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terça-feira, 26 de maio de 2015

O pára-quedas

Era uma vez um trapezista com uma forma muito estranha, nada parecido com um ser humano, que adorava brincar e fazia malabarismos no anel de um planeta, onde ele construiu o seu quarto.
Da janela ele via o lindo planeta Terra, que parecia hipnotizá-lo…e para onde ele passava muito tempo a olhar, a tentar imaginar como seria, se as pessoas eram como ele, o que comiam, se andavam da mesma forma que ele, e muitas outras coisas.
Embora ele quisesse muito ir à terra, sabia que isso não seria possível, e começava a acreditar que tudo fazia parte de um sonho. E tal como um sonho, ele apenas olhava para a terra, sorria e sonhava acordado, ou de olhos fechados.
Um dia, quando cresceu, deixou de sonhar e de imaginar como seria a Terra, porque pensava que já não tinha idade para sonhar, e para pensar em coisas que nunca iriam acontecer. Nesse dia em que deixou de sonhar, ficou triste, viu-se ao espelho e pareceu-lhe ter mais rugas. As lágrimas caíram-lhe dos olhos mas logo a seguir foi para o seu trabalho.
Nunca tinha dito a ninguém que gostava de ir à Terra, mas havia uma constelação que sabia, mesmo sem ele falar, porque viam-no a olhar pela sua janela, e o brilho nos seus olhos. Uma delas falou com uma nuvem que ia nesse dia para a Terra, e a nuvem sugou-o enquanto ele fazia um malabarismo.
Mas que grande susto. Gritou muito assustado, e a nuvem pede-lhe:
- Pára de gritar! Por favor…estás a deixar-me com dores de cabeça. Aliás…nem sei porque estás a gritar dessa maneira.
- Mas…mas…onde é que eu estou?
- Estás dentro de mim.
- E quem és tu?
- Sou uma nuvem.
- Porque é que eu estou dentro de ti, engoliste-me?
- Sim, engoli-te!
- Porquê? Eu não sou de comer.
- Que conversa tão desagradável. – Murmura a nuvem
- Como é que eu vim aqui parar? Eu estava nos meus ensaios, e de repente…sou assim…
- Sugado!
- Isso.
- Sim, foste sugado. E depois?
- Porquê?
- Porque é que estás a fazer tanta pergunta?
- Então…? Estou preocupado…não sei como vim parar aqui…não sei onde estou… acho que nem nos conhecemos.
- Porque é que queres saber tudo?
- Porque estou assustado.
- Mas não precisas de ficar assustado. Vou levar-te a um sítio que tenho a certeza que vais gostar e onde já querias ir há muito tempo.
- Onde?
- Pensa…!
- Óh…não sei.
- Pensa.
- Em quê?
- No sítio onde já querias ir há muito tempo.
        Ele fica em silêncio, pensativo.
- Na minha infância, há muito tempo atrás queria ir à Terra. Mas isso não passou de um sonho, como aqueles que se tem à noite, onde tudo pode acontecer, e que sabemos que não se realizam. Mas, mas…isso vem a propósito de quê? Estávamos a falar sobre a minha chegada aqui.
- Vais realizar hoje o teu sonho.
- O quê?
- Isso mesmo. Vais à Terra.
- Não pode ser…eu acho que estou a sonhar ou a imaginar.
- Não há idades para sonhar e imaginar. Porque é que deixaste de sonhar e imaginar?
- Porque estava muito ocupado, tinha de treinar muito, e trabalhar. Não podia perder tempo com coisas da infância, que já vai há tanto tempo.
- Não há idades! E o que aconteceu, quando deixaste de imaginar e sonhar?
- Ganhei rugas…e fiquei triste, mas habituei-me.
- Pois…
- Mas tu para onde vais?
- Para a Terra!
- Áhhh!
- E tu também vais. Prepara-te que estamos a chegar, e vou largar-te num pára-quedas em forma de grande manjerico, com milhares de manjericos.
- Mas o que é que tenho que fazer?
- Senta-te nesse pára-quedas e segura-te bem.
- O que é isto tudo aqui?
- São manjericos para largar lá em baixo.
- Manjericos? Huummm… que cheirinho tão bom!
- É para eles usarem numa festança da cidade. Eles também sonham, em qualquer idade, e até acham que os manjericos são enviados pelos deuses da Natureza. As estrelas e o Universo responderam a essa fantasia deles, porque ficam muito felizes e há uma aragem fresca.
- Áh! Que bonito…
- Vê pela janela.
- Uau! É maravilhosa…
- Prepara-te.
- Mas eu vou aparecer nesta figura?
- Não! Logo vês como vais aparecer.
Na terra viram uma nuvem muito escura que voava pelo céu de uma cidade e fazia adivinhar uma terrível tempestade.
- Agora! Boa viagem…até já… aproveita e diverte-te.
Todas as pessoas fugiram para as suas casas.
- Um…dois…três…!
A enorme nuvem abre as portas e uma coisa muito estranha aconteceu, e ninguém percebeu…da grande mancha escura que parecia chuva, em vez de trovões e água, saiu um pára-quedas gigante em forma de manjerico com o rapaz.
- Até já!
- Até já…Obrigado.
- De nada…
- O que é aquilo? – Pergunta o rapaz
Todos ficam a olhar pelas janelas, e vêem o enorme manjerico em forma de pára-quedas. Do pára-quedas soltam-se os nacos de terra com manjericos que se espalham por todo o lado no solo.
O sol abriu e o rapaz aterrou. Viu tudo o que estava à sua volta, cheira tudo, corre, salta, trepa às árvores, faz malabarismos, anda quilómetros, muito feliz, e sorridente, rodopia, dá cambalhotas, toca em tudo, e todos ficam a olhar para ele. Ele solta grandes exclamações de encantado e feliz.

