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sexta-feira, 16 de março de 2018

Uma chuva diferente

    
     
 Era uma vez um grupo de meninos que estava no recreio da sua escola a brincar, e de repente, uma nuvem gigantesca, escura, paira sobre toda a aldeia no meio do monte. Os meninos assustam-se, e param de brincar. A professora recomenda-lhes:
- Meninos, abriguem-se. Vai chover a sério.
            Os meninos gritam com medo, correm para o recreio coberto, ouvem um trovão estrondoso e começa a chover a sério. Parece uma chuva como qualquer outra, mas esta tem uma surpresa. Juntamente com a água, caem sementes e milhares de flores, de todas as cores. Esta chuva parece que canta, mas não é a água que canta, são os pássaros que ela traz, e flocos que parecem neve, mas são sementes de flores.
- Tanta chuva! - gritam todos
- Esta chuva canta. - Diz um menino
- Não pode ser! - Dizem todos
- Oiçam...
- Áh...pois é!
- Que estranho, nunca ouvi a chuva a cantar.
- Nem eu!
- Os meus avós já ouvem a chuva a cantar há muitos anos.
- Esse cantar é uma forma de dizerem que faz muito barulho quando cai. - Explica a professora
- Áh! E não canta?
- Não.
- Olhem...esta chuva traz flores... - Observa uma menina
- Uma chuva com flores?
- Não pode ser!
- Áh, mas é!
- Professora, eu acho que estamos a sonhar...
- Não! Isto é mesmo real.
- Que lindas flores...áh...
           Quando para de chover, os meninos saem, uma senhora velhinha vai à escola, toca à campainha, e diz à professora:
- Querida professora, desculpe estar a interrompê-la, mas as suas aulas vão ter de terminar por hoje!
- Mas, porquê?
- Porque acabou de acontecer algo muito especial.
- O quê? Choveu...
- Sim, choveu, mas não reparou que era uma chuva diferente?
- Os meninos dizem que sim, e por acaso também vi, mas não estou a perceber porque é que as aulas vão ter de parar.
- Porque esta chuva tem uma mensagem, que todos vamos ter de encontrar.
- Uma mensagem? - perguntam todos
- Sim. Uma mensagem. Já se esqueceu da nossa missão anual, professora? A professora também tem de vir.
- Missão anual...?
          A senhora sorri:
- E depois eu é que sou velha, louca e esquecida...está bem! Que dia é hoje, professora? Não pense mais, venha com os seus meninos. Não me pergunte mais nada, apenas, acompanhe-me, e acender-se-á uma luz na sua cabeça que só pensa em transmitir idiotices aos seus alunos, que não lhes fazem falta nenhuma. O que estão a aprender aqui, não vai ter qualquer utilidade para eles, não vai torná-los mais humanos, não vai ensiná-los a amar e a respeitar a natureza! Venham...
          A professora fica sem palavras e pensativa, até um pouco ofendida por estarem a dizer mal do seu trabalho. A professora e os meninos seguem a senhora velhinha, sem saber o que iam fazer. Pelo caminho a senhora recomenda:
- Estejam de olhos bem abertos, porque a mensagem podem estar em qualquer lugar.
- E como é que nós a descobrimos? - pergunta uma menina
- Filha, isso saberás quando a encontrares.- responde a senhora 
- Mas como é que ela é? - pergunta outra menina
- Saberás como ela é, quando a encontrares.
- Mas quem é ela? Uma rapariga...? - pergunta um menino
- Logo verás. - responde a senhora
- Estamos à procura de alguém que desapareceu? - pergunta outro menino
- Estamos! Desapareceu no dia 21 de Dezembro do ano passado.
- E só vão procurá-la agora?
         A senhora ri e murmura:
- Santa ignorância.
        Vão todos de olhos bem abertos, e veem flores por todo o lado, noutros sítios a terra borbulha, onde caíram as sementes que vinham na nuvem.
- Olhem, a terra está a fazer bolinhas. - Repara outra menina
- Boa! - diz a senhora
- Ali tem montes de flores! - repara outra menina
- Ali parece que as flores estão a formar uma letra...olhem...é um P.
- Isso mesmo! - Diz a senhora
- Ali, há outra letra feita de flores... um...
- R. - Gritam todos
- Sim. - Diz a senhora
- Encontramos duas letras feitas de flores. Um P e um R. Será que faz parte da mensagem que estamos à procura?
         A senhora ri e não responde, mas aconselha:
- Continuem à procura!
- Está ali um I... aquela flor parece um I. - repara um menino
- Muito bem! - Diz a senhora
- I. - Gritam todos
        Começam a ouvir os pássaros que vinham na nuvem a cantar, espalhados por muitas árvores, onde veem muitos ninhos, com passarinhos a chilrear felizes, ninhos com ovos ainda fechados, e relva fresca, gotinhas de chuva penduradas nos troncos das árvores, ainda sem folhas, e outras gotinhas em flores.
