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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

HÁ MENINOS E MENINAS…Versão do monólogo «O menino racista aprende a respeitar». Diálogo entre mãe e filha.

NARRADORA – Era uma vez uma menina que estava muito triste com a sua turma. Um dia, a sua mãe vai buscá-la à escola e sente que alguma coisa não está bem.
MÃE – Está tudo bem, filha…?
MENINA – Sim.
MÃE – De certeza?
MENINA – Sim, mamã está tudo bem.
MÃE – Não me parece…! (p.c) Estou a achar-te muito triste.
MENINA – Deixa lá, mamã. Não te preocupes, tu já tens muito com que te preocupar e chatear.
MÃE – Bem, tu é que sabes. Se não queres falar, não falas.
NARRADORA - Pelo caminho conversa sobre outras coisas com a mãe. Ao chegar a casa, faz os trabalhos de casa, e a mãe faz o trabalho dela. A menina não consegue concentrar-se e pára muitas vezes.
MENINA – Mamã…ajuda-me aqui, se faz favor.
MÃE – Em quê?
MENINA – Não consigo pensar. Tenho muitas coisas na minha cabeça.
MÃE – Eu já percebi…mas o que é que se passa, filha? Já há bocado achei que estavas muito triste.
MENINA – Óh mãe, sabes uma coisa…eu não gosto nada da minha turma.
MÃE – Não? Porquê?
MENINA – Porque os meninos portam-se muito mal. São muito maus uns com os outros.
MÃE – Sim, a tua professora já falou connosco. Mas tu portas-te bem.
MENINA – Sim, mas há meninos que chamam nomes feios àqueles meninos de África, e da China, que tenho na minha sala. E depois também chamam gordas e gordos, baleias, tubarões, burros a uns meninos mais cheiinhos, e aos que não têm notas tão boas! (p.c) Eu não gosto nada disso. (p.c) Os meninos que ouvem essas coisas também ficam muito tristes ao ouvir isso, e eu também.
MÃE – Pois, isso é mesmo muito triste. Mas eles não devem ligar ao que os outros dizem, porque não é verdade.
MENINA – A professora está sempre a ralhar com eles, mas eles não mudam. Porque é que eles fazem isso, Mamã?
MÃE – Não sei filha…alguns fazem isso para que reparem neles.
MENINA – Claro que toda a gente repara neles, porque eles são muito feios e maus. Deviam fazer coisas boas, não era?
MÃE – Claro que sim.
MENINA – Mas óh Mamã…os grandes também fazem isso?
MÃE – Sim, filha…e coisas muito piores.
MENINA – Porquê?
MÃE – Olha, uns porque têm inveja, outros porque querem ser superiores e humilham os colegas, outros porque se acham superiores, mas não são…! (p.c) Há muitas razões.
MENINA – E o que é que lhes fazem, também os castigam como as crianças?
MÃE – Nem sempre.
MENINA – Eles também têm medo, como nós, crianças?
MÃE – Sim, os que sofrem essas vergonhas sim.
MENINA – Mas para quê? (p.c) Deviam ser todos amigos.
MÃE – Pois deviam…os meninos e os adultos.
MENINA – Eu não queria ter aquela turma.
MÃE – Óh filha, não podemos fazer nada…infelizmente.
MENINA – Mas tu ensinaste-me a respeitar todos os meninos, e os adultos. Porque é que os outros também não ensinam isso?
MÃE – Sabes, querida, todos ensinam, mas infelizmente nem todos os meninos têm famílias felizes, nem pais nem avós como os teus, e como os de meninos educados, e bem comportados, que ensinam coisas boas, e que dão amor aos filhos.
MENINA – Porquê?
MÃE – Isso é uma pergunta muito difícil. Há muitas razões…! Quando fores mais crescida vais perceber melhor.
MENINA – Os adultos são muito estranhos!
MÃE – Pois são. É verdade.
MENINA – Se não gostam dos filhos, porque é que os pediram à cegonha?
MÃE – Às vezes pedem à cegonha um bebé para ver se as coisas entre os crescidos melhoram, mas não adianta, porque o problema está nas cabeças deles, e porque não se entendem.
MENINA – Mas o que é que as crianças têm a ver com os problemas dos adultos?
MÃE – Nada, filha.
MENINA – E tu, mamã…também me pediste à cegonha para resolver os teus problemas com o Papá, para ver se te entendias com ele, e se ficavas amiga dele?
