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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A lenda do Outono

                                                        foto tirada por Lara Rocha 

Era uma vez uma aldeia isolada, entre montanhas, onde vivia um velho sábio, com muita idade, e uma família enorme. Conta uma lenda desta terra que no tempo em que ele viveu, não havia previsões do tempo, nem rádios, nem televisões. Tudo se aprendia com o dia-a-dia, com a natureza, e sabiam muito bem quando terminava uma estação do ano, e começava outra, quando ia chover ou estar frio, sol, neve ou trovoada.
Um dia esse velho sábio reparou que ele e todos os seus familiares ficavam mais tristes no Outono e no Inverno, mas ele não gostava de se sentir assim, nem de ver os seus tristes.
Durante vários dias pensou como poderia melhorar…experimentou com eles dançar, cantar, fazer passeios a pé, festas e outras coisas novas. Tudo isso funcionava só durante algum tempo, mas depois tudo voltava ao mesmo. Ele queria algo com um efeito prolongado.
Pediu ajuda à Mãe Natureza, explicou-lhe como se sentiam e ela teve uma ideia. Falou com os seres que vivem nas nuvens e que as enchem de chuva, falou com artistas e com seres mágicos, explicou-lhes o que queria, e eles puseram mãos à obra.
Encheram várias nuvens com água colorida, sol, e trovoada. O vento soprou essas nuvens e levou-as para essa aldeia, depois, as nuvens abriram-se e despejaram toneladas de água…só que não era água da chuva, transparente, esta era colorida: em tons de verdes, amarelos, vermelhos, castanhos, roxos, e o sol também sempre presente.
Essa água cheia de cores espalhou-se por todo o espaço, caiu em cima das casas, e como todos os habitantes saíram das casas para ver o que estava a acontecer, também levaram com a água colorida, e o sol.
Sentiram uma grande felicidade, por ver o sol, e mesmo quando não havia sol, eles sentiam uma nova energia, e alegria, principalmente quando viram que o milho estava a crescer muito rápido nos campos, as espigas a espreitar, as castanhas enormes penduradas nos castanheiros, as uvas carnudas e cheias de sumo a enfeitar os arames, envolvidos nas folhas, as romãs, as maçãs, as pêras e as abóboras a despertar na terra e nas árvores.
Todos os anos, a Natureza dava-lhes essa chuva de cores, e esses produtos maravilhosos. Eles faziam festas para agradecer, e começaram a perceber que essa era uma nova estação do ano...a Mãe Natureza disse-lhes que essa nova estação do ano, se chamava Outono, e vinha antes do Inverno.
Ainda hoje, muitas pessoas vão para essa montanha assistir à chagada e dar as boas vindas ao Outono, pois acreditam que ela vem de lá, outros acreditam tratar-se de uma lenda, e que o Outono é inventado pelos cientistas.
Se foi lenda, tem o seu fundo de verdade, não é? Vejam se descobrem a parte verdadeira do que diziam ser uma lenda? Isso mesmo…os produtos da terra, as cores e o tempo no Outono.
Que outras magias encontram no Outono? Também conhecem alguma lenda sobre o Outono? Qual?

FIM
Lálá
(27/Agosto/2015)


