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terça-feira, 17 de maio de 2016

Os coelhinhos curiosos



Era uma vez três coelhinhos: um de pelo branco, outro de pelo cinzento e outro de pelo preto. Passeavam pela floresta aos saltinhos, a cantarolar, e a colher flores. De repente, quando olharam para o chão viram umas bolinhas vermelhas grandes, que não conheciam.

Cheirava-lhes a doce, e viram uma série de pássaros de volta das bolinhas vermelhas, a debicá-las, deliciados, até lutavam uns com os outros, porque não ficavam satisfeitos com uma só.

Os coelhos apanham um grande susto, quando veem que por cima deles, no céu, uma enorme águia que se aproxima rapidamente do solo, e aterra.

Todos os pássaros mais pequenos chilreiam nervosos, e fogem, quando veem a sombra da enorme águia, escondendo-se silenciosamente para não serem descobertos.

Os coelhinhos espreitam discretamente, atrás de uma árvore. A águia sente que está a ser observada, vira-se para trás e olha para todo o lado, e eles escondem-se outra vez.

A águia cheira e caminha pelo solo, os coelhinhos pensam em fugir, caem, chocam uns com os outros, caem mas levantam-se logo, e por sorte, os coelhinhos conseguem esconder-se numa toca, mesmo a tempo.

A águia quase os apanhava, mas como não os viu, segue caminho, a comer as bolinhas vermelhas. Os coelhinhos saem da toca, espreitam outra vez e ficam muito surpresos, respiram de alívio.

- Ufa! – Dizem todos

- Que susto! – Diz o coelhinho branco

- Pensei que íamos ser devorados… - Diz o coelhinho cinzento

- Engolidos vivos! – Diz o coelhinho preto

- Áh! – Exclama o coelhinho branco

- O que foi? – Perguntam os outros

- A águia comeu as bolinhas vermelhas! – Repara o coelhinho branco

- Áh! – Exclamam todos

- E serão de comer? – Pergunta o coelhinho cinzento

- Elas cheiram a doce! – Diz o coelhinho preto

- Mas pode ser perigoso. – Lembra o coelho branco

- Pois é! Às vezes tem um aspeto muito bonito, cheira bem…mas é venenoso, como alguns cogumelos que temos aqui na floresta, são perigosos para os humanos, e para nós também. – Alerta o coelhinho preto

- Os passarinhos também as comeram antes da águia aparecer. – Lembra o coelhinho cinzento

- Pois! – Dizem todos

Os passarinhos voltam a aparecer aliviados e pousam numa cesta. Os coelhinhos escondem-se atrás da árvore outra vez porque pensam que a águia vai aparecer, e espreitam… Veem os passarinhos a debicar na cesta deliciados, e caem algumas bolinhas vermelhas.

- Ei…tantos pássaros!

- São os mesmos de há bocado e muitos mais!

- O que é aquilo?

- É uma cesta!

- O que tem a cesta?

- Os pássaros estão a comer a cesta?

- A cesta? Claro que não. A cesta não se come.

- Mas a cesta tem alguma coisa que se come!

- De certeza!

- Olhem, mais bolinhas vermelhas.

- Estão no chão!

- Então…deve ser isso que tem a cesta.

Os coelhinhos ficam muito surpresos, olham-se entre si, e decidem perguntar aos passarinhos o que são aquelas bolinhas tão bonitas, grandes, vermelhas e que cheiram tão bem a doce. Saltitam e vão ter com os passarinhos.

