos ovos…lindos! E os pais a transportar comida para os filhotes.
Ainda bem que não os levamos para casa, Avô.
Vês? Eu disse-te! A Natureza não brinca em serviço! Sabe o que faz.

FIM
Lálá

(23/Janeiro/2014) 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Pequeninas histórias - O GATO

O gato

desenhado por Lara Rocha 

      Era uma vez um gato de pelo claro, que se enroscou numa manta. Deitado aos pés da sua dona, a costureira Dona Flor, que fazia camisolas e casacos de lã, botinhas de agasalho e gorrinhos para as crianças, luvas e sacos, e muito mais.
    Num dia de Inverno com muita chuva e muito frio, o gatinho deitou-se na manta ao pé da lareira, onde estavam muitas lãs num cesto. 
       A dona Flor saiu de casa, e o gatinho adormeceu à lareira. Mexeu-se muito a sonhar, e quando acordou com um enorme trovão, saltou para o cesto das lãs, muito assustado, a tremer.
     Sem saber como…escorrega dentro do cesto, e desfaz os novelos com as unhas, enrola-se para tentar sair e fica preso ainda em mais fios. 
   O gatinho começa a ficar nervoso. Não consegue sair. Quanto mais tenta sair, mais se enrola nos fios de lã. Quando 

dona Flor regressa das compras, nem quer acreditar no que 

está a ver…uma grande confusão…tudo desarrumado! 

As lãs todas desfeitas e entrelaçadas umas nas outras, fios de 

lãs cortados, e o pobre gatinho muito aflito.

- O que é que aconteceu aqui…? Áhhh…foste tu, meu malvado! Olha para isto, e olha para ti…o que estiveste a fazer? Ai, as minhas lãs…seu atrevido. E agora?
- Desculpa…assustei-me com um grande barulho lá fora…! – Explica o gatinho.
- Que barulho?
- Não sei…estava a dormir e assustei-me muito, e saltei para aqui, sem pensar. Desculpa…depois queria sair daqui, mas umas coisas apertaram-se, e não consegui sair. – Diz o gatinho
- Foi a trovoada. Com tantos sítios para fugires, e tinhas logo que te meter aqui.
      A dona Flor tira o gatinho de cesto todo enrolado nas lãs.
- Como é que eu agora te vou tirar daí? Isto está cheio de nós…! – Diz dona Flor.
- Ai…! – Geme o gatinho.
- O que foi? Ainda não te toquei…tu merecias uma boa tareia… Tantas lãs que ficaram estragadas…que prejuízo! Acho que isto só cortado. - Ameaça dona Flor.
- Ai, eu vou ficar sem pelo?
- Era o que eu devia fazer…rapar-te esse pelo com as lãs, para aprenderes.
- Óh, não!
     A dona Flor pega numa tesoura e corta as lãs em vários sítios para saírem mais rápido do pelo. Ela puxa de um lado e o fio enrola-se noutro fio, ela corta um fio, mas outro fio de outra cor, está enroscado.
Alguns fios de lã, dona Flor consegue puxar e tirar, outros tem de cortar. Quando o gatinho fica livre das lãs, pede desculpa à sua dona pelo estrago, e ajuda-a a fazer outra vez os novelos mais pequenos com as lãs que estão boas. os fios de lã que ficaram estragados, dona Flor faz uma manta fofinha para o gato se deitar junto da lareira, cheia de cores diferentes e muito quentinha, confortável.
Dona Flor desculpou o bichinho, e percebeu que ele tinha medo da trovoada, e ela também tinha. Assim, quando trovejava, dona Flor pegava no gatinho ao colo, trocavam carinhos e deitavam-se os dois à lareira…o gatinho na manta, e a sua dona num almofadão enorme, enrolada num confortável e quente saco cama.
E sempre que a dona Flor queria fazer novelos, ou quando as lãs davam nós, o gatinho ajudava-a a desfazer e a fazer de novo.
E porque estavam juntos, já não tinham medo da trovoada.

FIM.
Lara Rocha 
15/Janeiro/2014