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sexta-feira, 25 de março de 2016

as estátuas do jardim das cascatas (adolescentes e adultos)






Cena 1
Era uma vez um jardim coberto de gelo e de neve, num dia igualmente gelado com sol. Esse jardim tem muitas luzes por todo o lado…candeeiros de vários tipos e luzes de várias cores, luzes de natal a piscar, mas nem tanta luz consegue descongelar o frio do jardim.
Além das luzes e do gelo, há por todo o jardim estátuas de pedra diferentes, com acessórios diferentes…umas estão pousadas na relva (agora coberta de neve), outras pousadas nas fontes de água e nos laguinhos com pedaços de neve e de gelo. Também existem umas cabaninhas de palha com mesinhas e banquinhos e casa de banho.
O jardim está silencioso, parece que tudo dorme…mas…de repente as estátuas ganham vida…e interagem umas com as outras.
A primeira estátua a acordar é uma mulher com um bebé ao colo que está pousada numa fonte. Na mesma fonte está a estátua de um pássaro. As duas estremecem, com o frio, e a mulher e o pássaro trocam impressões:
M – Ui…que frio!
P – Pois está! Não te esqueças que estamos em pleno Inverno. Olha à nossa volta, e a água…cheia de gelo e neve.
M – Sim, isso dá para ver. Aproxima-te mais!
         O pássaro pousa à beira da mulher.
P – Quem é essa criança?
M – Qual criança?
P – Essa que tens no teu colo…!
M – Não sei…puseram-ma aqui, acho eu…não me lembro…
P (murmura) – Coitada…até os miolos dela estão congelados…nem se lembra quem é a criança que traz ao colo. (para a mulher) Não sabes quem é? Eu ouvi dizer que ela ou…ele…essa criança…é teu filho…ou…filha…é rapaz ou rapariga…?
M – É rapaz…tem aqui a arma apontada…
P – A arma…ele tem uma arma…?
M (ri) – A arma…é aquilo que o identifica como rapaz…percebes?
P – Não…que eu saiba o que nos identifica é o nome…!
         A mulher ri-se e mostra ao pássaro o bebé.
P (a rir) – Ááááhhh…percebo! Vocês inventam cada coisa para isso…! (os dois riem) Onde está o pai do rapaz…?
M – Sei lá…nunca o vi.
P – Não és casada…? Nem tens namorado?
M – Que eu saiba…não tenho nada disso, nem sou nada disso!
P – Tu és muito estranha…!
M – Sou uma estátua…! Como tu…não sei onde está a estranheza…!
P – Dizes coisas esquisitas…
         Os dois riem.
M – Olha, porque não vamos procurar alguma coisa para vestir e para comer?
P – Achas que há? Num sítio onde só há gelo?! Pode haver por baixo deste gelo, mas teríamos que esgravatar como as galinhas e os pássaros ou cães…à procura…e se calhar não está em bom estado para consumir.
         Aparece uma rapariga, e estas duas estátuas, voltam a ficar imóveis. A rapariga leva uns grandes sacos com cobertores, olha para as estátuas e fica com pena delas…
R – Coitadas…com este frio, e estas aqui…descobertas…
         Ela tira cobertor por cobertor e cobre cada estátua do jardim. Ela olha para as estátuas cobertas, sorri e murmura:
R – Áááhh…assim está melhor.
         A rapariga sai do jardim a sorrir. As estátuas voltam a acordar. A mulher e o pássaro comentam:
M – Áááhh…agora temos um cobertor?!
P – Sim, parece que sim!
M – Boa!
P – Também acho…vem mesmo a calhar.
M – Pois foi. A menina foi boazinha.
P – Sim, é verdade, foi mesmo. Até parece que nos leu os pensamentos…agora só falta mesmo procurar comida.
M – Vamos ver o que há por aí…
P – Estás muito optimista…quer dizer…sonhadora…!
M – Não sei o que estás a dizer…sei que estou com fome, e que vou procurar comida. Vens comigo?
P – Sim, vou contigo.

