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sábado, 18 de junho de 2022

A boa ação da gotinha e da menina

   



         Era uma vez uma menina que viu uma gotinha de água pousada na pétala de uma flor. A gotinha brilhava ao sol, podia ver-se o arco iris a sorrir-lhe. A menina observa-a. 

- Olá. - diz a gotinha 

- Olá! És nova por aqui não és? - pergunta a menina 

- Não. 

- Mas eu nunca te vi aqui. 

- Eu ando por muitos lados, mas volto sempre para este jardim que é a minha casa. 

- Áh, que giro. E por onde já andaste?

- Por muitos sítios. Queres conhecer alguns? 

- Tu consegues levar-me? 

- Consigo. 

- E trazes-me de volta? 

- Trago. 

- Está bem. 

        A gotinha transforma-se numa pequena bolha transparente, convida a menina a entrar, fecha a cápsula e a viagem começa. 

- Ai que altura! - diz a menina um bocadinho assustada 

- Não tem problema. Eu desço mais um bocadinho. Esta é a tua cidade vista de cima. Aprecia à vontade. 

        A menina olha através das janelas, e vê um molho de prédios, uns mais pequenos, outros mais altos, e torres. Não vê pessoas, nem animais. Só vê estradas, rotundas, carros que mal se percebem, árvores, alguns pequenos espaços verdes, umas casas com piscina. 

- Como é grande a minha cidade. Não sei onde está a minha casa... 

- Pois, talvez não a vejas daqui, mas quando voltarmos, deves conseguir vê-la, se moras perto do jardim onde estavas. 

- Sim. 

- Olha ali um espaço que adoro... 

        O espaço que a gotinha fala é a montanha, que fica num ponto muito alto da cidade, uma estrada cheia de curvas, mas uma paisagem muito bonita. Vê árvores, de diferentes tamanhos e espécies, espaços onde dá muito sol e outros muito sombrios, alguns carros parados, a torre de uma igreja, alguns jardins, e ao longe a praia. 

- Áh que giro! 

        A gotinha leva a menina à praia. Pelo caminho conversam alegremente, a gotinha mostra muitas coisas bonitas, que a menina nem fazia ideia que pertenciam à sua cidade. 

        A menina vê o mar de cima: 

- Ai, que coisa tão grande. É um lago gigante com ondas ali na ponta? 

- Não. Não é um lago, é o mar da praia. 

- Áh. Tanta água. 

- Pois é. Nem se vê o fundo. 

- Olha barcos ali, mas são pequenos. 

- Daqui são pequenos, mas quando chegarmos eu baixo e vais ver como são enormes. 

- Já passaste aqui? 

- Já.

        As gaivotas cruzam-se com elas, desviam-se, aos guinchos irritadas. As duas riem com vontade: 

- Olha, olha....ficaram com inveja. 

- É, não gostam de ver o espaço delas invadido. 

- O céu não é só delas. 

- Pois não. 

- Deixa-as para lá. 

        As duas riem, e uma gaivota pousa mesmo em cima da cobertura. 

- Que atrevida... xooooo... - diz a gotinha 

        Bate no vidro e ela voa. Sobrevoam alguns campos de girassóis gigantes e milho alto, campos muito verdes, com outras plantações, pinhais com sombra e sol. 

        Chegam à praia, vê-se a areia de cima, a gotinha baixa devagar e os barcos que pareciam tão pequeninos, tornam-se realmente gigantes. 

        Veem crude a boiar na água, uma coisa que reluz com o sol. 

- O que é aquilo? Que nojo! - pergunta a menina 

- Infelizmente é poluição. Crude, petróleo ou outros produtos assim. 

- Isso não é bom, pois não? 

- Não. 

        Veem na areia algumas aves com ar de doentes, crude nas penas, e elas aflitas para respirar. A menina grita: 

- Estão doentes... podemos baixar até à areia? 

- Sim. 

        Pousam na areia, a gotinha volta a ser gotinha, olham para as aves e sentem pena delas. 

- Estão bem? - pergunta a gotinha 

- Acho que comemos uma coisa envenenada. - diz uma ave 

- Olha para esta porcaria... - lamenta outra ave 

- O que é isso que tem nas penas? - pergunta a menina 

- Não sei. Parece cola. 

- Não nos conseguimos mexer. 

- Que nojo! 

        A menina e a gotinha levam as aves ao mar, ajudam-nas a lavar, a gotinha dá-lhes água limpa para beberem. Era mesmo crude, pois algumas penas tiveram de ser arrancadas porque não saía. A areia também está cheia de lixo. 

- Como é que isto veio parar aqui? - pergunta a gotinha 

- Não sei. - dizem todas

- Vocês correm perigo. Deviam ir para outra praia! 

- Que água deliciosa, a tua. - diz uma ave 

- Muito obrigada pela vossa ajuda. - dizem todas 

- De nada. Voltarei em breve para vos trazer água saudável. 

- Muito obrigada. Bem precisamos. 

- Até já.

- Está na hora de voltar... - diz a gotinha 

        Elas voltam para o jardim, pelo caminho veem mais paisagens bonitas. Sentem-se felizes e tristes. Felizes porque ajudaram as pobres aves que estavam doentes e intoxicadas com a poluição, mas essa parte foi a que as deixou mais tristes. 

        A menina agradece à gotinha o passeio, e a gotinha, como prometido vai à praia onde estiveram deixar água limpa para as aves beberem e tomarem banho. Para isso encheu vários buraquinhos nas rochas com a sua água onde costumavam pousar. 

        Era um sítio seguro que escapava à poluição. 

                                            

                                                               FIM 

                                                          Lara Rocha 

                                                        18/ Junho/ 2022