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quarta-feira, 30 de março de 2016

O caça sonhos da aldeia

          
         Foto de Lara Rocha 

           Era uma vez uma aldeia pequenina, onde vivia gente simples, em casas feitas nos troncos de árvores e onde reinava a paz. Na entrada dessa aldeia havia um caça sonhos grande, muito bonito, leve que protegia os habitantes de pesadelos. Acolhia e guardava bons sonhos, sorrisos, abraços e gestos de bondade, energias de amizade, e coisas boas.
          Um dia as energias de pesadelos invadiram a aldeia, vindas de um pónei que fugiu de um circo e que estava muito nervoso, assustado...cavalgava desnorteado de um lado para o outro, a dar coices, a correr desajeitado, a levantar muito pó, num campo entre girassóis, que se fecharam com o susto. 
         Por um lado o pónei queria mesmo fugir, não aguentava mais aquele ambiente cheio de barulho, aquela música a gritar, aqueles enfeites todos que espalhou pelo caminho e a inveja dos outros animais, que ele não percebia a razão. Ao mesmo tempo, ele estava assustado, não conhecia nada, mas aquele parecia-lhe um lugar seguro.
        Por onde ele passou, espalhou más energias que chegaram à floresta, mesmo com o caça sonhos à entrada. Os habitantes da aldeia começaram a ficar com muito mau humor, carrancudos, nervosos, a peguinhar uns com os outros, resmungavam, protestavam por tudo e por nada, discutiam, e estavam muito estranhos. Até o caça sonhos ficou mais pesado, com as cores escuras e molengo...parecia estar doente.
- Não sei o que está a acontecer, mas não me sinto nada bem. - Murmura o caça sonhos
Voa uma fada pequenina trazida pelo vento:
- Olá...o que temos aqui? Sinto o ambiente muito pesado. E tu incluída.
- É verdade! Não sei o que está a acontecer...mas acho que a culpa é minha.
- O quê?
- Sim.
- Mas que disparate! Porque haveria de ser por tua causa...não estás com bom aspeto.  
- Sinto-me estranho...e todos estão loucos.
- Realmente o ambiente está pesado.
Os dois conversam.
- Esperem aí que eu já resolvo tudo... - Diz o vento
- Como? - Perguntam os dois
- Já vão ver. - Responde o vento
Chama uma família de bruxas.
- Mas o que é isto? - Pergunta o caça sonhos assustado
- Não acredito no que tu acabaste de fazer... - Comenta a fada
- Até ele está louco. - Comenta o caça sonhos
- O que é que lhe deu para chamar estas...? - Pergunta a fada surpresa  
- Olá...Espero que tenhas bons motivos para me teres interrompido os meus trabalhos. - Diz uma bruxa áspera.
- Mas que coisa horrorosa...um caça sonhos e uma fada. - Comenta outra bruxa empertigada
- Que nojo...cheira bem demais. - Comenta outra bruxa
- Para que é que nos trouxeste para aqui, sua peste? - Pergunta outra bruxa
- Maldito! - Dizem todas em coro
- Não penses que gosto da tua presença,...só te chamei porque sei que vais adorar o que tenho para te dar. - Diz o vento
- Ááááááhhhh...!!!! - Exclamam as bruxas surpresas
- Ele não está bom da cabeça...! - Comenta a quarta bruxa
- Nisso elas têm razão! - Comenta a fada, baixinho
- Também acho! - Concorda o caça sonhos   
- Humm...interesseiro.... - Dizem as bruxas
O vento, o caça sonhos e a fada dão umas boas gargalhadas.
- Meninas...calem-se! Sintam...um...cheiro diferente... - Resmunga a bruxa chefe
Todas farejam.
- Por esse cheiro é que vos chamei aqui. Não foi pelas vossas caras feias. - Diz o vento
- Obrigada! - Dizem todas as bruxas a rir
- Sempre antipático, este vento... - Diz outra bruxa
- Horrorizador... ! - Dizem as bruxas em coro a rir
- Eu sei...! Precisamos que vocês comam todas as energias más que invadiram a nossa aldeia. Estes cheiros que vocês dizem que sentem. - Diz o vento
- Áh! - Dizem as bruxas em coro
- Fedores deliciosos... então era isso! - Diz outra bruxa
- Convidaste-nos para um banquete! - Comenta outra bruxa
- Isso mesmo. - Confirma o vento
- Não sabia que tinhas estes fedores tão desagradáveis por aqui. - Comenta outra bruxa a rir
- Nós também não sabíamos...mas não gostamos deles, por isso...deleitem-se com eles. Levem-nos todos. - Diz o vento
- Óh...que maravilha... - Dizem as bruxas
Elas aspiram todas as energias más, e dão gargalhadas, enquanto isso, o pónei para à entrada da floresta. As bruxas sentem que vem dele, uma grande quantidade de energias más, circundam-no, e sugam toda a sua energia. O pónei cai de cansaço.
- Ai...que susto! - Dizem todos
- O que é isto? - Pergunta o caça sonhos
- É um pónei... - Diz a fada
- Parece muito cansado! - Diz o caça sonhos
- É. Parece que vem a fugir...coitadinho! - Diz a fada
- Obrigado... - Dizem todos
- Já se respira outro ar! - Comenta o caça sonhos a sorrir
- Também acho. - Concorda a fada
- Ai, estou a rebentar... - Diz uma bruxa
- Eu também...estou cansada de comer. - Diz outra bruxa
- Comi que nem uma besta... - Diz outra bruxa
Todas riem.
- Vamos embora...está aqui outra vez aqueles cheiros asquerosos! Lhec. - Comenta outra bruxa
- Já estou a ficar tonta...mas não quero dormir aqui. - Diz outra bruxa
- É. Vamos embora. - Concordam todas
- Obrigado... - Dizem todos
           As bruxas saem a voar lentamente e pesadas, parando muitas vezes pelo caminho...parecem balões de tanta energia má que sugaram. E na aldeia volta a respirar-se paz...o pónei desperta e sente-se bem. Conta a sua fuga e o que o levou a fugir, como encontrou aquele lugar, pediu desculpa, e pediu para o deixarem ficar lá.
           Todos ficam com pena dele, e como as bruxas sugaram as más energia, o pónei só ficou com as boas, tal como a fada, o caça sonhos que voltou a ganhar as suas belas cores, e capacidades para proteger a aldeia.
          Os habitantes voltaram a dar-se bem, como antes, quando regressaram nesse dia dos trabalhos, sentiram um novo e fresco ambiente, reuniram-se, pediram desculpas uns aos outros, e passaram a noite em festa, na companhia do pónei que adotaram e de quem cuidaram muito bem, nunca mais voltou para o circo, nem o encontraram. Do caça sonhos só saíram energias positivas como sempre, e quando sentiam que o ambiente estava a ficar outra vez tóxico, carregado, chamavam as bruxas para elas comerem à farta. Eram bruxas, mas no fundo não eram muito más.
Às vezes nós também nos enchemos de energias más...e precisamos de coisas que nos devolvam as boas energias.
Já vos aconteceu? Como ficaram outra vez bem dispostos e felizes?
FIM
Lálá
(30/Março/2016)  

