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quinta-feira, 27 de maio de 2021

O cheirinho

       



Foto de Lara Rocha  

       Era uma vez um senhor que vivia numa aldeia com mais habitantes. A sua esposa ia vender pão e bolos, legumes,  sopas caseiras de vários ingredientes diferentes, frutas e flores, enquanto ele ficava em casa de volta do forno a preparar os deliciosos bolos, pão, e sopa.  

        Da sua casa era possível sentir quase todos os dias uma mistura de cheirinhos muito agradáveis, de fazer crescer água na boca, mas os seus vizinhos não sabiam o que era, porque a sua esposa saía antes do sol nascer, e o senhor quase nunca o viam fora de casa. 

        Ouviam muitas vezes a assoviar, e a cantar acompanhado de um rádio, e falava com alguém, pensavam que seria consigo próprio, com o locutor da rádio, ou com algum animal que teria dentro de casa. O sr. tinha longas conversas...

        Um dia, umas crianças da aldeia, de várias idades, estavam a brincar ao ar livre e sentiram a mistura de cheiros. Mas entre esses cheiros havia um em particular que até lhes abriu o apetite, e para se distraírem da fome, cheios de curiosidade, não queriam invadir a casa, então, fizeram um jogo, em que cada um tentou adivinhar ao que pertenciam os cheiros. 

        Como conheciam os cheiros dos alimentos cozinhados, nas sopas, conseguiram acertar todos, mas aquele especial...huuummmm....era a bolos. 

        Não resistiram. Foram silenciosamente até à casa do vizinho, ficaram à porta, os cheiros tornaram-se mais fortes, e cada qual o mais apetitoso. 

        Espreitaram discretamente pela janela com cortinas, e perceberam que se mexia de um lado para o outro, ouviram a música, e o senhor a falar. 

       O sr. percebeu que estava a ser observado, e discretamente, abriu a janela. As crianças esconderam-se rapidamente, como puderam, para não serem apanhados, mas foram vistos e não repararam. 

       O sr. riu e fez de conta que não viu. Continuou o seu trabalho, as crianças voltaram a espreitar, e ele viu as sombras das cabecitas. Desta vez não tiveram tempo de se esconder, foram apanhados em cheio. 

- Oláááááá! - diz o Sr. simpático 

- Olá! - respondem todos mais vermelhos do que pimentos 

- Estavam a espreitar não era...? 

- Era! - respondem em coro 

- Precisam de alguma coisa? 

- Desculpe, não queríamos ser atrevidos, mas cheirava tão bem. - explica um mais crescidinho 

- É. Não resistimos! - acrescenta outro 

- Mas estávamos a tentar ver o que estava a cheirar tão bem. - diz outro 

            O Sr. dá uma gargalhada: 

- Não precisavam de espreitar. Bastava baterem à porta. Entrem para ver o que cheira bem. 

- Não queremos invadir a sua casa, nem atrapalhá-lo. - comenta outro 

- Não, não tem problema. Entrem, vamos conversar um bocado. 

O Sr. abre a porta, dá um aperto de mão a cada criança. 

- Bem-vindos à minha casa... 

           Mostra a casa toda, e conversa com os pequenos, depois leva-os para a cozinha, cheia de farinha, fermento, pedaços de massa, o forno a trabalhar, e o rádio. 

         Um bolo de chocolate crescia no forno, e o Sr. conta a sua vida, o seu trabalho, mas sempre a trabalhar, a amassar, a fazer bolinhas de pão, a mexer as sopas no fogão, a deitar farinha e fermento, sementes e sal. Falou da sua esposa, do seu trabalho, dos filhos, dos netos. As crianças estavam boquiabertas e maravilhadas com o senhor. 

- Querem experimentar fazer a massa, e as bolinhas de pão? - sugere o sr. 

- Sim. - respondem em coro 

           Eles seguem atentamente o que o Sr. faz e diz, repetem tudo, e fazem várias bolinhas de pão enquanto o Sr. trata das sopas, e conversam alegremente uns com os outros. Há muita gargalhada, e trabalho. 

- Muito bem! Agora... vai sair do forno o que cheira tão bem. Sentem-se! - Diz o senhor 

          Estão todos em pulgas para saber o que é. O Sr. abre o forno e tira de lá um grande bolo de chocolate. Os olhos das crianças quase saltam de órbita ao ver um bolo com tanto chocolate a acabar de fazer, e os olhos brilham. 

- Huuuuummmmm... - dizem todos, a lamber a boca

- Vamos experimentar. - convida o Sr. 

           Corta uma fatia para cada um. 

- Provem, e se quiserem podem comer mais. 

            Enquanto as crianças se deliciam com o bolo de chocolate, o Sr. mete as bolinhas do pão, e desliga as sopas. Pega numas caixinhas e oferece sopas diferentes a cada menino, perguntando quantos eram em cada casa. 

            As crianças agradecem, e vão para casa encantados com aquela experiência e com o Sr. As sopas não podiam estar melhores, e os pais vão agradecer pessoalmente a casa do Sr. A partir desse dia,  os habitantes foram buscar sopas, e às vezes pão, bolos, flores, para o ajudar. As crianças também iam fazer-lhe companhia, ajudá-lo a fazer massa de pão, e às vezes como recompensa levavam um pedacinho de bolo. 

Afinal, aquele cheirinho diferente dos que eles já conheciam, era a bolo. 

E vocês, que cheiros sentem à vossa volta? Sabem de onde vem? 

Podem escrevê-los aqui, se quiserem....