- Olá! – Dizem os passarinhos simpáticos

- Olá! – Respondem os coelhinhos a sorrir

- Viram a águia? – Pergunta um passarinho

- Vimos! – Respondem os coelhinhos

- Nós também. – Dizem os passarinhos

- Tivemos muito medo. – Reconhecem os coelhinhos  

- Nós também. – Concordam os passarinhos

- Escondemo-nos logo. – Dizem os coelhinhos

- Nós também. – Respondem os passarinhos

- Pensamos que íamos ser devorados. – Diz o coelhinho branco

- Nós também. – Respondem os passarinhos

- E por falar em devorar… - Tenta o coelhinho cinzento

- São servidos? – Pergunta um passarinho

- O que é isso? – Perguntam os coelhinhos

- Não conhecem? – Perguntam os passarinhos

- Não! – Respondem os coelhinhos

- São cerejas. – Dizem os passarinhos

- Cerejas? – Perguntam os coelhinhos

- Sim, cerejas! – Confirmam os passarinhos

- Não acredito que nunca provaram. – Comenta um passarinho

- Não. – Reforçam os coelhinhos

- Isso é bom? – Pergunta o coelhinho cinzento

- Maravilhoso! – Respondem os passarinhos

- Provem. – Convida um passarinho

- Isso é de comer? – Pergunta o coelhinho cinzento, desconfiado

- É! - Dizem todos.

- Só o caroço, esta parte dura…não se come! – Explica um passarinho

- A águia também as comeu. – Lembra o coelho preto

- Claro! – Dizem todos

- Áh! Estas são as bolinhas vermelhas que a águia comeu? – Pergunta o coelhinho branco

- São! – Afirmam todos

Os coelhinhos observam os passarinhos a comer, e experimentam, imitando-os.

- Hummm… - exclamam os coelhinhos

- São ótimas não são? – Pergunta um passarinho

- São!

- Vamos comer, antes que venha outra vez a gigante.

E os animais apanham uma barrigada de cerejas, enquanto conversam alegremente, riem, e atiram os caroços para o chão, por todo o lado. A águia volta a voar nesse espaço, e todos se escondem nas árvores…ficam em silêncio para não serem descobertos. A águia aterra e fica furiosa quando vê a cesta vazia, e os caroços por todo o lado.

- Malditos! Se os apanho…já tenho almoço e jantar…petiscos para uma temporada Coelhos e pássaros. Há bocado cheirava-me a coelhos, mas como é que não os vi…? Onde é que eu agora vou arranjar outras cerejas? A minha princesa vai ficar furiosa e impaciente. Nem uma flor vai recompensar. Óh…vou desiludi-la. – Grita a águia, tão forte que até faz tremer o chão. Os animais encolhem-se.

Outra águia mais pequena leva a águia grande a um campo onde existem muitas cerejeiras, cheias de cerejas gigantes, apetitosas. As duas dirigem-se para lá, e quando os animais veem as duas águias a levantar voo, saem das tocas, e vão à procura desse campo.

- Óh! – Exclamam todos

- Que campo maravilhoso! – Dizem os pássaros

- Tantas cerejas! Uau! – Exclamam os coelhos

- Somos daqui de perto, mas não fazíamos ideia de que este campo tinha tantas cerejas – Exclama um passarinho

- Às vezes andamos muito distraídos – diz o coelho branco

- Passamos sempre a correr, ou é porque não saímos muito do mesmo sítio. – Diz o coelho cinzento

- Pois! – Concordam todos

Os coelhos abraçam as cerejeiras, dão as patinhas à volta dos troncos mais largos, e encostam-se a eles. Os passarinhos acham tão bonito, que se juntam e fazem o mesmo, a chilrear alegremente.

Depois, brincam, correm entre as árvores e rebolam no campo, caem, escondem-se sempre que veem as águias a voar, e saem das tocas quando elas passam, bebem numa pequena fonte, e debicam mais algumas cerejas deliciosas.

Umas famílias de toupeiras e grilos, vão à superfície, apanham os caroços de cerejas que os outros animais deixaram e metem-nos debaixo da terra.

Passado uns tempos, e de forma misteriosa nascem raízes de cerejeiras que não aparecem à superfície, mas alimentam os animais subterrâneos.

E vocês gostam de cerejas?

Desenhem cerejas, ou as personagens que quiserem da história.     