sábado, 26 de março de 2016

A toupeira e o mocho



           Era uma vez uma toupeira que vivia debaixo do solo, e um mocho que vivia à superfície. O mocho conhecia a toupeira, mas a toupeira nunca tinha ouvido falar no mocho. Um dia a toupeira quis ir visitar a superfície à noite. Saiu da sua toca e na árvore em frente estava pousado o mocho, atento a tudo, de olhos e ouvidos bem abertos. Ele percebe qualquer movimento. Olha para baixo:

- Boa noite! O que temos aqui? – Pergunta o mocho, apesar de já saber a resposta

- Boa noite! Com quem estou a falar?

- Com o mocho. E tu és uma toupeira!

- Eu chamo-me…

- Toupeira.

- Não sei como me chamo.

- É assim que te chamam!

- Quem?

- Os humanos!

- Quem são esses?

- São os que plantam o que tu comes!

- Raízes?

- Sim, raízes e sementes.

- Áh! Mas que simpáticos. Então tenho de lhes agradecer.

- Acho que não é boa ideia.

- O que é que não é boa ideia?

- Agradeceres aos humanos.

- Porque não?

- Porque eles não vos veem com bons olhos!

- Então que arranjem outros olhos.

- O que eu quero dizer é que eles não gostam de vocês.

- Não?

- Não!

- Porquê?

- Porque vocês dão cabo de tudo!

- Mas então porque é que nos dão alimento? Se fazem isso, estão a cuidar de nós…e se cuidam de nós é porque nos querem bem, certo?

- Não!

- Foi o que sempre nos ensinaram.

- Mas no caso deles não é assim! Vocês destroem tudo, e eles não gostam disso.

- Mas é o nosso alimento! Porque é que põem lá essas coisas? Eles também as comem, é? Se é por isso, partilhamos, não tem problema.

- Não! Eles não comem essas coisas. Vocês é que comem, sem autorização.

- Sem autorização? Como? É preciso autorização para comermos? Nunca vi lá em baixo nenhuma placa!

- Vocês dão cabo do trabalho deles.

- Temos de comer, para sobreviver, como eles! Se não nos querem, não ponham a nossa alimentação!

- Mas eles precisam!

- Então comem isso?

- Não! Comem outras coisas.

- Tudo isto que estás a dizer é muito estranho.

- Sim! É verdade.

- Mas, e tu, quem és?

- Um mocho.

- Vives aqui?

- Sim!

- O que fazes?

- Tomo conta deste espaço, à noite.

- Trabalhas de noite, só?

- Sim!

- E de dia?

- Durmo!

- Conheces bem este espaço?

- Muito bem.

- E como é?

- É bom, sossegado, silencioso.

- Onde estão os que vivem aqui? Vive gente?

- Sim, vive gente e animais. Estão a dormir!

- E tu estás acordado?

- Sim!

- Porque não estás a dormir como eles?

- Porque trabalho de noite! De dia não é preciso vigiar, mas de noite, eles descansam, e alguém tem de garantir a segurança!

- Áh! E é difícil trabalhar de noite?

- Não! Já estou habituado!

- Tu vês bem?

- Vejo, muito bem!

- Eu não! Mais ou menos.

- Não usas óculos?

- Não sei o que é isso!

- Umas coisas para ajudar a ver bem, quem vê mal.

- Áh! Não sei. Nunca nos falaram nisso. Vemos mal, mas cheiramos na perfeição! Tu usas essas coisas?

