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terça-feira, 25 de julho de 2023

De que cor é a paz?

 


    Do livro de pintar para adultos  

     Era uma vez um menino que andava muito pensativo, sobre a Guerra e a Paz. 

    Não gostava nada do que via na televisão sobre os países em guerra, nem de ouvir os adultos a falar sobre Guerra, mas era o que existia. 

    Chorava quando ia dormir, agradecia por o seu país ter Paz, e por tanto ele como a família estarem em Paz. 

    Pedia nas suas orações em conjunto com a família, que a Guerra acabasse e que houvesse Paz. 

     Antes de ir dormir, aquelas imagens e a pena que sentia daquelas pessoas, perturbavam-no, mesmo não estando lá, porque conseguia imaginar-se naqueles sítios, imaginava o que ele próprio sentiria e a sua família se algum dos seus estivesse lá. 

     Adormecia com as lágrimas a cair, mas acreditava que um dia a Guerra acabaria. 

     Para tornar o sono mais agradável, depois de pensar na Guerra, pensava e perguntava-se: 

- Será que a Paz só tem a cor branca? Ou será que tem as cores da bandeira onde andam em Guerra, e as nossas em so...li...soli...solidaridade...ai...solidariedade, acho que é assim que se diz. 

        No dia seguinte, de manhã, ao pequeno almoço, perguntou à mãe: 

- Mãe...de que cor é a Paz? 

- É branca! 

- Será que não tem outra cor? 

- Não. Despacha-te mas é, esquece lá a cor da paz...! Temos de sair a seguir. 

- Está bem! 

        Entra o pai, e o menino pergunta: 

- Pai, de que cor é a paz? 

- É da cor do não me chateies, que estou cheio de pressa e do despacha-te! 

- Porque é que estão tão zangados? Também querem a Guerra, é? 

- Come e despacha-te. - gritam os dois 

- Deixa lá a Guerra, ela não está cá. 

     O menino fica tão triste, que quase não toma o pequeno almoço, e os pais cheios de pressa nem reparam. 

     Engolem os deles, pegam no menino, metem-no no carro e vão depressa levá-lo ao colégio, a mãe num carro e o pai no outro, com velocidade, a murmurar, a resmungar baixinho, a bufar, por causa do trânsito, a buzinar, a bater com as mãos no volante. 

     Nem um beijo deram um ao outro, nem ao menino, largam-no à porta do colégio e avisam-no que a Avó vai buscá-lo ao fim do dia. 

      O menino está triste como a noite. Entra na sala, cumprimenta a educadora, senta-se num canto triste. 

     A educadora vai ter com ele, preocupada, e pergunta: 

- Então, príncipe, estás muito triste hoje, o que aconteceu? 

    O menino desata num pranto, a educadora abraça-o, acaricia-o na cara, e o menino a soluçar responde: 

- Os meus pais hoje foram maus comigo, como são sempre. 

- Foram maus…? Mas....o que fizeram? Bateram-te? 

- Não. Gritaram comigo, eu perguntei se a paz tinha outra cor, mandaram-me despachar, disseram que a Paz tinha a cor do não me chateies e do despacha-te...isso não são cores, pois não? 

- Não! 

- Estão sempre a correr, sempre a gritar um com o outro e comigo, eu não gosto da Guerra, choro sempre à noite, por aquelas imagens, e agradeço por estarmos em paz, mas afinal, os meus pais não fazem pela paz, fazem Guerra. 

- Óh, meu querido, isso é muito bonito de tua parte. Os teus pais fizeram isso sem pensar, estavam com pressa para ir para o trabalho, os adultos são assim. 

- Nem deram um beijinho um ao outro, nem a mim...eu não gosto quando eles falam assim um com o outro e comigo! Parece que gostam da Guerra. 

- Não, eles não pensaram, só estavam com pressa, mas de certeza que te amam, e que querem a paz. 

- Mas, eu queria saber se havia outra cor da paz...eu gosto da Paz. Não sei porque ficaram tão zangados com essa pergunta! 

- Vais ver que à noite, já estão mais calmos. 

- Não gosto de os ver sempre a correr. Tu também corres? 

- Às vezes, sim, corro, quando me atraso, e às vezes também resmungo com o meu marido e com os meus filhos, mas gostamos da paz, fazemos pela paz, e ao fim do dia estamos todos bem. 

- Porque é que fazem isso? 

- Olha, porque...os adultos são uns apressados! Deixa lá, agora vamos mas é brincar! 

- Mas, e tu, achas que a Paz tem outra cor? 

- Huuummm… a paz tem a cor branca! Mas sim, pode ter outra cor. Que agora não sei. E tu, achas que a paz pode ter outra cor? 