- Este som...já o ouvi antes.- Relembra outra menina
- Pois já! Era a canção que a chuva cantava há bocado! - Diz outra menina
- Pois era! - Confirma a professora
        A senhora sorri. Mais adiante, veem outro grupo de flores que formam outra letra:
- Está ali um M. - repara outra menina
- Um M. - Gritam todos
- P...R...I...M... - soletra a professora
- Ainda falta. - Diz a senhora
         Olham para todo o lado.
- Um A... - grita outra menina
- A! - Gritam todos
- P...- soletra um menino
- R...- soletra uma menina 
- I... - soletra outro menino
- M...- soletra outra menina
- A...- soletra outro menino
- Prima...! - Gritam todos
- Ainda falta. Continuem à procura. - Diz a senhora a sorrir
           Continuam a olhar para todo o lado, e outro menino encontra um V, feito de flores no meio de uma fonte com água corrente.
- Está ali um V...! - repara outra menina
- P...R...I...M...A...V... - Soletram todos em coro
- Procurem que vão encontrar mais... - diz a senhora  
          Andam mais um pouco, e veem um E, entre a relva verde a alta, que dança ao sabor do vento, e forma um V por onde passa.
- Ouçam o que a relva diz. - Aconselha a senhora
         Faz-se silêncio, e ouvem o barulho do vento, que também mexe com os cabelos:
- Está a dizer Vvvvvvvvvvvvvvv.... - gritam todos
- Mas está ali em E...não tem nada a ver com um V...
- O E está ali, feito pelo vento, que diz...Vvvvvvvvvvvvvvvvv...Era só para ouvirem a felicidade do vento, e a obra de arte que ele fez. - explica a senhora
- Qual obra de arte? - Pergunta um menino
- Óh valha-me santa dormência...filhos, o que estamos à procura? O que é que encontramos? - pergunta a senhora
- Da mensagem.
- De letras.
- E não é uma obra de arte, que a Natureza faz? Letras com flores, com vento, com sons e pássaros...? Ai, ai, ai...tanta distração. Continuem a procurar.Não veem nada, não admira, estão sempre enfiados em livros e em salas... como hão-de conhecer o que se passa cá fora...- comenta a senhora 
- Ainda há mais?- pergunta outra menina
- Claro que há! - diz a senhora
            Olham para a frente e veem outra letra:
- R...! - gritam todos
- Muito bem! - diz a senhora
- Temos um...P...R...I...M,...A...V...E...R... - diz a professora
            Andam mais um pouco e no monte, veem outra letra em flores:
- A...! - gritam todos
- Que susto...só sabem gritar! - Diz a professora
- P...R...I...M...A...V...E...R...A...! Primavera! - Gritam todos com um grande sorriso
- Já descobriram a mensagem que a chuva trazia... a Primavera. Mas mantenham-se em silêncio, a mensagem está incompleta. - diz a senhora
           Quando ficam em silêncio, ouvem uma série de vozes a gritar Primavera...vozes de crianças, de adultos, gargalhadas, veem passar coelhos meios trôpegos a sair das tocas, e a correr desajeitados, ainda meios ensonados.
          Ouvem cucos a cantar perto e longe, veem flores que estavam fechadas há muito tempo a abrir, e a mostrar toda a sua beleza.Veem bandos de lindas borboletas a voar graciosamente, e a dançar, joaninhas pousadas nas flores, e a fazer pequeninos voos, gotinhas de água a brilhar ao sol, e arco-íris pequeninos em cima da relva que abana com o vento.
           Veem e ouvem gelo a estalar, pequeninos riachos a descongelar e a correr devagar para se encontrarem mais à frente na grande cascata, para onde se dirigem os meninos. Sons maravilhoso, cores por todo o lado, brilho, luz, animais, flores...tudo desperta!
           Passa por eles uma linda e misteriosa mulher, muito leve, perfumada, que flutua, cheia de cores e flores, com um vestido fantástico de folhos.
- Olá! Cheguei...
- Primavera... - exclamam todos a sorrir
- Muito bem-vinda! - Diz a senhora
- Muito obrigada pela receção. Vemo-nos por ai...até já!
            A primavera segue caminho, por outros lugares.
- Muito obrigada por nos mostrar coisas tão bonitas! - Diz a professora
- Muito obrigada! - Dizem os meninos
- De nada! Essa é uma das minhas missões...e venham mais vezes cá para fora, porque a Primavera gosta de ser vista, apreciada, sentida! Ela merece...
- Até logo. - Dizem todos
- Até logo.
             Os meninos voltam com a professora para a escola, eufóricos, e fazem uma composição na sala, a contar toda a magia que presenciaram. Aquele momento foi mesmo especial.
             E vocês, já viram a Primavera? Procurem-na...peçam à vossa professora para vos levar a ver a mágica Primavera, e descubram tudo o que ela traz. Ou desenhem as suas letras com flores...

