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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

TEXTO PARA DRAMATIZAÇÃO - O livro de pintar, os lápis de cor e os marcadores


Diálogo entre os lápis de cor, os marcadores, um livro de pintar e um rádio. No móvel de uma cozinha, estão pousados muitos lápis de cor de vários tamanhos, dentro de uma caixa de cartão, e noutra caixa estão marcadores. Entre as duas caixas está um livro de pintar com desenhos infantis. Todos, lápis e marcadores, querem ser úteis e gostam de ser agarrados, aguçados, e usados. Uma menina que vive na casa, já não os usa há alguns dias porque foi de férias com os pais. O livro suspira longamente.


LIVRO – Aaaaaiiii…!


LÁPIS E MARCADORES – Ui, o que foi?


LIVRO (triste) Nada…!


LÁPIS BRANCO – Picou-te alguma coisa…ou caiu-te alguma coisa em cima?


LIVRO (triste) Não. Antes tivesse caído.


LÁPIS E MARCADORES – Ui.


MARCADOR COR-DE-ROSA-CLARO – Tu não sabes o que estás a dizer.


LIVRO – A dor não seria tão grande.


LÁPIS E MARCADORES (espantados) Áááááááhhhh…não acredito!


LIVRO – É verdade!


LÁPIS AMARELO – E que dor tão grande é essa, amigo?


LIVRO – Não foi nada, deixem para lá.


MARCADOR PRETO – Alguma coisa foi!


LÁPIS VERMELHO – Também acho. Esse suspiro veio dos pés.


MARCADOR AZUL - CLARO – Conta, amigo…!


LIVRO – Não tenho nada para contar.


MARCADOR AMARELO – Tens muita coisa para contar. És um livro.


LIVRO – Sou um livro, mas não conto nada. Não tenho palavras.


MARCADOR AZUL-ESCURO – Como não tens nada para contar?


LIVRO – Não tenho palavras…nem números…só tenho imagens.


MARCADOR COR-DE-ROSA – Ora essa…os livros, mesmo sem palavras e sem números, contam coisas.


LIVRO – Mas eu não.


MARCADOR ROXO – Tens imagens, e as imagens também contam muitas coisas.


LIVRO – Mas as minhas não contam.


MARCADORES – Cruzes!


MARCADOR CINZENTO – Ora, ora…as coisas não estão bem para o teu lado!


LÁPIS E MARCADORES – Não, não.


MARCADOR AMARELO – Estás muito em baixo…!


MARCADOR VERDE – Nem parece teu.


LIVRO – Ora essa…vocês também não estão sempre sorridentes, certo?


LÁPIS E MARCADORES – Errado.


MARCADOR COR-DE-ROSA – Estando juntos, estamos sempre bem!


LIVRO – Pois. Vocês têm sempre cor à vossa volta.  


LÁPIS COR-DE-LARANJA – A tua tristeza é tão grande que nem te deixa falar, verdade?


LIVRO – É. Deve ser…!


LÁPIS VERDE – Vá lá, abre-te para nós.


LIVRO – Não, deixem lá.


LÁPIS E MARCADORES – Conta.


MARACADOR ROXO – Vá lá…somos teus amigos.


LIVRO (suspira) Aiiii…querem saber…? Estou triste.


LÁPIS E MARCADORES – Sim, já reparamos.


LIVRO – E então…?


LÁPIS AZUL – E então…queremos saber o resto.


LIVRO – Que resto?


LÁPIS AZUL - Ai, é preciso dizer-te tudo! (p.c) Nós queremos ajudar-te, por isso, tens de nos dizer porque é que estás triste!


LIVRO – Áááááhhh…! Estou triste porque estou triste…olhem…!


MARCADOR VERDE-ÁGUA – Áááááhhh…muito elucidativo!


LÁPIS VERDE-CLARO – Desembucha.


LIVRO – Ai, que chatos. (p.c) Pronto, eu conto.


LÁPIS E MARCADORES – Aleluia.


LIVRO – Sinto-me muito sozinho.


MARCADOR VIOLETA – Tens saudades da menina, é isso?


LIVRO – Sim. E vocês não?


LÁPIS E MARCADORES – Sim, também.


LIVRO – E não estão tristes?


LÁPIS E MARCADORES – Isso não!


LIVRO – Como? Não gostam dela?


LÁPIS E MARCADORES – Gostamos, é claro.