FIM

Lálá

(12/Maio/2016)

 


Uma luz para o mundo

                                                                 foto de Lara Rocha 

Era uma vez num cantinho da nossa linda bola azul, uma criança, e uma mulher Adulta com uma criança interior bem viva; era tão pura e inocente como a criança pequena que estava consigo, ao seu lado.
A criança disse à mulher adulta diante da lua cheia gigante, num acampamento, que o seu maior desejo era paz para o mundo, e ficava muito zangada porque ainda não tinha conseguido.
Esse era o mesmo desejo da jovem mulher que sorriu, e desafiou a criança a fazer um convite ao mundo…acender uma vela e pedir ao universo. As duas acenderam uma vela pequenina e pediram com toda a sua força. O vento soprou e levou duas chamas pequeninas que ardiam nas velinhas, que continuaram acesas.
As chamas deram as mãos e pararam no vizinho do lado, transformaram-se em duas mulheres luminosas, e passaram o convite…cada um acender uma vela pela paz no mundo. Os vizinhos aceitaram imediatamente, e toda a família acendeu uma vela, e pediu ao universo…PAZ.
As chamas de cada vela foram dando as mãos, e pedindo de porta em porta. A corrente de chamas representada pelas velas tornou-se cada vez maior, maior, e maior…tão grande se espalhou por todas as cidades, vilas, aldeias, praias e montanhas.
O universo inteiro viu e ficou maravilhado com aquela corrente de velas. Por onde as chamas passaram de mãos dadas, todos rezaram e pediram paz à sua maneira.
Quando chegaram aos países em guerra, os soldados pararam e olharam para um coração em chamas que apareceu no chão, e circulou diante deles, as chamas abraçaram-se e formaram um sorriso, depois escreveram a palavra PAZ, com a imagem de uma criança e uma mulher, feitas de estrelas.
Os soldados choraram e ajoelharam-se, calaram-se as armas e ouvia-se o silêncio… quebrado pelos choros e rezas dos soldados. As chamas choraram ao ver tanta destruição, e ao sentirem tanta raiva, dor e ódio nesses sítios.
Enquanto as chamas estiveram nesses locais houve paz, mas logo que saíram de lá, tudo recomeçou!
- Um dia, os nossos pedidos serão ouvidos e haverá paz, não guerra! Uma vela só, pode ser insignificante, mas muitos desejos, e muitas velas, iluminarão as mentes e o mundo mudará! Nós acreditamos que sim. – Diz a jovem
Cada um de nós pode acender muitas velas mentalmente todos os dias, e desejar que a guerra acabe…fazendo a paz nas mais pequenas coisas, e momentos…
A criança e a jovem abraçam-se, fundem-se, transformam-se em luz e de repente desaparecem…elas andaram por todo o lado a espalhar e a pedir uma luz para o mundo!

FIM
Lálá
(10/Maio/2016)
PARA PENSAR…
E vocês? Espalham luz, ou guerra?
Acham que recebemos mais luz, ou damos mais luz? Como se sentem quando dão luz aos outros e ao mundo? E quando recebem luz?
Experimentem fazer correntes de chamas, e sejam a jovem e a criança que espalharam luz pelo mundo.



