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sexta-feira, 18 de março de 2022

As flores que davam luz e brilhavam

Foto de Lara Rocha 


    
    Era uma vez um jardim de uma casa, igual aos outros, bem tratado, regado, cuidado, cheio de flores, e silencioso, só recebia às vezes a visita dos passarinhos que procuravam comida na terra, das abelhas que cheiravam as flores, e faziam um zumbido arrepiante. 

       As flores ficavam muito quietinhas e cheias de medo, mas as abelhas sentiam que elas tinham medo, davam-lhe beijinhos nas pétalas, e elas ficavam mais descansadas. 

- Hummm...cheiram tão bem! - comenta uma abelha. 

        Além dos animaizinhos, o jardim apanhava a luz do sol e a luz da lua. Ficava com uma magia especial. Mas os moradores da casa ainda não tinham percebido a verdadeira beleza das flores. Numa noite, estavam à janela a ver as estrelas, e a ouvir o som da brisa do vento a abanar as folhas, as espigas de milho, as cigarras e os grilos a cantar escondidos. 

        O jardim tinha pequenas luzes de presença, mas nessa noite estavam mais brilhantes, parecia que davam luz. Foram ver mais de perto, e eram as luzes refletidas nas gotinhas de água da rega nas pétalas! Que lindas, pareciam pétalas de flores de vidro ou de cristal, ficaram ali a apreciar, e ainda por cima balançavam com o vento, fazendo mexer as gotinhas de um lado para o outro. 

- Será que elas ficam sempre assim...? 

        Experimentaram apagar as luzes, e...surpresa...os cristais desapareceram! Quer dizer, como a luz deixou de refletir nas gotinhas da rega, pareciam ter desaparecido.

- Áh! Que giro! Desapareceram. 

        Viram para as pétalas a luz de uma lanterna, e as gotinhas voltam a aparecer nas pétalas, a brilhar, a mexer com o vento. Apagam a lanterna e elas desaparecem outra vez. Ligam as luzes de presença, voltam a aparecer.

- Uau! 

- Que giro! Nunca tinha reparado. 

        Umas noites depois, os donos da casa apagaram as luzes, porque estava uma lua gigante, clara, redonda, parecia dia. Foram ao jardim apreciar. As flores pareciam todas iguais, brancas azuladas como a lua, e lá estavam as gotinhas discretas da rega, só se viam em algumas. 

        Mas de repente surgem nuvens à volta da lua, e as flores ganharam essa cor...escuras como a noite sem estrelas. Os donos da casa não viam as gotinhas. 

- Óh não, está a formar-se uma tempestade... vamos para casa. - ordena o pai 

- E as flores? - pergunta a filha mais nova 

- Nós escapamos! - dizem as flores umas para as outras 

- Elas estão habituadas... deixa-as estar. Vamos para dentro! - acrescenta a mãe 

        Os humanos entram, e começam a cair as primeiras pingas de chuva, depois trovoada. Os trovões parece que atravessam as paredes. As flores saem da terra e abrigam-se debaixo de um telhado, onde tem um arbusto gigantesco, frondoso, é o abrigo secreto delas sempre que acontecem essas tempestades. Para as proteger, o arbusto fecha-se, juntando os seus ramos e formando quase uma casa, onde as flores não apanham chuva, nem vento. 

- Ai, que lá vão as flores... - gritam em casa 

        As flores estão encostadas umas às outras, a conversar alegremente e a brincar, a rir, tomam chá para aquecer, protegidas, confortáveis. Estremecem várias vezes, por causa dos estrondos da trovoada. Depois da tempestade passar, o arbusto abre, e as flores saem com os primeiros raios de sol, entre nuvens. Elas voltam para os seus lugares, agradecem ao arbusto a proteção, e parece que estiveram sempre no mesmo sítio, quando os donos da casa, as vão ver. 

- Áh! Estão no mesmo sítio. Escaparam... 

- Nem sei como. 

- Se calhar a chuva virou para outros sítios. Mas ainda bem que sobreviveram. 

