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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O desfile das abóboras

















fotos de Lara Rocha 

Era uma vez um enorme campo, numa montanha, onde viviam muitas famílias de belas abóboras, umas maiores, outras mais pequenas, e cabaços, e todos os anos faziam concursos, desfiles e encontros entre abóboras que vinham de todo o lado, uma ótima oportunidade para passarem um dia diferente, e conviverem, estarem mais tempo umas com as outras, e divertir-se.  
Este era um desfile, onde as abóboras se vestiam de tudo o que quisessem, uma espécie de Carnaval, e no fim, o prémio para todos era um magusto.
Ainda faltavam alguns dias para o maior de todos, mas já se sentia uma grande euforia, e muita agitação, desde que todas tinham recebido o anúncio da festa.
Uns dias antes, cada família de abóboras preparava cuidadosamente os fatos que queriam vestir, as abóboras costureiras não tinham mãos a medir, para apertar, alargar, cozer e fazer novos fatos.
As abóboras cozinheiras também já preparavam todos os pratos que iam servir, reuniam todos os ingredientes, corriam de um lado para o outro, para encontrar os melhores.
As abóboras decoradoras idealizavam, desenhavam, construíam, experimentavam, e misturavam cores, para tornar o espaço mais bonito, e agradável. Tinham realmente muito gosto e jeito.
Os cabaços carpinteiros também preparavam tudo, trabalhavam muitas mais horas do que o habitual para pôr tudo como devia ser, cadeiras, mesas, palcos, escadas, prateleiras, e tudo o que fazia parte.
O grande dia chegou finalmente. Ao fim da tarde, com um céu em tons de roxo, e a ameaçar chover, as famílias começaram a reunir-se, no espaço, que parecia um palácio.
Estavam encantadas com as decorações. Havia música, muitos abraços, beijos e gargalhadas, mas o melhor de tudo eram os disfarces que cada um tinha arranjado.
Umas abóboras vestiram-se de estrelas com vestidos e saias de tecidos brilhantes, douradas, prateadas, lantejoulas de várias cores, que tornavam a roupa ainda mais brilhante, maquilhagem a condizer, e sapatos, as folhas todas arranjadas e lindas.
Outras abóboras iam vestidas de sereias, com longas cabeleiras e vestidos muito compridos, a imitar caudas, brilhantes, cheias de cores. Outras abóboras iam vestidas de flores de várias espécies, outras de animais de toda a espécie, outras de nuvens, outras de bolas de sabão, outras de vulcões, outras de elementos e fenómenos naturais, expressões faciais, outras de legumes, e outras de utensílios de cozinha.
Os petiscos estavam deliciosos, houve muita gargalhada, e com as barriguinhas bem cheias, não faltou animação: primeiro o desfile, em que cada um passava pelo palco, e todos aplaudiam, votando secretamente num papel e numa casotinha, um de cada vez, na farda que mais gostaram.
Depois, todos dançavam à vontade, como queriam, umas vezes sozinhos, outras vezes acompanhados, brincavam, riam, conversavam. E quase de madrugada, faziam o magusto até ao nascer do sol, com muita alegria.
A este desfile com magusto seguiam-se muitas outras festas, às vezes relacionadas com temas, outras vezes para comemorar algum acontecimento importante, outras vezes só para estarem juntos e brincar.
As abóboras adoravam esses encontros! E vocês?
- Conseguem imaginar abóboras disfarçadas? Abóboras costureiras, abóboras cozinheiras?
- Se vocês fossem uma abóbora, que disfarce levariam para o desfile?
- Se vocês fossem uma abóbora, o que festejariam com as outras abóboras?
Imaginem, e se quiserem escrevam ou desenhem.