Cena 2
As duas estátuas vão enroladas no cobertor, a falar uma com a outra, e as outras estátuas também ganham vida. Duas estátuas de fadas, pousadas na relva, ao ver a mulher e o pássaro comentam uma com a outra baixinho:
F1 – Olha – me esta…
F2 – Conheces?
F1 – Sim, ela é daqui…já está aqui há muito.
F2 – Eu não vou muito com a cara dela…e ele conheces?
F1 – Sim, também é daqui. E a desgraçada já anda com ele…
F2 – Porquê? Ela andava com outro? Não me lembro de a ver com ninguém…
F1 – Há pouco tempo andava com uns rapazes humanos…que frequentavam muito aqui o jardim…
F2 – Aqueles que vinham de garrafas, e que deitavam fumo pela boca…?
F1 – Sim, esses mesmos!
F2 – E ela andava com esses…?! Que esfomeada…não lhe chegava um…?
F1 – Eram…só faziam cenas! Eu nem sei como é que ela era capaz…com a criança ao colo…
F2 – E a criança é filha dela?
F1 – Sim, deve ser…ela está sempre com ela ao colo.
F2 – E quem é o pai?
F1 – Não sei…se calhar é um daqueles humanos com quem ela andou…! Ela era muito pretendida.  
F2 – Que falta de gosto destes homens…eu não a acho assim nada de especial…Mas já a viste alguma vez com o pai do bebé?
F1 – Não. Vejo-a sempre sozinha…!
F2 – Mas…porque é que ele não anda com ela? É o pai do bebé…tinha obrigação de andar com a mãe…
F1 – Pois era…mas nunca vi os dois. Se calhar chatearam-se…ou então, ela nem sabe quem é que fez o bebé…!
F2 – Ui, mas isso é impossível, ela não saber quem é o pai do filho dela.
F1 – Não é impossível…se ela tinha mais que um namorado…pode ter sido um qualquer…!
F2 – Mas quando se tem um namorado…e nasce um bebé…sabe-se de quem é.
F1 – Ai, santa ignorância…! Esquece…ela agora anda com um pássaro…ainda é mais estranho.
F2 – Realmente…não tem nada a haver um com o outro…! Este pássaro tem a mania que é bom! Deve ter muita treta…
F1 – Pois…também acho. E ela está a gostar.
F2 – Que burra…
F1 – Quem? Eu…
F2 – Não…esta…!
         As duas riem, fixam o olhar uma na outra.
F1 – Espera aí…tens uma cobertura…!
F2 – Tu também…
F1 – Foste às compras e não me convidaste, nem me disseste nada…?!
F2 – Mas eu não fui às compras…
F1 – Nem eu…
F2 – Então…quem é que nos pôs isto aqui por cima?
F1 – Não sei…sei que é muito bom…muito confortável…
F2 – Sim. (sorri) E quentinho.
F1 – Sim. Eu fiquei tão entusiasmada com os dois que nem tinha reparado que tinhas essa cobertura…
F2 (ri) – Pois, nem eu…nem tinha reparado que tinha isto sobre mim…
F1 (a rir) – Deve ter sido alguém que teve pena de nós.
F2 – A outra…e o pássaro também tinham uma cobertura…
F1 – Áááhh…pois tinham! Então…se calhar foram eles…
F2 – Hum, não sei…tenho dúvidas de que tenham sido eles.
         As duas fadas continuam a coscuvilhar uma com a outra, riem…

