Número total de visualizações de páginas

sábado, 30 de julho de 2016

O vento e o silêncio


Era uma vez uma jovem rapariga que se chamava Rubi, e vivia num acampamento de índios com uma grande família, numa montanha mais ou menos perto da cidade, onde às vezes também precisavam de ir trabalhar.

A vida era muito diferente no acampamento e na cidade! Um dia, Rosa, uma amiga da Rubi, que vivia na cidade, quis ir com ela para conhecer o seu espaço e a montanha. A Rubi também já tinha ido muitas vezes para a sua casa.

Foi muito bem recebida, no início achou tudo muito estranho, mas ao mesmo tempo engraçado e muito especial. Conheceu os muitos rituais de agradecimento, as danças diárias, as refeições, as roupas, as tendas, os objetos…ficou surpresa e assustada mas explicaram-lhe tudo com orgulho, e ela aprendeu encantada.

Teve a possibilidade de ver a maravilhosa princesa de vestido preto com estrelas, que ela pensava ser uma pessoa e afinal era a noite! Era muito mais bonita do que se fosse realmente uma pessoa como elas, pelo menos todos diziam isso e ela concordou.

Tanta estrela! Uau! De perder de vista. Deitados no chão…lindo! Diziam que a princesa de vestido preto era leve e bailava como uma pena, com o vento. Realmente parecia que todo o céu que estava por cima deles se mexia. A cama era muito confortável.

No dia seguinte, assistiu ao nascer do sol, e ao ritual que faziam para o cumprimentar e agradecer o terem acordado, e o que estavam a ver. Rosa arrepiou-se com a energia que se formou nesse momento.

De tarde a Rubi levou a sua amiga Rosa a um pequenino vale muito perto do acampamento, e disse-lhe para não falar! Ia conhecer dois amigos seus…esperam em silêncio até que chegaram os dois amigos…o vento que nunca vinha sozinho, trazia sempre o seu inseparável companheiro, de nome silêncio.

- Olha Rosa, chegaram! Olá! – Diz Rubi a sorrir

- Quem? – Pergunta Rosa

- Os meus amigos!

- Onde estão? Não vejo ninguém.

- Estão aqui. Amigos, apresento-vos a minha amiga da cidade. Chama-se Rosa.

- Mas tu falas sozinha?

- Não! Falo com os meus amigos!

- Amigos imaginários? Desculpa, acho que já somos muito crescidinhas para falar com amigos imaginários…isso são coisas de crianças pequenas…

- Não! Eles são reais.

- Mas não vejo aqui ninguém. A não ser…nós as duas!

- Fecha os olhos e ouve-os! Eles vão falar contigo. Não digas nada, para já. Primeiro ouve. O meu amigo silêncio acabou de te dar um abraço, e o meu amigo vento está a fazer-te carinhos! Estão a dar-te as boas vindas.

- Não senti nada…nem um nem outro. Nem os vejo! Os nomes dos teus amigos são esses? Vento? E silêncio?

- São.

- Nunca outra ouvi.

- Fica em silêncio.

- Mas eles falaram? Não ouvi nada…? Porque é que não aparecem? São envergonhados?

A Rubi ficou em silêncio e pediu à amiga para fazer o mesmo. Rosa ficou muito surpresa, ficou calada, mesmo sem perceber o que estava a acontecer, e porque tinha de ficar calada, porque é que os tais amigos não aparecem, nem ela conseguia ouvir…

- Rosinha…por favor…manda calar um bocadinho as vozes que estão a falar na tua cabeça.

- O quê? Estás a ouvir vozes na minha cabeça…? Ai…!

- Sim! São os teus pensamentos. Estás a pensar não estás?

- Estou…

- Sei que queres saber o que está a acontecer, que não estás a perceber nada, e que queres ver e ouvir os meus amigos…queres saber porque é que eles não falam, nem aparecem…mas…espera! Fica só em silêncio.

- Tu consegues ler os meus pensamentos?

- Consigo. É o vento que me está a dizer. Não te assustes. Fica descansada…sem falar, e aproveita esta companhia do meu amigo silêncio.

- Está bem…

- Sossega. Daqui a pouco vais saber todas as respostas.

E passado um bocado Rubi ri-se e fala com o vento.