Fim
Lara Rocha 
(31/Outubro/2016)


O espantalho muito pretendido




Era uma vez um espantalho que vivia num campo onde havia muitas abóboras, carnudas, grandes e enormes, lindas, que dava mesmo vontade de comer. Os cães tomavam conta dele, e não deixavam ninguém tocar-lhe ou roubá-las. Ladravam sem parar, rosnavam e atiravam-se se fossem teimosos. Uma vez, uns pássaros tentaram comer uma abóbora, e tirar palha do espantalho para construir ninhos.
- Fora daí…! Au…Au…au… - Gritavam os cães
- Deixa o espantalho! – Gritava outro cão
- As abóboras não são para vocês…ponham-se a voar daqui para fora. – Rosnou outro cão.
- Óh…por favor…eu preciso de palha e erva para fazer um ninho! – Pediam os passarinhos
- E eu preciso de palha para cobrir os meus filhos nos ninhos, aquecê-los…por favor…deixem-nos levar daqui um bocadinho de palha! – Implora outro passarinho.
- Não pensem que essa vossa história nos comove. Fora! – Gritou outro cão
- Há muita palha e erva por aí! Nesta não tocam! – Acrescenta outro cão.
Os passarinhos levantavam voo, tristes, e tentavam voltar para roubar palha, mas os cães estavam sempre atentos e rosnavam e ladravam, perseguiam-nos até que eles saíssem do campo.
- Teimosos! – Resmungavam os cães.
- Voltaram? – Pergunta um cão a rosnar
- Querem ser a nossa refeição? – Pergunta outro cão
- Vá lá! Só um bocadinho…por favor! – Pediam os passarinhos
- Não! – Gritam os cães
- Da próxima vez que voltarem, vão ser o nosso jantar, ou dos nossos donos. – Resmunga outro cão ameaçador
Os passarinhos lá iam procurar palha para outro lado, mesmo assim às vezes ainda tentavam aproximar-se, só que rapidamente eram corridos. Mas não eram só os passarinhos que queriam comer a palha do espantalho.
Os burrinhos e os cavalos também tentavam comer a palha mais baixa, a dos pés e pernas do espantalho, que era onde chegavam melhor. Os cães não deixavam. Ladravam, rosnavam e corriam atrás dos cavalos e dos burrinhos, que fugiam muito assustados e só paravam quando sentiam que estavam seguros, longe dos cães.
Às vezes a vontade dos cavalos e dos burrinhos comerem a palha do espantalho era maior do que o medo e do que os cães, por isso, voltavam a tentar várias vezes, mas os cães não deixavam.
- Fora daqui! – Gritavam os cães a ladrar muito irritados
- Teimosos. – Resmungavam
- Esta palha não é para comer… - Relembrava outro cão
Os burrinhos e os cavalos tentavam de várias maneiras conquistar a amizade dos cães, para ver se tinham sorte, e se estes os deixavam comer a palha que eles tanto queriam, mas não adiantava nada…! Os cães não caiam!
Numa noite, uma bruxa sobrevoou o campo na sua vassoura:
- Áh! Mas que beleza de espantalho! Vais ser meu…ih, ih, ih, ih, ih, ih, ih…ih, ih, ih… - comenta a bruxa
Os cães ficam muito atentos, e agitados:
- Que coisa é aquela que está ali parada? – Pergunta um cão
- Acho que…não sei…! – Responde outro cão
- Tem um aspeto assustador! – Diz outro cão
- É uma bruxa! – Reconhece o espantalho
Os cães ficam muito agitados e assustados, juntam-se mais à volta do espantalho com os dentes de fora, a rosnar, mas a bruxa não teve medo, deu umas sonoras gargalhadas e adormeceu os cães agitando a sua vassoura, antes que eles tivessem tido oportunidade de defender o espantalho.
- Óh! Não acredito! O que aconteceu aos bichos? Costumavam proteger-me e agora deixam-me ir com este ser que não conheço! Ai…ela vai dar cabo de mim! Maldita. – Diz o espantalho muito assustado
A bruxa leva o espantalho consigo, levantando voo às gargalhadas, toda satisfeita. Já no seu buraco onde vivia, a bruxa tinha algumas dezenas de espantalhos.
Ela tentou destrui-lo e transformá-lo em mau, mas os outros espantalhos que ela já tinha lá, gostaram tanto deste que não deixaram que ela lhe fizesse mal.
Um dos espantalhos adormeceu a bruxa com um sopro muito mal cheiroso, que ela própria lhe tinha dado, e assim conseguiram todos fugir para o campo de onde tinha sido levado o espantalho, que estava cheio de abóboras iluminadas, e onde todos festejaram toda a noite.
De manhã todos dormiram no campo, em cima de molhos de palha, sem ninguém dar por eles. A bruxa não desistiu, estava louca de fúria, tentou várias vezes atacar o campo e destruí-lo, mas a união dos espantalhos que tinham ganho alguns poderes, evitou que a bruxa conseguisse vencer as suas maldades.
Ela ficou muito irritada, frustrada, e surpresa, porque achava que era muito poderosa e afinal estava a ser vencida por espantalhos que tinha transformado para serem seus escravos.
E as festas continuaram!
Fim
Lálá
(30/Outubro/2016)


