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domingo, 24 de setembro de 2023

A missão da menina diferente


         Era uma vez uma menina muito especial, bonita, que vivia numa cidade chamada As Quatro Estações. Nessa aldeia, existiam centenas de meninos e meninas, crianças, adultos, e pessoas com mais idade, que tinham uma missão muito especial: ir pelas grandes cidades anunciar a chegada de cada estação do ano. 

         Quem olhava para eles e elas, pareciam pessoas iguais, mas na verdade, eles e elas não precisavam de transportes para chegar às cidades que lhes estavam destinadas, iam e voltavam para a sua terra no mesmo dia, e sem que as pessoas das cidades dessem por isso, transformavam toda a paisagem de acordo com cada estação do ano. 

         Levavam tudo o que faz parte de cada uma delas: enchiam as cidades de flores na Primavera, sol e chuva, cores, pássaros e outras aves, vento. Levavam o Verão com Sol escaldante, o Outono com toda a sua beleza, e instabilidade do tempo, os dias mais pequenos, mais ventosos, mais chuvosos, mais cinzentos, ou mais solarengos, e o Inverno, com neve, onde ela existe, frio, chuva, nuvens carregadas, trovoada, gelo, mas também roupa quente, lareiras, e o Natal. 

         Dependia do que houvesse nessas cidades, nesses países, porque as estações do ano são diferentes, em várias partes do mundo, mas cada uma com as coisas bonitas, e cada menino, cada menina sabia muito bem o que levar a cada um, vestidos e calçados de acordo com as características de cada lugar, nas diferentes estações. 

         Desta vez tocou à menina Folha Castanha, era assim que se chamava, juntamente com o vento, anunciar a sua estação. Com um vestido castanho escuro, casaco comprido, castanho de vários tons, longos cabelos ondulados em tons amarelos, castanhos, verdes, roxos, salpicos de várias cores, que voavam com o vento, botas castanhas, e lá vai ela toda vaidosa da sua missão. 

         Os pais e os avós, orgulhosos da menina, até deixaram escapar umas lagriminhas, com um grande sorriso. Estala os dedos e chega à primeira cidade, um trânsito infernal, carros e mais carros, buzinas, pessoas a correr, com caras sem sorrisos, irritadas, ao telefone, aos gritos umas com as outras, a mexer nos telefones, nem repararam na chegada dela. A Folha Castanha fica triste: 

- Apetecia-me cobrir esta cidade e esta gente toda de folhas que batessem na cara deles, ou que os colassem ao chão, para ver se paravam um minuto e reparavam na minha chegada! 

        O vento dá uma gargalhada: 

- Achas mesmo que iam reparar em ti? Santa inocência de criança! Não reparam em quem vai à frente do nariz deles, quanto mais... 

- Onde é que eles deixaram o sorriso? 

- Não sei, em casa...! Se lhes desses dinheiro ias ver. 

- Não tenho nada a ver com dinheiro. Essa não é a minha missão. 

- Filha, esquece lá essas coisas boas, e faz o teu papel. Não te chateies com isso, eles não vão mudar. 

        A menina fica triste, todos passam indiferentes por ela. Ela fica irritada. 

- Vento, sopra aí bem forte, para ver se acordam. 

- Olha que eles vão ficar ainda mais irritados!

- Problema deles, eu também estou irritada por terem passado indiferentes. 

- Achas que eles sabem quem tu és? Claro que não. 

- Sopra aí rajadas de vento, por favor. 

- Está bem! 

        O vento sopra forte, e a menina caminha pelas ruas. Quando passa por árvores, cai uma chuva de folhas em cima das pessoas que passam, e ela sorri. As pessoas encolhem-se com o vento gelado, e assustam-se com as folhas que caem, fazem redemoinho à volta delas, e sobem do chão para a cabeça, como se estivessem a enrolá-las. As pessoas gritam, assustadas, sacodem-se, abanam-se, para tentar livrar-se das folhas. 

- É para ver se param 1 minutos, e veem que eu cheguei! Outro minuto para pôr um sorriso na cara. - comenta a menina a rir 

        A menina ri à gargalhada, ninguém repara nela, ela manda nuvens carregadas, escuras, que tapam o sol, o vento fortíssimo, que quase as empurra para trás, a menina aplaude o vento: 

- Boa, vento! Isso mesmo. 

        É folhas a rodopiar por todo o lado, a cair em cima das pessoas, umas já secas, outras frescas, que vão ficar molhadas com a chuvada que a menina manda. Aí sim, todos procuram abrigos debaixo das portas dos prédios, fogem, tentam abrigar-se debaixo das árvores, em cafés, nas paragens de autocarro, onde podem. 