- Estás a falar comigo? – Pergunta Rosa

- Não. Desculpa. Estou a falar com o meu amigo vento!

- Mas eu só te ouço a ti, e só te vejo a ti. Tu deves ter uns parafusos a menos…desculpa! É que não estou habituada a estas coisas…

- Não te preocupes. (sorri) Tu também podes ouvir o meu amigo vento, e o meu amigo silêncio! O meu amigo silêncio está aí ao teu lado. O meu amigo vento está a falar…fica em silêncio, fecha os olhos e ouve o que a brisa que sentes te diz. Não é uma pessoa, mas ele fala. E como vem com o seu amigo podemos ouvi-lo, perceber o que diz quando toca nas folhas, nas flores, no chão, na erva, na água, nas folhas dos pinheiros, entre os troncos, nas penas dos pássaros, no pelo dos animais, nas árvores e em nós…ele também canta e fala de sentimentos. Sente…ri…chora…revolta-se…os dois também vão à cidade, mas nunca ninguém os ouve, ou entende. Se o nosso amigo silêncio não andasse com ele, nunca conseguiríamos ouvir o vento, nem percebê-lo, tal como acontece entre nós pessoas…também não nos conseguimos ouvir uns aos outros, se falarmos ao mesmo tempo, ou se estivermos distraídos a pensar noutras coisas, enquanto falamos com alguém. Na cidade há muito barulho, e movimento, não conseguimos senti-lo…passa-nos despercebido com tanta correria. Na cidade, o vento não é bem recebido, a não ser quando está calor. Mas ele gosta de conversar. Aqui aprendemos a ouvi-lo, e é muito bom! Experimenta. Só tens de fechar os olhos…estar em silêncio, e ouvi-lo!

Rosa ouviu a Rubi atentamente, e sorriu com a beleza da explicação. Nunca tinha pensado em nada disto. Nunca outra tinha ouvido, e nunca tinha falado com o vento, nem achou que fosse possível…pensou que essas coisas eram ideias de pessoas misteriosas, com poderes, ou com algum problema mental, pois era o que lhe diziam na cidade.

Rubi ensinou-a, e vários fins-de-semana seguidos, a Rosa acompanhou Rubi ao pequenino vale onde as duas se encontravam com o vento e com o silêncio, e aprendeu também a ouvir o vento, a compreendê-lo, a interpretá-lo, a falar com ele!

Com o silêncio, ela sentia uma grande paz, alguma coisa que ela não conseguia dizer por palavras, tal como a Rubi, arrepiava-se, ria e chorava com a Rubi e com os dois amigos. Depois de aprender, as duas tinham longas conversas com o vento, e Rosa ficou muito diferente!

Até na cidade ela sentia a presença do seu amigo silêncio e do vento, às vezes chamava-os, quando precisava de relaxar e tomar decisões ou fazer escolhas difíceis, pedia conselhos e ouvia-os.

Com a Rubi e os seus dois amigos: o vento e o silêncio, Rosa descobriu todo um mundo novo que estava diante de si, mas que lhe era totalmente desconhecido pelo barulho e agitação da cidade.

Fim

Lálá

(30/Julho/2016)


DESAFIO:

E vocês? Conseguem estar em silêncio e ouvir o vento? Já imaginaram que o vento fala? O que acham que ele diz ou pode dizer? O que ouvem no silêncio? Imaginem, experimentem e escrevam alguma coisa que o vento vos tenha dito.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A palavra da estrela cadente





