Cena 3
        
         Passa pelas fadas, pela rapariga com o bebé e pelo pássaro uma outra estátua…um atleta masculino, a correr e a saltitar, as fadas olham-no deliciadas e sorriem. Ele cumprimenta por quem passa:
A – Boa noite!
M+P – Boa noite!
P – Então…a correr com este frio? Como é que aguentas? Isto até congela os músculos…!
A – Não…vai uma corridinha comigo para correr com o frio? O frio enrijece os músculos…é bom.
M+P – Não.
M – Nem pensar…eu com este frio, quase não me consigo mexer, quanto mais correr…!
P – Eu também não aguento.
M – Não te deram um cobertor?
A – Deram, mas eu não preciso dele…prefiro mexer-me, e correr…ou fazer exercício físico do que ficar parado.
P – Não devias abusar…devias ficar quietinho com o cobertor…
A – Não…isso é pior…
P – Olha, pronto…tu é que sabes.
M – Olha, por acaso não sabes onde podemos encontrar comida por aqui?
A – Não sei…mas com certeza haverá qualquer coisa…
         Passa uma estátua cozinheiro, com chapéu, avental, e uma colher de pau numa mão e um pote na outra. Cumprimenta.
C – Boa noite, amigos!
Todos – Boa noite.
M – O Sr. É cozinheiro?
C – Sim, sou…não se vê? Com este chapéu…o pote…a colher de pau e o avental…?
M – Pois, tem razão!
P – Mas o que tem esse pote?
C – Ainda não tem nada, mas vai ter…
M – Áááhh…estamos com tanta fome…! Onde vai buscar a comida?
C – Vou por aí…e vou buscar legumes para fazer uma deliciosa sopa!
A – Vai uma corridinha para correr com o frio e com as gordurinhas…óh…senhor simpático…gorducho…?
M – Mas que mal-educado! Eu dava-lhe com a colher de pau…!
C (indignado) – Olhe…eu só não lhe dou com a colher de pau porque não tenho outra para cozinhar…mas na altura certa, vai ter o arroz que merece!
A (ri) – Tinha piada bater-me com a colher de pau…não disse nada de mais, você é mesmo gorduchinho… (p.c) vai cozinhar o quê? Paus, erva e gelo…?!
C (zangado) – Pode ser que te cozinhe a ti, palerma…!
A (ri) - Com tudo congelado, nem o fogo acende!
C (zangado) – Eu faço acendê-lo no teu rabo!
A (ri) – Só se cozinhar legumes de brincar ou de ar e vento…inté…
         Continua a correr e a rir, o cozinheiro responde-lhe a gritar:
C – Ainda vais engolir esse gozo fininho, óh parvalhão…vais ver a sopa que vais ter… bom…não há tempo a perder…vou buscar os legumes e venho já fazer uma bela sopa para quem quiser come-la…com este frio...
M – Quer ajuda para colher os legumes?
C – Não filha, muito obrigada! Eu não demoro… daqui a pouco podem ir ali comê-la, àquela cabaninha e abrigar-se lá do frio.
         Passa uma estátua de uma mulher com uns cântaros de água nas mãos e grita:
M.C. – Quem quer água quente…ou leite…quem quer, quem quer…?
Todas (gritam) – Eu…
         A mulher com o bebé, o pássaro e o cozinheiro acenam à mulher dos cântaros. Ela pousa-os no chão e diz:
M.C. – Boa noite…querem água quente?
Todos – Sim.
         A mulher dos cântaros distribui água quente, eles bebem consolados. O cozinheiro informa:
C – Olha, vou buscar legumes para fazer uma rica sopa, podes deitar-me água no pote para cozinhar mais depressa?
M.C. – Claro! Até te ajudo a fazer a sopa se quiseres!
C – Está bem! Espera aqui por mim…já volto.
M.C. – Está bem.
Cena 4

