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sábado, 30 de janeiro de 2016

A chama e a gotinha


Era uma vez uma chama pequenina que vivia num candeeiro com a sua família e tinha começado a usar óculos no dia anterior. Via muito mal, mas com os óculos já via bem. Estava muito feliz e curiosa para ver como tudo era lindo e saber se era diferente.
Foi passear e estava tão distraída a ver tantas coisas novas que nem imaginava que existiam à sua volta e quase entrava num grande forno. Só não entrou porque uma gotinha de água que vivia no poço ao lado sentiu alguma coisa de estranho, achou que quando estava deitada na sua caminha viu passar uma chama. Foi à superfície e estava certa! Viu mesmo!
As chamas do forno recebera muito mal a chama, não lhe disseram coisas simpáticas e levantaram-se a gritar, preparavam-se para lhe fazer mal, mesmo sendo todas chamas. A gotinha de água não gostou nada e mandou parar as chamas. Como é água, as chamas obedeceram de imediato, porque têm muito medo dela e voltaram a deitar-se.
A chama respirou de alívio.
- Ufa, que susto. Muito obrigada…salvaste-me. Só não te abraço porque não te conheço…!
- (ri) Só não me abraças porque tens medo! Eu sou uma gota de água, e tu és uma chaminha, estou a ver.
- Sim, isso mesmo. Mas tu lês pensamentos é?
- Eu? (ri-se) Não! Porquê?
- Como é que sabes que eu não te abraço porque…
- Tens medo.
- Sim…
- (ri) Não é preciso ler pensamentos. É normal. Todas as chamas têm medo da água. Mas eu não molho, por isso, podes abraçar-me, se quiseres.
- Não molhas?
- A ti, não!
- Porque não?
- Porque és das boas.
- Há chamas boas e más?
- Claro que há. E gotas boas e gotas más.
- Mas como é que sabes que eu sou uma chama boa?
- Percebo pela tua cor.
- Áh…! Que estranho.
- Há muitos mistérios sem resposta…mas é isso que torna tudo mais mágico e especial. Queres experimentar, abraçar-me?
- Eu posso?
- Podes.
A chama abraça a gotinha, com medo.
- Para quê, medo? – Pergunta a gotinha
- Como é que sabes? – Pergunta a chama
- (ri) Abraça-me…simplesmente. Admito que tenhas medo de muita coisa, mas de abraçar…!
- És misteriosa… - Comenta a chama
E as duas dão um longo abraço a sorrir. A chama cresce e a sua luz torna-se mais forte.  
- Ai…que bom! – Diz a gotinha
- Gostaste? – Pergunta a chama
- Adorei. Já há muito tempo que eu não recebia um abraço tão bom.
- Ainda bem…eu por acaso recebo muitos abraços.
- Que sorte! (e muda de assunto) E por falar em sorte…Tiveste sorte! Eu estava acordada e pareceu-me que te vi passar…vim certificar-me que tinha visto mesmo o que achei que vi. E acertei.
- Não percebi o que acabaste de dizer…
- O que eu disse foi que se eu não te visse, elas tinham-te derretido.
- Que medo! Conhece-las?
- Conheço.
- Elas são más?
- São! Horríveis. Mas têm-me respeito…
- Eu dizia…medo.
- Talvez. Mas ainda bem que têm medo.
- Porquê?
- Porquê, o quê?
- Porque é que elas têm medo de ti?
- Porque sou água, e elas são…fogo.
- Ááááhhh…mas onde estavas?
- Na minha casa.
- E onde é a tua casa?  
- No poço.
- No poço?
- Sim. Ali. (aponta)
- Como é que me viste passar?
- Estava deitada e vi-te passar. Elas iam dar cabo de ti. O que fazes por aqui sozinha? É perigoso andar por aqui à noite.
- Nunca me disseram que era perigoso andar por aqui, isto é muito sossegado.
