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quarta-feira, 22 de maio de 2019

o arco-íris perigoso


           foto de Lara Rocha 

Era uma vez uma linda praia, de águas calmas e transparentes, onde dava para ver o fundo e os peixes raros que lá viviam. 
      Tudo corria bem, até que um dia...um grupo de humanos ambiciosos, que só pensavam em ganhar dinheiro com pesca de espécies raras e exóticas daquela ilha, montaram uma armadilha.
      Pintaram um arco-íris na água que parecia natural, mas era na verdade óleo que despejaram nas águas, e brilhava como o arco-íris com o sol. 
      Uns raios de luz do sol com esse falso arco-íris entraram na água e espalharam-se para atrair os peixes.
      Todos os habitantes submarinos acharam estranho. Nunca tinham visto nada assim. Era realmente muito bonito, mas a rainha dos mares, que passava naquela altura, sentiu um cheiro diferente na água. 
      Olhou para cima e viu aquele misterioso arco-íris.

- O que é isto? - Perguntou a rainha

- Não sabemos. - respondem todos

- Há aqui um cheiro estranho. Grisalho...vai lá ver o que é. Com cuidado!

      Grisalho é um peixe guarda da rainha. Rapidamente, vai à superfície e volta.

- Então…?

- Viste alguma coisa?

- Vi, e não gostei nada!

- Como?

- Vi um bando de homens a deitar qualquer coisa nojenta na água. Óh, já sei… era igual a este arco-íris.

- Estão a poluir a água?

- Sim, infelizmente!

- Não posso acreditaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrrrrr…. - grita estrondosamente a rainha cheia de raiva.

       Todos estremecem e encolhem-se. A rainha pior que furiosa, ganha a forma de um tubarão gigante. Na água apanha todos de surpresa, prende os homens na sua bocarra, eles gritam em pânico, enquanto ela vê de onde vem o arco iris.
       Ela cospe-os com tanta força que eles vão parar quase às dunas da praia, e caem uns por cima dos outros. Olham para a rainha assustados. 
        Ela está gigante, olha-os nos olhos, com os seus olhos que parecem balas de canhões, mostra uns dentarrões e grita-lhes:

- Quem são vocês, malditos?

      A voz da rainha parece um tufão. Eles nem se atrevem a falar.

- Não falam seus covardes? Não saem daqui inteiros se não falarem.

      Ela dá uma sacudidela com a enorme barbatana na areia a olhar para eles nos olhos.

- Para a próxima a barbatana cai em cima de vocês! Vamos…não tenho o dia todo. Expliquem que porcaria é aquela?

- É... óleo. - confessa um dos homens cheio de medo

- Cala-te palerma. - Grita outro homem

- Óleo… - diz a rainha como se estivesse calma, mas com vontade de os esfarrapar - Que óleo? - Grita a rainha

- Óleo… - respondem todos

- Que óleo?

- É...para… para…

- Para quê? - grita a rainha

- É que…nós… - diz outro homem

- Ai, que paciência… - resmunga a rainha e bate com a barbatana na areia - despachem-se - grita

- É que…

- Querem servir de refeição para nós, é? - pergunta a rainha zangada

- Na...na...não.

- Então?

- Nós queríamos levar as espécies tão bonitas que há aqui.

- Mas era só o que mais faltava. Levá-las para onde?

- Para… muitos sítios. Precisamos de dinheiro.

      A rainha explode, desata a bater sem dó nem piedade nos homens com as barbatanas pesadas e gigantes, e grita-lhes:

- Isto foi só uma amostra! Porcos. Vão limpar imediatamente aquela porcaria… ou querem ser almoço, jantar, pequeno almoço, lanche, almoço, jantar, ceia… para o meu povo?

- E como é que vamos limpar?

- Isso não é comigo! - grita - com a vossa língua a ver se gostam. Onde já se viu…? Levem uma garrafinha para meterem pela boca abaixo. Imbecis. Ainda não aprenderam o mal que estão a fazer, a eles próprios, e aos semelhantes! Já para não falar em nós… Vamos… - grita - souberam poluir, agora também tem de saber como tirar aquela porcaria dali, ou eu faço-vos engoli-la. Rápido… antes que eu perca a pouca paciência que me resta…nem consigo olhar para vocês. Que nojo.

      Os homens aterrorizados, recolhem a água poluída com óleo para umas garrafas limpas. A rainha assiste a tudo, e com as suas explosões de raiva, forma redemoinhos no mar para complicar o trabalho dos homens. 