MÃE – Claro que não, filha! (p.c) Eu queria mesmo ter-te. Pedi-te à cegonha porque quis. E na altura o teu pai também te queria.
MENINA – E porque é que depois deixou de me querer?
MÃE – Ele não deixou de te querer…mas encontrou outra pessoa.
MENINA – Mas ele não me quis mais. Será que eu fiz alguma coisa que ele não gostou e foi embora para não me fazer mal?
MÃE – Claro que não, querida…tu não fizeste nada. O amor dele por mim, acabou…ou talvez nunca tenha existido…mas ele continua a amar-te!
MENINA – Eu queria muito que ele estivesse aqui. Porque todos os meninos têm um pai e uma mãe que vivem na mesma casa.
MÃE – Eu sei que tens meninos que vivem só com a mãe, e só com o pai. Mas de certeza que o outro continua a amar os filhos.
MENINA – Não sei, mamã…eu acho que se os papás amassem mesmo os filhos, não saiam de casa, não era?
MÃE – Não, filha, não é bem assim. Para ti, que és pequenina, a família boa é aquela que tem um pai e uma mãe na mesma casa, mas nem sempre é bom que estejam os dois juntos.
MENINA – Porquê?
MÃE – Porque às vezes os adultos não conseguem ou não podem tomar conta dos filhotes, porque têm problemas de dinheiro, ou de cabeça…ou porque andam sempre muito zangados uns com os outros…e quando é assim, é melhor cada um seguir o seu caminho, viver com quem quiser, ter mais filhos…ir para onde entender. Mas podes ter a certeza que mesmo separados amam os filhos.
MENINA – Não parece nada. Pelo menos o meu Pai…!
MÃE – O teu Pai ama-te, querida.
MENINA – Então porque é que ele nunca me liga, nem me vem ver?
MÃE – Porque…mora longe! E trabalha muito.
MENINA – Mesmo assim, devia telefonar. Não acredito que não tenha um minuto livre para me telefonar.
MÃE – Um dia destes, ele liga. Mas não duvides do amor dele por ti.
MENINA – Eu fico muito triste por não ter aqui o Papá.
MÃE – Eu sei filha, eu entendo. Mas não quero que fiques triste, porque há muita gente à tua volta que te ama. E o teu pai, mesmo longe também te ama.
MENINA – É muito mau ter um pai longe, e não viver com ele. Até parece que ele não existe.
MÃE – Mas existe…e ama-te.
MENINA – Óh mamã, o papá não pode voltar?
MÃE – Não. (p.c) Mas ele pode vir visitar-te sempre que quiser.
MENINA – Mas não vem.
MÃE – Vá, faz os trabalhos de casa. Não penses mais nessas coisas.
MENINA – Tu também tinhas meninos maus na tua sala?
MÃE – Sim, tinha. (p.c) Isso sempre houve, mas antes havia mais respeito!
MENINA – E o que é que ele fazia?
MÃE – Muitas asneiras…era muito mau com toda a gente… mas aprendeu!
MENINA – Como é que ele aprendeu?
MÃE – Olha… na minha turma, havia trinta alunos. Angolanos, Cabo Verdianos, Brasileiros, Russos, Indianos, um ou dois chineses, meninos que vinham de França, e Portugueses. (p.c) No geral, a turma era bem comportada, e nunca houve muitos problemas! Mas havia um menino português, que tinha a mania que era engraçadinho, e muito inteligente. (p.c) Coitadinho…esse era dos piores, pois gozava com todos, com risinhos estúpidos sempre que outro menino falava, insultava, e humilhava os outros, para mim era defeito de educação e necessidade de chamar a atenção, pois a professora uma vez disse-nos que devíamos perdoá-lo porque tinha problemas em casa, e era maltratado pelos pais. (p.c) Ninguém podia compreender como perdoar aquele menino mau com os outros…porque é que tínhamos de o tratar de forma diferente? (p.c) A nós sempre nos tinham ensinado a tratar todos por igual. (p.c) Não conseguíamos perceber.
MENINA – Eu também não consigo perceber!
MÃE - Na verdade isso ainda há hoje em todas as turmas, mas na altura foi uma coisa nova. Ninguém queria brincar com ele, nem ficar perto dele, porque ele começava logo a bater e a provocar.
MENINA – Eu também não queria brincar com meninos assim, nem brinco…nem eu nem ninguém. (p.c) Mesmo quando eles tentam brincar connosco, como são muito brutos, ninguém quer. Porque já sabem que eles vão fazer maldades…mas depois ficam ainda mais maus.