- Como vês, os perigos estão escondidos. É preciso ter muitos pares de olhos e estar com todos os sentidos em alerta.
- Eu só tenho dois…
- Dois olhos? Eu vejo quatro-olhos (diz a gotinha irónica)
- Quatro? – Pergunta a chaminha muito surpresa
- Sim, os teus e essas rodas que tens por cima dos teus olhos.
- Áhhhh…tu queres dizer os óculos?
- Claro…
As duas dão umas valentes gargalhadas…
- Eu estava a ver mal, mas agora com os óculos vejo bem. Foi por isso que sai agora de casa, para ver como eram as coisas à noite, se eram muito diferentes com óculos e sem óculos.
- E a que conclusão chegaste?
- Sim, são muito diferentes. Tudo é muito mais especial com óculos. Tu vês bem?
- Sim, felizmente. Muito bem. A noite pode ter as suas belezas, mas o dia é muito melhor. Tudo se torna muito mais bonito, e vês muito melhor todas as belezas. Eu recolho muito cedo, porque já sei como são as coisas à noite.
- Eu não sabia.
 - Queres ir dar uma voltinha?
- Sim.
- Posso acompanhar-te?
- Podes.
As duas passeiam sem pressa, conversam, e a gotinha mostra muitas coisas bonitas. Param várias vezes para apreciar encantadas, o bailado com coreografias dos pirilampos, acompanhados pelos cantos das cigarras e dos grilos, e aplaudem. Vêem fadas a repousar debaixo de cogumelos, e borboletas a dormir em flores, cobertas com as suas pétalas.
Mais à frente, num enorme campo encontram-se com mochos e corujas, amigos da gotinha, que recebem carinhosamente a chaminha, e mostram as sombras deles no chão, provocadas pelo reflexo da enorme Lua cheia, que parece dia.
Começam a voar e a pisar as sombras, uns dos outros, a correr, a fugir, a tentar apanhar e a rir às gargalhadas. A chaminha nunca tinha brincado assim, e está muito feliz, divertida.
Mas os seus pais estão muito preocupados, e saem de casa à procura dela. Andam vários metros, e encontram-na. Respiram aliviados, e vêem-na tão feliz que deixam-na estar…rapidamente ficam também contagiados e entram na brincadeira.
- Mamã…Papá…?
- Continua! – Dizem os pais
E juntam-se mais sombras, mais brincadeira e muitas gargalhadas. Depois, um dos mochos leva-os ao riacho grande, com uma cascata, onde ouvem deliciados, os cantares das águas a passar nas pedrinhas, e a cair das cascatas.
Vêem e ouvem um delicioso espectáculo das fadas aquáticas, onde estão muitos outros animais a ver, quase hipnotizados com tanta beleza, e aplaudem.
Terminado o espectáculo, que vai pela madrugada, tudo fica em silêncio…e como perderam a noção do tempo, e o sono nessa noite, assistiram a um nascer do sol como nunca antes tinham visto…pelo menos que se lembrassem.
Para os mochos e corujas já não era novo, pois eles vêem todos os dias, mas até para eles, todos os dias em que nasce o sol, são diferentes, lindos e especiais. Não há um único nascer do sol igual ao outro, porque também o vêem sempre de lugares diferentes, e reparam em pormenores nunca antes vistos.
Trocam agradecimentos, carinhos e cada um vai descansar para a sua casa, feliz. A gotinha e a chaminha, e as suas famílias tornaram-se grandes amigas, quase família, encontraram-se todos os dias para brincar, passear, conversar e ver coisas novas.
Às vezes a amizade nasce do inesperado…da surpresa…em momentos de aflição, e pode durar para sempre, se for bem tratada.
FIM
Lálá