O presente da Princesa Verona


A princesa Verona costuma aparecer na terra no Verão, chega no dia 21 de Junho, quando a princesa Vera vai de férias. 
Não é difícil saber que ela chegou, desfila com toda a sua beleza e sedução, todos sentem os seus passos leves, tão leves… que parece flutuar.
As suas roupas saltam à vista de quem passa, pelas suas cores ardentes, e arejadas, frescas, cheia de luz, brilho, alegria, sorrisos e risos. 
Ela é tão especial que contagia todos os seres humanos mais felizes, entusiasmados, procuram as praias, o mar, as montanhas, e tudo o que refresque. 
O Sol entrega-se completamente a ela, fica louco de paixão e desejo por esta princesa, eufórico…
Mas…esta princesa também vai de férias, para a chegada de outra princesa: a Outonia, não sem antes deixar um presente aos terráqueos porque sabe que todos ficam muito tristes quando vai embora. As duas são muito amigas, e encontram-se no dia 21 de Setembro.  
        Este ano a Princesa Verona não sabia o que deixar de presente, e pediu ajuda à sua amiga Outonia que chegou na noite de 20 para 21 de Setembro, com uma Lua Cheia enorme, luminosa, um céu cheio de estrelas, e um ar quente no cimo da montanha mais alta nos arredores da cidade. 
          A Lua sorri às duas.
- Amiga Outonia…fizeste boa viagem?
- Olá Verona, sim, foi muito longa, mas correu tudo bem, obrigada. Já vais embora não é?
- Sim! Vou de férias. Sei que eles vão ficar muito bem entregues. Mas não sei o que lhes deixar de presente desta vez! – Suspira a princesa Verona
            A lua tosse:
- Desculpa, princesa Verona, mas não concordo…acho que já deixaste um belo presente para eles…olha que não merecem tanto. Fartaram-se de pegar incêndios.
- Isso é verdade! – Responde a princesa Verona
- Até tu ficaste com alergias e doente, lembras-te? – Relembra a lua
- Sim, claro que me lembro… - Diz Verona triste
- Então, acho que não devias deixar nada. – Sugere a Lua
- A Lua tem razão, amiga. – Concorda a princesa Outonia
            Faz-se silêncio e as três ficam pensativas.
- Olha…se fazes mesmo questão de deixar alguma coisa…espera até de manhã, e aparecemos as duas juntas, numa dança… - Sugere a Outonia
- Não posso esperar. Tenho de ir andando…bom, este ano não deixo nada. – Diz a Verona
- Ou mandas depois. – Diz a Outonia
- Porque não fazem agora, vocês as duas? Pode ser que alguém vos veja…- Sugere a Lua
- É…também nos divertimos um pouco. O que achas? – Pergunta Outonia
- Está bem! – Concorda Verona
         As duas estalam os dedos, dão umas voltas, rodopiam perto do chão, e aparecem vestidas de gala. 
      Aparece logo o vento coscuvilheiro, e as fadas da Natureza, que começam a tocar com as suas harpas, flautas, violinos, violoncelos, ferrinhos e tambores.
As fadas sabem muito bem que música tocar, e as duas princesas dançam ao som das várias músicas, leves, lindas, de mãos dadas, a flutuar, e cruzam-se várias vezes.
Enquanto dançam, espalham magia por todo o lado, riem, rodam no ar, com os longos cabelos a esvoaçar, as árvores do espaço despertam, e dançam com as princesas…as suas folhas começam a desprender-se devagar, a medo, uma por uma, e também elas dançam umas com as outras, juntamente com as princesas.
Ainda ficam muitas nas árvores, aquelas que são mais tímidas, e que já estão tristes por saber que a princesa Verona vai embora. 
Cada princesa espalha as suas cores, o vento dá uma ajudinha, soprando-as em diferentes direcções, e elas juntam-se, separam-se, fazem rodas sempre a dançar, e a rir, misturam-se ao dar abraços, as princesas acariciam as árvores, e os seus troncos arrepiam-se de frio. 