MÃE – Claro, ficam muito zangados. Nós bem tentávamos gostar dele, mas não conseguíamos.
MENINA – Eu também queria gostar desses meninos, e também tentamos integrá-los na turma, como diz a professora, mas não conseguimos.
MÃE – Pois. Não é fácil. A professora bem tentava, e chamava-o à atenção, mas era o mesmo que falar para as paredes. (p.c) Todos os dias fazíamos queixa dele! Ele era racista…para ele, todos os que não fossem portugueses, não prestavam. (p.c) Mas isto durou pouco tempo porque…
MENINA – Bateram-lhe? Ou foi castigado? (p.c) Os meninos vingaram-se?
MÃE – Não. Não foi preciso! (p.c) Numa tarde, depois de ele ter cansado a professora, no recreio, com uma brincadeira maluca que inventou, deu uma série de trambolhões e rolou pelo chão depois de ter caído de um brinquedo bem alto. (p.c) A professora não estava nessa altura, tinha ido fazer um recado ali mesmo ao lado. (p.c) No momento em que o vimos a cair fomos todos a correr ter com ele, para o socorrer. Ele gritava de dores, tinha várias feridas enormes, ficamos todos em pânico…mas lembramo-nos do que tínhamos aprendido sobre primeiros socorros, e enquanto um menino foi chamar a professora ao lado, começamos todos a tentar acalmá-lo; as meninas faziam-lhe carinho, e animavam-no, mas mesmo bastante ferido, ele tentava ser mau, e insultou gravemente quem tentava ajudá-lo. Apesar disso, nós aguentamos a maldade dele e ficamos ao pé dele.
MENINA – Eu não o ajudava!
MÃE – Realmente, não merecia, mas uma menina angolana, muito sensível e boazinha, teve pena dele, e fez um primeiro curativo na perna dele, e ele ainda deu pontapés…talvez de dores ou de ardência…!
MENINA – Mesmo ferido? Que mau feitio! (p.c) Então é que eu não lhe fazia mais nada…que mal agradecido!
MÃE - Mas a menina suportou os pontapés dele e disse para ele parar, que era para o bem dele. (p.c) outras meninas brasileiras deram-lhe a mão e fizeram carinhos. (p.c) Chegou a professora e muito preocupada observou-o e fez-lhe várias perguntas. Ele só gritava e chorava. (p.c) Pelo sim pelo não, a professora chamou uma ambulância e foi com ele. E ainda bem que foi porque afinal tinha um braço, uma perna e um pé partidos. (p.c) Ficamos todos preocupados, porque o tombo foi grande, e ele estava bastante ferido. (p.c) Como éramos mais humanos e mais sensíveis que ele, esquecemos que ele era mau connosco e socorremo-lo. (p.c) A professora chegou e trouxe-nos as novidades. (p.c) Uma menina Cabo Verdiana teve uma ideia: irmos visitar o menino, e levar-lhe umas pequenas ofertas. (p.c) Ela tinha esquecido completamente os insultos e as humilhações, e tinha sido uma verdadeira amiga para o menino. (p.c) A professora ficou sensibilizada com esse gesto e apoiou de imediato. (p.c) Então, fizemos uma série de pequenas coisas, com muito carinho, com a ajuda da professora: poemas, desenhos, trabalhos manuais…e todos assinamos. (p.c) Depois dos trabalhos feitos, fomos ao hospital visitá-lo. Ele estava muito triste. (p.c) Quando nos viu entrar ficou muito surpreso e um pouco envergonhado, porque estavam lá todos os que ele menos gostava, e que ele tinha humilhado. (p.c) A professora informou-o que tínhamos umas surpresas para ele, e que desejávamos as melhoras. (p.c) O menino ficou muito feliz, abriu um grande sorriso, e a professora deu-lhe o que tínhamos feito. (p.c) Adorou. Agradeceu-nos muito, e pediu-nos desculpa por ter sido tão mau connosco todas aquelas vezes. (p.c) De facto, quando ele caiu, quem foi logo ter com ele foram aqueles a quem ele humilhava e com quem não gostava. (p.c) Nós perdoamos todas as ofensas, e o menino engoliu um grande sapo como se costuma dizer. (p.c) todos os dias fomos visitar o menino ao hospital enquanto ele lá esteve, e o menino adorava a nossa visita, ria muito, ficava mesmo feliz, e brincava, falava…A partir desse dia o menino nunca mais foi o mesmo…passou a ser um rapaz meigo, simpático, delicado, e amigo. (p.c) Depois de ele sair, e estar a melhorar, todos lhe emprestávamos os cadernos, explicávamos o que tínhamos aprendido, e ajudávamo-lo a fazer os trabalhos de casa e nos outros trabalhos. (p.c) E todos passamos a ser acolhidos por ele, tornou-se muito mais humano, agradecia-nos sempre, independentemente da nossa raça. (p.c) Nunca mais nos gozou, nem humilhou. (p.c) Aprendeu uma verdadeira lição! (p.c) Às vezes é preciso assim uns acontecimentos para abrir os olhos e os corações. (p.c) Independentemente da raça ou origem, todos precisamos uns dos outros por alguma razão. E às vezes, a ajuda vem de quem não estamos à espera, ou de quem achamos que jamais nos ajudaria. (p.c) Lá porque temos uma cor diferente, não deixamos de ser humanos e de ter bons sentimentos! (p.c) Na verdade, independentemente da cor, todos somos diferentes, por dentro, na maneira de ser, mas acima de tudo, somos seres humanos, de carne e osso!