segunda-feira, 16 de maio de 2016

A mãe candeeiro


Era uma vez um candeeiro num jardim público, que tinha uma estátua de mulher a segurar uma bola de luz nas mãos, e estava pousada debaixo de uma árvore centenária muito frondosa, com um tronco muito grosso. Aí estava protegida, e a sua luz iluminava todo o jardim, aquecia a árvore, e as folhas.
Debaixo do candeeiro, talvez pela sua forma feminina, instalavam-se todas as noites, vários elfos e fadas, gatos e às vezes cães vadios, borboletas, e aves que se enroscavam, encostavam e abraçavam-no.
A estátua do candeeiro era muito carinhosa, e ganhava vida para seres especiais, e quem ela aconchegava, abraçava, protegia, aquecia, conversava e fazia companhia. Era adorada por todos e a intensidade da sua luz aumentava e diminuía conforme as necessidades.
Um dia, uma ave de rara beleza voava aflita à procura de um lugar seguro onde fazer um ninho para chocar os seus ovos. A mãe candeeiro, como lhe chamavam, perguntou à ave se precisava de ajuda. A ave explicou-lhe tudo, e logo lhe arranjaram um maravilhoso ninho, grande, confortável e vigiado.
A ave instalou-se e descansou. Esteve vários dias em que ao buscar comida e voltava, enquanto isso, todos tomavam muito bem conta dos ovos, a mãe candeeiro aquecia-os com a sua luz e as fadas flores tapavam os ovos com as suas pétalas macias para proteger dos perigos.
Chegou o grande dia. Os ovos começaram a estalar, e os passarinhos saíram muito trôpegos, sem penas. Todos assistiram muito entusiasmados, e enternecidos, ao ver a ave mãe toda carinhosa e orgulhosa, feliz, aplaudiram e além da ave mãe, os bichinhos receberam muito amor e carinho da mãe candeeiro e de todos.
Acompanharam e festejaram todos os pequeninos voos, primeiro muito desajeitados, depois grandes, abertos e maravilhosos, o nascimentos das penas, desde as primeiras até ás últimas, que ficaram tão bonitas como as da mãe, deixando encantado quem via aquela explosão de cores, e bailados maravilhosos.
As fadas e os elfos ensinaram muito aos pequenitos, brincaram muito com eles, e construíram uma verdadeira família do coração, muito felizes. A bela ave os filhos nunca mais abandonaram esse lugar, nem a mãe candeeiro que estava sempre atenta, aquecia e cuidava de todos.
FIM
Lálá

(9/Maio/2016)

Onde estão os tesouros?




Foto de Lara Rocha 

Era uma vez um anãozinho que vivia numa floresta pequena, que ficava num vale de uma montanha muito alta onde pastavam e circulavam famílias de cavalos, ovelhas, lobos e outros. Ainda que pequenina, tinha muitos habitantes, e tantas casinhas que parecia uma mini cidade. Tinha tudo!
Como a floresta era pequena todos os habitantes se conheciam e conviviam muito, faziam muitas vezes piqueniques, passeios até à montanha, bailes, festas e serões com espetáculos de música, cor, magia e dança oferecidos pelos artistas da aldeia, fadas da natureza que andavam por todo o lado e eram mais que os habitantes.