- Não! Para já não. O que vieste fazer cá fora?

- Vim ver como era!

- Como era o quê?

- Este espaço!

- Ááááhhhhh!

- Posso subir para aí, e ver o que se vê daí?

- Podes.

            A toupeira vai para o ramo do mocho, sobe pelo tronco e quando chega ao ramo…

- Ei…tu és tão grande! Lá de baixo parecias mais pequeno.

(O mocho ri-se)

- Ao longe tudo parece mais pequeno. Até de lá de baixo.

- Já experimentaste?

- Já.

- E também vês mais pequeno?

- Sim.

- Podes dizer-me o que vês, por favor?

            O mocho suspira, e compreende a toupeira que não vê bem. Então, pacientemente, e com o máximo de pormenor, descreve tudo o que consegue ver, em todas as direções. A toupeira ouve, sorri e segue a voz do mocho, maravilhada.

- Áh! Que maravilha que é a superfície! Lá em baixo não temos nada disto! É tudo igual, tudo feio, que tristeza…! Obrigada pelas tuas descrições.

            Ela olha para cima.

- Que pintas são aquelas?

- Onde?

- Ali…no telhado da tua casa.

- Não são pintas, são estrelas, e não estão no telhado da minha casa.

- Áh!

- O telhado da minha casa é de madeira, não tem estrelas! Aquelas estão muito longe daqui.

- E estão sempre ali?

- Estão, mas só se vêm à noite…como está agora!

- E têm outra coisa além da noite?

- Temos…a manhã, a tarde e a noite!

- Tantas coisas. Eu pensei que estava sempre escuro cá em cima, como lá em baixo.

- Não! De manhã e de tarde temos dia, claridade, sol, chuva…

- Sol?

- Sim!

- Nunca vi!

- Um dia vais ver. Mas tens de vir de manhã, quando estiver claro!

- Não sei se consigo! Gostaria! Descreve-me como é o sol, por favor!

- É amarelo, redondo, dá luz, aquece, alegra, faz nascer plantas…é bom!

- Áh! Tantas qualidades. É um candeeiro?

- Não! É um astro!

- O que é isso?

- Está lá em cima, com as estrelas…

- Porque é que ele não está ali com elas, agora?

- Porque é noite! E as estrelas é que aparecem de noite! O sol aparece de dia, e enquanto há sol, não há noite, por isso, não há estrelas. Quando é noite, não há sol, e há estrelas!

- Áh! Não aparecem ao mesmo tempo?

- Não!

- Que giro! Conta-me mais coisas da superfície, por favor!

- O que queres saber mais?

- Estes barulhos, o que são?

- Que barulhos?

- Estes que eu estou a ouvir! Tu não ouves barulhos?

- Ouço! Muitos barulhos.

- Eu também. O que são?

- São cigarras, grilos, sapos, rãs. Há pirilampos a voar, aquelas luzinhas que vês à volta das flores e das árvores, há corujas, cães a ladrar, gatos a miar, carros da cidade, na estrada, há vento a bater nos galhos, há música nas ruas da cidade.

- E aquela claridade?

- São as luzes da cidade!

- Que lindo! Já foste à cidade?

- Não vou há muito tempo. Há demasiado barulho, confusão, luzes, fiquei muito agitado.

- Obrigada pelas informações.

            Os dois conversam mais um bom bocado, riem, e a toupeira fica a conhecer o lugar. Já de madrugada alta, depois de muita conversa, a toupeira fica com sono e volta para a sua toca no solo, com a promessa de voltar. E assim foi. Nos dias seguintes, a toupeira voltou à superfície, e acompanhou no solo, as rondas noturnas do mocho, a conversar de vez em quando, mas não tanto porque o mocho tinha de estar atento, e a toupeira tinha medo de predadores, mesmo assim ela fez bons amigos nesses passeios.

Se vocês fossem o mocho, o que mostrariam à toupeira? Escrevam…


                                               FIM

                                               Lálá

                                   (25/Março/2016)

  

sexta-feira, 25 de março de 2016

Duas famílias

Personagens:

- 1 Menino pequenino, bonzinho, de 6 anos, cabelo loiro, olhos castanhos, pele branca, educado muito meigo, simpático, chama – se Pedro
 - 1 menino mau, revoltado, nervoso, vingativo, de 9 anos, cabelo preto, curto e liso, pele branca, olhos castanhos, mal educado…chama – se Roberto

- Avô Rafael (Avô do Pedro)                       
- Mamã Paula (Mãe do Pedro)                     
- Papá Cláudio (Pai do Pedro)
- Avó Diana (Avó do Pedro)
- Dona Tânia (Mãe do Roberto)                                        
- Sr. Filipe (Pai do Roberto)
- Avó Paulina (Avó do Roberto)
- Avô Afonso (Avô do Roberto)
- 1 Cãozinho