MENINA (sorri) – Óh, que lindo! (p.c) Será que com os meninos da minha sala isso também funcionava?
MÃE – Não sei, filha…talvez um dia destes, eles aprendam uma lição sozinhos…e se tornem meninos diferentes!
MENINA – Mas o que devemos fazer se eles nos humilham e se nos batem?
MÃE – Falar com algum adulto responsável, e fazer queixa…sempre…não deixar passar. O adulto saberá o que fazer.
MENINA – Mas não adianta…nós fazemos queixa, e eles continuam sempre a fazer a mesma coisa.
MÃE – Acredita que um dia destes, eles vão reagir de forma diferente. (p.c) Não vale a pena dar-lhes troco, isso é o que eles querem. (p.c) O melhor é ignorar, e fazer queixa. O adulto saberá o que fazer, ou então, poderá acontecer que eles aprendem quando apanharem um grande susto! (p.c) Mas agora…esquece isso, e faz os trabalhos de casa. (p.c) As coisas vão melhorar, vais ver.
MENINA – Espero bem que sim.
MÃE (murmura) – Pobres professores…! (p.c) E no fundo…pobres crianças que não têm uma família que os ama e educa. (p.c) Mesmo só com um elemento tem de haver regras e amor, valores humanos.

FIM
(Lálá)
28/Dezembro/2012


O menino racista aprende a respeitar!


Monólogo/ texto para dramatização


Olha, filha…olha a tua mãe aqui, quando era mais pequena! (ri) Que diferença! Lembro-me muito bem da minha turma da escola primária. (p.c) A professora foi das melhores que tive…era como se fosse uma mãezinha para todos nós! (p.c) Muito meiga, paciente, simpática…adorava-nos! Nós sentíamos isso! (p.c) Era uma turma de meninos e meninas, com trinta alunos! Muitos alunos…! (p.c) Quando penso nisso, admiro ainda mais a professora que tive, pois, se fosse eu, não aguentava tantos! (p.c) Quer dizer, se os alunos fossem como nós até era fácil, mas se fossem como os de agora…ai…enlouquecia! (p.c) Os professores de agora sofrem muito, e com poucos alunos, o que fará com muitos! (p.c) Além de sermos muitos, o mais interessante é que quase todos de diferentes raças e nacionalidades. (p.c) Havia…Angolanos, Cabo Verdianos, Brasileiros, Russos, Indianos, um ou dois chineses, meninos que vinham de França, e Portugueses. (p.c) As aulas eram interessantes, pois todos tinham hábitos parecidos e outros muito diferentes, mas quando se falava de qualquer parte da matéria havia muitas trocas de informação e todos aprendiam uns com os outros. (p.c) No geral, a turma era bem comportada, e nunca houve muitos problemas! Mas havia um menino português, que tinha a mania que era engraçadinho, e muito inteligente. (p.c) Coitadinho…esse era dos piores, pois gozava com todos, com risinhos estúpidos sempre que outro menino falava, insultava, e humilhava os outros, para mim era defeito de educação e necessidade de chamar a atenção, pois a professora uma vez disse-nos que devíamos perdoá-lo porque tinha problemas em casa, e era maltratado pelos pais. (p.c) Ninguém podia compreender como perdoar aquele menino mau com os outros…porque é que tínhamos de o tratar de forma diferente? (p.c) A nós sempre nos tinham ensinado a tratar todos por igual. (p.c) Não conseguíamos perceber. (p.c) Na verdade isso ainda há hoje em todas as turmas, mas na altura foi uma coisa nova. (p.c) Ninguém queria brincar com ele, nem ficar perto dele, porque ele começava logo a bater e a provocar. (p.c) Nós bem tentávamos gostar dele, mas não conseguíamos. A professora bem tentava, e chamava-o à atenção, mas era o mesmo que falar para as paredes. (p.c) Todos os dias fazíamos queixa dele! Ele era racista…para ele, todos os que não fossem portugueses, não prestavam. (p.c) Mas isto durou pouco tempo porque…numa tarde, depois de ele ter cansado a professora, no recreio, com uma brincadeira maluca que inventou, deu uma série de trambolhões e rolou pelo chão depois de ter caído de um brinquedo bem alto. (p.c) A professora não