LIVRO – Então deviam estar tristes.


LÁPIS E MARCADORES – Não.


MARCADOR AZUL CLARO – Nós sabemos que a menina foi de férias, e daqui a dias está aí outra vez…!


LÁPIS AZUL-ESCURO – Sim, e também precisamos de descansar.


LIVRO – Sim, é verdade…mas além disso, eu sinto-me cinzento…!


MARCADOR VERMELHO – Tu precisas de cor é isso?


LIVRO – Sim, eu sou um livro infantil, cheio de desenhos…infantis…e tenho de ter muita cor…porque só com a cor é que eu sou feliz, e faço as crianças felizes. Elas é que gostam muito de muita cor.


LÁPIS AMARELO – Óh, pois é! Mas estás connosco, e nós somos cores!  


MARCADORES – Sim, também gostam muito de nós, com certeza. Nós também damos muita alegria aos desenhos, e á vida das crianças…!


MARCADOR VERMELHO – Tenho uma ideia…! Para nos alegrarmos, porque é que não nos juntamos todos, fazemos uma dança com o livro, e assim passamos a nossa alegria, e a nossa energia para o livro?


LÁPIS E MARCADORES (sorriem) Excelente ideia.


LIVRO (sorridente) Isso!


LÁPIS VERDE - CLARO – Mas esperem aí…não temos música.


MARCADOR AMARELO – Olhem, temos um rádio mesmo aqui à beira…é pequenino, mas deve funcionar. É o que o pai da menina usa para ouvir o futebol.


(O marcador Amarelo levanta-se da caixa)


MARCADOR AMARELO – Ajudem-me só aqui a saltar, por favor.


(Os marcadores ajudam o amigo amarelo a saltar para o rádio. O marcador amarelo mexe nos botões e gira o corpo em cima da esfera, contente. Liga o rádio, aumenta o volume e todos batem palmas. Ouve-se uma música, o livro abre-se num desenho infantil, e os lápis dançam alegremente, pintando cada desenho da folha que abriu, sozinhos, e em conjunto, riem, cruzam-se, lápis e marcadores, fazem pares, e no fim o livro fica muito mais contente. Ficou um trabalho excelente, com o desenho cheio de cores, muito bem combinadas. Os lápis e os marcadores apreciam o trabalho, orgulhosos, batem palmas)


LÁPIS E MARCADORES (sorriem) Uau!


LÁPIS AZUL – ESCURO (sorridente) Ficaste tão bonito!


LIVRO (sorridente) A sério?


LÁPIS E MARCADORES (sorridentes) Sim, mesmo!


LIVRO (sorridente) Que pena não ter aqui um espelho…queria ver-me.


MARCADOR AMARELO – Vê-te aqui, na tampa da máquina de café.


LIVRO (sorri) Boa.


(O livro levanta-se, vê o seu reflexo na tampa da máquina de café, sorri vaidoso)


LIVRO (feliz)Óh, meus amigos…muito obrigado. Estou mesmo bonito.


MARCADOR COR-DE-ROSA (sorri) Estás sempre bonito!


LÁPIS VERMELHO (sorridente) Com a nossa presença é claro!


MARCADORES – Convencidos!


MARCADOR VIOLETA – A nossa presença é muito mais forte!


LÁPIS AZUL VERDE – Ora essa…lá porque dão mais nas vistas…não quer dizer que sejam mais fortes!


LIVRO (ri) Todos vocês são muito importantes para mim…cada um no seu estilo, cada um com a sua cor, e espessura, mas preciso de todos, e adoro todos vocês!


MARCADOR AZUL-ESCURO – Correcto.  


MARCADOR VERDE-ÁGUA (sorridente)Sentes-te melhor?


LIVRO (feliz e sorridente) Sim, muito melhor! Estou tão feliz…! (p.c) Não posso viver sem vocês…Lápis e marcadores…!


LÁPIS VERDE-CLARO (sorridente) Se tu não existisses, também não tínhamos trabalho! Por isso, também gostamos muito de ti.


MARCADOR AZUL-CLARO (sorridente) Pois. Essa é a nossa função. E a nossa amizade faz todo o sentido…precisamos uns dos outros, para alcançar o mesmo objectivo…dar cor e alegria à vida das pessoas.


LIVRO – Vocês são o máximo…!


RÁDIO – Ei…desculpem lá…estão para aí a dar valor uns aos outros, e muito bem, mas então e eu…? Não fiz nada…? Sou só para enfeitar?