(30/Janeiro/2016)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O prémio das estrelas


O prémio das estrelas


   Era uma vez uma vela que vivia num grande salão com outras velas de todos os tamanhos e cores. Não estavam sempre acesas, e nunca derretiam porque os abraços que trocavam sempre que estavam a ficar pequeninas eram sentidos, verdadeiros, e fazia-as crescer outra vez.
         Para se entreterem faziam grandes festas, declamavam poemas que tinham ouvido e gostado, inventavam outros. Meditavam sobre o que ouviam e diziam, aplaudiam.
Diziam palavras soltas que lhes passavam pela mente, faziam jogos com essas palavras, riam, choravam, brincavam e dançavam ao sabor do vento. Que lindo que era.
Outras vezes, ficavam em silêncio, que era respeitado por todas, que apenas estavam presentes e trocavam abraços ou beijos se precisassem. Não precisavam do ruído das palavras para se entenderem. Bastava uma chama quase desaparecer e todas sabiam.
         Das grandes janelas do salão viam muita coisa: o sol, a lua, e as estrelas, e também ouviam muitos sons. Mas não eram só elas que viam…havia alguém que as via e ouvia, fora do salão, um ser transparente, uma mulher enviada pelas estrelas.
Mas ela nunca se tinha mostrado! Apenas durante muitas noites escolheu aquele jardim como refúgio, porque sentia uma energia muito especial, que a preenchia, sentia-se muito bem naquele espaço. E sempre que ia, ouvia deliciada as palavras que elas diziam, meditava com elas, ria e até chorava com elas.
Um dia, ela decidiu mostrar-se para agradecer o bem que elas lhe faziam sentir…as energias boas. As velas decidiram passar uma noite diferente: apagaram todas as chamas e ficaram a ver uma lua gigante que viam das janelas. Parecia quase dia.
Da lua desceu uma mulher vestida da sua cor, igualmente linda, misteriosa, elegante. As velas gelaram quando perceberam que havia uma energia no exterior diferente das que estavam habituadas a sentir, e ficaram ainda mais inquietas ao ver uma sombra a caminhar e a aproximar-se do salão.
Não sabiam quem era, nem o que estava lá a fazer. Ficaram muito assustadas, deram as mãos, juntaram-se o mais que puderam e murmuram umas com as outras.
- Vem ali alguém.
- É uma pessoa?
- Acho que sim.
- Parece…pelas curvas.  
- Estou a ficar nervosa!
- Eu estou assustada.
- Sinto uma energia diferente…
- Vem de lá de fora.  
- Estamos juntas… - Dizem todas
         A sombra ganha forma humana. Tinha uns cabelos escuros enormes, e um vestido luminoso.
- Hoje está muito escuro aqui…e silencioso! – Comenta a mulher misteriosa
         Ela entra no salão com uma grande orquestra de estrelas e uma fotógrafa. A orquestra começa a tocar, a rapariga dança e do seu cabelo pingam pequeninos pontinhos luminosos.
         As velas estão deslumbradas, não resistem, perdem o medo, e percebem que aquilo que está a acontecer é bom. Rapidamente ficam contagiadas com a música e com a beleza da rapariga.
Acendem-se ao mesmo tempo, muito surpresas, sorridentes e começam a dançar ao ritmo da música juntamente com a rapariga. Mas as surpresas não ficam por aqui…!
Quando roda o seu enorme vestido, soltam-se dele grandes cristais transparentes, que formam um enorme candeeiro de salão, com uma luz branca azulada que se reflecte no chão de azulejo que as velas nunca tinham visto.
Do seu sorriso soltam-se muitos outros brilhantes que se transformam em lâmpadas e espalham-se por todo o lado. As velas aplaudem com um grande sorriso, e quanto mais a rapariga dança com a sua leveza, mais felizes as chamas ficam, e mais dançam…tornam-se enormes…como nunca visto.
- Esta é toda a luz da vossa amizade. Esta luz foi criada com a energia e força da vossa amizade e pureza dos vossos sentimentos.
- Ááááhhh…Que lindo! – Exclamam todas
- Sim, é mesmo! – Diz a rapariga
- Que linda que ela é! – Dizem todas
- É um prémio por tudo de bom que me deram estas noites todas, quando estive aqui no vosso jardim para meditar e senti toda a vossa boa energia que me fez tão bem…adorei ouvir-vos a declamar poemas, e a meditar sobre palavras, eu fiz o mesmo. Adorei o vosso respeito umas pelas outras, quando queriam ficar em silêncio. Adorei os vossos jogos, os vossos sentimentos sinceros, a vossa amizade, adorei tudo! Muito obrigada por tudo.
         Elas sorriem e dizem:
- Muito obrigada por toda esta luz.
- Como é que estiveste sempre lá fora, e nunca te vimos…? – Pergunta uma vela
- É…realmente…e nunca te sentimos, nem ouvimos.
- Só hoje sentimos uma energia diferente.
- Depois, vimos uma sombra…
- E depois apareceste tu.
- É. Eu nunca quis aparecer. Não ia ser um intruso…não queria incomodar-vos, nem invadir o vosso espaço. Só queria paz, meditar, e ouvir-vos…sentir todas as coisas boas que me transmitiam. Até que hoje decidi aparecer e agradecer-vos desta forma. – Explica a rapariga
- Tão linda! Muito obrigada, nós. – Dizem todas  
- Não vás embora, por favor… - Pede uma vela
- Fica! – Pedem todas  
- Agora vou. Mas voltarei. Posso? – Pergunta a rapariga
- Claro que sim. – Dizem todas
- Adoramos conhecer-te…
- Danças tão bem.
- Aparece sempre que quiseres.
- Estamos sempre aqui.
- E podes entrar nas nossas brincadeiras, jogos, meditações…
- Boa! Até breve, e que essa voz luz nunca se apague, muito pelo contrário que se torne ainda mais forte…há muita gente que precisa dela. – Diz a rapariga a sorrir
- Seremos mais fortes se juntarmos a tua luz! – Diz uma vela
- Claro…juntas somos mais fortes. – Diz outra
- Claro que sim! Boa Noite! – Diz a rapariga
- Boa noite! – Dizem todas  
         A rapariga volta para a sua Lua e as velas ficaram tão felizes que nem dormiram essa noite. Conversaram e dançaram, divertiram-se e até viram o sol nascer! Outro espectáculo maravilhoso, que as deixou com mais energia, força e alegria.
         O salão nunca mais foi o mesmo. A rapariga voltou sempre e fez com elas longos serões, festas, danças, alegria, brincadeiras, carinhos e jogos, e também respeitou quando queriam ficar em silêncio. Tornaram-se numa verdadeira família, e as velas continuaram a viver com a mesma simplicidade e amizade.