                                                                    FIM 

                                                                    Lara Rocha 

                                                                    27/Maio/2021

terça-feira, 18 de maio de 2021

Passeio imaginário - história para todas as idades/ relaxamento

Imaginem que vão a passear calmamente, sem pressa…num dia cheio de sol, quente, mas com uma brisa suave…que ao bater na vossa carinha sabe mesmo bem. Entram numa floresta, muito verde, agradável, com árvores que quase formam túneis, e vocês passam pelo meio delas. Pelo caminho ouvem os passarinhos nas árvores a cantar…e que bonito que é ouvi-los! Vocês sentem paz!

As borboletas sobrevoam as flores…e algumas pousam nos vossos cabelos, no nariz…vocês sopram-lhes e sorriem-lhes…elas continuam o seu passeio. Inspiram e expiram…cheira tão bem…a mentol…dos eucaliptos. Atravessam uma pontezinha de pedra, que passa por cima de um laguinho com patinhos, cisnes, muitas plantas diferentes. Que bonito!

Passam por uma linda cascatinha…de águas correntes, frescas e transparentes, que corre entre as árvores e as pedras. Param e ficam a ouvir o som da água a correr…que bom! Continuam a andar, encantados com a paisagem. Entregam-se totalmente àquele sítio, cheio de coisas lindas. Estão tão absorvidos por esse espaço de sonho, que sem contar, entram num caminho da floresta, estranhamente bonito!

Um lago tranquilo, que reflete tudo à sua volta na água. Humm…soa-vos a mistério! Mas vocês não sentem medo…porque já que chegaram ali, também andam mais um bocadinho. Estão curiosos para saber onde é que aquilo vai dar. 

Ao fundo ouvem uma música muito alegre...onde acaba esse caminho de árvores, aparece um gato deitado ao sol…cheio de preguiça. Ele olha para vocês com aquele ar de…selvagem e aquele olhar penetrante, boceja, e mostra-vos os dentes com um forte miar… Uf…que susto! Pensaram que ele vos ia arranhar ou fazer mal. Ficam quietos…mas não. Ele simplesmente espreguiça – se, e volta a deitar-se. A música está cada vez mais perto.

Vocês, refeitos do susto, avançam mais um pouco. Encontram uma gruta entre rochas. Vocês aproximam-se, espreitam…sim…vê-se tudo. O que haverá lá dentro? Será perigoso entrar…? Será que tem saída? Existirão lá animais perigosos…? 

Estão tão curiosos…e…entram mesmo. Ficam maravilhados e espantados ao ver a gruta. É mais pequenita do que o que vocês imaginaram, mas está vazia. Quer dizer…vocês pensavam que estava vazia, porque não ouviam ninguém, nem viam movimento.

De repente, pouco antes da saída da gruta…apanham um grande susto, porque sem fazer barulho…aparece à vossa frente, um ser muito estranho…misterioso, pequenino, e dourado…com uma chave na mão. 

Vocês ficam gelados, e parece que de repente se transformaram em estátuas. Estão a olhar para ele, fixamente, com a boca e os olhos muito abertos, assustados e a pensar quem é aquele ser, e o que quer de vocês! 

E porque razão vos dá aquela chave, se nunca se viram antes? Ele não é igual a vocês…é muito estranho. Ele levanta a chave, estende-a para vocês e não fala, mas dá-vos a entender que é para vocês. Vocês pegam na chave…ele esconde-se rapidamente num buraquinho da gruta. Vocês ficam com a chave na mão, a olhar para ela e para a parede…sem saber o que fazer.

 A música…que ouviam lá atrás antes de entrar na gruta ouve-se muito alto, parece que está mesmo ali á beira. Será que é aquele ser misterioso que está a tocá-la? Vocês olham em volta…não…o som não vem da parede…saem da gruta, e vão ter a um espaço verde, fantástico. Nunca viram aquilo! Uma montanha, e mesmo à vossa frente dão de caras com um castelo, totalmente diferente do que conhecem dos castelos. Este está num tronco de uma árvore.

Vocês ficam surpresos…e encantados. Parece que estão a sonhar. Encostado ao tronco está um bobo, pequenino, quase da vossa altura, a tocar muito bem, e a cantar alegremente, com um grande sorriso. 

Toca mesmo bem…e é simpático! Vocês batem-lhe palmas. Ele faz uma vénia para agradecer. Vocês olham para a mão e têm a chave. De onde será a chave? Será que o menino que canta e que toca sabe de onde é? Será daqui do castelo? Humm…mas que estranho…a que propósito é que alguém vos ia dar a chave do castelo? 

Vocês resolvem perguntar…o bobo responde-vos afirmativamente, com a cabeça, e estende o braço, indicando-vos a entrada. Vocês nem querem acreditar…como é que vão entrar aqui…se é tudo tão pequeno…? 

E com tantas fechaduras…como é que sabem qual é a que está certa? Bem…vão experimentando…e…ao fim de várias tentativas, a chave entrou. Fixe! Vocês saltitam de alegria. Mas…e agora…como é que vão entrar? 

São tão grandes…e os espaços são tão pequeninos…! Espreitam por uma portinha…está tudo maravilhosamente decorado…mas não veem ninguém. Quer dizer…vocês achavam que não havia ninguém…aparece de repente uma jovem rapariga, pequenina, mas muito bonita…primeiro assustam-se, e depois sorriem encantados com a jovem. 

Ela sopra-vos um pozinho e vocês ficam do tamanho dela. Só assim é que conseguem entrar no palácio, recheado de coisas lindíssimas, muito aconchegante e confortável, acolhedor, onde vivem reis, rainhas, príncipes, princesas…onde há muita música, alegria, dança, banquetes…e tudo o que vocês gostavam de ver nesse castelo.