(Todos riem)


LIVRO (sorri)Não, não és só para enfeitar…dás música…e foi a música que inspirou os meus amigos, que os pôs a dançar…para me porem todo bonito.


LÁPIS E MARCADORES (sorriem) Tens razão.


LIVRO (sorri) Obrigado.


RÁDIO (orgulhoso) Assim está melhor.


(A porta grita)


PORTA DA COZINHA – Calem-se, vem aí a menina.


(E todos voltam a ficar como antes. O livro fechado, os lápis de cor deitados na caixa, os marcadores também na sua caixa, e o rádio desligado).  


FIM  
(Lálá) 
29/Novembro/2012  






quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Um sonho de Natal tornado realidade


NARRADORA - Era uma vez uma família numerosa, seis filhos, e vinha o sétimo a caminho, pobre que vivia numa casa feita no tronco de uma árvore muito velha. O pouco mobiliário que lá existia tinha sido construído pelo pai que era carpinteiro. Os pais dos meninos eram varredores de rua, não ganhavam muito dinheiro, e o pouco que ganhavam era para alimentação e pouco sobrava. Apesar de muito pobres, os meninos andavam sempre limpinhos e vestidos, muito ajudados pela comunidade, com alimentos e roupas. Não passavam muito frio, não chovia em cima deles, e estavam a juntar dinheiro para construir uma nova, e verdadeira casa. Mesmo assim, não faltava amor naquele lar, e iam sobrevivendo. Mesmo com tantas dificuldades, eram pessoas simples, humildes, bondosas, e aceitavam tudo. Um dia, na escola, onde o menino Hugo estudava, aproximava-se o Natal, e a professora perguntou:
PROFESSORA – Meninos…sabem que festa há em Dezembro?
PAI NATAL (a rir) – Ora, não sabem…?! Claro que sabem. (p.c) Até a professora sabe! Óh, óh, óh…! (p.c) E os filhos dela não são pobres a pedir. Óh, óh, óh…devem achar que eu tenho uma mina de ouro…! (p.c) óh, óh, óh…ou que fabrico dinheiro…! Óh, óh, óh…vamos lá ver o que estes vão pedir…! 
TODOS (sorridentes, gritam) – Para o Nataaaaaaallllll…!
(Ouve-se uma gargalhada do Pai Natal)
PROFESSORA (sorri) – Muito bem! (p.c) E já escreveram a carta ao Pai Natal?
TODOS (gritam em coro) – Nãããããããoooo…!
PAI NATAL (a rir) – Pois não…mas nem precisam de escrever, os meus duendes tomam nota…
PROFESSORA – Então, vão escrever, agora está bem?
TODOS (gritam em coro) – Ééééééééhhhhhhh…!
PAI NATAL (a rir) – Óh, óh, óh…
NARRADORA - Os duendes do Pai Natal entram na sala, e ficam a ouvir. Nem os meninos, nem a professora os vêem. Eles riem ao ouvir a gritaria. 
PROFESSORA – Não peçam muita coisa…! Se não…coitadinho do Pai Natal. (p.c) E vocês portaram-se bem, durante o ano?
TODOS – Siiiimmmm…mais ou menos…sim…eu sim…sim…eu portei…!
DUENDES (a rir) – Mentirosos.
DUENDE 1 (a rir) – Imagina…são uns santinhos…!
DUENDE 2 (a rir) – Ih, ih, ih…! Só falta a corouinha…!
DUENDE 3 (a rir) – Eles devem achar que o Pai Natal é burro…
DUENDE 4 (a rir) – Ou que anda a dormir…!
DUENDE 1 (a rir) – O Pai Natal sabe de tudo.
DUENDE 2 – Por isso é que nem todos recebem tudo o que pedem.
DUENDE 3 (a rir) – Alguns até recebem mais do que o que mereciam mesmo.
(Duendes riem).
PROFESSORA (ri) – Vejam lá…! Olhem que o Pai Natal vê tudo…e se estiverem a mentir, ele não traz.
NARRADORA - Francisquinho aponta para o menino Hugo, com desprezo. Os duendes ficam boquiabertos, escandalizados.
FRANCISQUINHO – Aquele não vai ter prenda.
PAI NATAL (zangado, grita) – O quê? Eu ouvi bem…? Um menino a chamar outro menino de…Aquele…? (p.c) Mas o que é isto?
PROFESSORA – Aquele quem, Francisquinho…?