FIM
Lara Rocha 
(26/Janeiro/2016)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

o que brilha


     foto de Lara Rocha 

    Era uma vez uma menina que foi acampar com os seus pais e alguns primos, para um grande descampado. 
    Cada um dormia na sua pequena tenda, mas puseram-nas em círculo para ficarem todos em segurança e bem juntinhos. A noite estava quente, ouviam-se as cigarras e os grilos a cantar, as corujas e os mochos a piar e depois de um dia cheio de brincadeiras, atividades, correrias, sol, banhos e alegria, o sono não chegava aos mais pequenos. Talvez fosse o Senhor medo que os rondava, mesmo assim estavam deitadinhos. 
   Estava escuro no pinhal, nem parecia que havia estrelas. De repente, sobre a tenda uma das meninas vê qualquer coisa a passar...uma sombra. Ela pensou logo que seria um inseto voador...um pirilampo, por isso não teve medo e sorriu. 
     Entretanto, as sombras nunca mais paravam, não faziam barulho nem caiam com muita força, pareciam muito leves! Seriam penas? Ou aquelas folhinhas fininhas dos pinheiros? Não...pela forma não era nada disso. Saiu da tenda e foi ver. Ela era a única...os primos não apareceram. 

- Será que eles estão a dormir?

   Pensou acordá-los, mas tinha a certeza que nem os tios, nem os pais iam gostar dessa ideia, e ficaria de castigo. Os primos aperceberam-se que a prima estava fora da tenda, e saíram também. 

- Prima…- Chamam todos baixinho 

- Está tudo bem? 

- O que estás a fazer fora da tenda? 

- É perigoso! 

- A minha mãe e o meu pai não deixam. Mas vi que tinhas saído. 

- Estavam acordados? 

- Sim! 

- Mas vi que tinhas saído. 

- Não consigo dormir. 

- Nem eu! - Dizem todos 

- Ei...a tua tenda está brilhante…

- O que é aquilo? 

- Não sei. 

   Ela olha para cima da sua tenda e viu milhares de pontinhos brilhantes. 

- Áh! Isto era a sombra que eu via? 