estava nessa altura, tinha ido fazer um recado. (p.c) No momento em que o vimos a cair fomos todos a correr ter com ele, para o socorrer. Ele gritava de dores, tinha várias feridas enormes, ficamos todos em pânico…mas lembramo-nos do que tínhamos aprendido sobre primeiros socorros, e enquanto um menino foi chamar a professora ao lado, começamos todos a tentar acalmá-lo; as meninas faziam-lhe carinho, e animavam-no, mas mesmo bastante ferido, ele tentava ser mau, e insultou gravemente quem tentava ajudá-lo. Apesar disso, nós aguentamos a maldade dele e ficamos ao pé dele. Uma menina angolana fez um primeiro curativo na perna dele, e ele ainda deu pontapés…talvez de dores ou de ardência…! (p.c) Mas a menina suportou os pontapés dele e disse para ele parar, que era para o bem dele. (p.c) outras meninas brasileiras deram-lhe a mão e fizeram carinhos. (p.c) Chegou a professora e muito preocupada observou-o e fez-lhe várias perguntas. Ele só gritava e chorava. (p.c) Pelo sim pelo não, a professora chamou uma ambulância e foi com ele. E ainda bem que foi porque afinal tinha um braço, uma perna e um pé partidos. (p.c) Ficamos todos preocupados, porque o tombo foi grande, e ele estava bastante ferido. (p.c) Como eramos mais humanos e mais sensíveis que ele, esquecemos que ele era mau connosco e socorremo-lo. (p.c) A professora chegou e trouxe-nos as novidades. (p.c) Uma menina Cabo Verdiana teve uma ideia: irmos visitar o menino, e levar-lhe umas pequenas ofertas. (p.c) Ela tinha esquecido completamente os insultos e as humilhações, e tinha sido uma verdadeira amiga para o menino. (p.c) A professora ficou sensibilizada com esse gesto e apoiou de imediato. (p.c) Então, fizemos uma série de pequenas coisas, com muito carinho, com a ajuda da professora: poemas, desenhos, trabalhos manuais…e todos assinamos. (p.c) Depois dos trabalhos feitos, fomos ao hospital visitá-lo. Ele estava muito triste. (p.c) Quando nos viu entrar ficou muito surpreso e um pouco envergonhado, porque estavam lá todos os que ele menos gostava, e que ele tinha humilhado. (p.c) A professora informou-o que tínhamos umas surpresas para ele, e que desejávamos as melhoras. (p.c) O menino ficou muito feliz, abriu um grande sorriso, e a professora deu-lhe o que tínhamos feito. (p.c) Adorou. Agradeceu-nos muito, e pediu-nos desculpa por ter sido tão mau connosco todas aquelas vezes. (p.c) De facto, quando ele caiu, quem foi logo ter com ele foram aqueles a quem ele humilhava e com quem não gostava. (p.c) Nós perdoamos todas as ofensas, e o menino engoliu um grande sapo como se costuma dizer. (p.c) todos os dias fomos visitar o menino ao hospital enquanto ele lá esteve, e o menino adorava a nossa visita, ria muito, ficava mesmo feliz, e brincava, falava…A partir desse dia o menino nunca mais foi o mesmo…passou a ser um rapaz meigo, simpático, delicado, e amigo. (p.c) Depois de ele sair, e estar a melhorar, todos lhe emprestávamos os cadernos, explicávamos o que tínhamos aprendido, e ajudávamo-lo a fazer os trabalhos de casa e nos outros trabalhos. (p.c) E todos passamos a ser acolhidos por ele, tornou-se muito mais humano, agradecia-nos sempre, independentemente da nossa raça. (p.c) Nunca mais nos gozou, nem humilhou. (p.c) Aprendeu uma verdadeira lição! (p.c) Às vezes é preciso assim uns acontecimentos para abrir os olhos e os corações. (p.c) Independentemente da raça ou origem, todos precisamos uns dos outros por alguma razão. E às vezes, a ajuda vem de quem não estamos à espera, ou de quem achamos que jamais nos ajudaria. (p.c) Lá porque temos uma cor diferente, não deixamos de ser humanos e de ter bons sentimentos! (p.c) Na verdade, independentemente da cor, todos somos diferentes, por dentro, na maneira de ser, mas acima de tudo, somos seres humanos, de carne e osso!


