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sexta-feira, 25 de março de 2016

A corrente

                                                                            foto de Lara Rocha 

            Era uma vez um casal de lobos que tinham tido um bebé pequenino há muito pouco tempo. Todos estavam felizes, e o bebé recebia muitas visitas, prendas…tudo corria bem, o bebé era lindo, simpático, meigo, e amado pelos pais que tinham muito orgulho nele. Um dia, o bebé ficou doente. Ganhou muita tosse, muita febre, e alimentava-se pouco. Os pais sempre cuidadosos, protegiam-no, mas a tristeza e o medo eram mais fortes, e por isso tornaram-se agressivos com quem se aproximava para visitar o bebé. Não o faziam por mal, ou porque eram antipáticos, era tudo para proteger o filhote. Como eram agressivos com quem ia visitar o pequenino, os animais sentiram-se ofendidos, ficaram tristes e deixaram de visitar o pequenino; mesmo tendo essa vontade. ~
        Uma rapariga, veterinária, ainda muito jovem que vivia na cidade, foi passear pela floresta e encontrou os lobos. Achou muito estranho o comportamento deles. 
Aproxima-se e fala suavemente com eles.
Óh meus lindos bichinhos…
(Tenta acariciar, mas o pai lobo ataca-a ligeiramente, nervoso e assustado)
Não toque no meu lobinho! (p.c) Afaste-se, antes que lhe morda.
Calma, lobinhos… (p.c) Não vou fazer mal ao vosso filhote! (p.c) Só quero fazer-lhe um carinho. (p.c) E a ti também Pai Lobo.
Eu não preciso de carinho nenhum. (p.c) O meu filho é que precisa! - grita o pai lobo, nervoso 
Desculpe, estamos muito assustados, porque o nosso filho está muito doente. - explica a loba triste, e assustada 
Eu sou veterinária…deixe-me ver o seu bebé! Posso ajudá-los!
Não…não lhe toque. Ele vai ficar bom só com o nosso amor…e o nosso calor…isto vai passar. - rosna o lobo, nervoso 
Não tenho dúvidas disso, mas precisa de algo mais. Não se preocupe…ele vai ficar bem. (p.c) Não vou fazer mal ao vosso bebé.
Pegue nele, Sra. Dra. - manda a loba 
Para onde vai levá-lo? - pergunta o lobo, nervoso 
Para o meu consultório. Ali…venham também.
Por favor! - implora o lobo, nervoso 
Por favor Sra. Dra. Veja se descobre o que é que ele tem! - suplica a loba 
Podemos ir? - pergunta o lobo nervoso 
Sim! Claro! - diz a veterinária 
            A veterinária leva o lobinho ao colo, acaricia-o, e os lobos pais vão atrás no carro. A veterinária analisa o lobito com todo o cuidado, e entretanto, novamente na floresta…os amigos vizinhos estranham o silêncio.
Onde estão os lobos? - pergunta um coelho 
Porquê? Querias oferecer-te como refeição para eles? - pergunta o gato irónico e surpreso 
Não! eu sou amigo deles.
Não sei como consegues ser amigo daqueles…! - responde o gato surpreso 
Não vejo mal nenhum nisso.
São uma ameaça para ti, e para os teus.
Nunca senti isso.
Talvez porque andem demasiado bem alimentados, ou demasiado ocupados com o pequenote.
Ultimamente andam muito raivosos…até tenho medo deles! - comenta uma borboleta, pensativa 
Raivosos e antipáticos. - acrescenta a joaninha 
Que estranho! - murmura o coelho 
É por isso que estou a dizer que são uma ameaça. - repete o gato 
Mas isso deve ser uma fase menos boa que está a viver…! - comenta o cogumelo 
Qual? - perguntam em coro 
Desculpem interromper…têm toda a razão no que dizem, mas eles têm razões para andar assim! - explica a flor 
Têm? (p.c) Qual? - perguntam todos 
Fizemos-lhe algum mal? - pergunta o coelho 
Não! (p.c) Nós não…mas têm o filhote doente! - responde a flor 
Doente? - perguntam em coro 
Sim. - responde a flor 
Espero que não seja nada de contagioso! - suspira a borboleta 
Não deve ser. - sossega a flor 
Mas como é que sabes? - pergunta a joaninha 
Eu vivo aqui mesmo ao lado. O pobre bichinho tosse, espirra, treme…coitadinho…! E ouvi dizer que ele estava a ferver de febre! - responde a flor 
Sempre que vinha aqui visitar o pimpolho felpudo…quase me comiam! (p.c) Deixei de vir. Mesmo não querendo, não tive escolha. - diz a borboleta 
Claro, têm toda a razão, mas agora, engulam essas mágoas, porque eles precisam de todo o nosso apoio. (p.c) Estão muito assustados e preocupados. - diz a flor 