- O quê? - Perguntam todos 

- Sim. Eu estava deitava e vi muitas sombras pequeninas a cair em cima da minha tenda. Primeiro era só uma, depois não paravam. Pensei que fossem pirilampos, ou aquelas agulhas dos pinheiros, porque eram muito leves, mas afinal… 

- Isso não são penas! 

- Nem agulhas dos pinheiros. 

- Pois não! 

- Nem pirilampos. 

- O que é isto, então? - pergunta a menina muito intrigada

- Acho que já sei. É o soninho largado pelo João Pestana. 

- Achas? - Perguntam todos 

     Cada um olha para a sua tendinha, e não têm aqueles brilhantes. 

- Não, não pode ser soninho, porque só tenho por cima da minha barraca. Se fosse o soninho do João Pestana, vocês também tinham. E depois...eu não tenho sono, e vocês também não. 
    
    Outra menina olha para o chão e vê a chegar uma fada pequenina, muito triste, a chorar. 

- Uma fada! - Gritam todas as meninas muito surpresas e felizes.

    Os meninos voltam para as tendas amuados, as meninas ficam. A fada encolhe-se e estremece. 

- Ai, que susto… - Diz a fada 

- Que linda! 

- Uau! - Dizem todas 

- Andas por aqui? - Pergunta outra menina 

- Ando por muitos lados. - Responde a fada 

- Estás muito triste. - Repara outra menina 

- Sim...o meu saquinho estava furado, e eu perdi todos os brilhantes que tinha nele. 

- Óhhhhh… - Dizem todas 

- E onde ias com os brilhantes? - Pergunta outra menina 

- Eram os brilhantes que se transformam em estrelinhas de companhia para os meninos. E agora, eles ficaram sem companhia… (e chora a fada)

- Nós ajudamos-te a procurar. - Sugere outra menina 

- Onde achas que os perdeste? - Pergunta outra menina 

- Não sei! - Responde a fada triste 

- De que tamanho eram? - Pergunta outra menina 

- Ainda estavam em pó. - Responde a fada 

- Espera...vê se são estes brilhantes? - Diz a menina 

    A fada olha para os brilhantes em cima da tenda da menina e abre um grande sorriso. 

- Sim...são estes! - Diz a fada toda luminosa e sorridente 

- Áh! - Exclamam todas, felizes 

     E a fada recolhe todo o pó, para um novo saquinho. As meninas ficam maravilhadas ao ver a arte com que a fada recolhe o pó, ao mesmo tempo rápido, e com movimentos muito graciosos. Para agradecer, e festejar, a fada pega num bocadinho de pó, e sopra para cada menina. O pó transforma-se numa linda estrelinha cintilante, pequenina. Elas ficam muito surpresas. 

- Áh! Que giro! - Dizem todas 

- Uau! - Suspira outra menina 

- Fizeste magia! - Diz outra menina 

- É para vos agradecer, e fazer-vos companhia! - Diz a fada 

- Mas nós não fizemos nada...- Dizem todas 

- A minha prima nem sabia o que era! - Explica outra menina 

- Pensei que eram pirilampos, e depois, pensei que eram aquelas agulhas dos pinheiros... - Conta a menina.

- Mas quando saiu da tenda, viu que não era nada disso, até que tu apareceste. - Explica outra menina 

- Ei, espera...o teu saco não estava furado? 

- Vais perdê-las outra vez. 

- Eu fui buscar outro! Muito obrigada...agora tenho de ir. Boa Noite! - Diz a fada ~

- Boa noite e obrigada! - Dizem todas 

    A fada voa rapidamente, e as meninas voltam a deitar-se, cada uma na sua tenda, com a estrelinha que a fada lhes enviou. Não se separaram mais da estrelinha, nem contaram aos pais. 
    As estrelinhas ficavam à espera delas nas tendas, umas vezes a descansar enquanto elas brincavam, outras vezes no cantinho mais escuro da almofada, outras vezes nos cabelos das meninas quando queriam conhecer o espaço e brincar com elas, sem serem vistas, e à noite, tinham a companhia das meninas. 
    Afinal...o que brilhava? Brilhavam as estrelinhas da fadinha. 