Um dia o anãozinho viu o arco-íris no cimo da montanha e desde pequenino que sonhava agarrar o arco-íris, ou apanhá-lo e guardá-lo numa garrafa para olhar sempre para ele, já que o achava tão bonito.
Todos lhe diziam quando ele partilhava essa vontade que era impossível, que nunca ia conseguir fazê-lo, mas ele e a criança que já foi um dia, e vivia nele, desafiou-o a tentar porque onde fosse visto um arco-íris, certamente haveria um tesouro!
Ele imaginava um baú cheio de pedras preciosas, cristais, dinheiro…e queria isso tudo. Aceitou o desafio e pôs pés ao caminho! Subiu a montanha na direção em que lhe parecia estar o arco-íris, sempre a olhar para ele, muito atento. O arco-íris mudou de posição, e mudava sempre que ele se aproximava e achava que tinha chegado ao tesouro.
Ele correu a montanha toda, subiu-a e desceu-a várias vezes no mesmo dia, atrás do arco-íris, e nunca encontrou tesouro nenhum. Ficou muito nervoso e zangado que começou a gritar até ficar quase sem voz. Os lobos olharam para ele, uivaram e desataram às gargalhadas. Depois perguntaram porque gritava daquela maneira. Ele disse que andava atrás do tesouro que o arco-íris trazia consigo.
Uma fada explicou-lhe que o tesouro do arco-íris era ter olhos, poder ver, a família e a natureza. Voltou para casa, parou e depois de lhe passar a raiva e a desilusão de não ter encontrado nenhum tesouro, pensou no que a fada lhe tinha dito…percebeu que ela tinha toda a razão. A fada disse-lhe que os tesouros materiais não são os que devemos procurar.
E lembrou ao anãozinho que não há maior tesouro que a boa saúde. Ter olhos para ver todas as belezas e maravilhas ao nosso lado, e por todo o lado; um coração a bater, cheio de amor, carinho e bondade para dar.
Ter pernas ou ajudantes como muletas, bengalas, cadeiras de rodas ou andarilhos para andar; braços para envolver, abraçar e mãos para segurar, acariciar, dar…boca para sorrir e dizer palavras bonitas; ouvidos para ouvir os sons e os outros, e sonhos para sonhar, viver, acreditar e lutar. Ter uma cabeça com pensamentos positivos, família, amigos e natureza.     
Todos temos vários tesouros que transformam a nossa vida diária em arco-íris. O anão sorriu, voltou a subir à montanha e gritou bem alto um longo e poderoso OBRIGADO!
Ele tinha afinal muitos tesouros…muito mais valiosos do que aqueles que imaginava encontrar nos baús. A partir desse dia, o Anão aprendeu a apreciar a natureza, sem querer agarrá-la com as mãos, mas guardava cada detalhe que via, nos seus olhos, e que lhe faziam nascer grandes sorrisos luminosos.
A cada coisa bonita e maravilhosa, especial e diferente que ele via, agradecia à Natureza, e esta compensava-o com as suas belezas, magias, e dando-lhe tudo o que ele mais precisava…percebeu que o que tinha era suficiente para o deixar feliz, e afinal…tinha muito mais do que aquilo que imaginava e desejava.
FIM
Lálá