Umas folhas que caíram dão as mãos e fazem um enorme cobertor de folhas para cobrir os ramos das árvores.
É uma noite cheia de música, de diversão, muitas gargalhadas e brincadeiras entre as duas princesas, as folhas e as árvores. 
Com os primeiros raios da manhã, as centenas de folhas que caíram adormecem no chão, aos pés das árvores, a Princesa Verona saiu discretamente, e silenciosa, suavemente, quando a princesa Outonia também se deitou e dormiu na relva fofa.
Na manhã seguinte, o sol aparece, e a princesa Outonia acorda com a claridade.
- Já é de manhã? Verona…
            Procura Verona pelos arredores, mas não a vê.
- A Verona já foi embora.
- Óhhh…! Não pode ser, e eu adormeci, sem falar mais com ela, ou sem lhe dar um abraço. Óh Verona, podias-me ter acordado! – Diz Outonia, triste
            Do sol, Verona responde:
- Outonia…dorme! Ainda é muito cedo.
- Porque é que já foste embora? Não te vi mais, nem falamos mais, nem te dei um abraço!
- Demos muitos abraços…vá lá, não fiques triste, se não também fico. Eu vou voltar, muito em breve!
- A sério? – Diz Outonia com um sorriso
- Claro que sim. Só chegaste hoje, mas eu ainda vou continuar aí contigo mais uns dias. Para fazermos mais umas festas! Gostei muito desta noite. – Diz Verona sorridente
- Eu também! Era por isso que eu já estava triste…a pensar que só nos veríamos daqui a uns meses! – Responde Outonia
- Não! Já devias saber que todos os anos eu fico contigo mais tempo…não te lembras?
- Claro que me lembro, mas vi-te com tanta pressa…
- Eu sou assim. Tu já chegaste, mas eu vou ficar mais uns dias. Este é o meu presente para os terráqueos, este ano…para lhes dizer que embora esses me tivessem mal tratado, acredito que vão melhorar, e que podem mudar…passar a tratar-me melhor. Vão apanhar um grande susto, vais ver.
- Com a tua presença?
- É! Mas daqui a bocado eu conto-te…agora descansa, que eu também vou descansar.
- Está bem. Obrigada, amiga!
- Obrigada eu…até já.
- Até já.
           As duas princesas dormiram um pouco, e voltaram a encontrar-se muitos dias seguidos. Foi um início de Outono muito seco, e com dias ainda muito quentes. 
        A princesa Verona ainda ficou mais dias, e queria assustar os humanos, mas estava mais preocupada em divertir-se.
A princesa Outonia é mais tímida, e chegou discreta, mas igualmente linda: vestida com cores: vermelhos, verdes, amarelos, cor-de-laranja, castanho claro e escuro, roxo. 
E este ano a princesa Outonia ensinou a sua amiga princesa Verona a construir lindos tapetes com as folhas, parecem mantas de retalhos, cheios de cores.
A princesa Verona adorou. Por isso é que vemos sempre tantas folhas espalhadas pelo chão, o que tem a sua beleza, pela mistura de cores, e variedade de tamanhos, formatos...
As crianças adoram andar por cima destes tapetes, mas nem sempre acaba bem…porque caem…principalmente quando chove.
Alem destas belezas, estes dois manos oferecem às pessoas: castanhas, frutos deliciosos como uvas, que fazem muito bem à saúde, milho, espigas, há muita alegria nas vindimas, fazem-se magustos, e os campos ficam lindíssimos.
Como as pessoas no Outono ficam mais tristes, a princesa Verona ficou muitos mais dias, com a sua amiga princesa Outonia, para as deixar mais felizes e mais bem-dispostas.
As duas princesas estiveram pouco tempo sem se verem, porque não tardou nada e chegou a Princesa Invernia, antes do dia previsto, com todas as suas belezas.
E vocês? Já sentiram a presença destas duas princesas? A Verona e a Outonia?
Que presentes já vos deixou a Princesa Verona antes de ir de férias?
E a princesa Outonia? Já viram os lindos tapetes que ela faz?