foto de Lara Rocha 


Era uma vez uma menina que foi á praia e escreveu na areia a palavra paz. À noite, antes de se ir deitar olhou para o céu e viu uma estrela cadente, a quem contou que tinha escrito na areia da praia nesse dia, a palavra Paz. Pediu á estrela cadente que levasse essa palavra pelo mundo.
A estrela cadente foi à praia e viu a palavra paz que estava intacta, como se tivesse sido escrita nesse minuto. Deitou-se na areia por cima da palavra e encheu de estrelas pequeninas e brilhantes, as três letras.
A brisa vinda do mar, soprou suavemente e a palavra paz levantou com as estrelinhas de mãos dadas para a palavra não se desmanchar. A palavra voou pelo espaço atrás da estrela cadente e passeou devagar para que todos vissem.
A menina sorriu ao ver que o seu pedido tinha sido ouvido e realizado! Quando viram a palavra paz, muitos trocaram abraços e beijos, e todos dormiram melhor nessa noite, ficaram encantados.
Enquanto todos dormiam, a palavra paz continuou a sua viagem. Em alguns cantos do mundo, quem viu a palavra paz, deu as mãos e formou-se um grande cordão humano, cada um pediu em silêncio que a paz chegasse a todo o mundo, a palavra de estrelas pairou, para receber e sentir a energia dos corações a bater serenos pela paz. No fim aplaudiram longamente, e a palavra brilhou mais forte.
Continuou a sua viagem, sem pressa, passou noutra praia e umas gotinhas do mar quiseram senti-la, com as estrelas. Outras gotinhas quiseram beijar letra por letra e levaram na sua água, estrelinhas de paz, que distribuíram pelas plantas e flores penduradas nas janelas e varandas.
Outras gotinhas cheias de estrelinhas, acariciam o pêlo dos animais, para que também eles sentissem paz. Outras gotinhas quiseram provar a palavra e saborearam cada letra. Gostaram tanto dela que guardaram a sua energia numa concha e espalharam-na por todo o oceano que ficou mais sereno que nunca.
Depois, a palavra paz regressou à menina levada na cauda da estrela cadente, com o triplo do tamanho. A menina achava que ela não ia ser devolvida, mas foi devolvida por homens que não queriam paz!
A menina ficou triste porque percebeu que uma palavra tão bonita e tão forte, não chega a todos os corações como ela, e todas as boas pessoas, gostariam. Mesmo assim agradeceu e prometeu escrever mais vezes a palavra paz, na esperança de que em breve, ela consiga derrubar corações de pedra, que só querem guerra.
Ela acreditava que ia conseguir, porque a paz é mais forte, ou é melhor que a guerra. Pelo menos no seu coração e em muitos outros, até no da natureza, a palavra paz entrou e lá ficou.

A estrela entrou com a paz no vosso coração? Conseguem senti-la? Que forma tem? Que tamanho tem? Qual o seu sabor e cor?

Fim
Lálá
(22/Julho/2016)