- Que linda que é a Terra! Uau! Isto é mesmo como eu imaginava…isto…não sabia que existia aqui…Ei…tantas casas…eles não estão apertados? Os terráqueos são estranhos! Áh! Que lindo! Huummm…cheira bem. Ei…tantas cabeças ali…Ai, que barulho, são carros? Onde vão tão rápido? Que malucos. E aquelas luzes? Eram as que viam lá de cima? Onde está aquela água? O que é que faz ficar tudo azul?   
Quando as pessoas saem à rua, abrem um enorme sorriso.
- Os manjericos! – Gritam todos
E rezam para agradecer aos céus, porque sempre acreditaram que os manjericos eram mandados por deuses. Guardaram-nos e o rapaz continua a passear.
Umas coisas eram como ele tinha imaginado, e pensado como eram, outras eram muito diferentes! Mas ele adorou tudo. Nenhum ser humano o viu a passear.
Depois de ter visto tudo, a nuvem foi buscá-lo outra vez, e contou tudo o que viu, o que sentiu, o que cheirou. A nuvem ouve-o atentamente e sorri e ri com ele.
- A vida precisa de magia e de sonho…não há idade para sonhar ou deixar de o fazer. – Diz a nuvem
E o rapaz de regresso à sua casa, voltou a ser muito feliz, a brincar, a sonhar de olhos abertos e fechados, e a ficar cheio de energia.
- Filho…acorda! São horas de ir para o colégio. – Diz uma voz feminina
- Óhhh…não! Eu quero estar na minha casa lá em cima… - diz um menino
- O quê? – Pergunta a voz feminina
- Eu vivia lá em cima… tinha um quarto com janela virada para a Terra, e fui sugado por uma nuvem escura que me largou de pára-quedas em forma de manjerico. Ela sabia que era um sonho muito antigo que eu tinha…e o pára-quedas largou manjericos no solo, porque achavam que tinham sido enviados pelos deuses… - conta o menino
A mãe desata a rir e percebe que foi tudo um sonho que o menino teve nessa noite, e sonhou com manjericos porque tinha-os visto no seu jardim, e perguntou como é que eles foram lá parar…disseram-lhe que foram os deuses que mandaram…A vida tem de ter magia e sonho, ilusão e fantasia, sem idade, para nos sentirmos vivos, e fazer o coração bater mais forte de felicidade. Nos sonhos tudo pode acontecer, até ir à lua e fazer malabarismo num anel de um planeta, ou descer de pára-quedas em forma de manjerico.

E vocês? Também sonham? Por onde já andaram?