FIM
Lara Rocha 
(27/Agosto/2015)



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A personagem da história



Era uma vez uma menina que adorava passear nos livros, sempre acompanhada das personagens. Todos os dias ela ia por sítios diferentes, e às vezes voltava àqueles lugares que tinha gostado mais, e encontrava-se outra vez com os seus amigos, que a levavam de volta à Natureza.
Outras personagens, noutros lugares, ofereciam – lhe flores, chocolates, chás, bolos caseiros, roupas e brinquedos. Outras personagens eram muito estranhas no seu aspecto, mas encantadoras por dentro…muito bondosas.
Essas levavam-na a passear por locais misteriosos, cheios de objectos que serviam de pistas para ela seguir, enigmas por todo o lado…a cada passo que ela dava, encontrava alguma coisa, com códigos secretos, imagens, sons, e cores que tinha de descobrir. As surpresas nunca mais acabavam!
Todas as personagens pensavam em conjunto com ela sobre as pistas, e isso era uma grande ajuda, porque já conheciam bem esses lugares, mesmo assim, eles próprios ficavam a conhecer coisas que nunca imaginavam existir.
Quando descobriam…era um verdadeiro mundo de sonhos, onde às vezes encontravam coisas estranhas. A menina gostava muito dessa parte.
Outras vezes, mergulhava com sereias, golfinhos e cavalos-marinhos, no fundo do mar, de águas quentes, limpas e transparentes, sem lixo. Muito diferente das praias que ela conhecia.
Explorava com eles corais, tocava em algas enormes e de cores diferentes, que pareciam fazer-lhe mimos, via peixes raros, lindos, e alguns um pouco feios, mas bondosos e sossegados.
Depois, deva passeios por lagoas, em barcos feitos de cascas de nozes, e velas de escamas de peixes, às cores. De dia nesse mar, ela via um reflexo do sol na água, e montes de brilhantes a boiar e a mexer-se na superfície. Que lindo!
Quando ela passava pelo brilho reparava que eram fadas do mar…cada qual a mais bonita, com fato-de-banho brilhante, que se refrescava e divertia, dançava e mergulhava entre gargalhadas.
Quando os barquinhos de casca de noz, passavam por elas, elas voavam à volta deles, e salpicavam-nos com água e brilhantes. Todos adoravam esse mimo.
Também passeava muitas vezes por parques, jardins, palácios, castelos e nuvens. Um dia, uma das suas viagens a um parque, foi interrompida por uma personagem que saiu do livro onde vivia e foi ter à sala da menina, onde já tinha estado antes.
A personagem estava muito triste e com as lágrimas nos olhos. A menina conhecia essa personagem, e perguntou-lhe o que tinha acontecido, como é que ela tinha ido ali parar.
A personagem disse-lhe que foi passear e perdeu-se…agora não conseguia voltar a casa, por isso, lembrou-se de ir visitar a sua amiga menina, para ver se ela a podia ajudar.
A menina deu a mãozinha à personagem e garantiu-lhe que a ajudava. Abriu o livro da história onde vivia a personagem, folheou as primeiras folhas, e diz-lhe:
- É aqui que tu vives!
- Áh! Isso mesmo…sim…esta é mesmo a minha casinha… - Diz a personagem feliz com um grande sorriso
- Mas já vais voltar, ou queres lanchar comigo, e eu volto a deixar-te em casa, mais daqui a bocadinho? – Sugere a menina
- Áh! Está bem, se não vou atrapalhar…vamos!
As duas lancham juntas, e conversam alegremente. Mais tarde, como prometido, a menina abre o livro da casa da personagem, dão um abraço e dois beijos, a menina dá-lhe a mão e a personagem entra em sua casa.
- Muito obrigada, amiga! – Diz a personagem
- De nada! Aparece sempre que quiseres.
- Combinado!
A mãe chama a menina para ir jantar. Ela fecha o livro, e vai jantar. Quando vai dormir, a menina já tem as fadas dos sonhos e o João Pestana à sua espera, comodamente instalados na sua cama.
Quando ela chega, também vive com eles milhares de aventuras, dá muitos passeios, e descobre novos mundos, nos sonhos. Ela adora receber a visita de personagens, e divertir-se com elas.  
Ler, ver livros, e ouvir histórias, faz-nos dar muitos passeios, conhecer muitos sítios, brincar com personagens, e diverte-nos. É muito bom!
E vocês? Já conheceram, divertiram-se, e foram passear com personagens de livros que leram, ou histórias que ouviram?
Onde?
Com que personagens?
O que viram?
O que gostaram mais?
Qual foi o melhor passeio que deram?
Que personagens gostaram mais de todas, até agora?