        Afinal, as flores não davam luz, refletiam a luz que recebiam nas gotinhas de água da rega, com a luz de presença, com a lanterna, com a lua, e com o sol. Qual será a luz mais bonita? Todas. Porque cada uma é diferente da outra, e as próprias flores têm a sua beleza natural, de espécies diferentes. Mesmo de noite, quando pareciam que davam luz e brilhavam as gotas de água, eram lindíssimas, enchiam os olhos de quem as apreciava. 

E para vocês, como serão as flores mais bonitas? Com a luz da lua, com o sol, com as luzinhas de presença refletidas nas gotas? 

Nos jardins que conhecem existem flores que dão luzes? 

                                                                Fim 

                                                            Lara Rocha 

                                                            18/3/2022 

quarta-feira, 2 de março de 2022

Os ovos disfarçados

 





















       Era uma vez numa grande quinta, um galinheiro cheio de ovos, que festejavam o Carnaval, mascaravam-se, como gostavam e faziam uma grande festa. Mas este ano, os donos da Quinta não estavam para festejos. 
        Queriam era vender o máximo de ovos para compensar o que não conseguiram antes, num ano em que quase não venderam, por causa de um vírus que assustou toda a população. Desta vez os ovos é que também não queriam ser vendidos, já estavam habituados a ter liberdade. 
        Vestiram-se mascarados e fugiram do galinheiro, sem olhar para trás. Correram o mais que puderam, silenciosamente para não serem apanhados. Pintaram as cascas de branco, amarelo, com muitos desenhos diferentes, cores, puseram chapéus e óculos coloridos, fitas enroladas nas cascas, calças parecidas com as dos palhaços, outros desenharam mais olhos, para poder esconder-se se fosse preciso. 
        Estavam sempre a olhar uns para os outros, enquanto corriam para verificar se nenhum tinha ficado para trás, e já mais longe daquele galinheiro, pararam. Olharam para um lado, e para o outro...ufa! Estavam em segurança. 
        E...surpresa! Foram parar a um lago de cisnes onde estava a acontecer outras festa de carnaval, com os cisnes também mascarados, lindos, cada qual o mais espetacular, dançavam uns com os outros num bailado mágico, as penas de alguns pareciam de pavões, e deslizavam sobre a água ao som da música. 
        Que coisa mais linda! Haviam muitos mais animais e pessoas a assistir,  que pareciam hipnotizados, de tão bonito o que estavam a ver, aplaudiam várias vezes, sorriam, fotografavam. Outros patos desfilavam com os seus trajes carnavalescos, variados. 
        Ainda com a respiração e o coração acelerado, os ovos olharam uns para os outros, e deram umas boas gargalhadas, ao ver os fatos de cada um, e aliviados por estarem juntos, livres de perigo. 
- Áh, que lindo! - sorri um ovo 
- Uau! Como dançam bem. 
- E aqueles...tão engraçados. 
        O cisne que vigiava as entradas, convidou os ovos a entrar: 
- Olá! Vem participar na festa? 
- Sim. Podemos? - perguntou um ovo 
- Com certeza, entrem à vontade, e divirtam-se. 
- Obrigada. - dizem todos 
       Os patinhos acharam as máscaras e os trajes dos ovos tão engraçados que deram umas belas gargalhadas, e convidaram-nos para brincar com eles. Os ovos riram com eles, brincaram juntos, assistiram a vários desfiles, aplaudiram, e os próprios ovos desfilaram debaixo de muitos risos e palmas, Não podiam estar mais felizes! 
       Os donos estavam completamente histéricos, aos gritos por os ovos terem desaparecido, eles que já se imaginavam cheios de dinheiro. 
- Deve ser uma partida de Carnaval de algum vizinho...daquele invejoso! 
- Eu achava que as partidas eram só no dia das Bruxas, mas afinal agora qualquer dia serve! 
- Ai, se eu os apanho, não sei o que lhes faço! 
- Para quê, roubarem-nos os ovos? 
- Para vender, para que mais seria...? 