FIM


(Lálá)


(28/Dezembro/2012)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

OS FRASCOS (história ou peça de teatro)

Frascos de Lara Rocha 



NARRADORA – Era uma vez, numa pequena aldeia, numa montanha, com poucos habitantes. Numa tarde cheia de sol, a pacata aldeia ficou em alvoroço…tudo por causa de uma mulher linda que lá apareceu. Ela era mesmo um sonho…parecia uma fada. Parecia…? Não. Era mesmo uma fada, e tinha uma missão muito importante para as crianças. Primeiro, reuniu todas as crianças num largo, sorriu-lhes…e disse docemente:
FADA – Olá meus pequenitos…!
CRIANÇAS (sorriem) – Olá.
DIANA (sorri) – Ááááhhh…és tão bonita!
FADA (sorri) – Obrigada! Tu também!
SOFIA (sorridente) – Tu és daqui?
FADA (sorri) – Não…! Mas passei por aqui.
GONÇALO (sorri) – Bem me parecia…nunca te tínhamos visto antes. Aqui conhecemo-nos todos.
GLORINHA – Mas tu és daqui de perto?
FADA (sorri) – Não.  
DIOGO – Aqui vive – se muito bem.
INÊS – E o que é que vieste cá fazer?
HUGO – És muito estranha…não pareces uma menina.
FADA (ri) – Então, pareço um menino?
(Todos riem)
HUGO – Não…mas és misteriosa.
FADA – Isso é porque não me conheces.
DIANA (sorridente) – Pareces uma fada!
FADA (sorri) - Minhas pérolas da Natureza! Tenho uma missão para vocês!
TODOS – Missão?
FADA (sorri) – Sim! Muito importante.
TODOS – Qual?
FADA – Eu tenho aqui uns frascos…!
INÊS – De vidro ou de plástico?
FADA – De vidro!
GONÇALO – A minha mãe e a minha Avó também têm muitos frascos.  
DIANA – Mostra…
(A Fada mostra uns frascos de vidro)
FADA – Alguém vê alguma coisa nestes frascos?
SOFIA – Eu vejo umas luzinhas.
FADA (sorri) – Boa!
DIANA – Eu também, e vejo além das luzinhas, uns sorrisos.
FADA (sorri) – Muito bem. Este frasco é para ti…segura-o. E este é para ti, querida…como te chamas?
DIANA – Eu chamo-me Diana! Obrigada.
SOFIA – Eu chamo-me Sofia. Obrigada.
FADA (sorri) – Muito bem. E neste?
INÊS – Eu vejo abraços!
FADA (sorri) – Muito bem! (p.c) Este frasco é para ti. Segura…!
INÊS – Obrigada.  
GLORINHA – Eu vejo flores, e borboletas nesse frasco!
FADA (sorri) – Muito bem! Este é para ti…como te chamas?
GLORINHA – Glorinha. Obrigada.
RITINHA – Eu vejo beijinhos.
FADA (sorri) – Boa. Este é para ti. Como te chamas?
RITINHA – Ritinha. Obrigada.
GONÇALO – Eu não vejo nada.
FADA – Então…este é para ti. Como te chamas?
GONÇALO – Gonçalo. Mas para que é que eu quero um frasco vazio?
FADA – Vais enche-lo com o que quiseres…coisas boas.
GONÇALO – Mas vou enchê-lo como? As coisas não cabem aqui.
FADA – Vais conseguir.
NUNINHO – Eu também não vejo nada.
FADA – Também vais enchê-lo com o que quiseres.