O espantalho medroso


        Era uma vez um espantalho que vivia num campo de produtos alimentares, em cima de um pequeno armário onde se guardavam os cereais como milho, trigo, centeio e outros. Além dos produtos, o campo tinha enormes girassóis.
O espantalho era de palha, estava vestido, calçado e tinha sido levado para o campo há muitos pouco tempo. De dia gostava de estar lá, do sol, das cores, tinha sempre a companhia das pessoas, ouvia muitos barulhos diferentes, mas logo que escurecia e as pessoas voltavam para casa, ele ficava mais triste, e quando era noite, ficava muito triste.
Sentia-se muito sozinho, o mais pequeno barulho assustava-o, porque todos lhe eram desconhecidos, e não conseguia ver nada. Ele quase nem se mexia com medo. Não segurou mais as lágrimas, e soluçou, mas parou quando um gato foi com as suas patinhas de lã, muito levezinho pelo campo fora a farejar.
Quando encontrou o espantalho ele já tinha visto, disse-lhe:
- Boa noite!
O espantalho estremece, fica gelado e responde a medo:
- Ai que susto! Boa noite! Quem está aí? Vai-te embora…não podes comer os cereais aqui do armário…xôôô…
- Ei…! Não estás a ser nada simpático! – Diz o gato
- Não tenho que ser simpático! Tenho de proteger os produtos dos meus donos
- Entendo! Mas comigo não precisas de falar assim…eu sou da casa! Sou um gato, um dos muitos que foram acolhidos por estas pessoas queridas!
- Não foram muito queridas, pelo menos comigo, deixaram-me aqui sozinho, nesta escuridão! – Lamenta o espantalho
- Tu és um boneco de palha, certo?
- Certo!
- Então, a tua função não é assustar ou afastar vadios que queiram roubar ou comer os cereais e essas coisas deliciosas?
- É!
- E tens medo?
- Sim. Está muito escuro aqui! Acho que não me deviam deixar cá fora de noite.
- Mas de noite é que é preciso tomar conta…!
- Porquê?
- Porque de noite é mais fácil roubar ou comer…
- E tu, não tens medo?
- Não! Já estou habituado! Mas diz-me do que tens medo?
- Não há luz aqui! Eu gostava de ter luz! Está muito escuro. E estes barulhos que não conheço!
- Não está tudo escuro; se não eu não te tinha visto, e vejo-te!
- Se calhar já conheces o terreno!
- Sim, mas não é só por isso! Olha para a tua frente…
- Áh! Estou a ver alguma coisa.
- Claro! No sítio onde estás é escuro, mas por cima de ti, e à tua volta há luzes. As da rua, as da casa, a da lua e das estrelas…olha! Ali em cima…aquela bola enorme e as pintinhas todas à volta!
- Áh! Que lindo! Pois é! Nunca tinha visto aquilo.
- Claro! Só se vê de noite. E se tens medo, tudo à noite parece muito mais assustador, há muitas sombras, as coisas parecem transformar-se em gigantes, monstros, criaturas horríveis…tudo fica mais inspirador para a criatura medricas.
- Como é que sabes isso?
- Já passei pelo mesmo.
- Então também já tiveste medo?
- Claro! Toda a gente, e animais incluídos, têm medo! Enquanto não conhecemos os espaços, e as coisas que nos rodeiam, temos medo.  