- Mas nós já íamos vender. 
- Pois já, mas se calhar quem os roubou tinha ia levá-los para algum restaurante ou assim. 
- E tinham que ser os nossos, com tantos aqui à volta. 
- Se calhar também foram aos outros, ou os nossos porque sabem que são de muito boa qualidade. 
- E os cães nem deram sinal. Quem esteve aqui deve-lhes ter dado alguma coisa para se calarem. 
        As vacas, os bois, as vitelas, os cães e os gatos riram porque sabiam de tudo mas não disseram aos donos. 
- Qual é a piada? - pergunta o dono irritado
- Sabem de alguma coisa? - perguntou a dona 
- Não! - respondem todos a rir sem parar 
- Acho que esteve aqui alguém, levou os ovos e pôs aqui um produto para os animais se estarem a rir desta maneira... - diz o dono 
- Mas se eles estão a dizer que não viram nada...nem sabem de nada... 
- Podem estar ainda sob o efeito do produto. 
        Os animais riam sem parar, e abanavam a cabeça a dizer que sim, para disfarçar, e dizer que o dono tinha razão. 
- Quem foi? 
- Não sei! - respondem todos ainda a rir 
- Eles estão avariados... deve ter sido mesmo isso. 
- E agora, como vamos explicar que os ovos desapareceram? 
- Pois não sei... dizemos a verdade, 
- Lá foi o nosso sustento. 
- Porquê,... 
        E os dois começam a chorar, mas os animais riem sem parar. 
- Amanhã, vamos à procura deles. 
       Os donos muito tristes vão deitar-se, mas os ovos felizmente estão longe. 
- Oxalá não sejam encontrados! - diz uma vitela, baixinho 
- Também acho. - concorda uma vaca 
- Se os vir por aí aviso-os para se esconderem, porque é para os humanos aprenderem que os ovos também têm sentimentos, e não queriam ser vendidos. 
- Amigo, achas que os humanos sabem alguma coisa sobre sentimentos de ovos? Claro que não! Mal sabem dos deles... - comenta um gato 
- Concordo. - diz outro cão 
        Na manhã seguinte, os cães saem muito cedo, e encontram os ovos, a sair da festa de Carnaval que durou toda a noite, com música, desfiles, danças, muita cor, alegria, gargalhadas, palmas. Os ovos estão com um sorriso de orelha a orelha, felizes. 
        Os cães contam tudo o que aconteceu, e aconselham-nos a esconder-se. 
- Obrigada, amigos.- dizem os ovos 
- Nós vamos dormir a seguir, então temos de procurar sítios seguros, 
- Claro que sim! 
        Os cães ajudam os ovos a encontrar esconderijos seguros, e ficou prometido encontrarem-se mais vezes, porque para já iam manter-se por ali. Os ovos dormem sossegados, os cães voltam para casa, como se nada tivesse acontecido, e os donos saem à procura dos ovos. Perguntaram aos vizinhos, nenhum sabia de nada, nem tinham visto nada. Não encontram um único ovo, nem sombra deles, estão bem escondidos, em sítios onde os senhores nunca imaginaram que poderiam estar, mesmo com a ajuda dos cães. 
- Lá vamos nós ter de gastar mais dinheiro a comprar galinhas e galos, mas só daqui a bastante tempo é que voltamos a ter ovos. - lamenta a mulher 
- Que nevos! Quem será que nos fez isto? - resmunga o homem 
- Não sei. 
        Os donos da quinta compram mais animais, os ovos continuam em liberdade, felizes, sorridentes, a brincar com os cisnes, os patos, e outros animais. Também fizeram amizade com flores, por isso, às vezes escondem-se entre elas, quando ouvem vozes de humanos, e recolhem sempre que querem aos abrigos que os seus amigos cães lhes descobriram.
        Os cães foram muitas vezes visitar os ovos, e divertir-se com eles, entretanto, os donos da quinta tiveram de comprar mais animais, e conseguiram ovos, que não sabiam da tradição de festejar o Carnaval por isso não tiveram a mesma sorte. 

                                                                           FIM 
                                                                       Lara Rocha 
                                                                       3/3/2022