    Enquanto eles conversam, o atleta parou com as fadas, a conversar animadamente, até que se ouve um casal de estátuas num lago, quase congelados, a tremer de frio e estão a discutir:
Rapariga (grita) – Ai, aquece-me…!
Rapaz – Aquece-me tu também…!
         O atleta ouve e responde:
A – Olhem…enrolem-se um no outro, debaixo do cobertor e façam exercício físico… (ri malicioso). Aquele exercício que conhecem bem…
Rapaz – Com este frio até ela quase desaparece…não dá pá…
A – Não te preocupes…ela daqui a bocado quando começar com o exercício estica outra vez… (rapaz e atleta riem-se maliciosos)
F1 – O quê…? Ele faz ginástica contigo…?
A (sorri e responde baixinho) – Comigo não propriamente…mas com muitas raparigas já o vi fazer ginástica…Xiiiiuuuu…
F2 – Áááhh…que sacanas…então é isso…! Os torneios…!
A (sorri, responde baixinho) – Ele é estátua, e está com esta, mas não é nenhum santo, nem de ferro…!
F1 – Nem os de estátua prestam…!
F2 – Ai coitada…esta deve ter um peso…em cima da cabeça!
F1 – Podes crer…
F2 – Se fosse outra qualquer, ele aquecia logo…
(Riem) 
Rapariga (grita) – Este frio encolhe toda a gente…! De que é que se estão a rir?
Todos (a rir) – Nada, nada…
Rapariga – Não gostei desses segredinhos…!
Rapaz (a rir) – Aquece-me mas é…
Rapariga (grita) – Que grande lata…
A – Óh rapariga…quanto mais gritares, mais gelada ficas…!
Rapariga (nervosa) – Que parvo…! (p.c) Tu é que tens de me aquecer...
Rapaz – Eu…?
Rapariga – Sim, tu…quem mais…? Estás sempre a dizer que és muito quente…!
         As fadas riem e metem veneno:
F1 (a rir) – É quente…teoricamente…na prática, nem para isso serve…!
Rapariga – Pois…estou a ver que sim!
Rapaz – Estás a ser egoísta.
Rapariga (grita) – Eu…a ser egoísta…? Só não te enfio esta bola pela goela abaixo porque não cabe.
Rapaz – Sim, estás a pensar só em ti, porque eu também estou quase regelado, e encostado a ti, não aqueço…como queres que te aqueça mais…?
Rapariga (resmunga) – Mas que raio…quem foi o idiota que me construiu como tua namorada…! Que ódio…apetece-me desfazer-te…
Rapaz (resmunga nervoso) – Vai pastar.
Rapariga (resmunga, nervosa) – Se eu estivesse congelado mandava-te daqui abaixo…
Rapaz (resmunga) – Tu ias também parar lá abaixo…podia ser que aquecêssemos…vamos tentar…?
Rapariga (zangada) – Vai tu sozinho…
F1 (a rir) – Eles amam-se…
F2 (a rir) – Uuiii…loucamente…
F1 (a rir) – Estão juntos para isto?
F2 (a rir) – Olha, estamos muito bem sem ninguém…
A – Meninas…se estivessem comigo, não iam querer outra coisa…
         As duas riem às gargalhadas…
A – Vou continuar a minha ginástica. Até já… (para o casal) vai uma corridinha para aquecerem e para acalmarem…?
Os dois – Não.
Rapaz – Boa viagem…
A – Volto já…vejam se se entendem…
Rapaz – Yá…
Cena 5
         O atleta segue caminho, a mulher dos canecos ouve os dois a discutir, aproxima-se, ajoelha-se, serve-lhes água quente e fala com eles:
M.C. – Então…não precisam de discutir.
Rapariga (a tremer) – O que é isto?
Rapaz – Não é veneno com certeza.
M.C. – É água quente para vos aquecer!
         Os dois bebem seguido, satisfeitos, sorriem, e pedem mais.
M.C. – Bebam…para ver se o amor descongela, e renasce florido! Porque é que não estão abraçados e com os dois cobertores juntos para se aquecerem…?
Rapariga (zangada) – Farta de estar abraçada a este estou eu…que nem me aquece…
Rapaz – Juntar os cobertores…olha…nem pensamos nos cobertores…
M.C. – Pessoal, juntem-se todos aqui. O mais que poderem para nos aquecermos todos!
         A mulher com o bebé e o pássaro sentam-se um de cada lado do casal, a mulher dos cântaros distribui mais água quente. Todos bebem. Passa a estátua de uma bailarina, a estátua de um homem palhaço e a estátua de um casal a dançar. Todos dizem boa noite.
B – Humm, o que há aqui?
Todos – Água quente.
M.C. – E agora, além da água quente, começa a haver algum calor humano. Juntem-se aqui…querem água quente?
Todos – Sim.
         Juntam-se todos, bebem água e juntam-se aos outros na relva abrindo os cobertores. Passa novamente o atleta e grita, a fazer ginástica:
A – Vai uma corridinha para correr com o frio?
Todos – Não.
A – Que bando de pastelões…molengões…
B – Olha – me este…
A – Bailarina…minha beleza rara…queres acompanhar-me…para…uma dancinha…?
B – Não faltava mais nada.
A – Ahhh…que nariz arrebitado…má…
B – Estou gelada demais para te responder à altura…
A – Tinhas muito que subir essa língua, querida…
B – Ai, que ridículo…!
M.C. – Queres água rapaz?
A – Sim, aceito.
F1 – Deste a volta num instante…
A – Pois…não se vê um palmo lá fora…tenho medo de tropeçar em alguma coisa.
F2 – Pois, pois…
B – Cheirou-te a fêmeas no pedaço, ficaste logo louquinho…
A – Mas tu achas que eu sou quem…?
B – Tens a mania que és o melhor…
Palhaço – Então, gente…por favor…dêem-se bem…ao menos para aquecermos…com a amizade.
D1 – Sim, o palhaço tem razão.
Rapariga – Estamos todos tão gelados que é impossível pensar em amizade…!
Palhaço – Não…vocês é que complicam o que é fácil. (p.c) Desculpem, as minhas ideias também estão congeladas…não encontro nada de engraçado para vos fazer rir…
Todos – Não faz mal.
A – Eu já não tenho frio com as corridas que dei.
B – Acredito mesmo!
A – É verdade! Toca-me, vais ver como estou quente…
B – Não querias mais nada…
F1 (a rir) – Estás quente é noutro sítio…
F2 (a rir) – Pois…!
F1 – Mete-te aqui debaixo…à nossa beira…
A – Não preciso!
F2 – Anda lá, não sejas egoísta…pensa em nós…
A (sorri) – Eu já penso muitas vezes em vocês!
F1 – Então pensa outra vez, e junta-te para nos aquecermos.
A (sorri) – Ai querem aquecimento…? E o que é que recebo em troca?
F2 – Ai a amizade precisa de recompensas…?
A – Sim…claro. Eu não trabalho de graça…
         As raparigas abanam as cabeças chateadas.
A – Vou dar outra volta…
B – Vai-se exibir…coitado. Já que ninguém repara nele em estado normal, ao menos se andar a fazer figura de louquinho…a fazer exercício físico com este frio, e sem roupa…toda a gente vai reparar na figurinha triste…
         Todas as raparigas riem e concordam. Ele vira costas frustrado e zangado mas vaidoso. Elas chocam as mãos umas com as outras, a rir, bebem mais água quente.
Cena 6