quinta-feira, 21 de julho de 2016

O sino rebelde



Era uma vez um sino de uma torre de uma pequena aldeia, que era muito rebelde. Todos os outros sinos eram muito obedientes, tocavam apenas o que lhes mandavam, ou tocavam a música que lhes tinham ensinado a tocar a todas as horas, ou os toques para anunciar algo.
Chegava a vez desse sino e ele tocava só o que lhe apetecia, as músicas que queria, conforme as energias que sentia no ar, e adorava denunciar as verdadeiras emoções das pessoas, mesmo quando elas tentavam disfarçar.
Quase ninguém entendia o que ele queria dizer, e se estava chateado com alguma coisa que tinha acontecido ou ouvido, fazia um barulho insuportável, irritante, e escandaloso.
Umas vezes parecia que estava a gritar, outras a chorar, outras a rir, outras a troçar, outras vezes parecia que estava parado a pensar e deixava-se levar pelos sons da natureza à sua volta.
Todos ficavam muito surpresos, porque ele não tinha horas certas de o fazer…era quando queria, e ficava louco quando o obrigavam a tocar sons que ele não gostava.
Perguntava muitas vezes aos outros sinos se gostavam que os obrigassem a tocar músicas que eles não gostavam, e se gostavam mesmo dessas músicas que os mandavam tocar ou não.
Uns sinos não lhe respondiam, outros diziam que tanto lhes fazia tocarem músicas alegres ou tristes, outros reconheciam que tocavam porque eram mandados, mas não gostavam de todas as músicas.
O sino tentava convencer os outros a juntar-se e protestarem, mas os outros não lhe ligavam. Estavam habituados. Chamavam-lhe o sino rebelde e começaram a ficar fartos dele.
O presidente da aldeia fartou-se de tantas queixas dos habitantes contra o sino, e mandou retirá-lo da torre da igreja. Muitos homens reuniram-se e fizeram um grande esforço para o tirar da torre porque era enorme, muito pesado e tinham escadas para descer.
Pousaram-no no chão encostado a uma árvore velha com um tronco que parecia uma cratera oca. O sino continuou a tocar à sua vontade, de acordo com as emoções que sentia no ar, em quem passava por lá, e as melodias que queria, à hora que queria.
Ficaram irritados quando voltaram a ouvi-lo mesmo depois de tirado da torre. Alguém se lembrou de forrar o interior do sino com esponja e espuma…com isso ele apenas vibrava mas pelo menos já não se ouvia.
Ele ficou furioso, atirou-se para o chão, e pediu socorro para ver se alguém lhe tirava aquela cobertura. Não teve sorte. Ficou assim vários dias, e de um dia para o outro, desapareceu.
Foi levado por um homem que era director e músico de um coro de outra igreja, que o pendurou, tirou-lhe a cobertura interior, e o sino tocou de alegria, aliviado. O senhor achou tão engraçado, que pediu para ele lhe mostrar o que sabia tocar. O sino ficou tão feliz que mostrou tudo o que era capaz, sentiu-se livre, e contagiou o senhor com a sua felicidade que riu, dançou e aplaudiu.
Depois, o senhor descobriu que o sino tocava de acordo com as emoções que sentia no ar, de quem passava, mas era um segredo dos dois…só os dois sabiam isso, e o sino alertava o senhor quando as pessoas estavam a mostrar emoções falsas. Falavam um com o outro por códigos…discretamente, uma linguagem que só eles os dois entendiam.
E ele passou a fazer parte da animação das missas juntamente com o coro…às vezes nem eram canções que o coro conhecesse ou que tinham ensaiado, mas eram cantadas com tanta energia positiva que todos se deixavam levar por ele, e sentiam-se bem.
O sino passou a ser muito valorizado e usado para todas as festas. Aqui o sino podia ser ele mesmo, deixar as suas emoções falarem livremente, mais positivas e menos agradáveis, todos aprenderam com o sino a expressar também as suas emoções de forma natural, e livre, tão livre como os pássaros que pousavam no sino, e levantavam voo quando ele tocava, mas depois do susto, gostavam de o ouvir e até dançavam ao som das suas melodias.
O sino não saiu mais de lá, e tornou-se amigo de todos…era o ponto de atracão de quem ia visitar a aldeia, e dos próprios visitantes. Foi rejeitado num lugar, mas aceite noutro. A mudança levou-o para a felicidade.
Fim
Lálá

(21/Julho/2016)