         O sol já pintou toda a Serra de dourado e está escaldante. Numa casinha rústica típica da Serra, com um grande espaço verde á volta, vive o menino Pedro com os Pais e os Avós.
Os Avós já foram tratar dos animais e dos cultivos da horta, desde que os passarinhos anunciaram o nascer do dia com os seus doces chilreares.
Pedro ainda está no mundo dos sonhos.
Paula já acordou para preparar o pequeno-almoço ao marido que está a resmungar porque ela se atrasou a acordar e não o despertou á hora que ele pretendia.
– Querido, não precisas de tomar o pequeno-almoço a correr… ainda é cedo!
– Já estou atrasado! Já devia ter saído há muito! Já me devias ter acordado há muito tempo…não sei como é que te deixaste adormecer outra vez sabendo que eu tinha que sair… tanto te pedi…
– Desculpa meu amor! O nosso filho vomitou vezes sem conta esta noite, fartei – me de acordar para o limpar e mudar os lençóis, senão era desagradável, tive que lhe fazer 1 chá, pôr – lhe toalhas de água fria na testinha… aliviá-lo porque ele estava muito quente, cheio de febre.
– (preocupado) Mas… vomitou porquê?
– Não sei querido. Deve ser ouvidos ou garganta.
– (preocupado) E não me chamaste?!
– Não amor! Eu sei que tens que trabalhar e á noite tens de descansar. Não havia necessidade de te acordar, fofinho! (p.c.) Não ias fazer nada!
– Querida, ao menos estava do teu lado e entretinha – o. 
– Não deve ser nada grave! Há bocadinho estava a dormir bem. Depois eu estava tão cansada e com sono de manhã ouvi o despertador, mas olha, deixei – me estar mais um bocadinho. Desculpa!
– Ok, ok…! Desculpa, não sabia que tinhas passado a noite acordada.
– Pensaste que era preguiça?
– (a sorrir) Desculpa! Vai descansar agora, meu amor, enquanto ele dorme e por favor: qualquer coisa liga – me. É melhor levá-lo ao Dr. Miguel.
– Está bem. Vai descansado!
– Vou lá cima dar – lhe 1 beijinho.
Cláudio e Paula vão ao quarto do pequeno que acabou de acordar todo sujo á volta dele e comentam:  
– (preocupado) Vomitou outra vez.
– Vou levá-lo ao Dr. Vai descansado, eu trato dele.
– Eu ligo mais tarde.
– Está bem meu amor. Bom trabalho!
– Obrigado.
Ele dá 1 beijo terno á mulher e outro ao filho que fala com o Pai, e o Pai responde:
– (choquinho a choramingar) Onde vais papá?
– Vou trabalhar filho!
– (choquinho) Não vais brincar comigo?
– Mais tarde sim, filho. Agora vou trabalhar para ganhar dinheiro. Até já!
– Até já! Não demores.
Cláudio sai depressa, Paula pega no Pedro ao colo, beija – o carinhosamente, dá – lhe banho numa conversa muito animada, os dois trocam carinhos, enquanto a mãe fala com o pequeno, e o pequeno responde:
– Dói alguma coisa meu amor?
– A garganta.
– Áh, então vamos ao Dr. Miguel… ele vai dar um remedinho e vai já passar sim?
– Pica não!
– Não.
– Tu não deixas pois não?
– Não.
A Paula veste – o, dá – lhe o pequeno-almoço e aparece o Avô Rafael e cumprimenta os dois sorridente:  
– Bom Dia!
         Os dois respondem em coro (a sorrir):  
– Bom Dia!
Pedro pendura – se no Avô e dá – lhe beijinhos, o Avô retribui. Paula faz um pedido ao Pai, o qual aceita de imediato:
– Óh Pai, não se importa de tomar conta dos recados para mim, se aparecerem freguesas… é que eu tenho de o levar ao médico.
– Óh filha, eu levo – o.
– Eu tenho umas coisas para acabar, mas primeiro está o meu filho; depois digo às freguesas o que aconteceu.
– Não, filha vai acabar o que tens a fazer, descansada, eu levo – o lá!
– Não se importa?
– Óh mulher, eu sou AVÔ dele, achas que me vou importar? Está descansada… suspeitas de quê?
– Não sei bem, talvez uma crise de garganta ou ouvidos. Ele diz que lhe dói a garganta, tem febre e vomitou várias vezes de noite.
– Está bem. Não te preocupes, eu vou lá. Vai tratar do teu trabalho. Eu tomo conta do recado. A Mãe também deve estar a chegar com as coisas para a sopa que tu pediste.
– Está bem… (sorri) Muito obrigada, Pai.
– Ora essa... até já.
Paula dá um sonoro beijo nas bochechas vermelhas do filho, o pequeno retribui sorridente e Paula informa-o:  
– (a sorrir) Vais com o Avô, está bem?
– (a sorrir) Sim, está bem. Até já Mamã.
– (a sorrir) Até já, meu Amor!
A Mãe é costureira, e tem trabalhos para acabar, vai para o atelier dela. A Avó Diana passa pelo marido e pelo neto cumprimentam-se, e a Avó diz a sorrir:  
– Bom Dia, meu anjinho.
– (a sorrir) Bom Dia, Vovó.
         O Avô Rafael informa a Avó, e o Pedro acrescenta:
– Vou levá-lo ao Dr. Miguel
– Tou doente…
         A Avó Diana fica preocupada, mas o Avô Rafael tranquiliza-a:
– Mas… o que é que ele tem?
– Calma, querida, não deve ser nada grave, em princípio é uma simples crise de garganta, já que vomitou e diz que lhe dói a garganta, que tem febre. A Paula está atulhada de trabalhos para acabar, vou lá eu com ele.
– Está bem querido! Vai. Eu vou lá ter com ela ajudá-la na costura e depois fazer o almoço. Não precisas que vá contigo?
– Não! Vai ajudar a Paula, ela precisa mais.
– Está bem… Até já! Lembranças ao Dr. Miguel.
– Sim, eu dou. Até já.
Pedro dá 1 beijo na Avó, a Avó retribui. O Avô Rafael segue de mão dada com o neto, a conversar muito animados, e a Avó vai ajudar a Mãe do Pedro.  
                 ENTRETANTO NA CASA DO ROBERTO…A confusão é total.
Os Avós estão a trabalhar no campo.
O Sr. Filipe está de ressaca, é uma pessoa nervosa, que bebe muito álcool e pára pouco em casa. Não dá atenção ao filho e é violento com a mulher.