                                                                            FIM 

                                                                           Lara Rocha 

                                                                            18/Maio/2021 

A menina que sonhou que era chuva

 


       Era uma vez uma menina que estava aborrecida, por ter de ficar dentro de casa.      

Chovia muito, e ela não gostava nada de ficar em casa. 

A sua Avó, com quem ficava até a mãe e o pai regressarem do trabalho, ensinou-lhe uma maneira de ela se sentir mais feliz, mesmo em dias de chuvas.

         Convidou-a a olhar para a janela e ver as cores das nuvens. Umas com formatos engraçados, pareciam animais, outras monstros, uma fazia lembrar um dragão, outra uma ovelha de lã cor de laranja. 

         Viu nuvens cor de rosa, roxas e azuis escuras, com uns raios de sol que as atravessavam. Os raios de sol esconderam-se, e as formas das nuvens juntaram-se numa imensa manta escura.

        Começa a chover, e a avó convidou a neta a apreciar a variedade e intensidade das gotas a cair. 

        Começaram a cair umas gotinhas pequeninas, fininhas, que pareciam brilhantes a cobrir os passeios, e reparou que haviam tracinhos de água no vidro.

       A Avó abriu a porta onde estavam protegidas da chuva para ouvir os sons. As primeiras gotinhas quase não se ouviram, mas rapidamente começou a carregar, juntamente com o aumento da intensidade do vento, que abanava as folhas. As gostas tornaram-se mais pesadas, mais grossas, maiores, até se transformarem em saraiva.

       O barulho da chuva a cair pareciam pedras, era granizo, o vento estava fortíssimo, tiveram de fechar a porta e foram ver chover para a janela, que estava cheia de gotas enormes, com bolas de granizo à mistura, e um barulho muito forte.

      A avó relembrou tudo o que tinha acabado de ver, convidou-a a ver como era mágico as gostas caírem das nuvens tão escuras, primeiro levezinhas, quase sem se ouvirem, sem se verem, e de repente, com o vento a assobiar, as gotas transformaram-se em granizo, pesadas, barulhentas.

       A menina estava assustada, mas quando viu que a Avó estava a adorar aquele espetáculo, sentiu-se segura, e deixou-se levar pelo som da chuva, do vento, do granizo, deitou-se num pequenino sofá onde gostava muito de estar sentada a apanhar sol, e adormeceu.

      Sonhou que uma fada saiu de um raio de sol, e transformou-a numa gota de chuva. Foram as duas passear, pelas nuvens, e desceram,  levadas pelo vento. Chegaram ao solo, descendo pelo raio de sol entre as nuvens, até ao passeio.

      Primeiro, uma gotinha levezinha como se fosse um brilhante, a fada disse que ela estava muito bonita, parecia uma pedrinha preciosa, caída das asas de uma borboleta. 

      Depois, sentiu o vento, e tornou-se mais pesada, caminhou pelo passeio, e por onde passava deixava o rasto de muitas outras gotas de chuva caídas das nuvens.

      Essas gotas que ficavam para trás, amontoavam-se, e brilhavam. Mais à frente sentiram o vento forte, a menina ouviu outra vez no seu sonho, o barulho do vento forte, e da chuva a carregar, até que se transformou numa pedra de granizo, pesada, quase não conseguia andar pelos passeios.

      Não gostou nada dessa parte, por isso acordou, e olhou para a janela, ainda estava a chover muito pesado, o céu estava cheio de nuvens e o barulho do vento era assustador.             Contou à Avó o seu sonho, e as duas riram, mas concordaram que eram sons muito bonitos, agradáveis, diferentes.

      E vocês, se sonhassem que eram chuva, seriam gotinhas levezinhas, mais pesadas ou pedras de granizo? Ouviriam o som do vento? Como desciam das nuvens para a a terra?

                                Fim 

                           Lara Rocha 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

ser mãe e mulher (monólogo para adolescentes e adultos)










        A mulher às vezes é um lindo cisne de asas abertas, que se deixa levar pelas águas serenas do lago, ao sabor dos seus sonhos. Outras vezes, a mulher é um pavão com capacidade para seduzir.

        Umas vezes, a mulher é forte na máscara, mas por baixo da máscara ela esconde um ser frágil, um cristal, um botão de flor. Outras vezes, a mulher é uma tempestade, um raio luminoso, um vulcão que tudo derrete. 

        Mas seja qual for a sua máscara...Ela é sempre um ser mágico. Ela é MULHER! Essa é a verdadeira essência que todos acham que conhecem, mas muito raros são os que a conhecem realmente! Esses, jamais saberão os tesouros que cada faceta da mulher esconde.

        Ser mulher e ser mãe é difícil, porque é por muito tempo esquecermo-nos de nós próprias, para nos dedicarmos por inteiro aos nossos bebés, sem limite de idade! 

        Mesmo crescidos, é bom vê-los crescer, mas é triste perceber que não cabem mais no nosso colo. Ser mãe é ter o coração a bater muitas vezes forte disfarçadamente com sorrisos, mas com ele quase a sair pela boca, de preocupação. 

        Ser mãe é trabalhar até à exaustão e mesmo assim, ainda brincar com os seus pequenos como se estivesse ligada à tomada. Ser mulher e ser mãe é espalhar rastos de estrelas que acendem sorrisos com o olhar que só uma mãe tem, e iluminam os quartos dos filhos quando vão dormir só para não sentirem medo. 