                                                                        FIM
                                                                        Lálá
                                                                 16/Março/2018     



        

sábado, 10 de março de 2018

AS FLORES DO JARDIM DOS ABRAÇOS



           Era uma vez um jardim cheio de flores de variadas espécies, todas lindas, grandes, vistosas, com cores encantadoras. Foram todas plantadas por uma civilização de um povo índio, que vivia numa floresta longe da civilização.
         Contam que um dia, cada índio dessa tribo encontrou à sua porta um saquinho de sementes que não sabiam o que eram, nem quem as tinha deixado lá. Pensavam que talvez fosse algum presente de um antepassado.
           Mesmo não sabendo o que iria nascer dali, nem de onde vinham, plantaram-nas com muito carinho. Quando as sementes cresceram, perceberam que iam ser flores. Rapidamente elas começaram a crescer e a mostrar toda a sua beleza de cores nas pétalas.
          Além das maravilhosas belezas que mostravam, estas flores poucos dias depois de estarem enormes, começaram a mexer-se, no sítio onde estavam, mas pareciam dançar sem música.
          Primeiro, os índios não queriam acreditar no que estavam a ver. Discutiram entre eles e pensavam que estavam a ver coisas que não existiam…seria um efeito hipnótico da beleza das flores.
        Depois, voltaram a olhar para o jardim e elas continuavam a mexer-se, os índios acharam tão divertido, mesmo pensando que estavam a imaginar, e mexeram-se com elas, seguiram o seu ritmo e repetiram os seus movimentos. A esses movimentos juntaram as danças deles, e as flores repetiam-nos.
       Os índios ficaram assustados. Que espécie de flores tão estranhas, dançavam e repetiam as danças humanas. Nunca tinham visto nada assim, nem tinham visto tudo, porque além de dançarem, as flores ainda trocavam abraços entre elas, coisa que os índios não faziam.
        Quando as flores se abraçavam, ouviam-se risinhos. Os índios repetiram entre eles, mesmo sem saber que eram abraços. Primeiro copiaram a medo, quase não encostaram os corpos, encostavam-se e fugiam; com olhares desconfiados e tremores, gritinhos, benziam-se assustados.
         Mas ao ver que as flores ficavam com as suas cores mais brilhantes e vistosas, riam, e pareciam mesmo gostar, os índios tentaram outra vez, e sentiram que podia ser bom. Mesmo assim, ainda abraçavam superficialmente.
       As flores continuaram a abraçar-se, e os índios repetiam, até que perceberam que afinal era bom, e gostavam tanto que começaram a dar abraços mais longos, mais carinhosos, e sentiam-se felizes, com uma energia melhor e mais bonitos, com sorrisos mais abertos.
         As flores tinham uma mensagem e uma missão muito importante, que era ensinar os índios a abraçar, e não sabiam, mas elas foram enviadas por antepassados. Quando perceberam que os abraços aprendidos com as flores eram tão bons, tão confortáveis e cheios de coisas boas, estes passaram a fazer parte do seu dia-a-dia, das suas tarefas, muitas vezes por dia, sempre que se encontravam, tal como o dançar com as flores.
            Esta é a lenda das flores do jardim dos abraços.