A Dona Tânia está acordada e já fez muita coisa. Está na cozinha e resmunga:  
– O raio do Homem nunca mais acorda! Parece impossível! A esta hora, aqui em casa tudo por fazer e sua excelência a trabalhar para a engorda! Chegou a umas lindas horas, chegou. Já o sol tinha nascido. Mas não quero saber; vai acordar a bem ou a mal. Dona Tânia sobe as escadas, nervosa, entra no quarto, abre a persiana e grita com o marido, que também responde de forma agressiva com a esposa:
– Óh porco de engorda… pincha já do ninho, bola de carne…! Andor…
– (grita) Cala – te! Pareces uma cabra. No monte a juntar o gado não berras tu assim. Vai berrar para o raio que te parta!
– (Grita) Anda! Salta.
– (resmunga) Vai comer erva e deixa – me dormir!
– (grita nervosa) Estás – me a chamar vaca é?! (P.C.) Onde é que tu andaste a noite toda para chegares de manhã completamente bêbado?! E eu em claro a noite toda preocupada contigo!
– (resmunga) Cala – te! Não estás a juntar o gado por isso escusas de falar alto.
– (resmunga) Responde ao que eu te perguntei!
O marido levanta – se nervoso, o Roberto acorda, vai lá ao quarto dos Pais chateado e vê o Pai a bater na Mãe; e a Mãe sem se defender. Roberto implora ao Pai, mas o Pai ameaça-o também:
– (nervoso) Não batas na Mãe.
– (nervoso) Põe – te a andar senão também apanhas.
A Dona Tânia agarra nos cabelos do Sr. Filipe e atira – lhe uma almofada para os olhos, ele larga – a deita – se na cama e adormece!
A Dona Tânia fica incrédula com a reacção que teve e ri – se, e murmura:
– Monstro… Porco de engorda… estou a ficar farta de ti!
A Dona Tânia vai – se consolar com uns cãezinhos que nasceram há muito poucos dias. Roberto está na cozinha a chorar. Dona Tânia e Roberto têm uma conversa séria:   
– Estás a chorar porquê? Não foste tu que apanhaste!
– (a chorar) Mãe… porque é que estão sempre a discutir e a bater um no outro?
– Não tens nada a ver com isso, és muito pequeno para perceber os problemas dos adultos.
– (A chorar) Como é que tu gostas do Pai, se ele te está sempre a bater e aos gritos contigo?!
– (triste) O teu Pai tem alguns problemas…mas é meu marido… já estou habituada a apanhar dele… mas no fundo amamo-nos!
– (a chorar) Não sabia que amar era dar porrada…
– (triste) E não é, mas se o teu Pai me bate é porque acha que mereço…
– (a chorar) Não mereces nada! Eu não gosto de vos ver assim! Preparas – me o pequeno-almoço?
– (zangada) Prepara tu, já és grandinho e sabes muito bem preparar…
– (a chorar) O Pai já é velhote, bate – te e tu preparas – lhe…
Dona Tânia puxa 1 orelha ao Roberto e grita-lhe:
– Cala – te. Prepara tu… e é se queres! É só deitar o leite no copo… e não digas aos Avós que o teu Pai me bate.
Ele faz o que a Mãe diz, e resmunga:
– Para esse nojento tu preparas, para mim que sou teu filho não!
– (zangada) Vê lá como falas do bichinho…
Dona Tânia enche o cão de festinhas, mimos, beijinhos, põe leite na tigela do cão e dá – lhe o leite com o cão ao colo… passado um bocado a Mãe pousa o bichinho e vai para a horta. Roberto, nervoso pega no cãozinho pelas orelhas e diz – lhe nervoso e revoltado:
– Detesto – te! A minha Mãe em vez de gostar de mim gosta de ti. Tu é que tens direito a pequeno-almoço no colo, e és um estúpido de um cão, eu sou um ser humano e eu é que devia tomar o pequeno-almoço preparado por ela, no colo dela tu é um cão… não tens direito. Tens os mimos todos para ti, eu que sou filho dela é que devia ter mimos, mas és tu que os tens… detesto – te! Vou pôr – te na rua… assim, a minha Mãe já vai gostar de mim, e dar – me o mimo todo que eu quiser.
Roberto revoltado sai com o cão pelas orelhas e anda com ele assim um bom bocado, até quase á casa do Pedro. Ai, bate no animal sem dó nem piedade, atira – o para ao chão, bate – lhe com sapatadas, dá – lhe pontapés… o cão está a tremer no chão, a ganir, e ferido.
O Avô Rafael vê aquele rapaz e vai ter com ele, juntamente com o neto e diz:   
– Um cãozinho… Coitadinho, está ferido… Roberto, de quem é este cão?
         Roberto é muito mal-educado e responde nervoso:
– Era meu… como é que você pode ter pena desta coisa, seu velho estúpido?!
         Pedro ralha com o rapaz:
– Não fales assim com o meu Avô!
         O Avô Rafael tenta falar a bem com Roberto, mas ele é mal-educado e responde de maneira rude:
– Primeiro, vê se tens mais respeito, porque eu só te fiz 1 simples pergunta… posso ser velho, mas por isso mesmo, tenho autoridade suficiente para dar umas boas sapatadas quando me faltam ao respeito… mesmo não sendo teu avô…! O que é que lhe aconteceu?
– (nervoso) Sei lá, nem me interessa!
O Avô Rafael, perde a paciência, puxa – lhe a orelha e aperta – lha, ralhando-lhe:  
– (chateado) Baixa a crista quando falas com as pessoas mais velhas!
– (grita) Ai, está – me a magoar! Você não me pode bater velho monstruoso.
– (chateado) Cala – te! Não sabes o que estás a dizer! Daqui a pouco ficas sem orelha (dá – lhe 1 sapatada no rabo) O que é que fizeste ao pobre cão? Olha o estado em que ele está!
– (nervoso) Quero lá saber do nojento do cão! Não faz falta nenhuma em casa! É um palerma! A minha Mãe gosta mais dele do que de mim … só se preocupa com ele… se eu não comer, ela não quer saber, mas se este pulguento não comer já fica toda cheia de pena e quer logo dar de comer. Só este… insignificante é que tem direito aos mimos e ao colo… eu é que sou o filho. A mim nunca dá mimo nem colo. O meu Pai também não quer saber de mim, quase nunca o vejo e quando está em casa bate na minha Mãe… tudo por causa dos cães.