        Ser mãe, é ter olhos de águia para vigiar os seus pequenos. Ser mãe é transformar-se em fera, com garras e dentes afiados para defender as crias de quem se atrever tentar fazer mal. 

        Mas ser mãe é também deliciar-se com o sorriso da sua criança, onde existe inocência, ingenuidade; pureza; bondade; simplicidade. E melhor ainda, o seu abraço, que é uma das formas mais puras, sinceras, verdadeiras de amor, reconhecimento e gratidão. 

        Quando a criança abraça um adulto, ela diz sem medo e sem máscaras, com toda a verdade, que gosta dele. No abraço de uma criança, e no brilho do seu olhar encontramos um momento de paz, e renascimento. 

        Um sorriso de uma criança, é um raio de sol, mesmo que esteja escondido entre as nuvens. Ser mulher e ser mãe é uma escolha, uma decisão que a cada uma diz respeito, porque não é fácil. 

Lara Rocha 

(12/Maio/2021)  


                   

Somos gaivotas em terra

foto de Lara Rocha 

Às vezes somos gaivotas em Terra em dias de tempestade. E outras vezes somos gaivotas na própria tempestade...Somos gaivotas em Terra...Quando temos o coração pesado...Cheio de dor, inundado de tristeza...Mas conseguimos sorrir, levantar a cabeça e seguir em frente. Conseguimos voar. Somos gaivotas na própria tempestade...Quando tentamos lutar e ficamos sem forças...A tristeza e a dor vencem-nos...As lágrimas caem teimosamente, mesmo que não queiramos...Somos gaivotas em Terra em dia de tempestade quando conseguimos ser mais fortes e encontrar a felicidade, mesmo que incompleta...Apenas aquela felicidade de máscara...Quando tirámos a máscara...sozinhos, entregues a nós mesmos, na dor, na tristeza, na solidão, na desilusão...Somos gaivotas na tempestade...quando damos pedacinhos de nosso coração, e quando nos retribuem esses pedacinhos com indiferença, com classificações pouco simpáticas...com o coração partido, pisado, magoado...Somos gaivotas em terra quando conseguimos continuar a dar pedacinhos do nosso coração. Somos gaivota na tempestade...Quando o conteúdo do nosso coração é tão pesado, quando está vazio, ferido...Que não conseguimos levantar quando não há qualquer máscara que nos valha...Quando os olhos mostram tudo...Somos gaivotas em terra e nas tempestades, quem nos protege da tempestade? Às vezes...Ninguém. Só nós mesmos...E a nossa força! E sem ela entregamo-nos, vivemos nesse mar revolto das emoções. Outras vezes...Há pescadores que nos salvam...Anjos que nos protegem, ventos que nos devolvem a força para enfrentar as tempestades, A força de um abraço, de um sorriso, de um carinho, de um beijo, de uma palavras meiga...Somos humanos, mas também somos gaivotas que queremos voar e nem sempre conseguimos, porque apanhamos tempestades.

                                                    Lara Rocha 

                                                   12/Maio/2021 

Há dias

foto de Lara Rocha 

    
   
Há dias em que me apetecia alguém completamente diferente da minha pessoa. 

Só porque...sim...tipo...apetecia-me ser uma égua, linda, elegante...e correr desenfreada, louca, solta, sem destino. 

   Subir montes, descer ravinas, percorrer castelos e campos verdes. Libertar toda a minha raiva relinchando até ficar sem voz...dar patadas. coices, fazer pó, cair em cima de certas pessoas...esbofeteá-las com o chicote da minha cauda, até ela me doer. 

     Poderia servir de defesa, proteger algumas pessoas em apuros. Gostava de ter poder para me transformar...e carregar em cima de mim, só os amores verdadeiros, os falsos, deitava-os abaixo e ainda lhes daria uma boa tareia. 

    Depois...poderia patinar no gelo, apenas com as minhas patas, devia ser bom escorregar...seria divertido! Queria ser muita coisa diferente do que sou. Por exemplo, há dias em que queremos tudo, e não queremos nada. 

     Há dias em que estamos calmos, e outros nervosos, dias em que somos: sol, luz, riso, euforia, alegria, sorrisos. E há dias em que somos...nuvens, chuva, cinzas, escuridão, tristeza, lágrimas, dor, tempestades...há dias em que sonhamos que somos capazes de abraçar o mundo inteiro, dias em que queremos ser vistos, e noutros dias queremos ser invisíveis. 

    Há dias em que desejamos poder curar o mundo, abraçar o mundo, mudar as pessoas, mudar a nós mesmos...há dias em que...quem precisa de abraços...nem que seja um...somos nós! 

      Até gostava de ser uma obra de arte, aliás, somos obras de arte, e tal como a arte, não encontramos sempre palavras para expressar as nossas emoções, nem as mais superficiais, nem as mais profundas. 

      Há dias em que queríamos ser perfeitos, mas nem as melhores obras de arte são perfeitas em tudo, quanto mais nós, que enfrentamos coisas boas e más?! Há dias em que gostava de ser uma imagem, que transmitisse o que estava a sentir, porque se em vez de palavras que podem ser traiçoeiras, ou «falsas», se pudéssemos utilizar imagens, para transmitir tudo o que às vezes fica em nós, teríamos menos problemas de saúde e emocionais. 

    Porque as imagens contam histórias, iguais às nossas e diferentes, mas que fazem despertar outras, que pensávamos estar esquecidas, guardadas no álbum das antiguidades. 