        Como todos pararam, ela desfila sem se molhar, a sorrir para todos, que ficam espantados. Uma senhora com alguma idade, da aldeia da menina Folha Castanha, comenta: 

- Chegou o Outono! 

- Começa hoje? - pergunta jovem

- Começa! E veio carregado de vento, chuva...promete! O Outono é mesmo assim, mas tem a sua beleza. Todos deveriam parar uns minutos por dia e apreciá-lo! Devia ser obrigatório. - diz a senhora  

- O Outono é triste! - comenta outra jovem 

- Não é nada! Isso são ideias da vossa cabeça que só vê computadores e correria à frente. - comenta a senhora

- Pois é! Tem razão, andamos sempre a correr, nem reparamos no que há de bonito à nossa volta! - concorda outra jovem 

- Mas hoje é apenas o primeiro dia, ainda têm muitos dias de Outono pela frente, que devem apreciar. E andar com guarda chuva, algum agasalho porque o tempo é instável. - diz a senhora 

- Pois é! 

        A menina ri-se e aplaude. Para compensar, por terem parado algum tempo para se abrigar, todos olham para ela, ela transforma folhas que estão a cair em borboletas, que beijam as caras das pessoas, e estas sorriam, parece que ficam hipnotizadas por aquela beleza que nunca tinham visto.

- Áh! Que lindo, pareciam folhas, afinal são borboletas... - suspira uma jovem a sorrir 

- E dão beijinhos quando batem na nossa cara! - diz outra a sorrir 

- Nunca tinha visto nada assim, mas é maravilhoso! Se acontecer outra vez este fenómeno, vou ver e fotografar. - comenta outra 

- Realmente, acho que nunca aconteceu! - comenta outra pensativa 

- Ou se calhar já aconteceu, mas vocês é que nunca viram. - diz a senhora 

        A menina ri à gargalhada, e sopra as nuvens para o sol aparecer outra vez. As pessoas olham com mais atenção para as árvores, deliciadas com o bailado das folhas que caem, e outras que se transformam em borboletas. 

        A menina vai para outra cidade, acontece o mesmo, ninguém repara nela, e ela faz o mesmo, até que se lembram que chegou o Outono. Percorre várias cidades, e deixa a sua presença bem marcada, mas nessas, alguém a reconhece, as pessoas com mais idade, com o seu andar vagaroso, os olhos a apreciar a Natureza, que lhe sorriem e dizem: 

- Bem vinda, Outono! 

        Ela sorri, e envia as folhas em forma de borboletas, que voam e dão beijinhos. Essas pessoas riem, e ficam maravilhadas. 

Esta era a missão da menina diferente! 


                                                                    FIM 

                                                                Lara Rocha 

                                                            24/Setembro/2023 

E vocês apreciam o Outono? 

Como sentem a sua chegada? 

O que veem de diferente? 

Podem deixar nos comentários, se quiserem 


        

   

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Sai do espelho


- Sou adolescente, estou sempre a olhar para o espelho, e a ver como sou imperfeita, o que tenho de menos bonito, a comparar-me com as outras, a querer mudar o que sou. Até que o meu espelho gritou-me:

- Menina, sai daqui!

- Estás a mandar-me embora? Mas que indelicado. Já estás farto de me ver, é?

- É!

- Mas é o teu papel, mostrar o que sou, permitir que me veja se estou bonita, feia, cheia, palitinho.

- Porque estás a fazer isso comigo?

- Porque tu não és a imagem que vês em mim, em mim só vês o teu exterior, e comparas-te com outras, que eu nem sequer conheço, nem quero! Estou cansado de te ver tempo sem fim à procura da perfeição, de defeitos que achas que tens, e de coisas para mudar.

- Mas todas fazem isso!

- Deixa as outras, não quero saber das outras. Não és boneca, nem existem bonecos, não és sereia, fada, princesa, modelo...fantasia! Nada disso existe no teu mundo, naquilo que és!

- Todas e todos queremos ser como as bonecas, as sereias, as fadas, as princesas, as modelos.

- Mas não são, e ainda bem! Porque é que querem ser como elas? Para quê? Para não sentirem nada, para nem sequer se abraçarem, nem sonharem, nem comerem, e muito mais que vocês fazem?

- Era bom, assim não engordávamos, nem éramos postas de lado só porque temos defeitos. Não sofríamos.

- Que ideia mais irrealista! Não sabes se não sofrem. És apenas um ser humano, sois todos seres humanos, tendes muitos comportamentos que realmente parecem bonecos, mas não têm noção disso, nem como isso dói.

