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quinta-feira, 24 de março de 2016

quem lhe roubou a voz



      Era uma vez uma rapariga jovem, bonita, elegante, alegre, simpática, que vivia numa aldeia no cimo de uma montanha, com poucos habitantes mas todos amigos uns dos outros.
Chamava-se Inês, e era uma menina igual às outras da sua idade, brincava com as suas amigas, mas com uma diferença! Cantava lindamente, com uma voz cristalina e suave...era delicioso ouvi-la!
Nas noites quentes de Verão, Inês reunia-se com os outros habitantes da aldeia, ao ar livre, numa pracinha iluminada, com bancos de jardim e um laguinho. Um espaço fantástico. 
Ela ficava muito feliz porque adorava cantar, e porque sabia que toda a gente gostava muito de a ouvir. Subia para o laguinho e quando cantava parecia que todos ficavam hipnotizados com tanta beleza junta: a da menina, e a da sua voz, incluindo a sua família.
Numa noite, aconteceu uma coisa muito estranha. Quando a menina subiu para o lago, queria cantar, mas a voz não lhe saía. Ficaram todos intrigados...o que se estaria a passar com a Inês, aquela menina pequenina que cantava melhor que muita gente grande? Estaria com vergonha? Seria quase impossível, porque nunca a teve...já cantava há muito tempo, e todos a conheciam...! Estaria doente...? Sim...poderia ser, mas para isso a sua mãe não deveria ter deixado a menina sair de casa. Então...?
Dois senhores comentam zangados, e grosseiramente:
- Olhem para isto...esta afinal não canta!
- Ela canta em playback...falhou a aparelhagem não foi, sua falsa...?
         Inês fica muito envergonhada e nervosa. Todos começam a assobiar, a protestar e a gozar com a menina. A sua mãe muito zangada protesta com os senhores:
- O que é que estás para aí a dizer? (p.c) Seu grosseirão...lá porque as tuas filhas não cantam...não quer dizer que a minha não cante! Canta sim senhora, e maravilhosamente bem!
         Outros quatro senhores, e uma senhora acrescentam:
- Ui...canta que nem um rouxinol...sem pio...! (todos riem)
- Só se cantar no chuveiro! (todos riem)
- Canta como um galo rouco...louco!(Todos riem)
- Eu não estou a ouvir nada...só se cantar para dentro...mas para cantar para dentro nem valia a pena ter vindo para aqui!
- Ela quis ser o centro das atenções...não deve ter atenção suficiente em casa, vem armar-se em cantora para a rua, para que todos reparem...e a mãe...uma pobre coitada, também não deve ter calor do homem, claro que não tem...! O homem anda para aí a arrastar a asa para tudo quanto é mulher...
         Todos riem e a mãe de Inês muito chateada responde:
- Eu não vos admito que falem da minha vida privada...ainda por cima são mentiras. Eu estou muito bem com o meu marido, e não falta amor, carinho e atenção à minha filha...seus idiotas.
         Envolvem-se todos numa acesa discussão uns com os outros, a insultarem-se. Enquanto isso, a menina fica muito envergonhada, e desata a correr e a fugir, muito triste, e entra numa árvore, que serve de casinha para ela brincar. Inês queria gritar de raiva e de vergonha, mas não conseguia, estava sem voz. Entra na árvore uma fada, a menina vê-a e vira-lhe as costas muito triste. A fada fala com a menina:
- Inês...eu sei que estás muito chateada comigo...
Ela põe-se em frente à menina. A fada faz-lhe um pedido:
- Olha para mim, querida...!
         A menina faz-lhe uma careta e vira-se para o outro lado muito triste. A menina exige que a fada lhe devolva a voz. A Fada assume:
- Sim, pronto está bem, tens razão...já podes falar, mas não me trates mal está bem?
         Num movimento mágico, a fada devolve a voz à Inês que está muito zangada e triste. As duas falam uma com a outra. Inês mostra o seu desagrado pelo que a fada lhe fez, e a fada explica tudo:
- (muito zangada) Tu és uma bruxa, não és uma fada! Bruxa, bruxa, bruxa...daquelas horrorosas, maldosas...até estás bonita só para seduzir e depois fazer os teus feitiços sem ninguém dar por isso...claro...vêem uma cara tão bonita, com asinhas...quem é que vai desconfiar que é um ser mau...?! Ninguém. Nem eu pensei que fosses assim.
- Ui...que imagem que tens de mim!
- (muito zangada)É a tua imagem verdadeira. Totalmente diferente daquela que eu tinha de ti.
- Estás a ofender-me...!
- Ui, coitadinha, que pena que eu tenho de ti.
- Não estás a ser minha amiga.
- E tu foste minha amiga, por acaso? (p.c) Eu achava que eramos amigas, mas depois do que me fizeste...quero é ficar bem longe de ti, sua víbora.
- O quê? (p.c) Estás a ser injusta, eu sempre fui tua amiga!
- Ui...muito. Foste tão minha amiga que até me roubaste a voz...foste tu, não foste, sua grande bruxa...?
- Ai, pára de me chamar bruxa...assim ofendes-me...essas são muito feias, eu até sou bonita não achas?
- De que adianta seres bonita por fora, se por dentro não podes ser mais feia?
- Que mázinha...!
- Tu tens uma lata...! Foste tu que me roubaste a voz, não foste, cobra venenosa?
- Sim, fui eu...mas escusas de me tratar assim tão mal.
- Mas porquê?
- Eu roubei a tua voz, porque gosto muito dela.
- E o que é que eu tenho a ver com isso? (p.c) As outras pessoas também gostavam da minha voz e não ma roubaram. (p.c) Vês como és uma bruxa...?! Ficaste cheia de inveja por não ter uma voz como a minha, e por isso roubaste-ma. Que coisa mais feia.
- Mas eu queria-a para mim.
- Eu também queria muita coisa e não tenho...nem roubo! (p.c) Isso não é motivo para roubar. (p.c) Se fosses uma fada verdadeira não roubavas nem tinhas inveja.
- Isso não é bem assim!
- Ah, ãh...! (p.c) Tu fizeste-me passar uma vergonha desgraçada. (p.c) Foi uma humilhação para mim e para a minha mãe! (p.c) Chamaram-nos coisas muito feias...até duvidaram que eu soubesse cantar.
- Óh, mas não tens que ligar a isso! O que eles disseram não é verdade...tu sabes cantar e cantas muito bem.
- Tu estás a dizer isso agora, porque não foste tu que ouviste aquelas coisas horríveis. (p.c) Passei uma vergonha...nunca mais vou cantar...nem sair à rua.
- Mas é claro que vais continuar a cantar! Com essa voz não podes esconder-te!
- Sim, depois da vergonha que passei...vale de muito ter uma voz bonita e boa...e aparecer. Agora mais ninguém vai olhar para a minha cara, quanto mais ouvir-me...vão fugir de mim.
- De maneira nenhuma...quando te voltarem a ouvir vão esquecer tudo.
- Para ti é tudo tão fácil não é...? (p.c) Para que é que querias a minha voz? A tua voz não te chega? Invejosa, fada má...bruxa...nunca vi!
- Eu não sou má, nem bruxa. Só queria saber cantar como tu!
- (zangada) Para quê?
- Para eu conquistar os rapazes que gosto!
- O quê? Áh, áh, áh...que coisa mais estúpida...! Não é pela tua voz que vais conquistar os rapazes de quem gostas! Eles é que tem de te conquistar, e gostar de ti, como tu és!
- Ai é...?
- (muito zangada) Sim, burrinha...claro.
- Mas eu não sei cantar.
- Não acredito no que estou a ouvir...!Claro que sabes cantar, eu já te ouvi...! E se não soubesses aprendias. Tu tens a tua voz, cantas á tua maneira, todos temos vozes diferentes, e todas as vozes têm a sua beleza própria... (p.c) Se não cantas melhor, é porque não queres! E podes sempre melhorar! Mas também não quer dizer que cantas mal. (p.c) Achas que os rapazes querem saber como cantas...? Para quê? Não querem a tua voz para nada, cantes tu bem ou mal. Querem é saber como é o teu coração...e...o resto! Daaaaahhhh...!