terça-feira, 19 de julho de 2016

As sementes no deserto


Era uma vez um grande pássaro de belas e compridas penas, cheias de cor, que voava por cima de um deserto. Era um pássaro muito especial, que levava num saquinho delicadamente bordado por uma senhora velhinha, umas sementes…muitas, de flores.
O pássaro já vinha a voar há muitas horas, e ao passar pelo deserto com tanto calor começou a fraquejar, a ficar muito cansado e desidratado, sem forças. Deixou-se cair sem se esforçar para se segurar, e aterrou na areia escaldante.
Mesmo como estava, conseguiu arrastar-se pela areia até uma gruta, que pensou que ficava logo ali, do sítio onde estava, e pensou que talvez fosse mais fresco. Ao arrastar-se, o saquinho abriu ligeiramente e caíram algumas sementes de flores, que ele nem se apercebeu.
Ele entrou na gruta, e levantou-se uma valente tempestade de areia que tapou as sementes, e o pássaro nem percebeu. Para sua sorte entrou nessa gruta, um viajante que já estava habituado a passar por esse caminho quando saia da sua casa para o trabalho, e do trabalho para casa, trazia água e estava preparado para tempestades de areia que eram muito frequentes.
Quando viu o pássaro percebeu logo que estava a precisar de água e de descanso. Ele trazia vários barris cheios de água para aguentar até casa, embora fosse um caminho curto, era muito calor, e tinha de beber. Abriu um dos barris e ofereceu água ao pássaro.
O pássaro nem queria acreditar…ficou tão feliz por estar a beber, e por sentir água…! Bebeu sofregamente, era uma água leve e estava fresca. O rapaz molhou as penas e a cabeça do pássaro que estremeceu e sentiu-se renovado. Fartou-se de agradecer ao rapaz.
Os dois conversaram um bom bocado, e o pássaro sentiu-se mais forte, por isso preparou-se para voar outra vez, mas o rapaz sugeriu-o e aconselhou-o a voar só de noite, porque aquela zona era demasiado quente, e se voasse poderia voltar a ficar desidratado. Ainda lhe deu um barril mais pequeno que levava ao pescoço, para que fosse bebendo.
O pássaro assim fez. O rapaz foi para a sua casa, e o pássaro ficou na gruta a descansar. À noite, quando estava bem mais fresco, o pássaro voltou a voar, e de vez em quando, pelo caminho bebia. As sementes ficaram na areia.
O rapaz passou várias vezes pelo mesmo caminho onde estavam as sementes, e não as viu, mas um mocho que voou numa noite sentiu que algo havia debaixo daquela areia. Pousou, cheirou e não se enganou. Cheirava-lhe a flores. Mas como iriam nascer flores naquele sítio?
Lembrou-se das fadas que costumavam andar de noite, na cidade que ele vigiava. Foi ter com elas, contou-lhes, e elas trataram logo de ir ver o que se passava. Confirmou-se…cheirava mesmo a flores…e estavam debaixo da areia.
As fadas molharam todo aquele espaço de areia, regaram as sementes, puseram uns pedaços de relva fresca em cima da areia, e alimento natural para que as sementes crescessem.
Todos os dias, durante algumas semanas as fadas precisavam de ver como estavam as sementes, e a terra, e passaram a visitar aquele espaço, regavam e faziam festas, danças, convívios…porque achavam que a felicidade delas ajudava as sementes a crescer.
E tinham razão. Passado algumas semanas, de dedicação e carinho, o pezinho, as folhinhas e o botãozinho começaram a sair da terra. Elas festejaram, e aplaudiram, dançaram á volta das novas plantinhas e continuaram a cuidar delas.
As plantinhas foram crescendo, crescendo, crescendo, e quando os botõezinhos abriram…Ááááááhhhh….que surpresa tão agradável!
De uns botões apareceram uns enormes e lindos girassóis, de outros botões umas rosas brancas, vermelhas, amarelas, e rosas, e outras com cores misturadas, de outros nasceram margaridas, de outros uns fantásticos amores-perfeitos, e de outros, vários ramalhetes de hidrângeas brancas, rosadas, azuis e roxas. Tão grandes…
Mesmo sendo um deserto, esse recanto com flores maravilhosamente cuidadas pelas fadas passou a ser um lugar muito frequentado, por fadas, elfos, unicórnios, pássaros, borboletas e outros animais que se reuniam para estar em família, com amigos, festejar, relaxar, procurar inspiração para poetas e pintores, fotógrafos, e caminhantes.
Muitos abrigavam-se do calor debaixo das flores, que por serem tão grandes faziam sombra. As fadas gostaram tanto da surpresa que quiseram pôr lá mais flores que elas mais gostavam, árvores e fontes de água, lagos, repuxos e cascatas para beberem, refrescarem-se, regarem as flores e fazerem lindos espetáculos que toda a gente ficava encantada.
Muita gente foi para lá de manhã bem cedo, aproveitar a fresca e ver o belo nascer do sol, ao fim da tarde iam ver o mágico pôr-do-sol, e à noite viam o imenso céu cheio de estrelas.
Em noites de lua cheia gigante as pessoas da cidade iam para o jardim em que foi transformada essa parte do deserto e faziam bailados, festas à luz da lua.
Estas sementes mudaram o deserto, e a vida das pessoas da cidade, que ganharam um pequeno e maravilhoso jardim, um recanto refrescante, inspirador e relaxante. Tudo ficou diferente a partir daí…
Uns meses mais tarde, o pássaro voltou lá, e nem queria acreditar no que estava a ver. Parece que ficou hipnotizado, e encantado. Nessa noite, o mocho contou-lhe que não sabia de onde tinham vindo aquelas sementes de flores, mas elas nasceram e deram aquelas belezas.
O pássaro ficou pensativo, passeou por todo o jardim, saboreou cada pedacinho, cheirou cada flor, sentiu a frescura e os perfumes, ouviu a água a cair, e a borbulhar…e lembrou-se que poderiam ser as que ele tinha levado, daquela vez que as transportou e que caiu naquele sítio com o calor… não disse nada, sorriu apenas e agradeceu.
Também ele, sem querer…tornou-se outro atractivo do jardim, porque era de uma espécie desconhecida, mas muito bonito, e toda a gente se aproximava, olhava e elogiava as suas penas, pediam-lhe para lhes tocar e ele deixava, era muito fotografado, desenhado, pintado. Passou a fazer parte das festas que as fadas e os habitantes faziam. Todos adoravam aquele lugar mágico.
Ainda bem que as sementes caíram nesse sítio e que alguém reparou nelas, cuidou delas, regou-as, e juntou outras tantas. Talvez por isso é que elas tenham resistido no meio de tanto calor…onde todos as tratavam bem, com respeito, sem estragar nem poluir, apenas…olhar para elas, e deliciar-se com cada pormenor que ofereciam.