- Então o que é que somos?

- Sois apenas seres humanos! Bebés, crianças, adolescentes, adultos. Meninas, meninos, perfeitos como são! Tu és perfeita como és!

- Que simpático! Eu olho para mim, só vejo defeitos, não vejo nada de perfeito.

- Isso é mania tua! Mania das outras, dos outros. Não tens de ser sereia, fada, princesa, modelo, para seres perfeita, nem os meninos, rapazes ou homens, têm de ser perfeitos! Não são. Nunca foram, nunca serão, e ainda bem, se fossem perfeitos, eram outra coisa qualquer, menos pessoas, e seres humanos. Para quê correr e procurar a perfeição, se já somos perfeitos? Sim, somos mesmo! Porque o corpo perfeito é aquele com que nascemos, o que demorou nove meses a ser construído com amor e é perfeito, como é! Com todas as suas imperfeições, que te permitem na mesma fazer tudo o que precisas, queres e aprender a desenvolvê-lo.

- Demorou nove meses a ser construído?

- Claro, é o tempo que demora um pedacinho de gente a formar-se, a crescer, a desenvolver, a crescer, até nascer, com tudo o que precisa para viver fora das barrigas das mães. Deixa para lá a sereia no mundo dela, ela nasceu como é, diferente de ti, vive nas águas. Não tenhas inveja das fadas, elas são lindas, são assim, mas deixa-as livres para serem apreciadas. Não queiras ser princesa, elas vivem nos castelos mas não são felizes como tu podes ser. As modelos parecem perfeitas, acham-se perfeitas, apreciam-nas como tal, mas não têm nada de perfeito! Aquela magreza doentia, passam fome, sofrem! Achas que isso é ser perfeito? Sofrer, passar fome para parecer o que não se é? Essas passam fome porque querem, porque vivem na ilusão do que não existe! Mas se fossem aos países onde há realmente fome, achas que elas quereriam ser magras? As pessoas que passam fome, porque são pobres, achas que estão preocupadas com a perfeição dos corpos, desnutridos? Eles querem é comida.

- Nunca tinha pensado nessa.

- Áh, pois é! Escolhe ser como és, porque és perfeita, os outros são perfeitos nas suas imperfeições que não valem nada! É tudo ilusão da vossa cabeça. Tu tens um corpo perfeito, se ele é saudável, se te permite ver, ouvir, sentir, cheirar, abraçar, dar as mãos, beijar, sorrir, falar, caminhar, cantar, pensar, dançar, aprender, amar à tua maneira, sonhar, brincar. Achas que que quem tu pensas que é perfeito, aprecia isso, ou está preocupado com isso? De certeza que não é feliz, só quer é mostrar o que não é, para provocar inveja em quem vê. Para quê? Isso é perfeição? Claro que não! Nem sequer se acham perfeitos, é tudo ilusão!

- Faz sentido o que dizes!

- Vivem de aparência, achas que isso é perfeição, é bom?

- Não sei, mas...talvez não!

- Podes ter a certeza que não. Se assumissem as suas imperfeições, não estragavam o corpo. Não têm nada na cabeça, muito menos para dar aos outros. Enquanto tu, mesmo achando que és imperfeita, podes dar muito aos outros.

- Acho que tens razão.

- O teu corpo, e qualquer corpo é perfeito com as suas limitações. Tens um corpo perfeito enquanto venceres batalhas, monstros, fantasmas, medos! Tens um corpo perfeito enquanto te levantares das quedas, enquanto és um ser único. Tens um corpo perfeito, enquanto percebes que não és igual a ninguém, nem tens de ser. Não tens de mudar o teu corpo, estragá-lo só porque os outros dizem que não és perfeita, perfeito. Claro que és perfeita, perfeito, tal como és, como são! Cada um com o seu corpo perfeito, imperfeito. A perfeição está em aceitar o corpo que tens, agradecer-lhe, respeitá-lo, nas suas perfeitas imperfeições. Por isso, sai daqui, sai dos espelhos, olha para o mundo à tua volta e para os outros, olha para o teu coração e para a pessoa que és. Deixa lá os espelhos.

- Vou pensar no que me disseste! Obrigada!

- Acho bem que pares de olhar tanto para os espelhos, os espelhos que te põem perfeita e mais bonita, são os de dentro, não são estes como eu!

                                                          FIM 

                                                Lara Rocha

                                               (6/Maio/2023) 


Versão poema:


Não és boneca, boneco, sereia, fada, princesa, modelo…fantasia! 

És apenas um ser humano, 

Bebé, 

criança, 

adolescente, 

adulto. 