PAI NATAL (zangada) – Ai, professora…! Puxe-lhe as orelhas.
FRANCISQUINHO – Aquele…!
PAI NATAL (zangado) – Mandava-te já uma prenda especial, menino Francisco…umas molas para essa língua atrevida…Aaaaaiiii…!
PROFESSORA – Aquele não, Francisco…o menino tem nome…e não se aponta, que é muito feio.
PAI NATAL (zangado) – E mandava-te outra prendinha…uma mão que te desse umas sapatadas nessas mãos que apontam…e uns dentes para te morder os dedos que apontam…! (p.c) Ai, que feio.
FRANCISQUINHO – O Hugo.
PAI NATAL – Assim está melhor…! (p.c) Mas…o que terá feito para não ter prenda…? Deixa ver… (o Pai Natal consulta o ficheiro)
PROFESSORA – Ora essa…e não vai ter prenda porquê? (p.c) Ele porta-se sempre muito bem.
PAI NATAL – De facto…não há registo de mau comportamento.
FRANCISQUINHO – Porque ele é pobre…vive numa árvore...e o Pai Natal não gosta de pobres.
PAI NATAL (zangado) – O que é que eu acabei de ouvir…?
DUENDES (escandalizados) – Ááááááááhhhhhh…!
DUENDE 1 – Era uma bela estaladona…senhora professora…!
DUENDE 2 – O que temos aqui…?
DUENDE 3 – Preconceitos…e racismos…com esta idade…?!
DUENDES – Ááááááhhhh…!
PAI NATAL (zangado) – Não pode ser.
(Todos riem. Hugo responde)
HUGO – Tu é que não vais ter prendas, óh parvalhão…! Desculpe, professora.
(Os duendes batem palmas e riem)
DUENDES (felizes a rir) – Muito bem, muito bem…é isso mesmo…!
PAI NATAL – Xiiiiuuuu…amigos…nada de incentivar à violência…! (ri-se) Mas foi uma bela resposta do menino Hugo, para o menino Francisco.
PROFESSORA (zangada) – Francisco…que coisa mais feia. (p.c) O Pai Natal não olha para essas coisas…! (p.c) O Pai Natal é uma pessoa muito boa…ele só dá prendas a quem também é bom para os outros.
DUENDES – É verdade!
PAI NATAL – Pois claro!
DUENDE 1 – Aquele já vai ter menos uma prenda…!
(Os duendes batem palmas e riem)
DUENDES (riem) – Apoiado.
NARRADORA - Clarinha riu-se, mas depois reflectiu e desculpou-se…
CLARINHA – Professora, ele foi mau menino…!
DUENDES – E tu também, menina…!
PAI NATAL (sorri) – Ai, esta malandreca…!
PROFESSORA – Pois foi, Clarinha. O Francisco foi um mau menino. (p.c) Pede desculpa imediatamente ao teu amigo Hugo.
DUENDES (riem) – Isso, isso…!
PAI NATAL – Pois claro…tem de pedir desculpa.
DUENDE 1 (ri) – Adoro isto…
DUENDE 2 (ri) – Eu também…cristas a baixar…é demais.
(Os duendes riem)
FRANCISCO – Não peço nada.
PAI NATAL (ri) – Olha-me o frangote…a ficar sem menos duas prendas…!
PROFESSORA (grita) – Imediatamente…pede desculpa…e vais escrever na tua carta ao Pai Natal, que hoje te portaste mal e que foste um mau menino.
PAI NATAL (sorri) – Já reparei, professora…! (p.c) Mas acho que faz muito bem, mandá-lo assumir que se portou mal…
(Os duendes batem palmas e riem).
DUENDES (a rir) – Isso, isso, professora.
FRANCISCO (grita) Não fui nada.
PAI NATAL (horrorizado) – Mas que atrevimento…! Falar com a professora desta maneira…?! Mais alto do que ela…? Ááááááááhhhhhh…! (p.c) Mas que mundo este…menos três prendas, rapaz…!
DUENDES (saltitam) – Puxe-lhe as orelhas, professora…!
PROFESSORA (grita) – Tu não falas assim comigo! Vais, aliás, todos vão pedir desculpa imediatamente ao vosso amigo Hugo, pois todos se riram do disparate que o Francisco disse. E todos vão escrever na carta ao Pai Natal, que hoje foram maus meninos, porque um menino disse uma coisa feia de outro menino, e vocês riram-se! (p.c) Um por um…vai-se levantar e pedir desculpa ao amigo…imediatamente…! (p.c) Vamos…