     Ri-se, e quando o trabalho fica completo, ela faz um aviso:

- Ponham-se bem longe! Ai de vocês que vos veja em praias aqui das redondezas… o dinheiro vai pagar a vossa saúde? Vai…claro que sim...vão ver onde vão parar com o que andam a fazer. O que vão comer, quando no nosso e vosso planeta só houver plástico, lixo, e óleo nos mares e na terra, e não houver peixe? Vão sobreviver, a comer lixo? Vão? Vão continuar a pescar peixes bonitos para ganhar dinheiro...e vão comer o dinheiro? E o que fazem aos peixes que levam? Eles vão alimentar-se de plástico e lixo. Vai ser o que vocês vão comer…? Vocês, humanos… e nós, peixes. Pensem nisso, se a vossa ambição pelo dinheiro, pelo vender peixes raros, a poluir, vai dar-vos saúde e matar a fome. Vai? Mergulhem para ver o vosso futuro muito próximo! Desapareçam. E não quero voltar a ver-vos aqui.

        Os homens fogem o mais rápido que conseguem, sem olhar para trás, e quase sem respirar. A rainha volta para o seu reino marinho, conta aos outros o que aconteceu. Todos aplaudem a decisão e coragem da rainha, agradecem, e prometem estar atentos a todos os sinais de poluição.

                                                                          FIM
                                                                          Lálá
                                                                   (22/Maio/2019)
 

           

             

segunda-feira, 20 de maio de 2019

O sol que nasceu por trás da flor

           

            












            





foto de Lara Rocha 


            Era uma vez uma fada bebé, que foi deixada pela mãe atrás de uma flor enorme, dentro de um ovo de cristal, ainda fechado, enquanto a sua mãe foi trabalhar com as outras fadas. Ainda era cedo para a bebé nascer, acreditava a mãe, embora a pequena já fosse comprida, por isso, confiou e deixou-a debaixo da flor, um lugar seguro e quente.

- Olá, boa noite, amiga. Posso deixar a minha princesinha enquanto vou trabalhar? - pergunta a fada

- Óh, boa noite! Claro que sim, com muito gosto. - responde a flor

- Ela ainda não vai nascer já, por isso, é só para deitares uma petalazinha de vez em quando. - responde a fada muito segura

- Vai descansada, querida amiga! Sabes que comigo ela está bem entregue e bem cuidada.

- Sim, eu sei que sim.

- Ela está sossegada como a noite! Que linda. - sorri a flor

- Até daqui a pouco… - diz a fada

- Até já. Boa noite de trabalho!

- Obrigada. Isso é o que não falta.

- Felizmente!

             As duas riem.

- Claro. Mas com uma pequena… é difícil. - suspira a fada

- Pois. Mas está tudo bem! Está quase.

           A mãe sabia que a bebé estava bem entregue. A flor gostava muito de tomar conta de ovos e de bebés, por isso, tudo estava sossegado, tal como a noite, quente, cheia de estrelas e uma lua enorme, cheia, linda.
           O silêncio da noite, foi interrompido de manhã, por uma grande festa. Com o nascer do Sol, a bebé fada fica muito agitada, dá murros, pontapés e cambalhotas dentro do ovo, e este começa a estalar por todo o lado, até que parte.
          A flor, como já tinha muita experiência de vida, primeiro ficou assustada, mas logo se lembrou que tinha diante de si uma bebé fada, dentro de um ovo. Aquela agitação toda, era o nascimento da fadinha, que aconteceu ao mesmo tempo do sol a nascer.
         Tal como o sol foi crescendo e aparecendo por trás da flor, a bebé fada partia mais o ovo, e começava a ficar com o seu corpo à mostra. A flor sorria, esperava pacientemente, e olhava deliciada.

- Vamos, pequenota…- dizia a flor

         Quando o sol estava já estava completo e bem iluminado, chega a mãe fada, e apanha um grande susto.

- Parabéns, mamã… a tua pequena não quis ficar mais lá dentro. Nasceu com o nascer do Sol!

- Áh! Mas ainda faltava tanto!

- Deixa lá isso. O que interessa é que ela está aqui, linda, perfeita. Olha que maravilha!

         A mãe fada, recomposta do susto, pega carinhosamente na filha, sorri, beija-a, abraça-a, a bebé sorri.

- Óh, Fadas, todas poderosas. Muito obrigada! - Diz a mãe fada

- É maravilhosa! - suspira e sorri a flor

- Como nasceste com o sol...vou chamá-la de Sol. O que te parece, amiga?

- Óh… (sorri) perfeito! Faz todo o sentido, o nome encaixa na perfeição.