FIM
Lálá
(19/Julho/2016)



       

domingo, 17 de julho de 2016

O peixinho branco




Era uma vez um peixinho branco, brilhante que vivia no mar, mas muitas vezes ia à superfície ver a praia, e mergulhar noutros sítios, como as poças. Os seus pais deixavam-no ir, mas estavam sempre atentos, e alertavam-no para ter cuidado com os seres humanos que andavam pela praia.
O peixinho esquecia-se com o entusiasmo de ver coisas tão bonitas e sentia vibrações tão boas quando as crianças e pessoas com mais idade mergulhavam ou molhavam os pés, que não conseguia sair da beira deles.
Brincava com eles, raspava pelos pés, esfregava as barbatanas nos dedos e nas pernas que estavam mergulhadas na água, rebolava, fazia bolinhas, deixava-se tocar, deixava que pegassem nele, e que lhe fizessem festas.
Ele adorava ouvir as gargalhadas das boas pessoas, e das crianças, pelas cócegas que sentiam quando o peixinho passava, ficava tão feliz que nem se lembrava que havia pessoas menos simpáticas, que tentavam pescá-lo com baldes, acertavam-lhe com pás, atiravam-lhe com pedras, queriam agarrá-lo, e pô-lo fora da água, e lançavam-lhe armadilhas.
Apanhava muitos sustos! E os seus pais também. Um dia, a mãe do peixinho ficou muito zangada, cansou-se de apanhar sustos e pediu ao anjo da guarda do filhote, um peixinho com asas fininhas, de cor azul mar, que o protegesse, já que ele era teimoso, e esquecia-se dos perigos.
O anjinho da guarda do peixinho branco pôs logo asinhas ao caminho e vigiou-o, sempre que havia perigo, o anjinho cobria o peixinho transformando-o em transparente, da cor da água. No inicio, o peixinho branco sentiu-se muito estranho…e o anjinho dele apareceu à sua frente.

- Tem cuidado! Lembra-te que há perigos, e não te deves meter neles. – Recomenda o anjinho
- Quem és tu? – Pergunta o peixinho
- Sou o teu anjo da guarda!
- Áhhhh…que lindo! Acho que nunca nos encontramos.
- Já nos encontramos, mas nunca falamos.
- Porque não?
- Tu deves saber que eu existo, mas nunca me chamaste…mesmo assim, eu estou sempre muito perto de ti, a olhar por ti.
- Óh! E agora também estás a tomar conta de mim?
- Sim!
- Mas eu não me lembro de te ter chamado!
- Não… não me chamaste, mas sei que corres perigo, por isso é que estou aqui.
- Como é que sabes?
- Sei.
- Os meus pais falaram contigo não foi?
- A tua mãe…ela diz que nunca te lembras dos perigos que existem na praia, e está farta de apanhar sustos contigo. Então, pediu-me para te ajudar a proteger.  
- Eu sei…! Tenho vergonha.
- Não tens de ter vergonha. Só tens de ter mais atenção e cuidado.
- Não queria que os meus pais ficassem preocupados. Mas é que eu fico tão feliz, sinto ondas tão boas, e sinto que eles também ficam felizes, que até me esqueço dos perigos que os meus pais tanto falam.
-É normal…és criança…não vês maldade em nada…mas infelizmente…aqueles humanos têm-na…principalmente em relação a tudo o que é diferente! Mas é claro que os teus pais ficam preocupados.
- E o que é que eu posso fazer para eles não ficarem preocupados e para eu não correr perigo?
- Sempre que eu sentir que estás em perigo, transformo-te em peixe invisível, da cor da água, e assim podes andar à vontade, fazer cócegas e carinhos aos velhinhos, às crianças e aos corações bons. É um lindo gesto, mas assim não corres perigo de ser caçado, agredido com pedras ou pás, ou de caíres em armadilhas!
- Áh! E depois volto a ter a minha cor normal?
- Claro que sim.
- Muito obrigada! – Diz o peixinho feliz
O anjinho da guarda do peixinho branco acompanha-o sempre, com quem tem longas conversas, brincadeiras e fugas de perigos. A sua presença faz com ele se torne ainda mais especial junto das pessoas, embora elas não o vejam, umas vezes na sua cor natural, o branco, outras vezes transparente.
Assim ele pode nadar seguro, continuar a explorar a praia, e brincar com as crianças, os velhinhos e as pessoas de bom coração que conseguiam vê-lo e senti-lo, e a mãe ficou mais descansada.  
O peixinho ia e voltava sempre que queria, agora protegido e acompanhado.