- E quem é aquela de que falaste? Mora aqui?
- Aquela quem?
- A criatura de que me falaste.
- A criatura medricas?
- Sim!
- É uma criatura que está por todo o lado.
- Como é que ela é?
- Ela está aqui agora. É difícil descrevê-la.
- Onde está? Não vejo ninguém.
- Pois. Mas está!
- Então como consegues vê-la?
- Ela vive na nossa cabeça! É ela que nos faz ter medo! É ela que transforma tudo o que vemos, em coisas horríveis!
- Como é que sabes?
- Também vive na minha…quer dizer…já viveu, mas depois saiu.
- E para onde foi?
- Não sei! Sei que às vezes ainda me vem visitar, mas por pouco tempo.
- Quando tens medo?
- Isso mesmo!
- E de que tens medo?
- De algumas coisas.
- Quais?
- Do que não conheço, de alguns sítios, e de alguns animais.
- Áh! Mas…e estes barulhos?
- Estes barulhos sempre estiveram aqui. São pequenos insetos que cantam! E outros brilham, dão luz. Tu não estás sozinho…
O gato explica-lhe tudo e convida o espantalho a ir dar uma volta pelo campo, para o conhecer, enquanto conversam alegremente um com o outro. O espantalho vai muito assustado, e pára muitas vezes, vai com os olhos muito abertos, e o corpo muito preso.
O gato ri-se e diz-lhe:
- Não precisas de abrir tanto os olhos, deixa-te ir…confia em mim. Aqui não há perigo, podes andar à vontade! Olha os meus amigos…Olá boa noite, malta.
Os outros gatos aproximam-se, o gato apresenta-os, e criam logo uma linda amizade com o espantalho. O espantalho aprende a conhecer muito bem o terreno e fica deliciado a ouvir os barulhos das cigarras e grilos a cantar.
Depois, um outro espantalho, do campo vizinho, também se torna amigo dele, e os dois começam a ter longas conversas um com o outro, e a juntar-se para ver as estrelas, passear pelos campos com os gatos.
Uns dias depois, uma fada dos campos ofereceu uma luzinha a cada espantalho, pendurando-a no seu pescoço, e pôs outra luz maior aos pés de cada um.
O espantalho vizinho apresenta outros espantalhos, de outros campos, e encontraram-se muitas vezes para conviver. Com a amizade que o espantalho criou, com os gatos e com os espantalhos, nunca mais se sentiu sozinho, e perdeu alguns medos.
Quando todos tinham medo de alguma coisa nova, ou barulho estranho, rapidamente deixavam de o ter, porque abraçavam-se uns aos outros, ou davam as mãos, e iam todos juntos, ver o que era.
Quando percebiam que não era nada de tão assustador quanto imaginavam, respiravam de alívio e riam-se.  
Eles sabiam que o medo muitas vezes não existia mesmo, e alguns eram só da sua imaginação, que se desfaziam quando viam que não era nada de tão perigoso…o medo ajuda-nos a proteger, e a ter mais atenção!
O medo faz parte de nós, e todos nós temos medos! Uns podem ser mais reais do que outros, uns desaparecem rápido, outros demoram mais tempo.
Uns aprendemos, outros criamos e outros não sabemos como nascem…quer dizer…imaginamos.