FIM
Lálá
(26/Maio/2015)



sábado, 23 de maio de 2015

O balão manjerico

desenhado por Lara Rocha 

Era uma vez uma menina que adorava inventar…e aprendeu a inventar com o seu Avô que era também feiticeiro. Os seus pais tinham outros poderes, e a menina tinha o poder de contagiar toda a gente com o seu sorriso feliz e luminoso, e os seus enormes olhos expressivos, azuis.
Ela ajudava o seu avô na criação das invenções, mas um certo dia lembrou-se que queria inventar um balão com uma forma diferente dos balões que todos conheciam.
- Avô maravilhoso…olá! Estás muito ocupado?
- Não, minha querida, entra… estava a terminar uma invenção!
- Uma invenção? Criaste alguma coisa nova?
- Sim…olha… esta piscina para os póneis, pois com este calor os bichos precisam de frescura e água como nós.
- Espetacular Avô. Está ótimo. Eles vão adorar, tenho a certeza!
- Mas o que querias?
- Quero um balão diferente de todos os outros balões que já existem.
- Um balão diferente de todos os outros… mas para voar ou para brincar?
- Para voar.
O avô não estava a perceber para que é que ela quereria um balão diferente de todos os outros. Pensou, pensou, pensou…consultou livros e viu imagens… até que a menina dá um grito. O Avô estremece:
- Ai, filha…que foi?
        Ela dá uma gargalhada:
- Assustei-te Avô? Desculpa, foi sem querer…
- Que grito foi esse?
- Já sei como vai ser o balão!
- O que é que vem aí… - murmura o Avô intrigado! – Então como vai ser?
- Quero um balão, em forma de manjerico! Conheces os manjericos, não conheces?
- Os manjericos? Conheço, claro que conheço.
- Achas que consegues inventar um balão em forma de manjerico? É para voar, e de preferência, que leve mais que uma pessoa, por exemplo, tu, ou a avó, ou a mamã e o papá…!
- Sim, entendi. Vou tentar…
- Queres ajuda?
- Quero…anda cá.
        E o Avô põe mãos à obra. Para ele era fácil, inventar coisas novas e construi-las. A menina segue as instruções do Avô, e vai também ajudando a construir. E numa tarde, o tão desejado balão da menina fica pronto.
Ela está em pulgas…aos saltos de alegria, abraça e beija o Avô.
- Está maravilhoso, Avô. Era mesmo isto. Muito obrigada. Vamos experimentar?
- Vamos.
        E o Avô entra com a menina no balão em forma de manjerico que acabou de construir. É um balão que não voa muito alto, mas levanta um pouco, e de cima eles veem uma paisagem encantadora. Coisas que nunca tinham visto enquanto andavam por baixo, com os pés pousados no chão.
Os animais voadores acharam tão engraçado o balão, que pousaram em cima, a pensar que seria de pano, com muito cuidado, mas não era de pano, era um material mais resistente. Algumas borboletas apanharam boleia e uns passarinhos também, e outros mais atrevidos tentaram morder o balão, pensando que era a sério.
De repente levanta-se um vento muito forte, provocado por uma feiticeira amiga do Avô, que quis fazer uma brincadeira, pois ficou cheia de inveja da invenção do amigo…ela nunca conseguia inventar coisas tão bonitas como ele…! O Avô percebeu logo que era ela.
- Óh não…vento forte! Estava tão bom…
- O que é que estás a fazer, sua pateta? Não vês que estou com a minha neta?
        A feiticeira ri satisfeita ao ver o balão andar sem rumo e rodar, baloiçar.  
- Não sou eu… - diz a feiticeira a rir e a brincar – sou a outra eu.
- Sejas tu ou a outra tu…ou lá quem quiseres…para de fazer abanar o balão…estamos a passear e ver a paisagem, não é para andar de baloiço…
- Eu não quero fazer-te mal…sabes que nunca seria capaz disso…era só para brincar um bocadinho contigo! – Ri - Mas que bela invenção…nunca vi tal coisa!
- É bonito, não é? Foi ideia da minha neta.
- Muito bem. Podes fazer-me um igual, amigo?
- Para que queres um balão igual?
- Para passear…
- E tem que ser igual? Inventa tu um, a teu gosto.
- Mas eu gostei tanto desse! Vá lá…
- Não sei…
- Sim, Avô. Podes ensinar-lhe como fizeste!
- Óh que menina tão querida…sai mesmo à tua mulher. – Ri
- Vá…não sejas tão mazinha…
- Eu gosto da tua mulher…! A sério… - Diz ela irónica
- Nota-se! – Os dois riem
- Mas fazes-me um ou não?
- Sim, faz Avô! Ela é tua amiga, não é?
- É.
- Óh minha princesa…já sou amiga do teu Avô há muitos, muitos anos.
- Áh! Que giro.
- Pronto, está bem…em nome da amizade, eu faço-te um igual…mas pára de brincar com este nosso balão, está bem?
- Está bem… muito obrigada, querido.
        E os dois continuam o passeio. Quando aterram, o Avô e a menina fazem outro balão em forma de manjerico para oferecer à amiga feiticeira do Avô.
Mas na verdade, ela não queria o balão para voar e passear como eles, porque tinha muito medo…era só para pôr os manjericos da sua plantação que ia vender na festa em honra de São João, e chamar a atenção de quem passava, para comprar.
        E foi um sucesso, porque fartou-se de vender manjericos na sua bancada em forma de manjerico, construído com tanto carinho pelo seu amigo.
E vocês?
Gostavam de ser feiticeiros?
Se fossem feiticeiros, inventavam um balão em forma de manjerico ou outra coisa?
Gostavam de ter um balão em forma de Manjerico?
Para quê? Passear ou viver? Ou para guardar os vossos brinquedos…?