8/Maio/2016

domingo, 1 de maio de 2016

A lua que sorriu a dormir




        Era uma vez uma lua que vivia no Universo, muito lá em cima, que costumava ouvir todas as noites milhares de histórias que mães, pais e avós liam a crianças antes de elas dormirem. 
Ela ouvia e sorria, mas não prestava atenção em nenhuma em especial, porque eram tantas que se perdia, mas gostava muito dessa barafundas de vozes, gritinhos e risos dos adultos que tentavam dar mais intensidade ao que liam, e das crianças que se riam dos exageros ou gritavam de sustos.
Uma noite, já era muito tarde e todas as crianças dormiam, a lua adormeceu e sonho como sempre, mas este sonho foi diferente. Ela sonhou que estava a passear pelo espaço, encontrou uma nuvem muito fofa, escura, e parecia leve, que não conhecia, mas logo se tornou amiga dela, e levou-a nas suas costas.
Quando ia nas suas costas, a nuvem rebentou e a lua ficou a pairar. Do interior da nuvem espalharam-se muitas gotinhas de água que congelaram, e transformaram-se em cristais, que flutuaram por todo o espaço, à volta da lua, e á sua frente…outras gotinhas de cristal quando passaram perto do sol brilharam, estouraram e transformaram-se em arco-íris.
Dos arco-íris, saltaram muitas estrelinhas brilhantes que se colaram a um planeta que ia a passar, e tornou-se gigante quando engoliu ou aspirou as estrelinhas. A lua ficou muito zangada com o planeta, e ralhou com ele, mas ele disse-lhe que tinha fome.
A lua enviou um raio que fazia cócegas para o planeta, que não conseguia parar de rir, torcia-se, até dava cambalhotas, e assim todas as estrelas que o planeta tinha engolido conseguiram sair. O planeta teve de procurar outras coisas para comer.
Para agradecer de terem sido salvas, as estrelas abraçaram e beijaram a lua, cantaram para ela e dançaram em roda, e foram com ela de mãos dadas para as nuvens, onde encontrou um grupo de palhacinhos, com roupas muito coloridas, que tocavam instrumentos, davam cambalhotas e saltos, brincavam com bolas, e aplaudiu-os.
As estrelas e a luz pousaram no planeta terra. Viram as suas imagens refletidas nas águas dos lagos, no mar, nos rios, e nas janelas. Coraram por ver tanta gente a olhar para elas e sorriram.
O João Pestana que vinha de fazer a sua distribuição de soninhos pelas crianças, atirou para a lua um saco cheio de sonhos e desejos de meninos.
Uns rapazes artistas, solitários sopraram palavras para a lua, aquelas que escreviam…outros desenharam-na e pintaram-se com ela, e outros atiraram-lhe rosas vermelhas.
As palavras mais bonitas, a lua guardou-as, as mais violentas ou mais tristes, as estrelas empurraram-nas para o chão, e o vento não deixou que chegassem perto da lua.
Uns casais jovens românticos, que estavam nas praias, e á beira dos rios, escreveram nas suas mentes, sonhos, fantasias e medos, a lua leu e sorriu de tanta inocência.
E quando chegou a um monte ficou em silêncio…estavam alcateias reunidas a olhar para ela. Ela ficou com medo. Os lobos, um por um, um a seguir ao outro, ajoelham-se e uivam com a alma. Ela arrepia-se e sorri, os lobos começam a cantar para ela.
Mais à frente, ela fica emocionada…e sentiu muito medo, quando as estrelas lhe mostram um país em guerra. Ouviu adultos e crianças a chorar, a rezar e a pedir proteção, paz…Não conseguiu segurar as lágrimas.
Furiosa, lançou raios por todo o lado, que fizeram derreter todas a maldade dos homens, todas as armas, criou alimentos, luz, água, casas com todo o conforto, e juntou famílias que estavam separadas por causa da guerra. A cidade ficou reconstruída e todos viveram em paz.
Para agradecer, os habitantes fizeram uma grande festa, trocaram abraços, beijos, presentes, palavras simpáticas, muitos sorrisos e lágrimas de alegria, pedidos de perdão, e correntes humanas de mãos dadas com pensamentos de paz e de gratidão para a lua.
Todos os que estavam á volta da lua, muito lá em cima, viram que ela estava a sorrir a dormir. Ela abriu os olhos e ainda estava a sorrir. Todos sorriram com ela, e perguntaram-lhe porque estava a sorrir.
Ela respondeu-lhes que teve um sonho…sonhou muitas coisas boas, recebeu prendas e carinhos, mas o que a fez sorrir mais, foi a parte em que com os seus raios acabou com a guerra, reconstruiu uma cidade inteira, onde derreteu toda a maldade e fez nascer a paz.
Foi mesmo só um sonho, mas fê-la sorrir a dormir, e por isso, enquanto durou esse sonho onde ela sorriu, de certeza que se sentiu feliz, e desejou que coisas boas acontecessem no lindo planeta terra que ela vê todos os dias da sua casa.
Onde é que ela teria ido buscar as ideias para este sonho que a fez sorrir a dormir? Quem sabe…aos pedaços de histórias que ela ouve todas as noites, misturadas… é assim que são os nossos sonhos…misturas…onde tudo pode acontecer.
E vocês? Já sorriram a sonhar? De quê? Lembram-se? Que sonhos é que acham que vos podiam fazer sorrir como a lua?

Fim
Lara Rocha 
(1/Maio/2016)