- Aceitas ser a madrinha dela? - convida a fada

- Mas, mas…eu…

- Vá lá…! É uma escolha que faço com todo o meu coração, amizade e sinceridade!

- Bem…(sorri) estou sem palavras. Se é assim… aceito!

         As duas abraçam-se a sorrir, beijam a pequena fadinha, e trocam carinhos. A bebé anda de colo em colo, todas a abraçam e fazem uma festa de boas-vindas. O ovo é guardado numa gruta onde estão muitos outros milhares de ovos, porque conforme uma lei daquele reino, guardar os ovos dava saúde, felicidade e sorte!
                                                                       
                                                                      FIM
                                                                      Lálá
                                                              (20/Maio/2019)



         

         
             

terça-feira, 14 de maio de 2019

Se eu fosse um pedaço de Lua


foto de Lara Rocha 


Se eu fosse um pedaço de Lua..
Ia descalça pelas ruas, com a minha enorme capa de brilhantes. 
Passava por pontes, onde me espreguiçava e esticava.
Deslizava, rodopiava e dançava nas águas das fontes.
Ia pelos campos e espalhava lantejolas da minha capa para chamar as fadas e os seres da Natureza. 
Ficava sentada na relva fofa a apreciar, a sentir e a falar com as cigarras, os grilos, os mochos e as corujas que me cantavam e embalavam com as suas canções. 
Se eu fosse um pedaço de Lua, 
Passeava com os meus pezinhos de luz, pela neve 
Brincava com focas, 
Entrava em tocas, 
Saía em grutas. 
Enfeitava-me com pedras e cristais, 
Saltitava de nenúfar em nenúfar, 
Cheirava todas as flores, 
A maresia,
A terra. 
Mexia na terra, na areia, 
Tocava nas folhas, nos troncos, nos ramos, nos galhos e nos botões de flores.
Acariciava a maciez das pétalas, e as penas dos mochas, das corujas e dos pássaros. 
Se eu fosse um pedaço de Lua, 
Subia montanhas para ver o sol nascer, 
Dormia na praia para ver o entardecer e o anoitecer, 
Rebolava na areia, apertava, largava, deixa-a passar sem pressa e com carinho pelos meus dedos das mãos, e depois pelos pés, pernas, braços...
E no fim, juntava-me à outra metade da Lua, que me esperava.
Dávamos as mãos, envolvíamo-nos num abraço sincero e carinhos,
Até ficar Lua Cheia! 


E vocês, leitores? O que fariam se fossem um pedaço de Lua?
(Podem escrever as vossas respostas, aqui no blog)


                                                     FIM
                                                     Lálá
                                                     14/Maio/2019


                 

sexta-feira, 3 de maio de 2019

As velas

           