FIM
Lara Rocha 
(23/Maio/2015)

A invasão

Era uma vez um jardim de uma casa pequenina, que mais parecia de bonecas, escondida por centenas de árvores que faziam um lindo e refrescante túnel verde, numa floresta. Nessa casinha decorada com muito amor e carinho, vivia uma senhora já com bastante idade, mas muito activa, que estava quase todo o dia fora.
E no seu jardim viviam simpáticas e delicadas fadas nas centenas de flores e nos troncos das árvores, outras viviam por trás de uma cascatinha de água que enchia um lago com patos. De dia andavam pelo jardim e à noite conversavam com a senhora, faziam-lhe companhia, e alegravam-na. A senhora contava-lhes o seu dia, e elas ouviam-na e conversavam sobre muitas coisas.
Ainda ajudavam a senhora que tinha umas mãos muito enrugadinhas mas muito habilidosas, a fazer costuras e lindos bordados, bebiam chás de flores e tomavam conta de tudo enquanto a senhora dormia.
Além das fadas visitavam aquele jardim, gatos vadios e muitas borboletas, pássaros e joaninhas. Aquele jardim era mesmo especial, e a senhora conhecia-o como ninguém, sabia todas as flores, todas as cores, todos os cheiros. Logo que aparecia alguma coisa nova, a senhora identificava.
Um dia, numa noite de Verão, com uma lua gigante, e um céu cheio de estrelas, o jardim estava silencioso, mas foi invadido por umas plantas que ninguém conhecia…pareciam árvores anãs com pernas. Vinham a respirar muito depressa, parecia que fugiam de alguma coisa.
Vinham mesmo a fugir! De um terrível incêndio com chamas devoradoras que despertou todos os habitantes da aldeia vizinha. Essas plantas viviam nesse sítio, que agora estava em chamas, e fugiram. Como estavam um pouco intoxicadas e cansadas, decidiram descansar no jardim da senhora, perto do laguinho.
Os patos ficaram nervosos e agitados porque só viam as sombras, de coisas a mexer… os gatos começaram a cheiras e a miar, rondaram-nos… As fadas sentiram de repente um perfume diferente! Sentiram a agitação dos bichos e foram ver, com as suas lanternas.
- Éh lá…! – Dizem todas
- Temos visitas? – Pergunta a fada de asas amarelas
- É. Parece que sim! – Responde a fada de asas azuis
- O que é isto? – Pergunta a fada de asas brancas
- Parecem árvores pequenas! – Repara a fada de asas vermelhas
- Árvore? – Perguntam todas a rir
- Amiga, desculpa, acho que não estás a ver muito bem… isto são…plantas! – Diz a fada de asas verdes
- Amigas…há um grande incêndio ali… - Grita uma águia enorme que voa agitada à procura de ajuda.
- Incêndio? Óh não, não pode ser… - Respondem todas nervosas
E voam rapidamente, chamam as outras para ajudarem a apagar o incêndio, e as plantas ficam sossegadas até de manhã. Quando as fadas regressam muito cansadas depois da noite a ajudar a apagar o incêndio, voltam a ver as plantas. Estas despertam.
- Ai…que noite! – Comenta a fada de asas verdes, cansada
- Estou toda amassada! – Diz a fada de asas amarelas
- Aqueles malditos… - Gritam todas zangadas
- Espero que estas noites não se repitam muitas mais vezes…ou…mais nenhuma vez! – Diz a fada de asas brancas
De repente sentem um cheiro diferente no ar.
- Esperem… - Diz a fada de asas azuis