E vocês, do que têm medo? Peçam a um adulto para vos falar dos medos. Eles também os têm!
Fim
Lálá
(30/Outubro/2016)


            

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A pintora sonhadora






























Era uma vez uma menina, que um dia olhou da sua janela do quarto e viu que o céu estava muito escuro. Foi ter com a sua avó, se estava na sala a tricotar, e os seus pais trabalhavam de noite, e disse:
- Avó…já viste o céu?
- Sim, o que tem?
- Está muito escuro.
- Claro…é noite! Não há sol.
- Pois é. Mas eu não gosto dele assim.
- Não faz mal…daqui a bocadinho já estás a dormir, e não olhas para ele. Quando acordares, estará sol, um dia claro.
- Avó: podes dar-me os pedacinhos de lã que tens aí?
- Para quê?
- Para transformar em estrelas, e para eu gostar mais do céu.
- Óh…que disparate! Achas que isso é possível?
- É.
- Está bem…pega lá neles…estão ali.
A menina pega em todos os restos de lã que a avó tinha num cesto, e leva para o seu quarto. Pega num fio de cada cor, enrola e esfrega na sua mão e sopra virada para a janela.
E cada fio de lã transforma-se num fio de estrelas que se evapora. Quando ela repara, o céu está cheio de estrelinhas cintilantes. Ela abre um grande sorriso, e fica muito surpresa.
- Áh! Fui eu que as pus ali? Aquelas estrelas todas, com as lãs da minha avó? Ááááááhhhh…. Que lindo! Assim já gosto do céu.
Vai a correr ter com a avó, e grita:
- Avó...anda ver o que eu fiz com os teus pedacinhos de lã… (A avó assusta-se, a menina leva-a pela mãe e vai ver). Olha…transformei-as em estrelas. Agora o céu está muito mais bonito. Já gosto dele assim.
- Está bem. Que lindo! Muito bem…agora já podes dormir.
- Está bem. Boa noite, Avó querida…e obrigada pelos teus pedacinhos de lã, com que fiz estrelas.
A avó ri-se, trocam carinhos, beijos e abraços, a Avó cobre-a carinhosamente, e ela adormece a sorrir. No dia seguinte, chove muito, está muito frio e cai neve. A menina recebe a visita de uma fada e convida-a para passear.
Pelo caminho, a fada conta-lhe que ela é também uma fada, e as duas apanham gostas de chuva num frasco, para transformar noutras coisas, mas este é um segredo só delas. As duas divertem-se muito.
À noite, a fada leva umas gotinhas de gelo à menina, e as duas transformam-nas em estrelas, outras transformam-nas em sorrisos, outras em beijos que depois espalham pelas casas do bairro, para que as pessoas que lá vivem se tratem bem e com carinho.
No dia seguinte está sol, e as duas aproveitam para brincar na neve, com outras fadas e bailarinas de gelo. Aproveitam as gotas com o arco-íris da luz do sol nas gotas de chuva que escorregam pelas folhas das árvores, e transformam-nas em luzinhas para levar para os meninos não terem medo do escuro, que distribuem pelas casas.
Na noite seguinte, o céu estava outra vez muito escuro, e as fadas reuniram-se todas, a menina também, e pintaram o céu com estrelas. Mas de repente, uma bruxa malvada, passou pelo céu, espalhou um pó que fez as fadas dormirem, e roubou todas as estrelas que elas tinham pintado. Quando acordaram, não se lembravam do que tinha acontecido, mas viram que faltava alguma coisa no céu… claro…as estrelas. Todas começaram a gritar…
- As estrelas…? Onde estão as estrelas…? Levaram as nossas estrelas…?
A avó ouve a menina aos gritos, vai ao quarto dela, e ela abre os olhos.
- O que foi, filha? – Pergunta a Avó
- Avó…roubaram as nossas estrelas.
- Que estrelas?
- As que eu e as minhas amigas fadas pintamos lá em cima.
- Ãhhhh…?
A menina olha para a janela.
- Olha…vês…? Não há nenhuma estrela lá fora.
- Pois não, porque está nublado e a chover. Mas as estrelas continuam lá, por trás das nuvens.
- As minhas amigas estavam a dizer que tinham roubado as estrelas.
- Quem roubou?
- Alguma bruxa.
- Óh. Estavas a sonhar…
- Não, Avó…aconteceu mesmo. E antes, transformamos gotas de chuva que brilhavam ao sol, em luzinhas e distribuímos pelas casas, para os meninos não terem medo do escuro. Depois, pegamos em gotinhas de gelo e umas transformamos em sorrisos, outras em beijos, e outras em estrelas, e distribuímos pelo bairro, para as pessoas se darem bem.
A Avó sorri:
- Áh, que coisas tão bonitas que fizeram…
- Eu sou uma fada.
- Sim, claro que sim.
- Já sabias?
- Já.
- E nuca me tinhas dito?
- Era um segredo…pediram-me para guardar.
- Ai foi? Quem?
- Outras fadas…
- Áh! Tu também as conheces?
- Claro.
- E também pintaste estrelas, com elas? E transformaste gelo em sorrisos, beijos e estrelas e luzinhas…?
- Sim.
- Então tu também és uma fada?
- Sou.
- E tens poderes?
- Sim, alguns.
- Estou muito feliz de ter uma Avó fada. E a mãe também é?
- É.
- Boa! Somos uma família de fadas.
- Sim…
- E agora, quem vai pôr lá as estrelas que nos roubaram?
- Eu ponho-as lá.
- Prometes?
- Prometo. Fecha os olhos…
                E a menina fecha os olhos, adormece outra vez, e a avó sorri. Na manhã seguinte, tudo estava na mesma…a menina tinha apenas imaginado, e sonhado que era uma fada e que tinha pintado estrelas, transformado gotas de água e gelo, em sorrisos, luzinhas e outras coisas bonitas que ela desejava. Era só uma menina que adorava ser uma fada, mas era só uma menina.