Desculpa, isso não justifica o comportamento agressivo deles, porque nós visitamos porque queremos, e só queremos ajudar. - pensa alto, o cogumelo 
Certo, mas nestas alturas temos de os compreender, porque se tivéssemos filhos talvez reagíssemos da mesma maneira. - responde a flor 
Eu tenho filhos, e eles já ficaram doentes, mas eu nunca reagi assim. - diz o coelho 
Se calhar o problema dos teus filhos nunca foi tão grave, felizmente. - explica a flor 
É, pode ser, mas não é motivo para reagir assim…até porque não fomos nós que o pusemos doente, certo?
Certo. - respondem todos 
Mas o que é que tem o bebé? - pergunta a joaninha 
Não sei…veio aqui uma veterinária buscar o lobinho, e ainda não voltaram! - diz a flor 
E eles também atacaram a veterinária? - comenta o cogumelo 
Quase! E ainda lhes espetaram os dentarrões…o lobo pai estava fora dele! Não queria que a veterinária tocasse nele! - responde a flor 
Que feitio. - comenta o cogumelo 
Ele sempre disse que não precisava de ninguém…que ninguém podia tocar nele…corria toda a gente. - acrescenta o gato 
Mas achas que é grave? - pergunta o coelho, preocupado 
Infelizmente acho que sim! - diz a flor 
O que interessa é que o lobinho fique bem…- acrescenta a borboleta 
Comigo, ele que não conte! - diz o gato orgulhoso 
Deixa de ser orgulhoso…pelo menos num momento como este! - pede a joaninha, sensível 
Eu detesto bichos arrogantes como ele. - comenta a murmurar, o gato 
Mas não é ele que precisa, é o pequenino! - lembra a joaninha 
Tenho a certeza que estás a dizer isso só da boca para fora! - diz a borboleta a rir 
Claro que sim…! (p.c) Eu sou Pai…entendo muito bem essas coisas… (p.c) Os pequenos tocam-nos sempre, independentemente dos pais que têm. - concorda o coelho 
Ele tem a mania que é superior, e eu detesto isso. - comenta o gato 
Deixa-o ficar lá com a mania dele…se o pequeno precisar, tenho a certeza que vais ajudar…! - aconselha o coelho 
Ele também não é o meu melhor amigo, mas neste momento interessa-me que o pequenote fique bem. - comenta o cogumelo 
Pois. - concordam e respondem todos 
Se ele precisar, estou aqui. - acrescenta o cogumelo 
Ainda vais estar do lado desse selvagem? - pergunta o gato, desconfiado e surpreso 
Sim… - responde o cogumelo 
Nestas horas devemos esquecer todas as feridas, e reagir de maneira diferente, para ele engolir um sapo! - diz a borboleta 
Vais servir-lhe um sapo para almoço? - diz o coelho a rir
(Todos riem)
É uma maneira de dizer que ele vai engolir toda aquela arrogância, vaidade e superioridade, quando perceber que aqueles a quem ele ofende, estão do lado dele, quando mais precisa! - explica a borboleta 
– Áh! - exclama todos com um sorriso 
Eu farei o mesmo. - assegura a flor 
Eu também. - acrescenta a joaninha 
A mim também pouco me importa a maneira como ele falou comigo…o que interessa é que o bebé fique bem. - diz o coelho 
Claro. - diz a borboleta 
Mas não podemos fazer nada, com certeza! Não somos médicos. - comenta o gato 
Não somos médicas, ou médicos, nem temos instrumentos ou medicamentos, mas temos coração e sentimentos! - responde e explica a borboleta 
Pois. - concorda a joaninha 
E até parece que isso cura! -  comenta o gato irónico, desconfiado 
E cura! - concordam todos 
Sim, quem é pai, sabe muito bem disso. - lembra o coelho 
Desculpa, eu não sou mãe, e sei muito bem disso. - diz a borboleta 
Está bem. - diz o coelho 
Mas podemos rezar por ele aos Deuses da floresta! - lembra a flor 
Claro que sim! - dizem todos 
Desculpem, eu não sei rezar. - lamenta o gato 
Mas sabes pensar positivo, acho eu…- diz o cogumelo 
Sim, isso sim. - responde o gato 
É o suficiente. - dizem: a flor, a borboleta e a joaninha 
Cada um pede à sua maneira… - convida a flor 
É…não tem que ser uma oração. - concorda e acrescenta a borboleta 
Pode ser só um pedido por ele, ou um simples pensamento de que ele vai ficar bem. - sugere a joaninha 
Claro. - respondem em coro 
Bem, isso consigo! - diz o gato 
E quando eles vierem devemos mostrar a nossa dedicação e preocupação com eles. - aconselha a flor 