- O que foi? – Perguntam todas
- (cheira) Há um cheiro diferente aqui no jardim. – Diz a fada de asas azuis
- Que cheiro? – Perguntam todas
- Fechem os olhos, e tentem reconhecer… - Sugere a fada de asas azuis
Todas fecham os olhos, identificam e reconhecem todos os cheiros, e apercebem-se que realmente há um diferente.
- Áh! Pois há! – Dizem todas
- Não sei a quê! – Diz a fada de asas douradas
- É fresco! Huummm…que bom! – Repara a fada de asas vermelhas
- Pois é! – Concordam todas
- E está aqui bem perto… - Diz a fada de asas rosa
Olham para baixo e vêem as tais plantas.
- São estas plantas. – Repara a fada de asas turquesa
-Áh! Pois são! – Dizem todas
- Esperem…estas plantas não foram as que vimos ontem antes de ir para o incêndio? – Lembra a fada de asas roxas
- Pois são… Ááááááhhhh…! – Lembram todas
- Como é que vieram cá ter? – Pergunta a fada de asas amarelas
- De onde vem? – Pergunta a fada de asas brancas
- Bom dia! – Dizem as fadas
As plantas assustam-se.
- Bom dia… - Dizem eles embaraçados
- Desculpem a invasão.
- Viemos daqui de perto.
- Tivemos que fugir por causa de um incêndio.
- Nós fomos ajudar a apagar esse incêndio. – Diz a fada de asas verdes
- Óhhhh! – Exclamam todos
- É muito triste!
- Sim! É mesmo. – Dizem as fadas
- Podemos ficar aqui, só até recuperarmos…?
- Claro que sim! – Dizem todas
- Aqui vive uma senhora muito boa e querida.
Ela sai a porta e sente o novo perfume tão agradável.
- Huummm…que cheirinho bom! Este cheirinho…é-me familiar…! – Diz a senhora
E segue o cheiro, até às plantas.
- É daqui que vem o cheirinho.
Encontra-se com as fadas.
- Olá…!
- Bom dia! – Dizem todas
- Tem visitas. – Diz a fada de asas roxas
- Ááááhhh…manjericos! – Suspira a senhora com um enorme sorriso
- Áh! Já conhece? – Perguntam as fadas
- Todos conhecemos… Huuuummmm…que bom! Mas como é que vieram aqui parar? ~- Pergunta a senhora
- Fugiram do incêndio. – Diz a fada de asas brancas
- Áh! Que tristeza…
E passa a mão suavemente em cima de cada um deles.
- Instalem-se à vontade! Eu vou para a cidade, mas podem ficar aqui. – Diz a senhora
- Muito obrigado! – Respondem os manjericos.
- Até logo… - Diz a senhora
E vai para a cidade. Os manjericos instalam-se no cantinho que mais gostam, onde sentem que a terra é melhor e mais fresca. As fadas dão-lhes de beber e fazem-lhes companhia.
O seu cheirinho era tão bom, tão diferente e tão concentrado que se sentia de longe, porque eram às centenas, e tudo o que era bicho voador e de quatro patas quis ir ver de onde vinha.
Mas as fadas não deixavam que fossem cheirados, só podiam passar as suas asinhas ou patinhas levezinho e cheirá-las, porque se cheirassem eles murchavam. E aí ficaram.
Ninguém sabe porquê, nem como cheiram tão bem, mas todos gostam do seu cheirinho…há muitas coisas na natureza que não sabemos porque são assim, e porque são tão misteriosas. Deve ser por isso que gostamos tanto delas, existem para encantar e para nos fazer bem ao nariz! Afinal as plantas eram os manjericos, como aqueles que aparecem no São João.
E vocês? Já tiveram manjericos?
Gostaram do cheirinho deles?
Gostavam de os ter no vosso jardim ou em casa?  