   Se nos pudéssemos transformar em arte para dizer o que sentimos, principalmente nos dias em que somos sombras deambulantes, nuvens cinzentas, chuva, escuridão, tristeza, poderíamos ser muita coisa: paisagens, mais ou menos bonitas, claras ou escuras, se pudéssemos obras de arte mais felizes, em dias tristes...elas contam histórias, fazem sentir algo especial, fazem pensar, sonhar, rir, chorar. 

    Podíamos ser qualquer tipo de arte, que é um meio de comunicação, para as palavras que se perdem e vagueiam sem encontrar a saída. Arte, dança, teatro, pintura, escrita, desenho, ou outras formas, são os suspiros da alma. Arte! 

     Há dias em que levamos o mundo à frente, e outros em que nos apetece fazer alguma coisa, mas não fazemos nada, não sabemos o que fazer. Há dias em que...somos apenas humanos, e por isso, temos dias de tudo! 

                                                                    FIM 
                                                                Lara Rocha 
                                                                12/Maio/2021 

terça-feira, 11 de maio de 2021

Os poderes do Lobo de pelo dourado

      



  Era uma vez um lobinho muito bonito, que nasceu com o pelo demasiado branco, os olhos de um azul muito clarinho, diferente dos outros. Chamaram-lhe floco. No início todos os adultos o olhavam de canto, desconfiados, nunca tinham visto um dos seus com aquela cor de pelo, mesmo assim, para não deixarem os pais tristes diziam que era um lobinho encantador. Os pequeninos não queriam saber qual a cor do pelo, queriam e adoravam brincar com ele. 

        Os seus pais pensaram que ele ia ser albino, mesmo assim iriam amá-lo, e tratavam muito bem dele. À medida que foi crescendo, o seu pelo branco foi ganhando umas rajadas douradas, que brilhavam de dia, e cintilavam de noite, como as estrelas. Ficaram todos muito assustados, e levaram-no a um sábio lobo, com muita idade, mas muito bem de saúde, cheio de conhecimentos. 

        Mal olhou para o lobito, pressentiu que ele ia ser especial, descansou os pais, dizendo que não tinha nenhum problema, talvez já outros antepassados teriam passado pelo mesmo, podia ficar assim, ou ficar totalmente coberto daquela cor e não tinha qualquer problema. Não revelou a outra parte, que o ia tornar diferente, mas ele sabia-o! 

        O lobo cresceu, e o seu pelo ficou todo dourado, cintilante, como era bonito! E parecia pressentir que havia lobos em perigo: aparecia pouco antes dos perigos acontecerem, e estava lá para salvar todos os que precisavam! 

        Quando os pequenos e grandes não sabiam da existência de armadilhas escondidas, o lobo farejava ou parecia receber sinais de alarme e como quem não quer a coisa, desviava o caminho para os livrar do perigo. 

        Abocanhava os pequenitos com carinho, pelo lombo, sempre se aproximavam do rio com água a correr com muita força, e entretinha-os na margem, explicando-lhes que não podiam estar ali, assim tão pequenos, era muito perigoso, pela água, e pelos ursos que iam lá pescar. 

       Pressentia quando as lobas iam ter bebés, mesmo antes das próprias saberem, cheirando-as na barriga, e esfregando-se centenas de vezes, perto delas, comportando-se como um lobinho bebé, a tentar comunicar-lhes que vinha mais um a caminho, e rondava-as sempre atento para que nada de mal lhes fizessem, perguntava sempre se precisavam de alguma coisa. 

        Quando os bebés nasciam, ele passeava-os e adormecia-os, acalmava-lhes as cólicas, brincava com eles, e protegia-os. Era padrinho de todos os pequenos, pela sua generosidade, cuidado e proteção. Acompanhava os lobos mais velhos, mais lentos, conversava longamente com eles, ria, e aprendia muito, como ele próprio dizia. 

        Sentia a aproximação de predadores, incluindo humanos que lhes queriam fazer mal, e mandava-os recolher, por isso nem sequer as sombras deles viam. À noite, o seu pelo era tão luminoso e cintilante que iluminava uma boa parte do chão por onde passava, e nunca passeava sozinho, porque uma alcateia inteira passeava com ele, sabiam que estavam em segurança. 

        Era quase uma lanterna! Brincava com todos, acompanhava todos, ajudava todos, protegia todos, faziam bailes à luz da Lua Cheia que ficava ainda mais misterioso e bonito com o brilho do seu pelo, ao dançar maravilhosamente bem. Uivava como, e com os grandes. 

        Pressentia quando se aproximavam tempestades umas horas antes, prevenia os outros que ia acontecer, por isso, deveriam fazer tudo o que precisassem até àquele tempo e ajudava-os. Era o orgulho dos pais e de todos, um floco branco que passou a ser dourado e era tão especial, cheio de poderes.

                                                                    FIM 

                                                                    Lara Rocha   

                                                                    11/Maio/2021

    

domingo, 9 de maio de 2021

pecados

foto tirada por Lara Rocha 


   Pecado...Dizem que é pecado escolheres amar alguém do mesmo sexo.  

Porquê? Como pode ser pecado, amar? Pecado...É ter de esconder o amor, só porque amas alguém do mesmo sexo. 

Pecado...amar...? Se o amor tem tantas formas. Pecado, é perseguirem-te pelas tuas escolhas, simplesmente por amares, como se o amor tivesse sexo. 

Pecado é seguires as regras da sociedade sem fazerem sentido para ti, é fazeres coisas, só porque a sociedade também faz, diz ou pensa...Pecado é sentires-te inferior, ou não gostares de ti como és, só porque alguém não gostou, ou só porque a sociedade acha que...Pecado é mudares só para agradar ao outro, pecado é sofreres, a fazer coisas que te obrigam a fazer, só para ficares bem visto ou seres aceite no grupo. 