- Áááááhhh...! Não sabia!
- Nunca pensei que fosses tão ignorante...!
- Óóóóhhh...Não digas isso. Fico muito triste ao ouvir essas coisas que dizes de mim. Pensei que gostavas de mim.
- E gosto de ti, só não gostei que me roubasses a minha voz, para conquistar os palerminhas dos rapazes.
- Está bem, tens razão! O que eu fiz foi muito feio. Estou a ver que tens muitas coisas para me ensinar.
- Toda a gente tem coisas para ensinar!
- Não me vais perdoar pois não?
- Não sei! Acho que não...!
- Óóóóhhh...estou tão triste!
- Tu não mereces! Roubaste-me a voz...fizeste-me passar vergonha em frente a toda a gente!
- Eu sei que estás muito zangada comigo! (P.C) Mesmo que não me perdoes...podes ensinar-me coisas bonitas e tudo o que sabes, principalmente...a cantar?! (P.C) Eu não volto a fazer isso! (P.C) Posso oferecer-te um chá?
- Agora vais-me pôr veneno no chá?
- Não! (P.C) Até podes ser tu a fazê-lo se desconfias de mim.
- Está bem!
         A Inês mais calma, faz um chá para as duas, e as duas têm uma longa conversa uma com a outra, riem, entendem-se muito bem. Enquanto isso, lá fora, anda tudo à procura dela, a discutir, a resmungar uns com os outros, vêem em vários sítios, e ficam muito preocupados. A mãe, muito ansiosa, triste e nervosa, resmunga:
- A culpa é vossa...! Talvez a minha filha esteja rouca, ou com algum problema de garganta para não poder cantar! E vocês...humilharam-na. (p.c) Nunca tiveram problemas de garganta que vos deixaram sem voz por algum tempo?
         Faz-se silêncio e respondem em coro:
- Sim.
         Um senhor e a mãe de Inês trocam algumas palavras, nervosos:
- Mas no caso dela é mesmo não saber cantar!
- Como é que sabes...viste-lhe a garganta?! (p.c) Ou viste algum rádio ao lado dela, ou preso na roupa dela...?
- Algum mistério havia!
- Olha...mistério tens tu...no...num certo sítio.
- Vão ter que pedir desculpa à nossa filha!
- Se ela não estivesse comprometida não desaparecia!
- Ela desapareceu com a vergonha!
         A Avó e a Mãe da menina acrescentam:
- Com certeza tens inveja da voz dela, foi por isso que a humilhaste! (p.c) Mas vais pagar bem por isto.
- Ainda vão engolir todos um sapo!
         As discussões continuam. Inês sai da árvore com a fada, transformada numa mulher, lindíssima, e as duas cantam de mão dada, uma linda canção, em coro e individualmente, dançam elegantemente, e todos ficam babados a olhar para elas, deliciados, boquiabertos, e deliciados com as vozes. No fim todos batem palmas, elogiam, Inês apresenta a nova amiga fada, e todos pedem desculpa. A Avó pergunta e a neta responde:
- Então filha o que te aconteceu para não cantares?
- Não sei Avó, doía-me a garganta e fiquei sem voz!
- Precisas de ir ao médico!
- Não Avó, não é preciso...a minha amiga deu-me um chá e já passou (p.c, grita) Aviso a todos que vou continuar a cantar, e agora, acompanhada por esta minha amiga, para quem me ouvir! Quem não gostar de mim, pode ir para sua casa...para o curral...para onde quiser, escusa é de vir para aqui humilhar-me!
         Todos batem palmas e elas cantam mais umas quantas canções, maravilhosamente.

MORAL DA HISTÓRIA:
         Cada um tem os seus dons, e não precisa de ter inveja do outro que não o tem, porque se não tem esses, terá outros com certeza! A inveja é desnecessária, e os dons de cada um devem ser respeitados pelos outros, porque é essa diversidade de dons que enriquece a sociedade, e todos nós, porque aprendemos sempre uns com os outros.

                                               FIM 
                                              Lara Rocha 
                                            11/FEV/2011



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