FIM
Lálá
(23/Maio/2015)




domingo, 17 de maio de 2015

A PRINCESA VERONA

      


    Era uma vez uma montanha onde viviam quatro princesas com as suas famílias, mas não ficavam lá muito tempo, pois saiam muitas vezes e vagueavam pelo planeta várias vezes por ano: a Princesa Primavera, a Princesa Verona, a Princesa Outonia, e a Princesa Invernia.
 Nessa montanha viviam muitos casais de muita idade, quase todos perto de 100 anos, que eram muito respeitados por todos os mais novos. Muito poucos tinham andado na escola, mas todos tinham uma enorme sabedoria da vida, e encantavam os mais novos que os visitavam todos os dias com tudo o que eles ensinavam. Saiam de lá cheios de alegria e de novas aprendizagens.
Eram senhores fantásticos, muito simpáticos, bem-dispostos, brincalhões, com um espírito muito jovem, apesar de muita idade e sabiam tudo sobre a montanha, as estações do ano e as mudanças de tempo.  
Numa noite de Junho, muito quente, a princesa Verona ainda não tinha chegado, mas a Dona Márcia já tinha visto que ela estava para chegar, pois, não conseguia dormir, e levantou-se para ir à beber água, foi á janela, e estava outra amiga sua, Dona Isabel, vizinha do lado à janela:
- Ei, boa noite…! – Diz Dona Márcia
- Boa noite amiga. Estás acordada a esta hora? – Perguntou Dona Isabel
- Sim, está tanto calor que não consigo estar deitada…fui beber água a ver se refrescava, e tu?
- Eu também estou a derreter. Ufa! Que calor…
- A princesa ainda não chegou, mas parece que já está aqui cheia de força.
        As duas olham para o céu:
- Que bonito que está o céu! – Suspira Dona Márcia
- Está mesmo. E este ano, a princesa Verona vem a cavalo. – Anuncia a D. Isabel
- A cavalo? – Pergunta Dona Márcia
- É. Olha para ali. – Diz Dona Isabel
   Viram uma constelação de estrelas brilhantes, pareciam estar muito próximas da terra, mas não estão…e lindas, em forma de cavalo, com a silhueta de uma mulher montada no cavalo também feita de estrelas.
    Ela tinha razão…pouco depois, a constelação começa a mexer e o cavalo anda. Os longos cabelos da mulher que estava montada no cavalo também mexem e cintilam ainda mais, parece que vão ao sabor da brisa, sem pressa.
- Sim! – Dizem as duas
- É mesmo ela! – Confirma Dona Márcia a sorrir
- Que linda! – Diz Dona Isabel
- Boa viagem… - Dizem as duas
- Até breve! – Diz Dona Márcia
  A constelação mulher sorri, e move-se lentamente. As duas senhoras apreciam maravilhadas, e ficam tão felizes que nessa noite não dormem mais. Juntam-se no terraço da casa da Dona Isabel e tomam um chá na varanda a conversar alegremente até quase de manhã.
        No dia seguinte, as duas espalharam logo a boa novidade pelos outros amigos, embora não tivessem acreditado muito que a princesa este ano vinha a cavalo. Mas tiveram a certeza, quando se juntaram nessa noite, e viram que a constelação já não estava no mesmo sítio, mas ainda não tinha andado muito. Já estavam ansiosos com a sua chegada!
- Ontem estava ali, hoje já está aqui! – Mostra Dona Isabel
- Mas que linda que ela vem este ano! – Comenta um senhor
- Porque será que veio a cavalo este ano? – Pergunta outro senhor
- Não sei! – Respondem as duas
- Quis variar. – Diz outro senhor
- Maravilhosa! – Comenta outro senhor
       E como não conseguem dormir, com o calor, passam a noite entre amigos, na eira à frente das casas, a tomar chá, sentados em colchões no chão, a fazer concursos de cantorias e rimas, com muitas gargalhadas e aplausos e ainda viram o sol nascer.
       Já estavam habituados a que fosse assim, e até gostavam, pois pelo menos estavam juntos e felizes. Nos dias seguintes, a constelação mexeu-se um pouco mais, e mudou de sítio, até que alguns dias depois, desapareceu, e chegou a princesa Verona.
   Quando chegou a princesa, só as duas amigas estavam acordadas, depois de uma noite com os amigos, que já se tinham ido deitar. Viram a princesa sair do seu cavalo, antes dos primeiros raios de sol, do dia 21 de Junho, e desfilar muito levemente, parecia que estava a flutuar.
- Olha…lá vem ela! – Diz Dona Márcia sorridente
- Leve e linda como sempre! – Diz Dona Isabel
- Olá Verona! – Dizem as duas senhoras
    Verona sorri-lhes, e vem vestida de forma ardente, quase sem roupa, cheia de luz, brilho e sempre que se mexe, espalha salpicos de sol com estrelinhas que causam alegria, sorrisos e risos nas pessoas.
       Mais ninguém viu a linda e ardente princesa Verona a chegar no seu cavalo de estrelas, mas todos acabam por saber que ela já chegou, porque os salpicos de sol que ela espalhou, caem sobre todas as cidades por onde ela passou.
  As pessoas ficam mais felizes, entusiasmadas, andam mais tempo ao ar livre, fora de casa, procuram logo as praias para estar perto do mar à fresca, fogem mais para as montanhas porque lá há mais sombra e o ar é mais fresco, procuram mais as fontes de água, e andam quase sem roupa.
        É sempre muito bem recebida, a princesa Verona, e fica connosco até a próxima Princesa…Outonia chegar.
E vocês?
Já viram esta princesa chegar? Como é que ela chegou?
O que trouxe?