         Pedro defende o animal e ralha com Roberto:  
– Não digas mal do bichinho! Ele é um ser vivo como nós, quer colo e mimos como nós. Ele não tem culpa. Eu também tenho muitos cães, a minha Mãe dá – lhes festinhas e pega neles ao colo, e a mim faz o mesmo. Dá comida aos cães e a mim também.
         O Avô dá toda a razão ao neto:
– Claro! Um não tira o lugar do outro. Os teus Pais amam – te. Os animais não têm nada a ver com os assuntos dos adultos, e não devias ter tirado da Mãe dele!
         Pedro acrescenta reprovador:
– És um menino muito mau. A Mãe do cãozinho devia – te morder!
         O Avô tenta que Roberto se coloque no lugar do cão, mas o Roberto mantém a revolta dele:
– Também não gostavas de ser tirado da tua Mãe e maltratado pois não?!
– (a chorar) Para a minha Mãe ter – te com ela ou tirarem – me dela era o mesmo. Ela até devia ficar contente e eu ia deixar de ser maltratado!
– Não digas disparates! (p. c.) vou levar – te já ao teu avô e falar com ele!
         Pedro chora com pena do cãozinho:
– Coitadinho do cãozinho!
O AVÔ Rafael pega no cãozinho com uma mão e leva o rapaz preso pela orelha e diz ao Roberto:
- Tu devias era ser arrastado pelas orelhas, ou levado preso por uma trela ou por correias puxadas por bois…seu palerma!
         Roberto responde-lhe a chorar:
– Larga a minha orelha velho.
O Avô Rafael dá – lhe outra sapatada e ralha com ele o resto do caminho a puxar – lhe a orelha. Chegam a casa do Roberto. A Avó Paulina está á porta e pergunta:  
– O que estás a fazer com o meu neto pela orelha?
         O Avô Rafael explica:
– O teu neto, além de me faltar ao respeito maltratou este pobre bichinho. Despejou toda a raiva num inocente.
         A Avó não acredita:  
– O meu neto?! Tenho a certeza que ele não era capaz de fazer isso.
         O Avô Rafael comenta, mas a Avó nega para defender o neto:
– Eu também achava que ele não era capaz de tal monstruosidade mas foi!
– Não pode ser.
A Avó chocada e incrédula, preocupada, vai ter com a Dona Tânia à cozinha, enquanto o AVÔ Rafael fala com o Avô Afonso. A Avó Paulina comunica à filha:  
– Tânia, filha, o teu filho fez uma coisa muito má e muito feia, com um pobre bichinho de quem gostas muito…e foi mal-educado com o Avô Rafael. O cãozinho está ferido. (P.C) Foi tudo por causa de ciúmes! Ele acha que tu não gostas dele… só gostas do cão; só dás colo ao cão e mimos… e a ele não… ele sente – se rejeitado. (p.c) Não grites com ele quando falares com ele sobre o que aconteceu, nem lhe batas… agora é tarde demais para lhe bater… mostra – lhe que o amas, dá – lhe muito carinho, explica – lhe que o cão não ocupa o lugar dele, que ele é muito importante para ti e que não tem que ter ciúmes do cão, nem precisa de o tratar mal! (p.c.) Ouve – o… pergunta – lhe o que fez e porque o fez… diz – lhe que ele ocupa todo o teu coração e promete – lhe que a partir de agora vais brincar com ele e demonstrar – lhe todo o teu amor! (P.C) E que o Pai dele vai ser tratado para não te bater mais.
         O Avô Afonso está louco com o neto e grita da porta:
– Tâââââânnnnniiiiiiiaaaaaaaaaa…., Tânia…
Tânia aparece á porta. A Avó acompanha – a de braço dado e segreda:
– Controla – te filha.
         O Avô Afonso informa:
– Anda cá ver e saber a asneira que o teu filho fez.
Dona Tânia aproxima – se, calma, preocupada, meiga e fala com o Avô Rafael que responde educadamente:  
– O que foi? (P.C) Bom Dia Sr. Rafael.
– Bom Dia filha, como estás?
– Bem, obrigada e o Sr.?
– Também.
         A Avó Paulina já está a atacar a filha. A filha faz-lhe um pedido, mas o Avô Afonso também não a poupa:
– Tu não lhe dás educação, agora atura – o.
– Mãe, poupe – me das suas críticas por favor.
– Olha o que ele fez ao pobre Bobbie…
         Dona Tânia pergunta ao filho, mas antes do filho se explicar, a Avó Paulina responde a criticar a filha:
– Filho, porque é que fizeste isso?
– (chateada) Ainda perguntas? Facilidades a mais… sempre lhe disseste que sim a tudo, sempre achaste muita piadinha a tudo o que ele fazia, eu bem te disse para te impores na altura certa… tinhas sempre pena de lhe dar uma boa sapatada quando fazia o que não devia, nunca o chamaste a atenção e até te viravas contra mim quando eu ralhava com ele…
– Outra vez, Mãe?! Francamente!
– Devias ter – lhe dito que não a muitas palermices que ele fazia e eu nunca achei piada… bater ao menino…que coisa mais antiga, Mãe… era o que ele precisava! Umas boas sapatadas.
– (chateada) Chega Mãe! Não se pode voltar mais atrás!
         O Avô Afonso reforça:
– Claro que não se pode voltar atrás mas a tua sogra tem razão, e pode – se emendar o passado no presente, tomando as atitudes certas enquanto é tempo, e enquanto ele é pequeno. Ainda está muito a tempo de apanhar umas boas tareias para aprender!
         O Avô Rafael tenta acalmar os ânimos, embora concorde com os mais velhos:
– Calma! Ele acha que os Pais não gostam dele e preferem o cachorrinho a ele! Ele maltratou o bichinho com ciúmes.
Dona Tânia abraça o Roberto e diz meiga:
– Estou muito triste contigo! (P.C) Eu e o teu Pai amamos – te muito. Gostamos muito dos bichinhos, mas tu é que preenches o nosso coração todinho! (P.C) Não tens que ter ciúmes do cão.
         A Avó Paulina manda uma directa, mas Dona Tânia não gosta e responde:  
– Ele precisa é de irmãos e não de cães.