Fim
Lálá
(25/Outubro/2016)



terça-feira, 25 de outubro de 2016

As galochinhas


 
Era uma vez uma árvore muito velha por fora, mas no seu tronco que estava oco, por dentro estava tudo mobilado e vivia uma família de esquilos com oito esquilinhos, brincalhões, cheios de energia, saltavam, corriam, trepavam às árvores, subiam e desciam, escondiam-se em tocas, entravam e saiam, e ainda ajudavam os pais.
Depois de uma tarde de Outono chuvosa, com muitos saltos em poças de lama, corridas e escorregadelas em cima de folhas molhadas os esquilinhos lavaram e deixaram as suas galochinhas à porta de entrada a secar.
Cada par de galochinhas tinha cores diferentes, mas tamanhos quase iguais, porque os esquilinhos eram de idades muito próximas e não cresciam muito. Tomaram um belo banho quente, jantaram e foram dormir, porque estavam muito cansados, de tanto salto e brincadeira.
Enquanto dormiam, um gato, uma gata e quatro gatinhos bebés, miavam cheios de frio, caminhavam devagar. A chuva estava cada vez mais pesada, e muito frio, os gatos decidiram descansar e abrigar-se por ali.
O sítio escolhido foi mesmo…as galochinhas dos esquilinhos, como estava um pouco escuro não viram o que eram, nem sabiam que aquilo eram galochas para se usar nos pés, porque era uma entrada protegida.
O pai gato virou as galochinhas, deitou-as no chão, e os gatinhos bebés entraram, instalando-se no cano das galochas. Os pais gatos fizeram uma espécie de círculo fechado, com as galochinhas para protegerem mais os bebés, entraram noutras galochas, e ficaram bem juntinhos.
Que confortáveis e quentes ficaram nas galochinhas, enquanto caiam trombas de água, umas atrás das outras, que faziam muito barulho, juntamente com o vento forte. Todos dormiram até de manhã.
Na manhã seguinte, os esquilinhos preparavam-se para sair depois de uma noite bem dormida, e um belo pequeno-almoço. Quando iam para pegar nas galochinhas, ficaram gelados, sem se mexer, de boca aberta, a olhar para as galochinhas.
- O que é isto? – Perguntam todos
- O que temos aqui? – Pergunta um esquilinho
- Pêlo… - Exclamam todos enojados
- Pêlo nas galochas? – Pergunta outro esquilinho
- Elas não têm pêlo… - Diz outra esquilinho
- Pois não! – Confirmam todos
- Como assim…pêlo…? – Pergunta uma esquilinho
- Que nojo! – Exclamam todos
- Pêlo de quem? – Pergunta outra esquilinho
- Acho que nem quero saber… - Exclama outra esquilinho
- Acho que não volto a calçá-las. – Comenta outro esquilinho
- Nem eu! – Dizem todos
- E agora? – Pergunta outro esquilinho  
- O que vamos fazer? – Pergunta outra esquilinho
- Serão…- pensa alto outra esquilinho
- Ratos…? – Perguntam todos
E começam todos a gritar, os gatos estremecem, e escondem-se mais dentro das galochas, e voltam a aparecer, e a esconder-se.
- O que foi? – Perguntam os pais esquilos
- Estão ali umas coisas com pêlo…! – Explica um esquilinho
- Onde? – Pergunta a mãe esquilo
- Ali…nas nossas galochas. – Aponta uma esquilinho
- Quando nos íamos calçar, vimos pêlo… - Diz outra esquilinho
- Que nojo! – Dizem todos
- Meteram-se lá para baixo agora.
- Já estiveram aqui em cima, no cano.
- Apareceram, desapareceram…
- Serão ratos? – Pergunta a mãe esquilo
E aparecem os gatinhos baralhados e assustados, a tremer:
- Óh! São gatinhos! – Diz o pai esquilo
- Gatos? – Perguntam todos
- Sim! São inofensivos! – Diz o pai esquilo
- O que é isso?
- Que não fazem mal!
- Como é que foram aí parar?
E o pai gato explica:
- Peço desculpa! Este sítio é vosso?
- Sim! – Respondem todos
- É a nossa casa.
- O que estão aqui a fazer?
- É! Ainda por cima nas nossas galochas, para pormos os pés?
- Eu posso explicar…é que esta noite choveu muito, estava muito frio e escuro, tivemos de parar. Encontramos esta entrada que pelo menos era protegida, e pensei que os meus bebés se podiam aquecer ali…quer dizer…nisto…
- Nas galochas. – Dizem todos
- Mas nós vamos embora!
- Não! – Dizem todos os esquilos
- Se não têm para onde ir, podem ficar aqui! – Diz a mãe esquilo
- Claro! – Confirma o pai esquilo
- Nas nossas galochas?
- Não!
- Pedimos desculpa por ter gritado! – Diz um esquilinho
- Assustamo-nos! – Diz outro
- Mas não faz mal…! Se não nos fazem mal. – Diz outras esquilinho
- Vamos arranjar um sítio para vocês! Aqui…nesta árvore ao lado, vejam se gostam! – Sugere o pai esquilo
- É. Está desocupada, mas é seguro ficar lá. – Diz a mãe esquilo
- Óh! Está maravilhosa…vamos ver…
Os esquilos acompanham os gatos com os seus bebés e os gatos decidem ficar na árvore ao lado, com um tronco oco, mas espaçoso e quase todo fechado. Estava seco.
- Sim! Aqui estamos protegidos! O que acham? – Pergunta o pai gato
- Sim! – Responde a sua família
- Gostei deste sítio! – Diz a mãe gata a sorrir
- Venham tomar o pequeno-almoço connosco, e depois vou ver o que vos posso dar! – Diz a mãe esquilo
- Isso! E depois vamos dar aí uma volta para conhecerem o espaço! – Sugere o pai
- Óh! Não queremos incomodar. Já incomodamos de mais! – Diz o pai gato
- Nada disso! Vão ser nossos vizinhos. Aqui temos esse hábito…quando chega alguém de novo, recebemos. Porque a qualquer momento poderemos precisar uns dos outros! Vivemos no mesmo sítio, conhecemo-nos, e damo-nos todos muito bem. – Diz a mãe esquilo
- Muito obrigada. – Dizem os gatos
- Venham… - Diz a mãe esquilo
A mãe prepara um belo pequeno-almoço para os gatos, e todos conversam alegremente. Os pequenitos esquilos travam logo amizade e ganham confiança com os pequeninos gatinhos, mostram a casa toda, a paisagem das janelas, os brinquedos, as árvores, e a mãe esquilo procura roupas de cama, lençóis e cobertores, colchas, almofadas macias que pode dar, alguns brinquedos, alimentos, utensílios de cozinha, móveis…
Enquanto os pequeninos brincam juntos numa grande alegria e correria, com muita energia e gargalhadas, os pais tratam da mudança e acomodam a casa. Formam a partir desse dia, uma verdadeira família, com amizade, partilha, convívio, os gatos foram às festas e fizeram grandes amigos.
Era um bairro grande, com casas nas árvores, onde viviam animais de várias espécies, mas isso não os impedia de serem amigos; e eram mesmo! As galochinhas voltaram a ser usadas só para os esquilinhos calçarem nos pés, mas elas foram um ninho, pelo menos durante uma noite, para gatinhos que se transformaram em amigos.

E vocês? Se deixassem as vossas galochinhas à porta da vossa casa, acham que algum bichinho as calçaria ou poderia instalar-se nelas? Qual? O que fariam?

Fim
Lálá
(22/Outubro/2016)