FIM
Lálá
(20/Agosto/2015)


Caminho de ida e volta

                                                foto tirada por Lara Rocha 

Era uma vez uma boneca feita de madeira, palitos, por isso era fininha. A sua cabeça era uma bolinha redonda de madeira. Os olhos, dois botões pretos, o nariz uma molinha e a boca um pedacinho de feixo. Tinha cabelos compridos de cor castanha muito encaracoladinhos feitos de lã. Usava uns sapatinhos de malha a condizer com o vestido. Esta boneca vivia numa toca de uma árvore com a sua família, numa grande floresta, onde tudo era puro e bonito, não havia poluição, nem guerra.
Uma tarde, a boneca saiu de casa e disse aos pais que ia dar uma voltinha. Os pais deixaram-na ir, com muitas recomendações, as de sempre, sobre a segurança, e que ela já sabia de cor e salteado. Ouviu e prometeu ter cuidado. Ela não tinha nenhum lugar especial para ir na grande floresta, mas queria andar um pouco.
Seguiu pelo caminho do costume, e viu coisas que sempre tinham estado lá, mas como ela passava sempre a correr, ou ia distraída sozinha com as suas brincadeiras, ou com os manos, primos e amigos, por isso não reparava em nada.
Desta vez, ela caminhou devagar, e viu tudo o que conseguiu ao pormenor, coisas lindas, flores, árvores que pareciam gente, de braços abertos e troncos ondulados. Cruzou-se com coelhos, que saiam das tocas apressados, viu toupeiras à superfície à procura de raízes.
Ouviu e viu passarinhos a chilrear e crias bebés em ninhos à espera de comida, esfomeados, viu as suas mães a voar e a transportar alimentos. Parou para conversar com fadas que estavam a costurar uma bela toalha rendada, abelhas e borboletas a aspirar pólen das flores e a levá-lo para as fábricas onde os anões o transformavam, em rebuçados, cremes, xaropes, bolos, e outros objectos.
Brincou com macacos, fugiu de leões, chitas, leopardos, e panteras, correu com lebres, andou montada no cavalo Universo, e depois passeou de caracol que a levou a ver o resto…as cascatas onde estavam fadas a tomar banho, sereias a aquecer as lindas vozes e a ensaiar para espectáculos, morcegos a dormir pendurados em troncos e em grutas, onde entrou, e viu cristais no tecto e no chão.
- Que coisas tão bonitas! Nunca tinha vindo aqui. Aquelas sereias cantam mesmo bem! E que lindas que são. Um dia destes, viu ver se elas me deixam tomar ali um banhinho! As águas são transparentes. O sítio onde vivo é mesmo maravilhoso, cheio de surpresas. Como é que eu nunca vi aquilo? Se calhar já estavam lá, acho que não iam aparecer ali, só para eu ver! Estas grutas…são um sonho…parecem salões de bailes! E a água a cair…a circular por estes caminhos…parece que fazem música! É tão bom este som! Onde será que vai dar esta água?
E continua a explorar a gruta, até chegar a um laguinho com peixes de todas as cores e tamanhos.
- Áh! Que lindo! Então vem ter aqui a água! Tantos peixes…e um de cada cor…são todos diferentes.
Um peixinho brincalhão vem à superfície com a boca cheia de água, e envia um grande chafariz para a boneca, da sua boca. Ainda não satisfeito, mergulha de propósito e com esse salto, a boneca leva um banho completo. Ela grita e o peixinho ri-se.
- E agora? Como é que eu me vou secar?
E sai da gruta muito zangada. Continua em frente, e o sol seca-lhe a roupa num instante.
- Obrigada, sol!
E pára junto a um enorme campo onde estão vacas, bois, cavalos e póneis a pastar sossegados. Por trás tem uma montanha, aquela que a boneca vê do terraço da sua casa, mas nunca lá foi.
- Aqui…é onde acaba a aldeia. Já andei tudo? Parece que andei pouco.
E começa a subir à montanha. Pelo caminho apanha amoras, framboesas e umas folhas que ela conhece bem, que dão para fazer chá. Vê plantações de milho, de cabaças, pepinos, alfaces, batatas, árvores de frutos vários, cruza-se com alguns lobos que a cumprimentam e perguntam se quer ajuda, ou se está perdida. Ela agradece e diz que não, aproveita e conversa um pouco mais com eles…que simpáticos que eles são.
De repente, o céu que estava limpo, quando a boneca saiu de casa, fica cheio de nuvens, escuras, carregadas, e o sol esconde-se. A boneca estava tão encantada com a paisagem que estava a ver do cimo da montanha, que só acordou quando sentiu um vento frio e forte acabado de se levantar. A boneca estremece, olha para o céu muito surpresa, e pergunta:
- Áh! O que aconteceu? Ainda há bocado estava sol, e agora…nuvens por todo o lado e este vento…ficaram com inveja, foi? Também vieram ver a paisagem?
As nuvens riem, e caem algumas gotas de chuva em cima da boneca. A mãe da boneca, como sabia que a filha era muito distraída, pensa em tudo, e sabia que ela ia perder-se no passeio, enviou uma borboleta especial, que foi sempre atrás dela, discreta e silenciosa, para a proteger e tudo o que ela precisasse.
- Menina…acorda! Está na hora de ir para casa. Não tarda nada, vai chover forte! – Diz a borboleta
- Áh! Quem és tu?
- Estou sempre contigo!
- És a minha sombra?
- Não! Sou tua amiga e tua protectora!
- Nunca te tinha visto antes!
- Pois não…mas ando muitas vezes contigo!
A boneca sorri, não sabe que foi a mãe que a enviou, mas gosta dela e agradece-lhe.
- Então, mas ainda não me disseste o que aconteceu ao céu…
- Vamos embora! Eu explico-te pelo caminho.
- Está bem! Realmente está frio e há muitas nuvens.
Elas descem a montanha, e cruzam-se com matilhas de lobos que voltam para as tocas apressados. Os pássaros voam baixinho e com dificuldade, correm para os ninhos, caem mais pingas.
A borboleta abre as suas asas, que pareciam pequenas, mas abertas eram enormes, e abriga a boneca.
- Áh! Tens guarda - chuva?
- Tenho!
- Já sabias que ia chover?
- Já.
- Como? Eu não sabia de nada!
- Mas não se tem falado noutra coisa…tu é que com certeza, e como sempre, andas distraída!
- Do que estás a falar?
- Não reparaste que havia mais agitação na floresta?
- Reparei…mas…o que é que isso tem a ver com as nuvens e a chuva?
E passam esquilos a correr, carregados de nozes, os coelhos e as lebres voltam para as tocas a correr, tudo procura abrigo.
- Porque estão todos a fugir? – Pergunta a boneca
- Porque está a chover. Acorda rapariga…amanhã será um dia muito especial…
- Alguém faz anos?
- Não! Quer dizer…que eu conheça não!
- Então é especial porquê?
- Porque hoje...termina o Verão, e amanhã chega o Outono! No Outono, o tempo é mais instável, por isso já se preparam para depois não andarem à chuva, nem passarem fome!
- Ááááhhh…claro! Como é que eu não me lembrei disso!
- Estás sempre distraída! É por isso que estou sempre contigo!
- Óh! Muito obrigada. Foi a minha mamã que te enviou, não foi?
- Foi!
- Realmente, se não fosses tu, eu já estava toda encharcada. Nunca pensei que fosse chover.
- Claro! Mas na estação do ano que começa amanhã, devemos pensar nisso, e estar preparados para essas alterações…de calor…para frio, e de sol para nuvens, vento…
- Pois. Não me lembrei que hoje termina o Verão. Até parece que o Outono é que já chegou.
- Sim.
A chuva carrega e ela acelera o passo. Pelo caminho conta à borboleta tudo o que viu, e chega a casa, seca! Os pais ficam descansados quando ela entra a porta.
- Mãe…Pai…manos…sabiam que está a chover? – Repara a boneca
- Claro! – Respondem todos
- Basta olhar lá para fora. – Acrescenta um irmão
- Pois. Já sabiam que ia chover? – pergunta a boneca
- Não! – Respondem todos
- Mas amanhã vai haver festa aqui na floresta! – Lembra outro irmão
- Ai…já te tinham dito? – Pergunta a boneca muito surpresa
- Já! – Confirma o irmão
- A mim não me tinham dito. – Diz a boneca
- Já tinham dito, sim! Tu é que estás sempre distraída e não ligaste! – Comenta outra mana
- É verdade! – Dizem os pais
- Hoje termina o Verão! – Lembra a boneca
- Sim! – Respondem todos
- Já sabíamos. – Lembra outro mano
- E amanhã começa o Outono! – Diz a boneca
- É! – Respondem todos
- E vai haver a festa da folha, aqui na floresta. – Lembra outra mana
- Áh! Boa! Adoro essa festa! – Diz a boneca
A chuva cai torrencial, com trovoada e vento forte. A boneca conta tudo o que viu… Se não fosse a borboleta enviada pela mãe, a boneca tinha-se perdido, ou tinha apanhado uma grande chuvada.
No dia seguinte, faz-se a grande festa da folha, na floresta, com muitos petiscos, bebidas, danças e cantares.
Acham que a boneca continuou a ser muito distraída, ou começou a estar mais atenta ao que acontecia à sua volta? E vocês? Fazem alguma festa quando chega o Outono?
O que é que vêem nos vossos caminhos? 
Já alguma vez caminharam mais devagar e nesses passeios descobriram coisas que nunca tinham visto antes? O que viram? 