Menina, 

Menino, 

Perfeita, perfeito como és! 

Não tens de ser sereia, fada, princesa, modelo, para seres perfeita, perfeito! 

Já és! 

Porque o corpo perfeito é aquele com que nascemos, 

O que demorou nove meses a ser construído com amor

E é perfeito como é, 

Com todas as suas imperfeições. 

Deixa para lá a sereia no mundo dela, 

Ela nasceu como é, 

Diferente de ti

Vive nas águas. 

Não tenhas inveja das fadas, 

Elas são lindas, são assim, 

Mas deixa-as livres, 

Para serem apreciadas. 

Não queiras ser princesa, 

Elas vivem nos castelos 

Mas não são felizes como tu podes ser. 

As modelos não são perfeitas, 

Passam fome, sofrem! 

Escolhe ser como és, 

Porque és perfeita, perfeito nas tuas imperfeições! 

Tu tens um corpo perfeito, 

Se ele é saudável, 

Se te permite ver, 

ouvir, 

sentir, 

cheirar, 

abraçar, 

dar as mãos, 

beijar, 

sorrir, 

caminhar, 

cantar, 

pensar, 

dançar, 

aprender, 

amar à tua maneira, 

sonhar, 

brincar, 

fazer tudo o que precisas e queres. 

Ele é perfeito mesmo com as suas limitações. 

Tens um corpo perfeito enquanto venceres 

batalhas, 

monstros, 

fantasmas, 

Medos! 

Tens um corpo perfeito 

enquanto te levantares das quedas, 

enquanto és um ser único. 

Tens um corpo perfeito 

enquanto percebes que não és igual a ninguém, 

nem tens de ser. 

Não tens de mudar o teu corpo, 

estragá-lo só porque os outros dizem que não és perfeita, perfeito. 

Claro que és perfeita, perfeito, 

tal como eles são. 

Cada um com o seu corpo perfeito, imperfeito. 

A perfeição está em aceitar o corpo que tens, 

agradecer-lhe, 

respeitá-lo 

nas suas perfeitas imperfeições. 


Lara Rocha

(6/Maio/2023) 



Amor rima com cor

Amor rima com cor, 

quando o amor não rimar com cor,

não é amor. 

Amar, rima com respeitar, 

Quando amar não rimar com respeitar,

Não é amar. 

Amor rima com cor, 

Cada um tem a sua cor, 

Mas a palavra amor 

Não tem cor, 

Nem sofrimento, 

Nem dor. 

Tem muitas cores, 

A cor de cada um, 

E todas cabem na palavra amor. 

Amar, rima com

Abraçar, 

Beijar, 

Brincar, 

Sonhar, 

Cantar, 

Dançar. 

Todos podem dar as mãos e participar. 

Vamos lá todos entrar

Nesta dança que é o amor, 

Cada um com a sua cor 

Pode escrever a palavra Amor


Lara Rocha

(19/4/2023) 


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Os sapos e a festa da chuva

 


      Era uma vez uma grande quinta, numa aldeia onde já não chovia há muitos meses, só havia calor, sol, nada comum, pois era uma aldeia que costumava ter temperaturas agradáveis, o ano todo.  

       Frio e chuva na sua época, tempo quente no Verão, no Outono e Primavera era instável, tanto chovia como estava sol, mas todos respeitavam a vontade da Natureza. 

       Este ano é que estava um calor fora do normal, tudo seco, a erva dos campos, os riachos onde havia sapos, rãs e peixes, secos em quase todo o caminho, pequenas possecas de água de longe a longe. 

       Até eles estavam a sentir-se tristes, cansados, porque já não aguentavam tão pouco água, às vezes percorriam quilómetros atrás de poças de água, e encontravam, deliciavam-se a refrescar-se, a brincar, a cantar.  

       Mas pouco tempo depois, sentiam saudades de casa e regressavam na esperança de encontrar água, mas infelizmente, o seu desejo não se realizava. 

       O dono, com pena deles, deitava água no local onde estavam, tal como fazia aos outros animais da quinta, eles bebiam com sofreguidão, e sobrava pouca para o resto. 

       Um dia, depois de tanta seca e tanto calor, o seu desejo realizou-se. Acordaram numa manhã, cinzenta, fria, até pensaram que os tinham levado para outro sítio, mas não. Estavam na sua casa, trocaram olhares surpresos: 

- Onde estamos? 

- Na nossa casa, parece-me! 

- Sim, olha ali aquelas flores, e a corte dos animais, a casa do senhor e da família. 

- É! Estou a ver, mas o tempo está diferente... 