FRANCISQUINHO – Eu não vou…! (p.c) Não fiz nada. Só disse a verdade.
DUENDES (a gozar) – Naaaaa…!
DUENDE 1 – Mentiroso…!
NARRADORA – Um por um, cada menino e menina levanta-se, e dirige-se à mesa do Hugo, e pedem desculpa.
PROFESSORA (ralha) – O Pai Natal não gosta de meninos que se riem dos outros. (p.c) Aaaaaiiii…os meninos. (p.c) Eu vou falar com o Pai Natal, e por causa do que fizeram hoje, todos vão ter menos uma prenda.
TODOS – Nãããããããoooo…!
PROFESSORA (ralha) – Sim. Vão para o Hugo.
TODOS – Não.
DUENDES – Sim.
PAI NATAL – Claro que sim!
PROFESSORA (ralha) – Ai de quem não escrever na carta ao Pai Natal que foram maus meninos…!
GLORINHA – Vai-nos bater…? Olhe que o meu pai vem já cá à escola falar consigo.
PAI NATAL (chocado) – Não posso acreditar…!
PROFESSORA (grita) – Cala-te. (p.c) É bom que o teu pai venha, para ele ver como é que anda a criar a filha… (p.c) Agora…tudo calado, e toca a escrever ao Pai Natal…incluindo dizer que não foram bons meninos com um amigo… (p.c) Como já aconteceu de outras vezes.
PAI NATAL – Vão ter uma prenda muito especial…vão…! (Os duendes riem-se). Uma prenda…mesmo muito especial…!
DUENDES – O quê?
DUENDE 2 – Mas…eles portaram-se tão mal, e vão ter uma prenda muito especial…como é isso?
PAI NATAL – Calma, eu sei o que estou a dizer…!
DUENDES – O quê?
PAI NATAL – Verão. Vai ser uma caixa…
DUENDES (assustados) – Uma caixa?
DUENDE 3 – Vais metê-los lá dentro?
PAI NATAL (ri) – Óh, óh, óh…até podia ser, mas não…não vou metê-los lá dentro…é uma caixa com…valores…!
DUENDES – Valores…?
DUENDE 1 – O quê?
DUENDE 4 – Diamantes…?
DUENDE 3 – Pedras preciosas…?
DUENDE 2 – Ouro…?
PAI NATAL (ri) – Óh, óh, óh…não…! Vão ser valores…humanos…!
DUENDES (estremecem) – Uuuuuuiiii…
DUENDE 1 – Que medo!
DUENDE 2 – O Pai está muito violento este ano…!
DUENDE 3 – Vais meter outras pessoas dentro da caixa?
PAI NATAL (ri) – Não…que disparate…! Vocês depois vêem.
DUENDE 4 – Ai, que ele está muito estranho!
DUENDE 1 – Coitadinho…deve ter ficado tão assustado com o que viu e ouviu destas crianças…!
DUENDES – Pois…!
DUENDE 2 – Ai, espero que recupere rápido.
DUENDES – Eu também…! 
NARRADORA – Faz-se silêncio, e todos ficam amuados. Cada um escreve o que quer, todos pedem brinquedos e jogos caros, carrinhos, bonecas, acessórios, consolas, vídeos, televisões, rádios…e outras coisas materiais. Os duendes lêem as cartas, e riem. Huguinho fica parado, a imaginar…e sonha com uma casinha verdadeira, para ele e para a sua família. Com todas as condições, um quarto para cada filho, mesmo que pequenino, uma cozinha, uma sala, um pequeno sótão, um jardinzinho, um terraço, casa de banho...com sofás, mesas, cadeiras… Ele imagina e sorri.
PROFESSORA (preocupada) – Huguinho…então…? (p.c) Não escreves?
HUGO – Não, professora…!
PROFESSORA (preocupada) – Mas, porquê, querido…? Ficaste triste por causa do Francisco…?
HUGO – Não!
PROFESSORA – Então…?
HUGO – O Pai Natal nunca poderá trazer-me a minha prenda…!
PAI NATAL – Como?
DUENDES – O quê?
PAI NATAL – Óh, filho…só se for uma coisa impossível…mas escreve na mesma.
PROFESSORA – E porque é que o Pai Natal não poderá trazer a tua prenda?
HUGO – Porque…é muito cara…e é muito grande…e só é possível nos meus sonhos à noite.
PAI NATAL – O que será?
DUENDES – Que estranho…!
PROFESSORA – O que é?
HUGO – É…uma casa para mim, para os meus pais, mesmo que não seja um palácio, mas que tenha um quarto para cada um de nós… pode ser pequeno...casa de banho, sala…