Pecado é teres de esconder as tuas verdadeiras emoções, quando elas se manifestam, só porque os outros vão dizer...Fazer, ou pensar...Pecado é fechares-te só porque tens medo, pecado é ficares com alguém que não te preenche, só porque os outros já encontraram a sua cara metade, só porque dizem que és encalhada, ou que vais ficar para tia...

Que sentido é que isso faz, se na verdade tu não estás preocupado/a com isso? Para quê ter alguém só porque sim? Só porque dizem, só porque comentam...Só porque fazem. São felizes? 

Se tu és feliz assim, para que vais ser infeliz, só porque os outros…? Isso é pecado!  Pecado é a Guerra, mostrar a guerra, matar, principalmente crianças, explora-las, maltratarem-nas, abandonarem-nas, ou violarem-nas. 

Pecado é querer enriquecer a custa da exploração do desgraçado que trabalha para ele e para a família, sendo tratado como ratazana do esgoto ou objeto. 

Pecado é usar o ser humano e violar os seus direitos, a sua liberdade de escolher! Pecado...É julgarem-te por seres diferente. Pecado...É ignorarem-te, quando mais precisas, deixarem-te pendurada num encontro, e nem sequer atender o telefone ou não dar satisfações, fazer de conta que não combinaram nada, e no dia seguinte está tudo bem. 

Pecado...É gozarem das tuas dificuldades, eles não as têm? Pecado...É fazerem de conta que não existes. Pecado...É desvalorizarem-te! 

Pecado é usarem-te. Pecado é roubar. Pecado é prometer e fazer-te feliz com palavras bonitas, e depois tudo desaparece, quando já conseguiram o que queriam de ti, pecado é aproveitar-se da bondade de alguém. 

Pecado é magoar, humilhar, ofender. Pecado é ficar apenas por palavras! Pecado...Deixa o pecado! O pecado não é teu...Tu não és pecado! Tu não pecas, Tu és tu, e só pecas se deixares de ser tu, só a pensar nos outros. 

Pecado é tudo o que não és. Pecado é prenderes o amor dentro de ti, só porque alguém o recusou. Lembra-te, há mais alguém, além desse que não te viu. Pecado é viveres na sombra. 

Não faltam pecados, mas tu, és tu, e és diferente. Isso não é pecado! Sê tu própria, esquece os outros...que várias vezes também te esquecem! Esquece o que os outros dizem, pensam ou acham...Esquece esse assunto de ter de...Fazer como os outros, ser como os outros, esquece o não poder fazer ou dizer, porque os outros...Faz o que faz sentido para ti, e deixa os outros. Mostra a tua verdadeira essência, se  os outros não gostam, não gostam, problema deles...Não deixes que os outros te apaguem aquilo que és, como és, e o que dás. Pecado é não seres quem és! 

                                                                    FIM 
                                                                    Lara Rocha 
                                                                    9/Maio/2021
 
  
 

Horizonte

 



Horizonte

Quantas vezes não nos sentimos tão estranhos, sem saber o que fazer…o que pensar? Aquelas alturas em que parece que.. a cabeça está completamente vazia, aquelas alturas em que…parece que todas as palavras se evaporam

Perdemo – nos no horizonte; viajamos nele; vemos de cima, voamos mais baixo, mais alto…talvez na esperança de encontrar o que nos falta. Deixamo – nos levar pelo vento. 

Sentimos a brisa suave, salgada…o calor do sol…ouvimos o som do mar. Subimos as ondas, tocamo – las, envolvemo-nos na espuma e na areia…Voamos tão alto…Como as gaivotas, impulsionadas pelos seus gritos…Apanhamos estrelas – do – mar, conchas, búzios, beijinhos…pedras…

Apenas vemos as gigantescas rochas e penedos, montes, pensando ou tentando imaginar como foi possível irem lá parar? Será que foram os humanos que os puseram? Impossível? 

Olhamos para o horizonte e vemos o Mar...com as suas cores mais que maravilhosas, lindas, ficamos só a contemplar! Vemos Terra...sentimos areia...olhamos para os barcos e tentamos imaginar quem lá vai. Como são corajosos!  

No horizonte às vezes vemos nuvens, imaginamos formas, objetos, animais, pessoas, casais, reis, rainhas, cavalos, carros, barcos, dragões, ovelhas, e imaginamos como devia ser bom podermos tocar nas nuvens, se são leves ou pesadas, e deliciamo-nos com um azul que nunca mais acaba. 

Até vemos ou imaginamos sereias e golfinhos. Brincamos e mergulhamos com eles, felizes, leves, soltos, encantados com as suas melodias…Usamos para tudo isto e muito mais. Um meio de transporte não poluente...o nosso olhar! 

O horizonte não tem limites, como a nossa imaginação! Vai muito para lá do que os nossos olhos veem. 

                                                Fim 

                                                Lara Rocha 

                                                8/Maio/2021 

sábado, 8 de maio de 2021

Terra!

 

Desenhado por Lara Rocha 


Porquê? 

Porquê tanta gente sem vida, ou vivas mas vazias? Porquê? Tanta gente violenta, com sede de vingança, porquê? Tanta cabeça perdida? Porquê tanta gente louca a fundir-se na terra, em lágrimas, em desespero? Porquê tanta gente em destruição, que vive entre gritos, os delas e os dos outros contra elas? Porquê tanta gente a suicidar-se? 