FIM
Lálá
(17/Maio/2015)



A ESTRELA, A LUCINHA E OS AMIGOS

      Era uma vez uma menina que se chamava Lucinha. Vivia numa grande casa de pedra, numa montanha muito longe da cidade, com os seus pais e tinha uma família enorme. Mesmo com tanta gente à sua volta, ela sentia-se muitas vezes sozinha.
Queria ter muitos, muitos mais amigos, como tinham a sua mãe e a sua Avó. Fartava-se de pedir às estrelas que lhe dessem novos e bons amigos, mas até ao momento ela continuava sem ter novos e bons amigos.
Uma noite, em que Lucinha voltou a pedir às estrelas, muitos mais amigos, uma estrela quis dar-lhe a lição que ela precisava de aprender sobre o que é ser amigo, e quem são os amigos. Resolveu brincar um bocadinho com a situação, que ela sabia que era ilusão da menina, e deu-lhe uma ideia:
- Põe cerejas no cabelo, e não te vão faltar amigos.
        A menina achou um pouco estranha aquela sugestão, mas no dia seguinte fez isso. Arranjou pezinhos de belas e atraentes cerejas, e pôs no seu cabelo, presas com ganchos. As suas primas ficaram encantadas com aquela novidade e como eram vaidosas, fizeram o mesmo.
        Não demorou muito e era só pássaros à sua volta, mas para devorar as cerejas. Eles eram atraídos pelas cerejas e num instante comeram todas as cerejas, enquanto elas brincavam, distraídas.
Elas tinham visto muitos pássaros naquela zona, mas não pensaram que eles andassem à sua volta por causa das cerejas que tinham nos cabelos. Nem se lembraram que tinham cerejas no cabelo.
Quando repararam umas nas outras, não tinham uma única cereja…só os pauzinhos das cerejas que estavam presas nos ganchos, de resto tinha desaparecido tudo: as cerejas e os caroços. Elas ficaram muito tristes e zangadas.
Começaram aos gritos e a tentar chutar todos os pássaros que estavam com o papo bem cheio de cerejas. Tão cheio que quase nem conseguiam voar.
- Porque é que comeram as nossas cerejas? – Pergunta a Lucinha
- Xô daqui para fora…seus comilões… - Grita Mimosa
- Gulosos. – Resmunga Leninha
- Atrevidos! – Gritam todas
- Estavam capazes de nos comer os cabelos. – Comenta Lúcia
- Desculpem…! – Dizem os pássaros
- Estávamos com muita fome e sede… - Explica um pássaro
- Vimos estas cerejas tão bonitas… - Diz outro pássaro
- Não resistimos! Comemos… - Confessa outro pássaro
- Só deixaram os pauzinhos… - Repara Carlinha
        Elas tiram os ganchos, zangadas.
- Para que é que me mandaste pôr cerejas no cabelo, óh estrela aí em cima? – Pergunta Lucinha muito zangada
- O quê? – Perguntam todas as primas
- Uma estrela ontem disse para eu pôr cerejas no cabelo para arranjar novos e bons amigos! – Conta Lucinha
- E arranjaste…os pássaros! – Diz a voz da estrela
- Mas que grandes amigos…comeram-nos todas as cerejas. Estavam capazes de nos comer a cabeça e o cabelo. – Resmunga Lucinha
- Amigos desses não precisamos. – Acrescenta Leninha
- Pões raminhos de cerejas na tua janela. – Sugere a estrelinha
- E se eles sujam a janela toda? – Lembra Mimosa
- A mamã não vai gostar nada! – Diz Lúcia
- Não! – Confirma Carlinha
- Olha…estrela, porque é que não me mandas amigos de carne e osso, como eu…em vez de pássaros? É isso que eu quero? – Pergunta a Lucinha
- Porque os amigos não se mandam assim. Não sou eu, nem nenhuma estrela que vai trazer-te amigos… tu e o teu coração é que vão escolhê-los. – Explica a estrela
- Mas… - Diz Lucinha
- Isso mesmo! – Confirma Lúcia
- Não é justo. – Resmunga Lucinha