NARRADORA – O Hugo faz a descrição toda da casinha dos seus sonhos. A professora disfarça a emoção, os Duendes desatam a chorar, abraçados uns aos outros, sensibilizados com o pedido do menino. O Pai Natal também não segura as lágrimas. Os duendes assoam-se, limpam as lágrimas, abraçam-se uns aos outros.
DUENDE 1 (comovido) – Óhhh…coitadinho…!
DUENDE 2 (comovido) – Partiu-me o coração…!
DUENDE 3 (comovido) – Nunca tivemos um pedido de uma prenda tão bonita como este…!
DUENDE 4 (comovido) – Óóóhhhh…Pai, este menino merece esta prenda…temos de arranjar maneira de lha dar.
PAI NATAL (ainda em lágrimas, também se assoa) – Claro que sim, filhos. É um menino muito pobre. É um menino que mora no tronco de uma árvore velha…e uma família muito numerosa.
DUENDE 1 – É possível não é?
PAI NATAL – Sim, filhos…é possível. (p.c) Venham já para cá.
PROFESSORA (sorri) – Que linda prenda, Hugo…escreve na mesma ao Pai Natal…!
HUGO – Acha que ele vai poder trazer a casa…?
PAI NATAL (sorridente) – Podes ter a certeza que sim, querido.
PROFESSORA (sorri) – Claro que sim, querido…! Tu és um menino bom, portas-te sempre bem…o Pai Natal gosta desses meninos.
HUGO (sorri) – Mas…como é que ele a vai trazer…?
PROFESSORA (sorridente) – Então…no seu saco…ou atrelada…puxada pelas renas…!
HUGO – E acha que as renas são assim tão fortes, para poder com a casa?
PROFESSORA (sorri) – São! (p.c) Elas carregam com milhares de presentes, todos os anos, e podem com todos…e olha que alguns são muito pesados.
HUGO (sorri) – Como é que a professora sabe?
PROFESSORA (sorri) – Eu sei…! (p.c) Já vi passar as renas…muito carregadas…! (p.c) Escreve…!
HUGO (sorri) – A professora fala com o Pai Natal?
PROFESSORA (sorri) – Sim, falo muitas vezes…ele pergunta-me sempre como é que os meninos se portam…para ver se estão a dizer a verdade ou a mentir, e se podem ter prendinhas ou não!
HUGO (sorri) – E como é que a professora fala com ele?
PROFESSORA (sorri) – Olha…agora…é por correio electrónico, para chegar mais rápido.
HUGO (sorri) – A sério…? Uau.
PROFESSORA (sorri) – Sim. (p.c) Escreve lá.
NARRADORA - Os duendes voltam para sua casa, para junto do Pai Natal, e começam de imediato a construção da casa que o Hugo pediu, com todos os pormenores. Tudo fica pronto antes da noite de Natal, com a ajuda dos duendes e das fadas. E como a professora tinha dito, a casa vai atrelada, puxada pelas renas, num grande saco, em módulos. Na noite de Natal, o Pai Natal, feliz, deixa as prendinhas que os meninos pediram, à porta da casa de cada um, e ainda um adicional: uma caixa de valores…mas não são os valores como dinheiro, e pedras preciosas, ou ouro…e também não são seres humanos, como os duendes pensavam que eram…são valores humanos…em pó, dentro de cristais…valores como o respeito pelo outro, a bondade, a partilha, a humildade, a simpatia, a delicadeza, a sensibilidade, a simplicidade, a verdade, a pureza…o amor…a amizade…a igualdade entre todos. Este presente especial foi entregue aos pais, para eles próprios consumirem, e darem aos filhos. Chega o momento mais emocionante para todos…a prenda de Hugo…a casa dos seus sonhos. Enquanto tudo dormia, Hugo não estava à espera do Pai Natal…mas sonhava com essa prenda. O Pai Natal e os duendes, num passo de mágica, montam a casa mesmo ao lado da árvore, com tudo o que Hugo pediu. Hugo acorda, sobressaltado, quase de manhã, e vai à janela. Vê as renas do Pai Natal à porta. Sai a correr, sorridente, e vê a casa dos seus sonhos…com o Pai Natal e os duendes a cochilar à porta da casa nova.
