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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Os sapos e a festa da chuva

 


      Era uma vez uma grande quinta, numa aldeia onde já não chovia há muitos meses, só havia calor, sol, nada comum, pois era uma aldeia que costumava ter temperaturas agradáveis, o ano todo.  

       Frio e chuva na sua época, tempo quente no Verão, no Outono e Primavera era instável, tanto chovia como estava sol, mas todos respeitavam a vontade da Natureza. 

       Este ano é que estava um calor fora do normal, tudo seco, a erva dos campos, os riachos onde havia sapos, rãs e peixes, secos em quase todo o caminho, pequenas possecas de água de longe a longe. 

       Até eles estavam a sentir-se tristes, cansados, porque já não aguentavam tão pouco água, às vezes percorriam quilómetros atrás de poças de água, e encontravam, deliciavam-se a refrescar-se, a brincar, a cantar.  

       Mas pouco tempo depois, sentiam saudades de casa e regressavam na esperança de encontrar água, mas infelizmente, o seu desejo não se realizava. 

       O dono, com pena deles, deitava água no local onde estavam, tal como fazia aos outros animais da quinta, eles bebiam com sofreguidão, e sobrava pouca para o resto. 

       Um dia, depois de tanta seca e tanto calor, o seu desejo realizou-se. Acordaram numa manhã, cinzenta, fria, até pensaram que os tinham levado para outro sítio, mas não. Estavam na sua casa, trocaram olhares surpresos: 

- Onde estamos? 

- Na nossa casa, parece-me! 

- Sim, olha ali aquelas flores, e a corte dos animais, a casa do senhor e da família. 

- É! Estou a ver, mas o tempo está diferente... 

- Pois está. 

- Será que dormimos tanto, que nem nos apercebemos da mudança de estação? 

- Não, isso não é possível. 

- Mas ainda ontem estava sol e um calor que não se podia, hoje está cinzento, e frio. 

- Pois é, realmente nem parece o mesmo sítio. 

- Será que vai trazer a nossa tão desejada chuva? 

       Eles disseram o que parecia quase a palavra chave: chuva! De repente, parece que se abre uma torneira gigantesca das nuvens, e descarrega uma tromba de água, litros e litros de chuva, como nunca viram, uma ventania fria e forte. 

       Os sapos nem queriam acreditar. Os donos apavorados, tal como os animais, as flores encolhidas, mas ao mesmo tempo felizes por ter água, a erva a assobiar de felicidade com o vento, e por sentirem a chuva. 

       As árvores um bocadinho assustadas porque o vento fustigava-as, mas estavam a gostar do ar fresco e da chuva, podiam ouvir-se os risos delas, e elas deixavam-se levar, com os seus ramos de um lado para o outro, a frescura entre as folhas, fazia-as estremecer e ao mesmo tempo rir. As flores sorriam felizes, sentiam-se frescas, renovadas, eufóricas com tanta água. 

      Os donos assistiram dentro de casa, assustados, mas agradecidos por finalmente chover, os cães muito quietos e assustados, encolhidos nas casotas, em silêncio, no estábulo a agitação era grande, pois os bichos nunca tinham visto tal coisa.  

       Os sapos levantam as patas para as nuvens e fazem vénias como forma de agradecimento, cantam, dançam uns com os outros, abanam-se felizes. 

       Saltam, chapinham, brincam na água, mergulham, boiam, dão gritinhos de alegria e satisfação, coaxam bem alto, nem se abrigam, abrem as patas como se estivessem a apanhar cada gota de chuva que caía.  

       Num instante, tudo fica ensopado, enlameado, o riacho voltou a ter água até às bermas, como ficavam quando a chuva vinha na sua época, e no tempo normal. 

       O dono grita para eles se abrigarem, mas eles nem o ouvem, continuam numa grande festa, tantas eram as saudades da chuva. Só recolhem às suas casas, quando ouvem um estrondoso trovão que iluminou o céu todo, parecia noite, desenhou raios por todo o lado, e rebentou por todo o lado. 

        Os sapos não sabiam o que era, mas assustaram-se realmente, começaram aos gritos e meteram-se nas tocas. A luz na casa falhou, os cães não param de ladrar, os animais na corte, andam de um lado para o outro nervosos.  

        As árvores entram em pânico porque sabem que os relâmpagos podem ser perigosas para elas, estremecem, juntam os ramos umas às outras, cantam para correr com o medo, abanam-se, soltam um grande grito quando um raio cai na terra aos seus pés, além do barulho que fez, mas suspiram de alívio quando percebem que estão todas bem. 

       A tempestade continua, e os sapos não saem mais das casas, até esta passar, ao fim de dois dias a chover sem parar e a trovejar. Apesar de sentirem medo, depois da festa, estão felizes pela chuva, que mudou a paisagem, souberam que tinham água para muito tempo, e as pessoas da casa, os outros animais também. Já não precisavam de fazer quilómetros atrás da água. 

       Enquanto choveu sem trovejar, os sapos saíram muitas vezes das casas, para apanhá-la, numa grande euforia, gritavam, coaxavam, riam, cantavam, dançavam, saltavam, mergulhavam, brincavam uns com os outros, mas quando começavam os trovões, fugiam o mais depressa que podiam, e ficavam calados, assustados. 

- Abençoada chuva! - diz o agricultor

       Quando o sol regressa, perceberam que as pastagens estavam maravilhosas para o gado, os sapos não cabiam em si de felicidade, sempre que chovia, faziam sempre uma festa, um bailado, com cantares e dançares, muito riso e brincadeira. 

       O que era pó, palha seca em vez de erva, amarela, transformou-se em erva fresca, verde, suculenta, tenra. Pouco depois, voltou a neve, com camadas que nunca ninguém tinha visto, e os sapos ficaram recolhidos, porque estava frio, tal como os outros animais, mas encantados com a paisagem. 

        Tudo é preciso, para a Terra, para nós, e para os animais. 

E vocês festejam quando chove, ou ficam zangados e tristes? 

Para que serve a chuva? 

Sentem medo da trovoada? 

O que fazem para não sentir tanto medo? 

Podem deixar nos comentários. 

Até já. 

                                                FIM 

                                             Lara Rocha 

                                     15/Setembro/2023

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