             Era uma vez uma caixa de velas, levada por uma menina que queria acendê-las pela paz e como agradecimento aos Anjos pelos Pais que tinha, pela boa saúde, pela comida e pela casa. Quando tentou acendê-las com um isqueiro, elas não acenderam. Tentou com fósforos, elas tossiram e não acenderam. Tentou acendê-las na boca do fogão, e elas acenderam uma chama fininha e pequenina. A menina sorri, põe-nas em cima da mesa, fecha os olhos a sorrir e reza. Quando abre os olhos, as velas estão apagadas e sem cera. A menina fica muito surpresa.
- Estas velas não prestam! E agora como vou rezar? Mãe…- Resmunga e chama a menina a gritar
- O que foi, filha?
- Comprei estas velas que a Dona Gazela me indicou, queria rezar, acendi de várias maneiras, só consegui na última, no bico do fogão. Mostraram uma chama muito pequenina e fininha. Quando fechei os olhos e abri, estavam apagadas.
- Não te preocupes, o teu pedido chega lá na mesma.
- Não era um pedido, era um agradecimento.
- Muito bem, seja o que for, chega lá.
- Como é que chega lá sem velas?
- Claro que chega lá sem velas. O que interessa é a tua intenção e a sinceridade com que rezas.
- Áh!
- É. Deixa as velas para quando não houver luz.
- Mas como é que eu sei que eles nos ouvem?
- Claro que ouvem! Também sabes que eles existem, e nunca os viste, certo?
- Certo.
- Com as orações é o mesmo.
- Áh! Pensei que as velas é que faziam chegar mais depressa ou com mais força a oração.
- Não.
- E agora o que faço?
- Metemos ali as velas, para quando for preciso. Pode ser por estar frio e elas não acendem.
- Elas também têm frio?
- Sim.
- Como é que sabes?
- Sei. Elas também são natureza como nós. Reza na mesma, sem velas.
- Está bem.
          E a menina agradece aos Anjos sem velas, explicando-lhes porque é que não tinha velas acesas. Sai da cozinha e deixa as velas. As velas conversam entre si:
- Ufa! Que gelo.
- Está mesmo.
- Também sentem frio?
- Claro!
- Ei, esperem aí...estamos num sítio diferente.
- Pois estamos. Não ouviste a conversa da rapariga?
- Ela queria ver-nos acesas!
          Começam todas a rir
- Para rezar…
          Todas riem
- Santa inocência.
          Riem alto
- Estes humanos são mesmo bichos estranhos.
- Acho que precisam de um bocadinho de fogo…!
- É!
- Até eu não me importava de ter um foguinho perto de mim.
          Riem
- Pois, um foguinho em cima de ti...queres tu dizer.
- Ai, que maliciosa…
           Gargalhadas
- Brincalhonas. Era só para aquecer um bocadinho o ambiente.
           Todas riem
- Por falar em gelo...Andam muito gelados.
- Quem? Nós, ou eles?
- Eles!
- E nós por arrasto.
- Pois, é por isso que nós também não conseguimos acender.
- Claro!
- Ei...está-me a cheirar a fumo!
- A mim também.
- Malta...acho que fui eu, desculpem.
           Gargalhadas.
- Pelo menos quebraste um pouco este gelo à nossa volta.
           Riem outra vez.
- Será que alguma de nós consegue dar um bocadinho de calor?
- Podemos tentar.
- E como fazemos isso?
- Encostamo-nos.
- Mas já estamos encostadas e não acendemos.
- Acho que estamos congeladas.
- E se dermos as mãos?
- Boa.
           As velas dão as mãos.
- Vamos pensar na nossa amizade, para ver se acendemos.
           As velas pensam na amizade entre elas, e acendem uma gigantesca chama. Ficam surpresas e sorriem.
- Resultou.
- Áh que bom!
- É porque a nossa amizade é mesmo sincera.
- Claro.
- Alguma tinha dúvidas disso?
- Não!
- Áh!
- Que quentinho delicioso.
- Mas esperem… porque é que não acendemos com a rapariga?
            Ficam em silêncio, pensativas.
- Se calhar é por ela não ser nossa amiga.
- Ou talvez pelo gelo que há entre as pessoas como ela.
- E há assim tanto gelo entre as pessoas como ela?
- Ouvi dizer que sim.
- Devia ser por isso que estávamos congeladas.
- Se calhar a oração da menina não era sincera.
- Pareceu-me sincera.
- Mas ela chamou-nos porcaria.
- Óh, isso não é para levar a sério. Já sabem que esta gente das cidades é assim.
- Acham que devíamos acender outra vez, para a menina?
- Acho que ela não nos vai tocar mais.
- Porque não?
- Acho que ficou muito zangada.
- Por isso é que não acendemos.
- Áh! Claro. - dizem todas
            Elas continuam a conversar, até que quando já estão quentes, apagam-se. Durante muitos dias, a menina rezava sem acender as velas. Um dia acendeu e elas iluminaram os lindos olhos da menina.
- Podemos ficar acesas.
- Ela é sincera.
           Dizem umas às outras. A menina abre um grande sorriso e faz a sua oração. No fim, canta. Elas ficam encantadas com a voz da menina, e aumentam a sua chama.
- Obrigada. - Diz a menina às velas
           Sopra-lhes:
- Até amanhã.
           As velas apagam-se. No dia seguinte, a menina volta a acender as velas. Mas de repente, um vento cortante, regelado, entra pela frincha da janela, sopra forte, abre a janela com força e congela as velas. Elas ficam cobertas de neve, tal como toda a cidade. A menina grita assustada, fecha a janela, tenta acender as velas, mas elas não acendem.
- Maldito vento! E agora?
           A menina mete os pés das velas em água quente, e cai o gelo, mas como estão molhadas não acendem. Ela deixa-as secar, cobrindo-as, enroladas numa manta fofa que usa para se deitar no sofá. No dia a seguir acordam a tremer de frio. A menina vai vê-las, elas aquecem, e voltam a acender. Eram umas velas muito sensíveis, como a menina. E assim surgiu uma troca de amizade entre as velas e a menina, que as levou para o seu quarto, e que as acendia sempre que queria rezar ou agradecer.

                                                                 FIM
                                                                 Lálá
                                                            3/Maio/2019