Sim, para não se sentirem sozinhos…num momento como estes! - concorda o coelho 
São muito otimistas. - ri o gato - desculpem! 
E temos de ser. - dizem em coro 
Não conseguimos nada, se formos pessimistas, ou se andarmos sempre a pensar em tristezas…até a saúde piora, e bloqueia-nos. - explica a borboleta 
É. Sabes, Gato, às vezes é preciso apanhar assim um susto para amolecerem, e para sentirem a vida…o coração a bater…e para se lembrarem que têm sentimentos. - diz a flor 
Verdade. - concorda a borboleta 
Vem aí o Lobo. - repara a joaninha 
(O lobo vem muito triste, cabisbaixo, a passo lento e a uivar baixinho).
Olá! - dizem todos 
Olá. - responde o lobo, triste 
Tudo bem, amigo? - pergunta a borboleta 
Não, não está nada bem. - responde o lobo, triste 
Então? - perguntam todos, assustados 
O que aconteceu? - pergunta o coelho, preocupado 
O meu filho…não está nada bem…está gravemente doente…ficou internado. - conta o lobo, quase a chorar 
O quê? - perguntam todos, surpresos e preocupados 
Mas o que é que ele tem? - pergunta a flor 
Tem uma infeção pulmonar e outras coisas…com nomes estranhos! - explica o lobo 
Óh, que tristeza! (p.c) Mas olha, não desanimes…o teu filho precisa da tua força. - diz a joaninha 
É isso mesmo! Tem força! - concorda e acrescenta a borboleta 
Vai correr tudo bem. - reforça o cogumelo 
Ele já está entregue…e não tarda nada, anda por aí a correr outra vez. - comenta o gato, com pena 
Aúúúúúúúúú… o que é que eu fiz para merecer isto? - lamenta o lobo, triste 
Nada. - respondem todos 
Por favor, não penses que isto é castigo por alguma coisa…! Nada disso. - diz o coelho 
Esses problemas toda a gente tem. Grandes e pequenos…! Acontece! - reforça o gato 
Ai, o meu filho! (p.c) Eu não posso viver sem ele…! Nem sem a mãe. - uiva o lobo, triste 
Ei… - dizem todos 
Não penses nessas coisas tristes! - sugere a joaninha 
Pensa que ele vai salvar-se! E vai! - garante a borboleta 
Acredita! Ele é forte, jovem, corajoso…! - aconselha o coelho 
Acredita! Vai correr tudo bem. - relembra o gato 
Mas ele está mal… - chora o lobo 
Ma vai ficar bem! - garantem todos 
Ai, tenho tanto medo…nunca tive tanto medo na minha vida! - uiva o lobo 
É normal. Toda a gente, na tua situação tem medo! (p.c) Mas, tens de ser mais forte que o medo…acreditando e desejando que tudo vai correr bem. - diz a borboleta 
Sim, claro que sim. Não desanimes. - acrescenta a flor 
Estamos todos do teu lado, e a torcer por ele! - diz a joaninha 
Nós acreditamos que ele vai vencer. E vai ficar bom! - acrescenta o cogumelo 
O que podermos fazer por ti, e por ele…faremos. - diz o coelho 
Nada. Rezem por ele…se quiserem! - sugere o lobo, triste 
Claro que sim! - dizem todos 
Tem força, amigo. - diz o gato, sensibilizado 
Estamos contigo! - acrescenta o coelho 
Não desistas! - reforça a borboleta 
Vai correr tudo bem…ele é frágil e pequenino, mas é novo, e vai resistir. - assegura a flor 
Ele vai ficar bem! Não duvides! - diz o cogumelo 
Ele vai vencer…com a nossa união. - garante a joaninha 
Precisas de alguma coisa? - oferece o gato 
Não. Só preciso que o meu bebé fique bom! - comenta o lobo a chorar 
Vai ficar bom. - respondem em coro 
Muito obrigada por não me virarem as costas! (p.c) E por estarem aqui. (p.c) Muito obrigada pelas palavras de força. - agradece o lobo 
Claro que estamos aqui. - garante a flor 
Porque haveríamos de te virar as costas? - pergunta a joaninha 
Porque eu às vezes sou mau convosco. E agora…mesmo depois de ser mau convosco…estão aqui. - reconhece e lamenta o lobo 
Deixa lá isso. - diz o coelho 
Todos nós temos os nossos dias maus, e momentos de zangados…mas não é altura de falar nisso agora. - concorda o cogumelo 
Desculpem-me. É que estou muito assustado. - diz o lobo, triste 
Nós entendemos. Sabemos que não fizeste por mal. - responde o coelho 
Esquece! - diz o gato 
Centra agora o teu pensamento no teu filho…deixa o resto. - diz a borboleta 
Fica descansado. Estamos contigo, neste momento difícil, e em todos os outros que tenhas. - assegura a joaninha 
Sim, o teu filho vai ficar bem. - acrescenta e reforça o gato 