FIM
Lálá

(16/Julho/2016)

sexta-feira, 15 de julho de 2016

ROSAESTRELA E ROSALUA

























fotos de Lara Rocha 

    Era uma vez uma grande ave, com penas muito exóticas, com cores lindas, e compridas, que voava sobre uma aldeia onde viviam muito pouco habitantes. Pousa na casa de uma senhora velhinha, enrugada, encarquilhada mas sorridente e feliz, que estava no seu jardim a plantar sementes. A águia ficou encantada com aquela doce senhora e perguntou:
- Bom dia, bela senhora…!
A senhora assustou-se porque estava muito concentrada no seu trabalho, e quando olha, vê a enorme águia.
- Desculpe…assustei-a! – Diz a águia preocupada
- Que grande que és…mas tens umas penas tão bonitas! – Diz a senhora
- Obrigada! – Diz a águia
- De onde vens? – Pergunta a senhora
- Venho…de muito longe. – Responde a águia
- Mas vens de um sítio natural, ou poluído? – Pergunta a senhora
- Muito natural. Mas já passei por muitos sítios poluídos. – Responde a águia
- Pois. Aqui o ar também é muito puro, mas mais para a cidade é terrível. – Confirma a senhora
- Sim, é verdade. Precisa de ajuda? – Pergunta a águia delicada  
- Como? – Pergunta a senhora
- Posso ajudá-la em alguma coisa? Vejo que está a plantar! – Repara a águia  
- Óh, não…obrigada. Estou a plantar, porque já sou velha e isso ajuda-me a distrair-me da solidão e dos pensamentos tristes. – Explica a senhora
- Faz muito bem. E o que está a plantar? – Pergunta a águia curiosa
- Flores! – Responde a senhora
- Áh! Que flores? – Pergunta a águia
- Não sei…são flores surpresa. Eu gosto muito de estar em contacto com a natureza, e às vezes compro sementes surpresa…que não sei de que flores são…e quando nascem…surpreendem-me. – Conta a senhora
- Gosta de surpresas? – Pergunta a águia
- Sim. – Responde a senhora
- Estas flores são todas de sementes surpresa, ou sabia quais é que iam nascer? – Pergunta a águia
- Algumas são de sementes surpresa, outras são flores comuns. Adoro todas elas. E tu, águia, gostas de flores? – Responde a senhora
- Gosto. – Responde a águia
As duas têm uma longa conversa, enquanto a senhora planta as sementes, e rega com carinho, contam histórias uma à outra, riem muito, bebem água e repousam à sombra de uma árvore na hora de mais calor.
A senhora agradece a companhia à águia e a águia promete ficar vigilante, e voltar. A águia cumpriu o que prometeu, e voltou todos os dias seguintes, várias vezes por dia. As duas tornaram-se família.
- Onde estão as sementes surpresa?
- Óh, não sei.
- Não faz mal…logo veremos.
- Isso mesmo.
Uns dias depois, a águia estava muito curiosa para conhecer as sementes surpresa, e descobriu-as entre dezenas de flores que estavam a nascer. Duas flores completamente diferentes das outras que estavam, no tamanho, na forma das pétalas, na textura das pétalas e nas cores…lindas…!
Uma era de cor branca azulada, outra de cor amarela. As pétalas da flor branca azulada tinham formatos todos diferentes…umas eram redondas, outras meias luas que pareciam um D, outras em barco inclinado, umas mais estreitinhas, outras mais largas. Olhando para toda, parecia um quadro com as fases da lua.