FIM
Lálá
(20/Agosto/2015)




quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A fisga





Era uma vez um menino muito malandro que ocupava a maior parte do seu tempo a brincar com uma fisga que o seu Avô construiu. 
Quando o Avô a construiu não foi a intenção de que ele a usasse para fazer asneiras e maldades, mas essa parte, não era a vontade do menino.
Das primeiras vezes, meteu a sua família em gastos, porque atirava pedras com a fisga contra os vidros das casas dos vizinhos de quem ele não gostava, e os vidros ficavam estalados ou partidos.
Os vizinhos iam resmungar e os pais pagavam os estragos, mas punham o menino de castigo. 
Passado uns dias, ele punha-se com ar de anjo doce, sorridente, meigo, ajudava toda a gente, e voltavam a dar a fisga, com a promessa de que não voltaria a fazer nada de mal. Era só fachada, porque pouco depois, estava a fazer asneiras.
Da segunda vez, ia com a fisga pelo caminho, e atirava bolotas a quem passava, principalmente aos mais velhos, e ria-se. 
É claro que os mais velhos não acharam piada nenhuma, e alguns ainda lhe deram uns puxões de orelhas, mesmo depois de ele pedir desculpa.
Para que não fizessem queixa dele, ele fazia-se de bonzinho, ajudava os mais velhos em quem acertava, e inventava a desculpa esfarrapada de que estava a tentar correr os pássaros que pousavam nas plantações para as comer, mas às vezes falhava na pontaria.
Esta desculpa convencia uns, que acreditavam e até lhe agradeciam, diziam que ele estava a ser muito simpático, cuidadoso e amigo, ao proteger as plantações, mas recomendavam-lhe que treinasse melhor a pontaria, para não acertar nas pessoas.
Mas outros ficam mesmo muito zangados, e nada servia de desculpa, por mais que ele quisesse arranjá-las, e faziam queixa aos pais. 
Os pais punham-no de castigo, mas o seu ar de criança, e as desculpas que ele arranjava, acabavam por transformar os pais, em castigadores passageiros.
Ralhavam-lhe, punham-no de castigo, mas não adiantava nada, porque a seguir ele mostrava o seu lado mais inocente e doce, e os pais acabavam por acreditar que ele não fazia mesmo por mal.
Outra vez, quando saiu do castigo, lembrou-se de atirar pedras a pássaros…feriu muitos, e alguns magoaram-se mesmo a sério, ainda mais quando o menino se lembrou de convidar os pássaros a experimentar a fisga…!
Eles experimentaram-na como se fosse um baloiço, pendurando-se no elástico, e outros faziam equilibrismo. O menino aplaudia e ria-se, e os pássaros ficavam todos vaidosos!
Não pensavam que podiam magoar-se, mas um dia o menino malandro quis divertir-se à custa dos pássaros, e disse para eles se agarrarem ao elástico que iam voar.
Os pássaros já sabiam voar, mas este voo ia ser diferente! Quando os pássaros pousaram, o menino puxou o elástico e largou…os pobres pássaros chilrearam assustados, tentaram dar às asas mas não conseguiram porque iam com tanta velocidade que perderam o controlo de tudo.