FIM 
Lara Rocha 
(19/Janeiro/2015) 

          
     

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

as palavras desaparecidas



foto de Lara Rocha 














Era uma vez uma via láctea muito lá em cima, que estava cheia de estrelas, cometas, planetas, o sol, a lua e outros corpos celestes. De um dia para o outro, foi invadida por seres estranhos que nunca tinham sido avistados antes por aquelas zonas. 

- Mas o que é isto? - Pergunta uma estrela 

- Terráqueos? - Perguntam todas 

- Não! - Responde outro grupo 

- São família deles...? - Pergunta um planeta 

- Não me parecem. - Repara uma estrela 

- Têm um cheiro muito desagradável. - Comenta outra estrela 

- Mas que espécie rara... - Repara a lua 

- Será que é uma nova invenção daqueles lá de baixo? - Pergunta outra estrela 

- Vírus...? Ou aquelas coisas para nos tirar fotos...? - Pergunta outro cometa 

- É melhor alguém perguntar-lhes... - Sugere o sol 

Todos olham para o sol e faz-se silêncio. 

- Porque é que estão todos a olhar para mim assim? - Pergunta o sol surpreso, todos sorriem - Já percebi...vou ter de ser eu a perguntar não é? Não acredito. Todos querem saber, mas eu é que pergunto. 

Todos riem. 

- Por favor... - Dizem em coro 

- Ai...que coisa...! Está bem. - Responde o sol 

O sol sorri e pergunta: 

- Vocês desculpem...óhhhhh...desculpem...não sei os vossos nomes. - O sol chama-os 

Eles olham: 

- Está a falar connosco? - Pergunta o ser misterioso

- Sim. - Diz o sol - Eu peço desculpa, mas...são novos aqui. De onde vêm? 

- Lá de baixo. Da Terra. - Responde outro ser 

E chegam aos milhares. Encontram-se, e cumprimentam-se. 

- Mas, mas...o que é que está a acontecer? - Pergunta o sol 

- Fugimos! - Respondem todos os seres 

- Como? - Perguntam as estrelas 

- De onde? - Pergunta a Lua 

- Porque é que fugiram para aqui? - Pergunta um cometa 

- Viemos da terra. - Respondem em coro 

- Fugimos daqueles terráqueos! - Diz outro ser 

- Mas, porquê? - Perguntam todos 

- E porque é que fugiram para aqui? - Pergunta a Lua 

- Porque fomos esquecidas lá em baixo. - Justifica um dos seres 

- Mas...são todos parecidos... - Repara uma estrela 

- Sim. 

- E acham que aqui vão ser lembradas? - Pergunta o sol 

- Talvez! - Respondem os seres 

- Por favor...deixe-nos ficar aqui. - Pede outro ser 

E chegam mais outros tantos. 

- Mas vocês não são perigosos para nós? - Pergunta uma estrela com medo 

- Não! - Garantem todas 

- Desculpem...nem nos apresentamos. - Diz outro ser 

- Nós somos as palavras simples e bonitas que as pessoas deixaram de usar...

- Trocaram-nos por umas mais feias.

- São gostos! 

- Nós somos as OBRIGADAS! - Dizem em coro 

- Nós somos as MUITO! - Dizem em coro outras 

- Nós somos as PAZ! - Dizem outras 

- Nós somos os AMORES! - Dizem outras 

- E eles são os nossos filhos...os AMO-TE! - Acrescenta uma das AMORES 

- Nós somos os GOSTO DE TI... - Dizem outras 

- E eles são os ADORO-TE! - Dizem outras 

- Nós somos os SORRISOS! 

- Nós somos os CARINHOS! 

- E elas são os BEIJOS, e eles os ABRAÇOS. 

- Nós somos as PARTILHAS. 

- Nós somos os TEMPOS.

- Nós somos os BRINCADEIRAS. 

- Nós somos os BONDADES. 

- Nós somos os PREOCUPADOS...

- Nós somos as ATENÇÕES. 

- Nós somos as DEDICAÇÕES. 

- Nós somos a SINCERIDADE. 

- Nós somos os RESPEITOS. 