- É justo sim! Vais ver… Os únicos amigos que te posso mandar são os sonhos bons, fazer-te companhia, livrar-te dos pesadelos e ajudar-te a realizar alguns desejos. Mas este que me pedes, não posso realizar! És tu que os escolhes. - Diz a estrela
- Acho que a estrelinha tem razão, prima. A minha mãe diz o mesmo. – Comenta Leninha
- Óh! – Diz a Lucinha desanimada
- Não fiques triste comigo… - Pede a estrelinha
- Para que queres mais amigos, prima? – Pergunta Mimosa
- Vocês têm tantos…eu também queria ter. – Responde Lucinha
- Não…só temos meninos conhecidos, e interesseiros. – Comenta Carlinha
- Aqueles que são nossos amigos, só porque temos uma casa grande, e vivemos num sítio com ar puro…só brincam connosco quando querem receber coisas de graça. – Acrescenta Leninha
- Não são amigos. Nós, primas, é que somos as verdadeiras amigas umas das outras. – Diz Mimosa
- A minha mãe também diz isso. – Acrescenta Lúcia  
- Não interessa o número de amigos que temos…interessa a qualidade. – Lembra Carlinha
- Eu e as minhas manas temos muito poucos amigos, mas sabemos que são bons, e são sempre nossos amigos. – Comenta Leninha
- Como é que sabem? – Pergunta Lucinha
- O nosso coração é que nos disse que eles eram e são os nossos bons, e verdadeiros amigos, mas só são 3 ou 4. – Responde Mimosa
- Pois! – Concorda a estrela
- Mas o meu coração não me diz nada…sou amiga de todos, gosto de quase todos. – Diz Lucinha
- E podemos gostar de muita gente, mas há uns meninos e meninas que são mais especiais para nós. São esses os nossos verdadeiros e bons amigos. – Responde Carlinha
- Sim! – Respondem todas
- Isso mesmo. – Concorda a estrela
- Então…acho que tenho alguns amigos verdadeiros… e bons. Mas eu queria ter mais. – Diz Lucinha
- Quase nunca se tem muitos, quando são os amigos verdadeiros. Mas esses muito poucos estão sempre lá…para darem um bocadinho deles a nós, e receberem algumas coisas que lhes damos. – Explica a estrela
- Áh! Percebi. – Reconhece Lucinha
- A mamã tem sempre razão. Foi ela que nos disse! E nós aprendemos. – Diz Mimosa
- Pois é! – Dizem todas
- Os animais são os únicos amigos que te posso mandar, pequena! – Diz a estrela
- Obrigada! – Diz a Lucinha
- Os animais também são nossos amigos! – Diz Leninha
- Pois são! – Dizem todas
- Amigos são aqueles que não querem saber das nossas coisas materiais. – Diz Mimosa
- Amigos são aqueles a quem não lhes interessa os brinquedos que temos, e que brincam connosco só porque são giros. – Diz Lúcia
- Isso mesmo! São amigos, aqueles que querem estar connosco, brincar connosco, e não se importam de partilhar.
- Pois! – Diz a estrela  
- Então…eu tenho alguns bons amigos. Acho que não preciso de mais. – Diz Lucinha
- Poderás vir a ter muitos mais, mas nem todos serão esses especiais. – Diz a estrela
- Entendi. Eu gosto muito dos amigos que tenho! – Diz Lucinha
        E a Lucinha aprendeu uma coisa muito importante com a estrela…que os amigos não se pedem…escolhem-se pelo coração. E voltam a brincar umas com as outras, os pássaros não deixam mais aquele sítio, porque elas deixam todos os dias cerejas para os pássaros, para eles não comerem as melhores.
        E vocês? Sabem quem são os vossos melhores amigos?
São muitos ou poucos?
Como é que sabem que eles são vossos amigos verdadeiros?
        Lembrem-se: os verdadeiros amigos podem não ser muitos, mas são os que nos dão as melhores coisas do seu coração, e não os que nos dão muitas coisas falsas.

FIM
Lálá
(17/Maio/2015)