As pétalas da flor de cor amarela, tinham as pontas em bico, e olhando para toda, parecia uma estrela. A águia percebeu logo que eram aquelas duas…as sementes surpresa, e chamou a senhora. Primeiro deixou que a senhora adivinhasse no meio de todas aquelas flores, as que lhe pareciam diferentes. Mas a senhora não identificou. Pareciam-lhe todas familiares.
- São estas! – Mostra a águia
- Já as viste?
- Sim.
A senhora solta uma grande exclamação, muito surpresa, e ao mesmo tempo um pouco assustada:
- Áh! Mas que flores são estas…? Nunca vi…que forma tão…rara…
A senhora toca a medo, e percebe que é maravilhoso sentir as pétalas.
- Mas que pétalas tão delicadas…macias… o seu formato é raro… lindas! Fazem-me lembrar alguma coisa…engraçado!
- A mim…esta branca azulada faz-me lembrar as fases da lua…esta…amarela…parece uma estrela…
A senhora volta a olhar para elas…
- Sim, é isso. Claro!
As duas flores sorriem à senhora, e ela retribui.
- Elas estão a sorrir-me, ou sou eu que estou a imaginar?
- Estão a sorrir-lhe!
- Olá! – Dizem as flores
- Olá! – Diz a senhora e a águia
- E falam…? – Pergunta a senhora muito surpresa
- Falamos! – Respondem as duas
- Queremos ser as suas netas. – Diz a flor branca azulada
- Podemos? – Pergunta a flor amarela que parece uma estrela
- Óh, minhas queridas…claro que sim. Com todo o gosto. Não sei como apareceram aqui, mas se chegaram ao meu jardim, são muito bem-vindas e serão muito bem tratadas por mim, com muito amor e carinho. – Responde a senhora
- Não tenho dúvidas disso! – Diz a flor branca azulada
- Dá para ver que sim. – Acrescenta a flor amarela
- Ei…e eu vou ser o quê para vocês…? – Pergunta a águia ciumenta
- Vais ser… - diz a senhora
- A nossa mãe! – Respondem as duas flores
- Áh! Mas com muito gosto. Que surpresa! Não vos faltará nada…! – Sorri
- Que lindas as tuas penas! – Repara a flor branca azulada
- Muito obrigada. – Responde a águia vaidosa
- Vocês também são lindas…! Vamos dar-vos nomes… - Sugere a senhora
- E que tal se lhes chamar-mos… A ela…rosalua…e a ela… rosaestrela? Rosalua porque as pétalas dela parecem ter a forma das fases da lua, e a cor…e para ela…rosaestrela porque as pétalas dela fazem lembrar uma estrela! – Sugere a águia
- Rosalua…e Rosaestrela… Rosalua…e Rosaestrela… - repetem
- Sim…! – Dizem todos
- Gosto desses nomes. – Diz Rosalua
- Soa bem! - Diz Rosaestrela
- Obrigada! – Dizem as duas
- Seremos uma família! – Diz a senhora
- Uma família! – Dizem todos felizes
E todas têm uma longa conversa, riem, a águia leva as duas a passear nas suas asas, umas vezes no seu lombo, outras vezes debaixo das suas asas, conforme está o tempo, a senhora prepara um lugar especial protegido dentro da sua casa para as três, e passam longos serões como uma verdadeira família, com água, alimento, muito carinho, muita diversão e amizade, e aprendem muitas coisas umas com as outras.
Assim nasceram as flores surpresa… Rosalua e Rosaestrela que alegraram a vida da senhora e da águia. E vocês? Se recebessem umas sementes surpresa, como seriam as vossas flores surpresa? Onde as colocariam? Desenhem-nas…
FIM
Lálá

(14/Julho/2016)