Passam mais três estátuas de crianças de mãozinhas dadas, a chorar, e a tremer de frio. A mulher dos cântaros chama-os, dá-lhes água quente, acaricia-os, e cada um vai para o colo das raparigas: um para a bailarina, outro para a dançarina, e outro para a fadinha. Juntam os cobertores, abraçam-se, e finalmente chega o cozinheiro com os legumes no pote.
C (sorri) – Olhem, olhem…temos mais gente…? Boa!
M.C. – Sim. Apareceu mais gente!
C – A sopa chega para todos. Venham também lá para dentro! Ficamos mais quentinhos. Levantam-se todos, e refugiam-se numa das cabaninhas…o cozinheiro acende o fogão e a lareira.
C – Quem quiser pode ajudar-me a descascar os legumes.
         Todos ajudam a descascar, menos as crianças que ficam à lareira. Enquanto descascam os legumes falam uns com os outros, riem, e o palhaço faz algumas brincadeiras para entreter os pequenos e os grandes. Há muitas gargalhadas e palmas. Estão felizes e muito mais quentes, enquanto fora da cabana está um frio cada vez mais cortante, e chove tocada a vento. O pobre atleta está muito aflito, regelado, e passa pela cabana. Ele põe-se de joelhos e implora:
A – Por favor…deixem-me entrar!
B – Tu disseste que não precisavas de nós…nem do nosso agasalho, nem da nossa água quente…!
M – Pois foi…disseste que já estavas quente…com o exercício…!
Rapariga – É…tu corrias com o frio, com as tuas corridinhas…
M – É verdade…! E ainda por cima gozaste com o cozinheiro…!
A – Vá lá…não sejam tão mazinhas…
Todas – Mázinhas…? Nós…?
C – É…e o cozinheiro gordo ia cozinhar legumes de ar e vento ou de plástico não era? Olha-os ali…a fervilhar…parecem pedras num vulcão…lindos…já prontos a aquecer-nos e a matar a nossa fome…! (p.c) Agora devias ficar aí fora e procurar tu os legumes, para ti…
A – Eu sei que falei demais…e que o magoei…por favor…perdoe-me… e deixe-me entrar.
B – Gabaste-te demais como sempre…armaste-te em bom…!
A – Sim, está bem, também tens razão.
F1 – Vá lá…deixe o moço entrar…
F2 – Sim, ele portou-se mal, foi muito inconveniente…mas deixe-o entrar…
F1 – Coitado do pobre…
F2 – Está ali a penar.
A – Pode-me bater com a colher de pau, mas por favor deixe-me entrar! Desculpe o que eu disse. A sua sopa cheira mesmo bem, deve estar deliciosa.
C – Com certeza. Bem merecias levar com a colher de pau, mas eu preciso dela para servir esta sopa angelical.
A – Eu…faço o que quiser…mas por favor…não me deixe ficar aqui…
C – Entra pobre diabo…! Miserável…! Ingrato…! Põe a mesa…
A – Sim, Sra. Tudo o que quiser. Muito obrigado, deixe-me aquecer as mãos só um bocadinho, se não ainda deixo cair os pratos… (p.c) Você é um bom homem.
C – Sim, é a tua sorte…eu não ter uma pedra no lugar do coração, se não deixava-te aí fora para aprenderes a respeitar e a engolir essa vaidade que mete nojo. 
         O atleta entra, quase congelado e sem se mexer, bebe água quente, senta-se à beira da lareira para se aquecer um pouco e põe a mesa. Há conversas cruzadas, gargalhadas, brincadeiras, todos já bem confortáveis e quentes sentam-se à mesa e comem deliciados a sopa cheia de legumes feita com muito carinho pelo cozinheiro.
         Depois das barriguinhas atestadas, e bem quentinhos, todos se divertem com as brincadeiras do palhaço, e todos se deliciam com a beleza das danças do casal e da bailarina. Batem palmas, confraternizam a noite toda, mesmo fora da tenda com tudo iluminado.
         E estas estátuas voltam para o seu sítio de dia, continuam a enfeitar o jardim, e quando este fecha ao público passam a reunir-se sempre, o que faz nascer entre eles uma grande amizade.
         Aliás…o calor da amizade, e o calor humano foi o que os salvou daquele gelo cortante…além da sopa do cozinheiro!

FIM
Lálá 

(8/Dezembro/2011) 

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