– (chateada) Mãe, por favor deixe – me falar com o meu filho e pare de me atacar está bem?! (P.C) É certo que nós adultos discutimos muito às vezes, mas a culpa nunca é dos filhos… Também sei que nem sempre te dou a atenção e o carinho que mereces…
         Roberto continua com a ciumeira dele:
– Mas dás aos cães!
         Dona Tânia nega:
– Isso não é verdade. Agora estou mais de volta dos cães porque eles são bebés e precisam de ajuda! (P.C) Não voltes a fazer isso e pede desculpa ao SR, Rafael!
         Roberto resmunga e nega-se:
– Eu não tenho que pedir desculpa a este velho; ele puxou – me as orelhas; bateu – me no rabo e veio o caminho todo a resmungar.
         A Avó Paulina e o Avô Afonso reconhecem a bondade do Avô Rafael e elogiam a sua atitude com o neto deles:
– Bendito Sr. Rafael.
– Muito obrigado, bom amigo!
         Roberto sente-se ofendido e responde:
– Ainda o defendem?
         A Avó Paulina responde:  
– Eu e o teu Avô fazíamos o mesmo, e a tua Mãe também devia fazer. Nunca te ensinamos, nem nunca te educamos para o mal.
         Dona Tânia dá uma ordem ao filho:
– Pede desculpa ao Sr. Rafael, e não me envergonhes.
         Roberto obedece contrariado:
– Desculpe!
         O Avô Rafael explica-lhe:
– Eu quero é que te lembres que os animais não têm que sofrer as consequências de tu estares chateado! Ele precisa de muito amor, carinho e atenção dos Pais… não precisa propriamente de ser espancado quando faz 1 asneira apenas, nessa altura chamá-lo a atenção e explicar – lhe porque é que aquilo não se faz. Eu sempre fiz isso com os meus filhos, com os meus netos, e os meus filhos fazem o mesmo. O Pedro nunca precisou de apanhar!
         Dona Tânia informa:
– A partir de hoje, vai ser diferente aqui em casa, filho. Porque nós amamos – te demais, vamos dar – te tudo de bom que mereces!
Roberto abraça a Mãe contente, a Mãe a ele e trocam beijos. O Avô Rafael informa:
– Quando o bichinho estiver curado, nós devolvemo – lo!
         Dona Tânia faz um pedido:  
– Não, por favor… fique com ele!
Pedro salta de alegria, sorri e bate palminhas e grita:  
– Ééééééééhhhhhhh… mais um bichinho! Que bom!
         Dona Tânia sorri e responde:
– Eu sei que ele vai ser muito bem tratado na vossa casa.
         O Avô Rafael assegura:  
– (a sorrir) Eu fico com ele com todo o gosto.
         Dona Tânia pede desculpa ao Avô Rafael:  
– Desculpe, Sr. Rafael… e muito obrigada.
         O Avô Rafael sorri e diz:
– Óh… não foi nada! Eu já fui Pai de muitos filhos Graças a Deus, e tenho netos… sei bem o que são as crianças e o que eles sentem! Até eu já fui criança! E traquina… (Riem) Vê se agora te portas bem rapaz.
         Roberto promete:
– Vou portar – me bem.
         Dona Tânia diz:  
– Lembranças a todos lá em casa!
         O Avô Rafael responde:  
– Serão dadas.
         O Avô Afonso fala com o Avô Rafael: 
– Não tomas nada, velho amigo?
– (sorri) Outro dia, meu amigo! A Paula já deve estar preocupada.
         A Avó Paulina sorri e diz:
– Óh Rafael, diz á Diana que brevemente apareço lá para tomar 1 chazinho e conversar!
         O Avô Rafael sorri e responde:
– Claro que sim. Apareçam lá todos sempre que quiserem. Até logo!
         Respondem todos em coro:
– Até logo.
O Avô Rafael regressa a casa feliz com o neto e com o cãozinho, os 2 numa conversa muito animada. A Paula e a Avó Diana estão a trabalhar na costura. Eles entram em casa, vão ter com elas e cumprimentam-nas a sorrir:
– Olá!
         A Avó Diana pergunta preocupada, o Avô responde:
– Então querido?! O que é que tem o Pedrinho lindo?
– (a sorrir) Não é nada grave. É garganta! O Sr. Dr. Mandou 1 xarope para ele tomar ao almoço e ao jantar e recomendou ficar na caminha até não ter febre.
A Avó Diana assusta – se quando vê 1 coisa preta no colo do Avô e pergunta. O Avô e o Neto respondem em coro:
– Ááááááááhhhhhh… o que é isso na tua mão querido?
– É um cãozinho.
As duas levantam – se contentes, deliciadas. Paula repara que ele está ferido e pergunta:
– Coitadinho, está ferido. Onde o encontrou?
         O Avô Rafael responde:
– É uma longa história…! Vamos tratar – lhe estas feridas e eu conto – vos.
A Mãe e a Avó do Pedro cuidam das feridas do cãozinho e alimentam – no ouvindo a história do AVÔ deliciadas.
Enquanto almoçam animados, o cãozinho está bem instalado, confortável e de vez em quando bebe leitinho e recebe festinhas dos donos.
No fim do almoço Pedro vai para a cama como o médico recomendou e o AVÔ passa a tarde a brincar com ele no quarto, a contar histórias e a ler algumas, a Avó também o vai ver frequentemente e leva – lhe chazinhos de limão com mel; bolinhos…
À noite chega o Pai Cláudio, abraça e beija carinhosamente a mulher e o filho, e os sogros. Fica deliciado com o cãozinho, faz – lhe muitas festinhas e vai com ele ao colo ver o filho.
Pedro fica muito contente, faz festinhas ao cão, a Mãe leva o cãozinho para baixo e o Pai abraça e beija carinhosamente o filho, brinca, fala com ele e riem muito, parecem 2 crianças.
Já com o Pedro quase a dormir, o Pai conta – lhe 1 história, ele adormece, o Pai cobre – o cuidadosamente, dá – lhe 1 beijo suave, apaga a luz e vai para a beira da Paula falar e namorar antes de dormirem até ao dia seguinte.
O cãozinho recupera das feridas e é muito bem tratado por todos. Sobre a família do Roberto: o Pai foi internado num Hospital de Psiquiatria e a Mãe cumpriu o que prometeu ao filho, o qual se tornou numa boa pessoa.