FIM
Lálá
10/Março/2018

sexta-feira, 9 de março de 2018

O CAVALO SOBRE AS ONDAS




        

    Era uma vez um lindo cavalo com asas que vivia numa aldeia de nuvens, com a sua enorme família, onde tinha tudo. Ele sentia-se feliz na sua aldeia, mas às vezes gostava de sair e ir para a praia, que ficava por baixo. Para lá chegar tinha de atravessar apenas um fofo, claro e macio caminho de nuvens.
        Não se via todos os dias, aliás, ele fazia de tudo para ir à praia sem ser visto. Quem estava na praia de dia, às vezes viam-no, mas pensavam que eram nuvens juntas a formar a imagem de um cavalo. Outras vezes, aparecia de noite, quando a lua era tão grande e luminosa que quase parecia mergulhar.
        Quando ia de noite, cavalgava sobre as ondas pequeninas que cresciam com o pisar das suas patas. De dia, cavalgava longe da costa, e só refrescava as suas asas, algo que adorava fazer.
        Um dia, de noite, com a lua enorme e luminosa, lá foi ele…atravessou o caminho e cavalgou por cima das ondas grandes até quase à areia, a sentir a aragem agitar-lhe suavemente as crinas. Tinha muita vontade de conhecer a areia, saber o que se sentia nas patas, se era macia ou áspera, quente ou fria, ou se tinha cheiro.
         Deu mais uns passinhos e olhou para trás.
- Áh…a paisagem que se vê daqui é muito diferente! Nunca tinha visto. Que linda lua! Como o mar é mesmo interminável…já parecia não ter fim, mas daqui é muito maior. E a brisa…também é mais fresca, aqui. Ali não sinto tanto, ou é mais leve. E a areia...?
        Finalmente pôs as suas patinhas na areia, primeiro a medo, tocou um bocadinho e tirou rapidamente. Voltou a tocar, e a recuar outra vez. Até que decidiu pousar totalmente as patas na areia molhada, mas não sabia que se chamava assim.
- Áh…é…macia e fria. Mas acho que está molhada, parece…grossa…é parecida com lama.
        Caminha mais para cima, na areia seca, ao longo da praia, sempre atento a tudo o que sentia.
- Agora a areia está mais quente, é mais fina, e parece que está…seca. É diferente. A brisa também é mais forte. Tanto espaço…tanta areia. Então é aqui que as pessoas se deitam, ou será ali? Se calhar é nos dois sítios, quando há sol. É muito agradável.
        Estava encantado com aquela experiência, mas ainda queria saber mais. Decidiu sentir a areia com o corpo todo, estendeu as patas, sentou-se, mexeu-se livremente, e gostou tanto que se esfregou totalmente, rebolou na areia, às gargalhadas, esfrega com as patas, levanta a areia:
- Faz cócegas…que maravilha! É mesmo macia. Áh, áh, áh…
        Sacode-se, para e olha para a paisagem à sua frente.
- Uau! Isto é lindo!
        Fecha os olhos, inspira, expira, e sente o cheiro a maresia:
- Áh…que cheiro é este…? Vem dali…é…do mar? Hum, que agradável.
      Fecha os olhos outra vez, sente o cheiro a maresia, a aragem suave a mexer nas suas crinas, e o som do mar suave, ao longe, pareciam sussurros. Abre os olhos, vê a lua gigante e sorri.
- Que linda que está a lua. Adoro esta paisagem, a aragem, este som.
        O vento sopra mais forte, e assobia entre as folhas das palmeiras:
- Quem está aí?
        Olha em volta e não vê ninguém, mas ouve outra vez o som:
- Áh…é o vento! Gosto deste som!
        O cavalo levanta-se, e cavalga mais um pouco por aquele espaço.
- Maravilhoso! Obrigado, Natureza, por este sítio, por tudo o que há aqui. Adoro o sítio onde vivo, mas aqui também parece um lugar de sonho. Vou voltar para a minha aldeia…mas vou voltar aqui outro dia!
        Regressa ao mar, cavalga pelas ondas sem pressa, para e volta a olhar para trás. Cavalga mais um pouco e regressa a casa, quase hipnotizado com tanta beleza.
Conta à família, e vão todos à praia. O mar ganha ondas enormes, com tantos cavalos a cavalgar, dirigem-se para a areia, e experimentam o mesmo que o cavalo. Ficam tão felizes, e gostam tanto daquele sítio, daquelas sensações que fazem uma festa e divertem-se até ao nascer do sol, que também ficam a ver da praia, e só de manhã regressam para a sua casa.
                              
FIM
                                          Lálá
                                   9/Março/2018