- Pois está. 

- Será que dormimos tanto, que nem nos apercebemos da mudança de estação? 

- Não, isso não é possível. 

- Mas ainda ontem estava sol e um calor que não se podia, hoje está cinzento, e frio. 

- Pois é, realmente nem parece o mesmo sítio. 

- Será que vai trazer a nossa tão desejada chuva? 

       Eles disseram o que parecia quase a palavra chave: chuva! De repente, parece que se abre uma torneira gigantesca das nuvens, e descarrega uma tromba de água, litros e litros de chuva, como nunca viram, uma ventania fria e forte. 

       Os sapos nem queriam acreditar. Os donos apavorados, tal como os animais, as flores encolhidas, mas ao mesmo tempo felizes por ter água, a erva a assobiar de felicidade com o vento, e por sentirem a chuva. 

       As árvores um bocadinho assustadas porque o vento fustigava-as, mas estavam a gostar do ar fresco e da chuva, podiam ouvir-se os risos delas, e elas deixavam-se levar, com os seus ramos de um lado para o outro, a frescura entre as folhas, fazia-as estremecer e ao mesmo tempo rir. As flores sorriam felizes, sentiam-se frescas, renovadas, eufóricas com tanta água. 

      Os donos assistiram dentro de casa, assustados, mas agradecidos por finalmente chover, os cães muito quietos e assustados, encolhidos nas casotas, em silêncio, no estábulo a agitação era grande, pois os bichos nunca tinham visto tal coisa.  

       Os sapos levantam as patas para as nuvens e fazem vénias como forma de agradecimento, cantam, dançam uns com os outros, abanam-se felizes. 

       Saltam, chapinham, brincam na água, mergulham, boiam, dão gritinhos de alegria e satisfação, coaxam bem alto, nem se abrigam, abrem as patas como se estivessem a apanhar cada gota de chuva que caía.  

       Num instante, tudo fica ensopado, enlameado, o riacho voltou a ter água até às bermas, como ficavam quando a chuva vinha na sua época, e no tempo normal. 

       O dono grita para eles se abrigarem, mas eles nem o ouvem, continuam numa grande festa, tantas eram as saudades da chuva. Só recolhem às suas casas, quando ouvem um estrondoso trovão que iluminou o céu todo, parecia noite, desenhou raios por todo o lado, e rebentou por todo o lado. 

        Os sapos não sabiam o que era, mas assustaram-se realmente, começaram aos gritos e meteram-se nas tocas. A luz na casa falhou, os cães não param de ladrar, os animais na corte, andam de um lado para o outro nervosos.  

        As árvores entram em pânico porque sabem que os relâmpagos podem ser perigosas para elas, estremecem, juntam os ramos umas às outras, cantam para correr com o medo, abanam-se, soltam um grande grito quando um raio cai na terra aos seus pés, além do barulho que fez, mas suspiram de alívio quando percebem que estão todas bem. 

       A tempestade continua, e os sapos não saem mais das casas, até esta passar, ao fim de dois dias a chover sem parar e a trovejar. Apesar de sentirem medo, depois da festa, estão felizes pela chuva, que mudou a paisagem, souberam que tinham água para muito tempo, e as pessoas da casa, os outros animais também. Já não precisavam de fazer quilómetros atrás da água. 

       Enquanto choveu sem trovejar, os sapos saíram muitas vezes das casas, para apanhá-la, numa grande euforia, gritavam, coaxavam, riam, cantavam, dançavam, saltavam, mergulhavam, brincavam uns com os outros, mas quando começavam os trovões, fugiam o mais depressa que podiam, e ficavam calados, assustados. 

- Abençoada chuva! - diz o agricultor

       Quando o sol regressa, perceberam que as pastagens estavam maravilhosas para o gado, os sapos não cabiam em si de felicidade, sempre que chovia, faziam sempre uma festa, um bailado, com cantares e dançares, muito riso e brincadeira. 

       O que era pó, palha seca em vez de erva, amarela, transformou-se em erva fresca, verde, suculenta, tenra. Pouco depois, voltou a neve, com camadas que nunca ninguém tinha visto, e os sapos ficaram recolhidos, porque estava frio, tal como os outros animais, mas encantados com a paisagem. 

        Tudo é preciso, para a Terra, para nós, e para os animais. 

E vocês festejam quando chove, ou ficam zangados e tristes? 

Para que serve a chuva? 

Sentem medo da trovoada? 

O que fazem para não sentir tanto medo? 

Podem deixar nos comentários. 

Até já. 

                                                FIM 

                                             Lara Rocha 

                                     15/Setembro/2023