O PIANO E AS BORBOLETAS


Era uma vez um piano abandonado num sótão de uma casa antiga e em ruínas que ficava numa praia. A casa já quase não tinha mais nada além das paredes de pedra, mas o piano ainda lá estava intacto.
Os habitantes da casa tinham saído há muito tempo para outra cidade, e como não podiam transportar o piano deixaram-no ficar, servindo de abrigo para gaivotas, gatos e cães abandonados.
Um dia, a casa foi invadida por centenas de borboletas grandes e pequenas, com asas de cores muito diferentes, e lindas, que vinham de muito longe, e precisavam de repousar.
Entraram e como estavam no limite das suas forças caíram levemente sobre o piano: umas aterraram nas teclas, outras na tampa que estava meia levantada, mas essas escorregaram e caíram na relva, nem sentiram a queda, e outras caíram dentro do piano.  
Dormiram um longo sono, e nem perceberam a entrada e a saída dos habitantes habituais, mas estes repararam logo a cheirá-las, a soprar-lhes, mas elas não deram de si.
- O que é isto? – Pergunta uma gata surpresa
- De onde veio esta bicharada toda? – Pergunta um cão
- Agora em vez de chuva cai isto lá de cima, é? – Pergunta uma gaivota
- Será que já cá estavam e nem demos por elas? – Pergunta outra gata
- Não. Tenho a certeza que não estavam antes. – Diz outra gata
- E agora o que fazemos com elas? – Pergunta outra gaivota
- Vamos deixá-las aqui. – Diz uma cadela
- Elas estão a dormir um sono tão pesado que nem sentem que lhes sopramos. – Repara outra gata
- Devem estar mesmo muito cansadas! – Diz outra cadela
- Esperem…há aqui mais! – Anuncia outra gaivota que pousa no chão
- Mais? – Perguntam todos
- Sim, mais…estes bichos… - Responde a gaivota
Todos olham para o chão, e as borboletas continuam a dormir. Os outros animais deixam-nas estar e vão dar uma volta. No dia seguinte, as borboletas começam a acordar aos bocadinhos, e a voar muito devagar, com voos muito pequeninos, olham para todo o lado, e todas escorregaram.
As das teclas do piano levantam-se e caem, as da cobertura escorregam e caem á beira das outras que estavam no chão. Como eram muito leves, o piano continuava silencioso, e elas passeavam pelas teclas, deixavam desenhos no pó.
De repente, assustam-se com os outros animais e começam a tentar fugir, a correr em cima das teclas e da tampa, os gatos, os cães e as gaivotas divertem-se e dão grandes gargalhadas ao soprar e ver as borboletas desnorteadas, perdidas, assustadas a tentar fugir e a cair.
As gaivotas que pousam nas teclas fazem-nas tocar, e as borboletas que estavam dentro do piano saem disparadas às dezenas, com voos tremidos, algumas sem voar, parecem pregos e todas voam desajeitadas, as que estavam pousadas no chão acordam sobressaltadas e voam como fusos, tão rápido que quase não se vêem as cores das suas asas.
As gaivotas caminham pelas teclas e quanto mais as fazem tocar, mais borboletas saem. Os animais assistem encantados àquele espetáculo de cores e tamanhos em voo. Nunca tinham visto nada assim.
Primeiro riram muito, depois até ficaram com pena delas, pediram desculpa, e perguntaram se precisavam de alguma coisa. Como os animais conheciam bem a praia, levaram as borboletas a dar uma volta para se alimentarem e conhecerem o espaço.
No caminho, as borboletas contaram-lhes a sua fuga e descreveram o sítio de onde vinham…os animais ficaram comovidos e tornaram-se grandes amigos delas, brincaram juntos, riram, conheceram outros animais, sentiram a areia e os salpicos do mar, arrepiaram-se e voaram ao sabor do vento, deixando os outros animais maravilhados com os bailados, que seguiram todos os movimentos e até aplaudiram.
As gaivotas apresentaram-lhes outros amigos e ao fim da tarde as centenas de borboletas assistiram ao mágico pôr-do-sol e participaram no fantástico bailado dos pássaros da cidade mais próxima, e de praias vizinhas que acontecia todos os dias e tinha sempre muitas pessoas a ver e a fotografar.
Foi uma grande surpresa para todos os que viam, pois entre os pássaros perceberam que havia uns voos mais pequeninos e diferentes, mas tão bonitos e harmoniosos como os outros. Ficaram ainda mais encantados quando repararam que se tratava de borboletas…
Uns dias mais tarde, uns jovens foram buscar o piano, eram netos de um dos habitantes da casa, e levaram-no para um apartamento da cidade mais próxima.