HUGO (feliz, e sorridente) – Eu…estou a ver bem…? (p.c) Estou a sonhar ou é mesmo…?
(O Pai Natal abre os olhos, sorri, acorda os duendes, e sorridentes gritam em coro):
PAI NATAL E DUENDES (sorridentes) – Feliz Natal, Hugo!
HUGO (surpreso e feliz) – Pai Natal…? És mesmo tu…?
PAI NATAL (sorridente e feliz) – Óh, óh, óh…sim, sou mesmo eu…e vim trazer a tua casa…! A tua prenda! (p.c) Tu mereces…és um menino muito bom, puro, humilde, simples…e a tua família também.
HUGO (feliz) – Eu…pensei que não podias trazer isso.
PAI NATAL (a rir) – Óh, óh, óh…meu filho…eu posso tudo!
HUGO (feliz) – Muito obrigado, Pai Natal…vou já chamar os meus pais e irmãos… (grita à porta da árvore) Mãe…Pai…manos e manas…venham cá… (p.c) A minha prenda chegou…!
(Todos se levantam sobressaltados)
TODOS – Prenda…?
HUGO (feliz) – Sim, a prenda que eu pedi ao Pai Natal…!
PAI E MÃE – Mas, mas…prenda…? Pai Natal…?
PAI – Óh filho…tu sonhaste…?
HUGO (feliz, sorridente) – Não, Pai…a nossa prenda, está lá fora…! Venham…!
NARRADORA – Toda a família sai da árvore incrédula, sem saber o que fazer e o que pensar. Ao ver a casa nova, ao lado da árvore, as renas, os duendes e o Pai Natal, nem querem acreditar…e ficam boquiabertos, felizes, sorridentes.
HUGO (feliz) – Esta foi a prenda que pedi ao Pai Natal…uma casa verdadeira para nós.
PAI NATAL E DUENDES (gritam felizes e sorridentes) – Feliz Nataaaaaaallllll….
HUGO E FAMÍLIA (felizes e sorridentes) – Feliz Nataaaaaaaaaalllllll…!
PAI NATAL (sorridente e feliz) – Entrem, entrem…a casa é vossa.
NARRADORA – Hugo e a família entram, e ficam maravilhados com a decoração. Todos ficam felizes por ter um quartinho só para eles, está tudo maravilhosamente mobilado, lindo, limpo…tudo é confortável, simples, com cores suaves. Correm a casa toda, felizes, sorridentes e maravilhados, abraçam-se e beijam-se, abraçam e beijam o Pai Natal e os duendes, e convivem alegremente, até o dia começar. Pois é… há sonhos que nos parecem impossíveis de realizar, mas às vezes há surpresas, e até pode acontecer que essas surpresas sejam ainda melhores e maiores que as que sonhamos. Mais importante que as prendas materiais, são as prendas humanas, de todos os dias, que damos uns aos outros… e não apenas no dia de Natal… como… a saúde…, os valores…, o carinho…, o amor…, a companhia e a presença da nossa família, dos nossos amigos…, o respeito pelo outro, e pela diferença… a bondade…a partilha…a humildade…a simplicidade…e o valor que damos a tudo o que temos! Ainda que nos pareça pouco…há quem tenha ainda menos, e quem não tenha nada. Nós temos casa…tecto…conforto…roupas…sapatos…mesmo que não sejam de marca ou do mais caro…andamos vestidos…comida…carinho…e ainda assim…fartamo-nos de reclamar. Devíamos estar sempre felizes, e gratos por tudo o que temos, ainda que para algumas pessoas que tudo tem…pareça pouco. Se as pessoas oferecem mais umas às outras, todos os dias, durante todo o ano...as prendas humanas… não haveria Guerras, e viveríamos num mundo mais harmonioso, mais feliz e mais saudável. Não era? Lembrem-se…o Natal…deve ser todos os dias…durante todo o ano, e não apenas no dia 25 de Dezembro…! O Mundo precisa urgentemente de Natal todos os dias.

FIM.
(Lálá)
20/Novembro/2012