- Nós somos as AMIZADES. 

- Nós somos os VALORES. 

- E fomos trocadas por palavras horríveis como...a guerra, a fome, as armas, a violência, a falta de respeito, o ódio, o sem tempo, é tudo a correr...

- A vingança, a desconfiança, a indiferença, a mentira, a falsidade, a maldade, o egoísmo. 

- Já não agradecem...

- Já não dão valor a nada, muito menos a ninguém...

- E chegarão muitas mais. 

- Que horror! - Dizem todos os corpos celestes 

- Lá em baixo está o caos. - Diz a palavra PAZ 

- Não se pode viver lá. - Lamenta a palavra VALORES 

- Não pode ser... - Suspiram todos tristes 

- Não admira! - Diz o sol 

- Por isso é que também nós sofremos cá em cima. - Diz a Lua 

- Óh...queria tanto voltar lá para baixo! - Lamenta e choraminga a palavra AMOR

- Desculpa, já sabes que só digo a verdade...mas não te querem lá em baixo. Nem se lembram de ti...trocaram-te por outras. Aquelas que já sabes, e que tiveste oportunidade de ver. - Diz a palavra SINCERIDADE

- Mas será que eles não sentem a minha falta? - Pergunta a palavra AMOR? 

- Infelizmente não! - Diz a palavra SINCERIDADE 

- Não percebem que eu sou boa...? E vocês também? - Pergunta a palavra AMOR? 

- Não! - Respondem todas 

- Será que algum dia vão perceber...? - Pensa alto a Lua

- Andam com os gostos estragados. - Comenta uma estrela 

- Eu sempre os achei muito estranhos... - Comenta um cometa 

- Nunca gostei deles! Principalmente da forma como eles trataram a Natureza. - Desabafa o RESPEITO 

- Que não se tratem bem uns aos outros é problema deles, mas maltratar a natureza... eu ficava a ferver com o que via. - Lamenta a DEDICAÇÃO 

- Eu queria acreditar que as coisas vão mudar, e que vamos voltar lá para baixo. - Diz a palavra ESPERANÇA 

- Acho que é melhor não acreditares muito nisso. Não é fácil... - Diz a SINCERIDADE 

- A natureza está farta de enviar sinais, alertas e ralhetes, lembretes, para ver se mudam...mas só mudam para pior. - Diz a palavra PREOCUPAÇÃO 

- Com certeza! - Dizem todas 

- Quando é que tudo vai mudar para melhor...? - Pergunta a palavra PAZ 

- Essa resposta nem o Universo tem. - Responde o sol 

- Porquê? - Perguntam as palavras 

- Porque não é ele que muda as cabeças dos humanos. - Responde o sol 

- Nem nós! - Responde a Lua 

- Pois não. - Dizem todos 

E chegaram mais palavras que se sentiam esquecidas. O sol autorizou a que ficassem lá instaladas, todas as palavras que eram esquecidas. Chegaram mais, e mais...e houve espaço para todas. Formaram uma bela e enorme família. As palavras que os terráqueos esqueceram, e os habitantes da grande via láctea. Enquanto havia paz, amizade e felicidade, na terra as coisas pareciam rodar de pernas para o ar. Os humanos não entendiam a importância e a maravilha que essas palavras transportavam. Algumas crianças e adultos com  mais idade ainda chamaram algumas palavras que estavam esquecidas e fugidas, mas eram muitas mais as que continuavam esquecidas. E o mundo continuava ao contrário, sem as palavras mais bonitas. Às vezes as palavras ainda iam à Terra mostrar-se, para ver se as pessoas se lembravam delas, mas voltavam tristes, desconsoladas, pois ninguém as via. As palavras bem queriam mudar as mentalidades, mas não conseguiam...eram sempre escorraçadas, ignoradas, maltratadas. Elas ficavam radiantes, felizes e brilhantes quando se lembravam delas, mas pouco tempo depois, voltavam a ficar tristes. 

Muitas destas palavras estão realmente esquecidas...são muito pouco, ou mal usadas. É urgente encontrá-las outra vez!  

FIM 
Lara Rocha 
(8/Janeiro/2016)