                                      FIM.

MENSAGEM:
Pois é, nesta história tínhamos 2 famílias diferentes.
1 onde reinava a violência e a falta de amor, de carinho e atenção, na qual o Roberto era o reflexo desse ambiente: 1 criança revoltada, má, vingativa, sem o mínimo de respeito, não tinha bons sentimentos.
O Pedro era o oposto. Vivia num meio onde tinha amor de toda a gente, carinho, atenção, dedicação, delicadeza, paz, serenidade, calma, respeito, educação, bondade, por isso era 1 menino meigo, doce, amoroso, sensível, feliz, educado, respeitador…
Os Avós também tiveram 1 papel importante tal como acontece hoje em dia, os quais substituem muitas vezes os Pais na educação, crescimento e desenvolvimento dos netos como pessoas. São eles que tomam conta dos pequenos enquanto os Pais passam horas intermináveis nos locais de trabalho. São os guias sentimentais e emocionais dos netos.
A família é a base de tudo, os Pais e os filhos são reflexo de tudo o que se passa dentro das 4 paredes, bom ou mau.
O ideal seria que todas as famílias fossem constituídas por bons sentimentos, e boas pessoas. Talvez o mundo e as relações entre as pessoas fossem mais equilibrados e mais duradouras…
                                                   FIM 
                                                 Lálá
                                              (Setembro / 2005)