DIANA – E nós…? O que fazemos?
FADA – Vão abrir o frasco, e vão distribuir isso que viram em cada um deles, por habitantes da vossa aldeia e pela cidade quando lá forem.
INÊS – Mas, para quê?
SOFIA – Não vamos conseguir…!
FADA – Claro que vão conseguir. Porque não?
DIANA – Ela tem razão…porque as pessoas fogem de nós.
FADA – Fogem?
TODOS – Sim.
DIANA – Andam todos muito amuados…
INÊS – Carrancudos.
SOFIA – Sempre a correr…!
GLORINHA – Parece que andam todos desconfiados uns dos outros.
RITINHA – Não querem proximidade…!
DIANA – Andam tristes.
FADA (sorri) – A vossa missão é precisamente alegrar as pessoas que andam pelas ruas, muito tristes, solitárias e trazer-lhes de volta os sorrisos, dar-lhes carinho…!
SOFIA – Mas e se nos batem, ou se não quiserem?
FADA (sorri) – Vão querer, vão ver…no inicio podem fugir, mas digam que é gratuito…apenas querem ver um sorriso nas caras. (p.c) Se não quiserem, não faz mal, não insistam!
TODOS – Está bem!
GLORINHA – Mas porque é que nos escolheste a nós?
FADA – Porque vocês são as crianças mais humildes, simples, e bondosas que vi…! (p.c) As da cidade estão um pouco transformadas.
HUGO – Então vou encher o meu frasco com os sorrisos das pessoas.
FADA (sorridente) – Excelente ideia.
GONÇALO – E eu vou recolher as lágrimas das pessoas, para depois regar as plantas.
FADA (sorri) – Boa ideia.
NUNINHO – Eu não quero frasco nenhum.
DIOGO – Eu também não quero.
FADA – Não faz mal.
DIANA – E quando começamos?
FADA (sorri) – Quando quiserem. Pode ser agora mesmo.
RITINHA – E depois o que fazemos?
FADA (sorri) – Depois vão ver… (p.c) Voltarei dentro de alguns dias. Combinado?
TODOS – Sim.
FADA (sorri) – Muito bem. (p.c) Boa sorte.
TODOS (sorriem) – Obrigada.
NARRADORA – E os meninos que receberam os frascos, começam a concretizar a missão. Primeiro pela sua pequena aldeia, pedem a cada pessoa com quem se cruzam, que abram um frasco à escolha, e dão à pessoa…luzinhas, sorrisos, abraços, flores ou borboletas. Algumas pessoas abrem mais que um frasco, e recebem mais coisas. Todos reagem bem, riem, alguns deixam escapar algumas lágrimas de carinho, ternura e felicidade, são carinhosos com os pequenos, e retribuem. O Gonçalo recolhe as lágrimas para dentro do seu frasco. Mas na cidade, tudo é diferente. Muita gente que se cruza com eles, a alta velocidade ignora-os, ou assustam-se e fogem, porque acham que estão a pedir dinheiro, outras pessoas gritam e resmungam com eles, dizendo que não têm tempo a perder com canalha. Os meninos ficam tristes, mas não desistem, e ainda bem, porque, no meio de tanta gente indiferente, há pessoas que dão valor a pequenos carinhos, e atenção…algumas crianças, mães e pais, alguns Avós, que abrem os frascos todos, e recebem tudo, com grande ternura, alegria, mostram sorrisos abertos, abraçam com todo o carinho e beijam com inocência, pureza e gratidão. Os meninos agradecem, e quem recebe, também. Estão felizes, e orgulhosos. A Fada está atenta a tudo, e aprecia deliciada…e sorri. Nos dias seguintes, os meninos voltam a fazer o mesmo. A Fada volta a aparecer, e reúne-se com os meninos dos frascos. Os frascos estão novamente vazios.
FADA – Então, meus amores…como correram as coisas?
TODOS – Bem.
GLORINHA – Correu melhor aqui.
SOFIA – Sim, na cidade houve muita gente a fugir de nós, a ralhar-nos, a dizer-nos que não tinham tempo a perder com canalha…
INÊS – É. Na cidade foram poucos os que aceitaram.
DIANA – Eu não gostei de fazer isto na cidade.
GONÇALO – O meu frasco ficou cheio de lágrimas.
FADA (sorri) – É sinal que as pessoas ficaram emocionadas e gratas pelos vossos gestos, não é?
TODOS – Sim.