Uns só pararam quando chocaram com as árvores, outros quando caíram na água, outros caíram no solo, outros no telhado, e todos se magoaram. O menino fartou-se de rir, maldoso, mas quando deixou de os ver, foi à procura.
Quando viu que todos estavam feridos, ficou muito envergonhado e arrependido. Pediu ao Avô que o ajudasse…disse-lhe a verdade…o Avô deu-lhe umas valentes sapatadas, e ralhetes, sermões…o menino ouviu calado e com as lágrimas nos olhos.
Pegaram nos pássaros, meteram-nos num carrinho de mão, e levaram-nos ao veterinário da aldeia. Todos tiveram de fazer vários curativos. 
O Avô ficou com os pássaros na sua casa, alimentou-os, deu-lhes água e carinho, e o menino ficou triste pelo que fez.
- Óh…que vergonha! Só fiz asneiras com esta fisga…como foi possível! Não sabia que isto era tão perigoso. Ai…! – Murmura o menino
Apareceu um anão com asas que assistiu a tudo e foi mandado por uma fada com poderes bondosos, e disse:
- A partir de agora não vais mexer mais nessa fisga. Eu vou levá-la.
- O quê?
- Isso mesmo.
- Quem és tu?
- Isso não interessa. Sou do bem, e vou levar a tua fisga. Não soubeste brincar com ela.
- Sim, tens razão, mas não podes levá-la assim.
- Só estou a cumprir ordens.
- Ordens? De quem?
- Dá-me a fisga e não me faças mais perguntas.
- Mas…
- Rápido. A fisga!
- Olha que ela é perigosa.
- Olha a quem vens dizer… (ri às gargalhadas) é por isso que vais ficar sem ela.
- Óhhhh…
O menino entrega a fisga e o anão desata a correr com ela. O menino vai falar com o Avô e faz queixa.
- Bem-feito. – Diz o Avô
- Ainda estás zangado comigo, Avô?
- Claro! Achaste que eu ia ficar contente, depois de tanta asneira que fizeste? Eu não te ofereci isso para seres mau.
     Uns dias depois, o Anão com asas regressa e devolve a fisga.
- Vê se agora a usas com muito juízo.
- A minha fisga! – Diz o menino com um grande sorriso
   E mal o anão vira costas, o menino foi experimentar. Para grande surpresa dele, quando puxa o elástico em sítios diferentes, quando tentou acertar em aves, flores ou pessoas, voaram gotinhas de luzes, bolinhas de água, flores perfumadas, borboletas, bolinhas de sabão, e beijinhos.
Ele experimenta atirar pedras, mas estas caem-lhe nos pés e nas costas. Ele chora e resmunga, aparece o anão com asas a rir às gargalhadas, e diz-lhe que é uma lição para o menino aprender…o menino percebeu que era a consequência de ter feito tanta asneira e tanta maldade com a fisga.
Agora só iria usar a fisga para o bem, para atirar coisas boas às pessoas e às aves, até para as casas. 
E foi isso mesmo que o menino fez…em vez de pedras e bolotas, atirava só o que a fisga mandava…a partir daí, todos começaram a gostar muito do menino, porque ele só tinha que puxar o elástico, a fisga fazia o resto, mandava tudo o que era preciso nesse momento, para a pessoa. A fisga tornou-se mágica, e com ela, o menino ajudava todos os que precisavam.
FIM
Lálá
(19/Agosto/2015)