Tantos porquês, que pensamos...tantos porquês que ficam sem resposta, apenas com a certeza...o mundo está doente! Tempestades absurdas nunca antes vistas, intempéries nunca antes sentidas, sismos e tsunamis que parecem descarregar toda a raiva que o ser humano exala a toda a hora, contra a terra, contra si, contra todos. 

A raiva do ser humano que passa para a terra, e esta devolve, em forma de fenómenos atmosféricos perfeitamente escandalosos, que apenas faziam parte do nosso pior imaginário, dos nossos pesadelos, mas estão a materializar-se. 

Que medo! Sim, muito! Isto é para acordar! Acordemos enquanto é tempo, se é que ainda o temos, porque ele voa. Tudo isto é para nos sacudir as consciências, para termos consciência do que andamos a fazer, a comportarmo-nos com a terra. 

Devíamos amar a Terra, como amamos as nossas mães, avós, filhas, irmãs, é dela que viemos, é nela que vivemos desde que nascemos, é dela que vivemos.

Cuidemos dela, amemo-la, protejamo-la, ou então, ela vai ensinar-nos a amá-la, e já não iremos aprender, já será tarde demais, ela já nos terá ensinado. Continua a ensinar, fá-lo todos os dias, mas os seus filhos, todos nós, continuamos a não ouvir, a não querer aprender a ler as mensagens que ela nos manda todos os dias. 

Ignorámo-la, e ela vai aprendendo a fazer o mesmo connosco. E não pensemos que as tempestades só acontecem fora, aqui no nosso cantinho sagrado não acontece nada! 

Pois, mas os glaciares derretem a olhos vistos, os fenómenos naturais visitam-nos, nada está como antes! Nada será igual àquela terra onde já vivemos. Não é só lá fora que as desgraças acontecem, e que a terra dá lições, aqui, a nós, também dá e dará, mais cedo ou mais tarde. 

Aliás, já estão a acontecer, nós é que com o corre corre, a ambição da produção, da riqueza, do dinheiro, da produção, esquecemos o resto, o principal. A nossa casa de origem! A nossa mãe de origem! 

Somos todos responsáveis, vejamos bem o que estamos a fazer. Por causa do homem selvático, louco, assassino da Natureza, que a destrói, de todas as maneiras que pode, polui com tudo o que inventa, só a pensar em si, no seu viver bem, talvez aí esteja a explicação de tudo! Pobre terra. Doente e cheia de doentes! 

                                        Lara Rocha 

                                        8/Maio/2021 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

O espelho das estrelas

       


 Era uma vez uma linda flor, numa janela de uma casa. Geralmente a flor ficava na beirada da janela, mas quando chovia guardavam-na num alpendre, para ficar protegida. Numa noite, as estrelas faziam o seu passeio noturno quando espreitaram pelos binóculos para o planeta terra, gostaram tanto daquela flor que se aproximaram, de tal maneira que conseguiram ver-se refletida nela. 

        Era uma flor que dava luz, e tinha pétalas lisas, macias, bonitas. As estrelas quiseram experimentá-la, e desceram, disfarçadas de borboletas para poderem pousar. A flor tinha umas gotinhas de água flutuantes que deslizavam de pétala em pétala, porque tinham-na regado, ao fim da tarde, achou um bocadinho estranho ver borboletas por ali àquela hora. 

        As estrelas disfarçadas de borboletas, transformaram-se em pirilampos, e sobrevoaram a flor, vendo a sua imagem refletida nas gotinhas. Esta já conhecia os pirilampos, mas assustou-se, e acendeu a sua luz, as estrelas disfarçadas conseguiram ver-se fletidas, como se estivessem em frente ao espelho. 

- Olá, linda flor, não te assustes, nós somos estrelas, mas tivemos de nos disfarçar de borboletas e agora de pirilampos. Vimos-te lá de cima, que bonita que tu és. 

- Espera aí...és uma flor ou um espelho? 

- Sou uma flor. 

- É que nós estamos a ver-nos aí nas tuas pétalas, em forma de pirilampos e de estrelas. 

- Áh! Devem ser as gotinhas de água da rega, ao fim do dia que adoram dormir nas minhas pétalas para eu ficar viçosa, fresca. 

- E tu dás luz? 

- Sim! 

- Áh! Nunca vimos uma flor a dar luz. 

- Eu também não sei como dou luz, acho que sou a única. 

- Então devemos estar a ver o nosso reflexo por causa da tua luz. 

- Vocês também têm luz, por isso pode vir de vocês, e veem-se nas gotinhas. Que lindas que são!

- Obrigada, tu também. 

- Fala-nos deste espaço onde moras... - pede uma estrela 

            A flor e as estrelas têm uma longa conversa, riem, e deixam um presente à flor, para lhe dar a certeza que voltariam muito em breve. Salpicaram as pétalas com o seu brilho, pareciam manchas de tinta, em formato de estrelas, e sempre que as gotinhas passassem por lá, ou o sol lhe tocasse, podia ver o arco-íris, que como combinaram, seria sempre as estrelas estivessem por perto, ou quando ela se sentisse sozinha, sabia que em breve estariam juntas, para grandes diversões. 

            Os donos não sabiam que aquela flor ganhava manchas de tinta brilhantes nas pétalas, nem descobriram como, mas era uma das flores preferidas deles, que atraia lindas e gigantescas borboletas, pirilampos, abelhas e as próprias estrelas iam ver-se ao espelho. Passaram várias noites a encontrar-se, a flor levou as estrelas a conhecer o espaço, a casa, o jardim que elas adoraram, com a sua luz, brincaram, cheiraram, rodaram na relva, acariciaram as outras flores, e nunca mais largaram a flor. As estrelas tornaram-se as melhores amigas da flor, levando muitas mais amigas, e passando noites divertidíssimas. 