DIANA – Mas as pessoas andam mesmo com caras muito feias…!
GLORINHA – Acho que lhes aconteceu alguma coisa má.
FADA – Sim, queridas, e querido, as pessoas andam mesmo tristes, porque perderam a capacidade de sonhar, de acreditar em dias melhores, e de dar valor às coisas boas do coração, para si e para os outros. Vocês fizeram um excelente trabalho.
TODAS – Que mau!
FADA – Pois é. (p.c) E há tanta coisa boa e bonita para as pessoas se sentirem felizes, por estarem vivas, e pelo privilégio de ver e de sentir o carinho, os abraços que fazem milagres. Esquecem-se de sorrir, e de rir…é por isso que há muitos doentes. (p.c) Só porque cresceram, acham que já não é correcto e que não podem continuar a sonhar, a imaginar…têm medo de tudo.
DIANA – Eu acho que não tem nada a ver a idade com o sonhar, ou com o imaginar, e o apreciar as coisas boas.
FADA – Claro que não, doce Diana…! (p.c) Cabe a vocês, continuarem essa missão…! Sempre que puderem, deverão fazer o mesmo, para que a sociedade comece a ser um pouco mais saudável e colorida.
TODAS – Como?
INÊS – Irmos outra vez para a cidade e pedir às pessoas para abrirem os frascos?
FADA – Não…quer dizer…podem fazer isso, mas devem mudar um pouco…há outras formas… (mostra uma flor linda que dá luz) Estão a ver esta flor?
TODAS (sorriem) – Sim, é linda!
GLORINHA – E dá luz.
SOFIA (sorri) – Uau!
FADA – Muito bem, sim, é mesmo linda. E com ela, não vão precisar de se aproximar das pessoas, nem de lhes pedir para abrirem frascos.
DIANA – Então…oferecemos a flor?
FADA – Não. Esta flor vai dividir-se, e tornar-se pequenina, para caber nos vossos bolsos. Basta andarem com ela, e quem passar por vocês, vai ver-vos a sorrir…só tem de sorrir…para que as pessoas sorriam também. A luz que ela possui, é muito pura, e poderosa, vai dar às pessoas boas energias, para que se sintam bem.
TODAS (sorriem) – Ááááááhhhh…que bom!
FADA (sorri) – E sempre que entenderem, podem usar os frascos. (p.c) Vão ver que lindo que vai ser. (p.c) Alguma pergunta?
RITINHA – E não há nada que as faça ter vontade de sonhar…ter sonhos bons?
FADA – Sim, a flor já tem essa função.
SOFIA – Era tão bom, se víssemos as pessoas a sorrir.
FADA – Sim. E podem conseguir…! (p.c) Infelizmente poderá não ser toda a gente por quem passam, mas o mais importante é que vocês sorriam, e façam alguém sorrir. (p.c) Bom trabalho.
NARRADORA – A Fada distribui uma flor pequenina por cada menina e menino. Os pequenos metem-na no bolso, e vão passear pela sua aldeia. Na aldeia conseguem que todos sintam o efeito da flor e vêem sorrisos nas caras. Na cidade, acontece o mesmo que aconteceu com os frascos. No meio de tanta correria há sempre alguns que felizmente reparam, e sentem coisas boas, sorriem, embora a maioria das pessoas passe indiferente, com ar pesado. É fundamental que as pessoas voltem a sorrir, a sonhar acordadas, a reparar nas coisas boas e bonitas que há à sua volta, e que vivam com menos pressa, para que possam ver as belezas que todos os dias existem diante dos nossos olhos, por onde passamos, incluindo sorrisos de crianças. É urgente voltar a apreciar as luzes, as flores, as borboletas…dar mais e receber mais abraços e beijinhos, sem malícia, brincar mais…rir mais…ser mais positivos…talvez muitas doenças desapareçam. Cada um pode fazer a sua pequena parte, para que haja mais humanidade! Meninos e professores…Experimentem colocar dentro de frascos pequeninos ou envelopes, os ingredientes que os frascos da história tinham, e partilhem-nos com Avós nos Lares, ou dentro da vossa própria escola…peçam às pessoas que retirem algum desses ingredientes e ponham-nos em prática. Vejam o que acontece, e depois escrevam ou partilhem como ficou o vosso coração, e perguntem às pessoas a quem ofereceram os frascos, o que sentiu o coração deles.   

FIM
Lálá
(26/Dezembro/2012)