Todos os animais ficaram em pânico, e correram atrás do camião que carregou o piano, a ladrar, a miar, a tentar chegar às portas, porque pensavam que as suas amigas borboletas também lá iam.
Quando o camião parou, e tiraram o piano, perceberam que as borboletas não estavam. Cheiraram o piano e das amigas, nem sinais. Ficaram aliviados, mas ao mesmo tempo preocupados…onde estariam então?
Voltaram para a praia apreensivos, e a olhar para todo o lado, e quando lá chegaram viram as borboletas nas ruínas da casa, pousadas em dezenas de flores lindas, viçosas, coloridas, umas grandes, outras enormes que tinham nascido inesperadamente numa varanda, de um piso onde os seus amigos nunca tinham ido.
Umas borboletas dançavam e balançavam vagarosamente em algumas das flores, ao sabor do vento que em algumas zonas era mais forte, noutras, uma pequena brisa. Outras borboletas estavam apenas deitadas nas pétalas a sentir as carícias do vento das suas asas, e o sol com um grande sorriso.
Os outros animais fizeram uma grande festa ao reencontrar as amigas borboletas
- Áhhhh…estão aqui! – Dizem todos felizes
- Que susto! – Diz uma gata aliviada
- Porquê? – Perguntam as borboletas
- Pensávamos que tinham ido naquele piano. – Diz uma gaivota
- Áh! – Dizem todas as borboletas
- O piano foi embora? – Pergunta uma borboleta
- Foi! – Respondem todos os animais
- Não viram? – Pergunta uma cadela
- Não! – Respondem todas as borboletas
- Como não? – Perguntam os outros animais
- Estávamos aqui. – Respondem todas as borboletas
- Fomos dar uma volta pela casa e encontramos estas maravilhosas flores! – Explica outra borboleta
- São enormes… - Dizem todas as borboletas
- Lindas. – Dizem os animais
- Macias. – Acrescenta outra borboleta
- Cheiram maravilhosamente bem! – Dizem as gatas a cheirar
- Toquem nas pétalas… - Sugere outra borboleta
Todos tocam, e sorriem.
- Fantásticas! – Dizem todos os animais
- Nem sabíamos que elas existiam aqui. – Diz uma cadela
- Não? – Perguntam todas as borboletas
- Não! – Respondem todos os animais
- Esta casa está cheia de mistérios… - Diz outra gata
- Parece que sim. – Dizem as borboletas
- E se formos por aí, ainda encontraremos mais. – Diz outra borboleta
- Não tenho muitas dúvidas. – Diz outra gata
- Mas para onde foi o piano? – Pergunta outra borboleta
- Para uma casa da cidade próxima daqui. – Conta um cão
- Quem veio buscar? – Pergunta outra borboleta
- Uns jovens. – Diz uma gaivota
- Seria o dono do piano? – Pergunta outra borboleta
- Talvez. – Respondem todos os animais
- E porque é que o vieram buscar? – Pergunta outra borboleta
- Não sei. – Respondem todos
De repente, o vento traz consigo uma melodia…parece de um piano. Os animais reconhecem o som, e vão com as borboletas atrás dele. O som vem da cidade…da casa para onde foi o piano, e pousam na varanda da sala, onde está um senhor de pele enrugada, e cabelos brancos, a tocar o piano, com uma velocidade de dedos que parece um jovem, e um grande sorriso. Os animais ficam embalados, e no fim aplaudem. O senhor ri, e agradece, mesmo sem saber quem são.
- Então é aqui que está o piano! – Comenta uma borboleta
- Ainda bem que foram buscá-lo… - Comentam todos
- Olhem que feliz que ele está! – Repara uma cadela sorridente
- Que lindo! Até brilha… - Comenta outra cadela
- Aqui faz falta, para nós não. – Comenta outra borboleta
Os animais voltam para a praia, e ao fim da tarde, nesse dia, o senhor toca outra música, feliz, tão bem, e tão bonita que contagia os pássaros e as borboletas, que fizeram o seu bailado em frente á casa do senhor que tocava, e ao som da música.
Para eles foi ainda mais especial e para o senhor e para quem viu foi mágico. Desde esse dia, nasceu uma linda amizade entre os pássaros e as borboletas, e o senhor que tocava piano todos os dias àquela hora, músicas diferentes para se deliciar com o bailado.
Quem passava na rua a pé, parava. Uns sentavam-se nos jardins, nos bancos, para ver essa maravilha, outros fechavam os olhos para sentir a música, outros deitavam-se na relva ou encostavam-se às árvores dos jardins, viam o bailado e ouviam a música. Era um momento de paz que levavam para casa, e adoravam.
Fim
Lálá

(1/Maio/2016)