Precisas de alguma coisa de nós? - pergunta a flor 
Por favor…se não for pedir demais…se puderem…fiquem comigo, um pouco. - pede o lobo 
Com certeza! - respondem todos 
          Fazem um pouco de companhia ao lobo e conversam com ele sobre outras coisas para o animar. Ao fim da tarde o lobo volta para o hospital, e a loba vai a casa. A borboleta convoca todos os animais da floresta para que se juntem e rezem pelo lobinho. A Loba também participa. Juntam-se todos em torno de uma cascata gigante à luz da lua. 
          Em silêncio, centenas de animais, incluindo lobos, dão as mãos e formam uma grande corrente de animais. Cada um pensa positivo, à sua maneira enviam muita luz e muitos pensamentos positivos para o lobinho, pensamentos de carinho e de saúde, desejos de força e de melhoras. É emocionante ver, pois de cada patinha começa a emanar luz…e calor…na água aparecem estrelinhas e luzinhas a cintilar.
        Depois todos partilham os seus pensamentos positivos, em voz alta, e em coro «pelo lobinho…força lobinho…o lobinho vai ficar bom…estamos contigo lobinho…e muitas outras frases cheias de boas energias. Pouco depois, formou-se uma bola gigante, de luz, uma luz linda e intensa…essa bola de luz tinha dentro os milhares de pensamentos positivos que dirigiram ao lobinho. 
      No dia seguinte, o lobinho estava praticamente na mesma…nem melhor nem pior…! Estava medicado e internado, gravemente doente. Mas os animais voltaram a formar essa corrente, várias vezes por dia, e nessa noite. Além disso, iam ter com o lobo e ajudaram-no no que ele precisava. 
       Na manhã seguinte, o bebé lobinho começa a melhorar e a corrente continua…à medida que a corrente se forma, o bebé melhora também, e a loba fica mais feliz, o lobo também se torna muito mais meigo, e mais simpático. Os animais fazem essa corrente até o bebé ficar totalmente bom, e vão visitá-lo. 
         Quando finalmente regressa a casa, os lobos fazem uma grande festa para agradecer todo o apoio dos vizinhos e amigos.
Nós bem dissemos que o teu filho ia vencer. E venceu. - diz a borboleta, orgulhosa 
Foi a vossa corrente de pensamentos positivos e de carinho que curou o meu filho! - responde a loba, feliz 
Era a única coisa que podíamos fazer por ele…não somos médicos, mas temos amor e carinho pelo teu filho! E por vocês! Somos amigos! - comenta a flor, sorridente 
Sim, é verdade! - responde a loba, feliz 
Não sei como vos agradecer. Todas as palavras de agradecimentos do mundo, são insuficientes para traduzir a minha gratidão pelo vosso apoio. - comenta o lobo 
Não tens nada que agradecer. - responde o cogumelo 
Fizemo-lo com todo o coração! - diz a borboleta a sorrir 
O maior agradecimento já o temos! O teu filho está curado! - acrescenta a flor 
Sim, é verdade! - dizem todos 
          E a festa continua, o lobo faz vénias, distribui abraços apertados e lambidelas carinhosas, para agradecer o que fizeram por ele e pelo filho, volta a ser um lobo simpático, conversador, brincalhão, generoso com os amigos que estiveram do lado dele quando mais precisou.  
           A amizade venceu, e a luz positiva iluminou, devolvendo a saúde ao bebé. Um dia, cada um de nós, pode precisar que se construa uma corrente de pensamentos positivos, amor, amizade e luz, à nossa volta, que nos cure. E funciona, sendo feita com sinceridade e com o coração…com amizade. Acreditem sempre na força dos pensamentos positivos, na força da amizade e da união! Não são médicos, mas podem curar alguém construindo uma corrente positiva e de amor e de luz curativa!


FIM
Lálá
(30/Dezembro/2012)

2 comentários:

  1. Uma história de superação, fé e muito amor.Correntes de amizade e pensamento positivo, ajudam muito em qualquer situação da vida.Parabéns uma história "quase"real

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    1. Muito obrigada! Muito verdade, é mesmo importante acreditar em alguma coisa superior, uma luz, em anjos ou no que for! As correntes de amizade e a presença são forças indescritíveis. Obrigada pela visita. Beijinhos

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