                                                                FIM 

                                                           Lara Rocha 

                                                            5/Maio/2021

                                                        


segunda-feira, 3 de maio de 2021

Os peixinhos e as bolas de sabão

            


foto de Lara Rocha 

Era uma vez um peixinho que vivia numa gruta, atrás de uma gigante cascata desde a montanha até à margem. Um dia, o peixinho espreitou uns meninos na margem. felizes a fazer bolinhas de sabão. Ele não sabia como faziam mas achava tão giro, o entusiasmo e a alegria que todos mostravam, e a beleza das bolas enormes que conseguiam fazer. 
            As crianças riam às gargalhadas, corriam atrás das bolas que alguém soprava, saltavam com os cães que tentavam abocanhar. Eram aos milhares, de todos os tamanhos. Parecia fácil, apenas soprar. Depois de observar atentamente, foi para a gruta e tentou fazer o mesmo. Com a boca e a sua respiração já fazia bolinhas, mas pegou numa argola, deixada no rio,  soprou como via fazer mas não saíram bolinhas nenhumas. 
        Rodou, virou ao contrário, soprou e bolinhas nem vê-las. Outros peixes pensaram que o peixinho estava a rodar a argola para brincarem com ele. Então, atravessam a argola enquanto ele segurava, penduravam-se nela, o peixinho largou-a muito zangado e sentou-se amuado. Os amigos perguntaram porque é que ele estava tão aborrecido, se a brincadeira que tinham acabado de fazer até estava a ser divertida. 
        O peixinho explicou que espreitou os meninos na margem e estava a tentar fazer o mesmo. Todos os peixinhos foram espreitar à margem, ver como estavam a fazer, e ouviram um adulto a dizer: 

- Menino, já não há mais bolinhas! Acabou a água e o sabão! 

        Chegam uns artistas de circo com argolas enormes, para fazer bolas de sabão, e o jovem que estava com os pequenos pediu-lhes um bocadinho de água com sabão, se não se importassem,. Um dos artistas partilha, todo simpático, conversam uns com os outros, e os artistas faziam bolas ainda maiores, o triplo do tamanho das dos meninos. 
       Todos ficam maravilhados ao ver tanta bola de sabão, tão grande, cruzada com as mais pequenas, encaixadas umas nas outras sem rebentar, a voar, leves. As crianças e os outros adultos aplaudiram. Os peixinhos voltaram para a gruta, prepararam uma bacia com água e sabão, e sopraram vários tamanhos de argolas que apanharam no rio. Uau! Conseguiram. 
      Algas, peixes de todas as espécies e tamanhos, anémonas, estrelas-do-mar, cavalos marinhos, camarões, e muitos outros atravessaram as enormes bolas de sabão que os peixinhos fizeram. Umas rebentaram outras não, mesmo assim, a partir desse dia, passaram horas a brincar uns com os outros, a fazer bolas de sabão, e a espreitar na margem. 
      Que giro! Afinal os peixinhos também sabem fazer bolas de sabão, quando descobriram como se faz, não pararam mais. 


                                                                                    FIM 
                                                                                Lara Rocha 
                                                                                3/Maio/2021 

domingo, 2 de maio de 2021

O pássaro que dava gargalhadas

pintado a óleo por Lara Rocha 
           

            Era uma vez um pássaro gigante, com grandes penas, todas coloridas, que vivia escondido no tronco de uma árvore. Não gostava de pessoas, por isso só saía da árvore quando não passava ninguém. Um dos seus passatempos preferidos, sem saber que conseguia ter esse efeito, era além de dançar e exibir-se quando saia da árvore, ver comédias e rir à gargalhada. 

            Com todo o corpo e com toda a alma! Quando as pessoas passavam e ouviam essas gargalhadas estrondosas, estridentes, tinham reações diferentes. Umas arrepiavam-se dos pés à cabeça, ficavam estáticas, paradas em frente à árvore, como se estivessem coladas ao chão, só a mexer os olhos de um lado para o outro, a olhar para cada árvore, a tentar descobrir de onde vinham as gargalhadas. 

            Outros andavam sem pressa, mas quando ouviam as gargalhadas pareciam foguetes, corriam sem olhar para trás, e só paravam num sítio seguro a recuperar o fôlego. outras gritavam e corriam. Tudo porque não viam pássaro, nem pessoa, de onde viriam as misteriosas gargalhadas? 

            Um dia o pássaro decidiu sair da árvore, não deu as gargalhadas mas quem passou reparou nele, pela beleza das cores das suas penas gigantes e por ele estar a exibir-se, que parecia dançar. Aplaudiam, e ele fazia vénias todo vaidoso. 

Quando as pessoas começaram a rir-se, o pássaro deu as gargalhadas, aquelas de quem toda a gente tinha medo. 

- Áh! Então eras tu que davas aquelas gargalhadas que pareciam de gente! 

        O pássaro não sabia do que estavam a falar, mesmo assim, ria com vontade, com alma, dentro e fora da árvore. Eram umas gargalhadas contagiantes, e muito saudáveis, tão agradáveis de ouvir, que em vez de medo, depois de saberem de onde vinham, juntavam-se, e além de apreciar o passeio, deliciavam-se com as gargalhadas do pássaro. 

                                             FIM 

                                        Lara Rocha 

                                         2/Maio/2021