- Sim! Azul, ou...amarelo, ou verde. 

- Áh, sim? Porquê?

- Azul porque é a cor do céu, do dia, o amarelo porque dá claridade e luz, o verde porque é natureza, e traz bem. 

- Olha, muito bem visto! Concordo contigo. Essas cores também me trazem Paz. Gosto muito dessas cores. 

- Eu também. 

- Agora lembrei-me de outra cor da paz...

- Qual? 

- A do sorriso! 

- Áh! Sim, e a dos abraços...-diz o menino

- Também! 

     A educadora abraça o menino, e este retribui o sorriso e o abraço. 

- E qual é a cor dos abraços? - pergunta o menino

- São muitas cores! Todas as alegres. 

- E a cor dos sorrisos? 

- Todas as cores alegres. 

- Tu gostas dessas cores? 

- Adoro. E tu? 

- Eu também. 

- Vamos lavar a carinha, brincar com os meninos e tu pode ir perguntando ou perguntamos na roda, aos outros meninos qual é a cor da Paz, combinado? 

- Combinado. 

   O menino abre um grande sorriso, vai brincar com os meninos, alegre, e quando se sentam na roda, a Educadora pergunta: 

- Meus amores...hoje o nosso amiguinho trouxe uma pergunta muito boa e bonita: qual é a cor da Paz? Eu quero saber o que cada menino acha! 

- Branca! - respondem em coro 

- Mas que outras cores podem ter? 

- A cor dos abraços. - diz uma menina 

- Que lindo! - diz a educadora 

- Tem a cor de quando nos portamos bem! - diz um menino 

- Gosto muito dessa cor! - diz a educadora a sorrir 

- Azul. - diz uma menina 

- Boa! Gosto muito dessa cor, para mim também me faz sentir paz. 

- É a cor dos jardins! - diz uma menina 

- Boa! Qual é a cor dos jardins? 

- São muitas. Verdes, todas as cores das flores. 

- A água! 

- Os rios! 

- Os lagos!

- Os pássaros. 

- A cor da amizade! 

- A cor dos risos. 

- A cor dos sorrisos. 

- A cor das estrelas e dos animais.

- A cor do carinho. 

- A cor de algumas canções! 

- A cor do canto dos pássaros. 

- A cor das borboletas e das joaninhas.

- A cor do vento. 

- A cor da chuva. 

- A cor das árvores, das folhas nas estações do ano. 

- A cor do dizer «bom dia», do «obrigado», do «gosto muito de ti». 

- A cor da praia. 

- A cor do mar. 

- É os pais não andarem sempre a discutir. 

- Pois, os meus andam sempre a discutir. 

- Os meus também! Às vezes nem falam comigo, só quando eu saio de onde eles estão. Apetece-me pô-los de castigo, ou dar-lhes umas sapatadas, como eles fazem.

      Todos dão uma gargalhada. 

- Não gosto nada quando eles fazem isso! 

- Nem eu! 

- Os adultos são mesmo assim. - diz a educadora 

- É os pais não andarem sempre a correr. 

- Os meus pais estão sempre a correr, engolem o pequeno almoço, fazem-me correr e engolir o pequeno almoço. 

- Os meus também. 

- Mas isso não é paz. 

- Depois de certeza que fazem as pazes…! 

      E ficam ali um bom bocado de tempo a dizer as cores que achavam que tinham a paz, na verdade, era tudo o que lhes trazia paz, o que os fazia sentir paz. 

      A falar de paz, e de Guerra, dão as mãos e pedem pela paz. O menino estava feliz com tanta coisa bonita que ouviu, e para ele tudo o que ouviu também eram as cores da paz. 

     No fim do dia, a Avó vai buscá-lo ao colégio, abraça-o, beija-o, e leva-o para sua casa, faz-lhe um lanche com tudo o que ele gosta. O menino pergunta ao Avô: 

- Avô, a Paz tem outras cores? 

- Sei lá, nunca a vi! 

- Já parecem as respostas dos meus pais! - diz o menino 

- Ááááhhhh...então não vives em paz comigo? - diz a Avó 

- Tem dias! - diz o Avô 

- Avó, para ti qual é a cor da paz? 

- Hummm…são muitas cores! 

      Enquanto o menino lancha com a Avó, a Avó diz-lhe cores parecidas com as que os meninos disseram. O menino sorri:

- Obrigada, Avó! Disseste coisas parecidas com o que os meninos disseram hoje. É que os meus pais estão sempre zangados, a correr, sempre a mandar-me despachar, sempre a correr, sempre a resmungar...eu acho que eles não conhecem a Paz. Eu não gosto da Guerra, quando adormeço peço sempre para a Guerra acabar, e agradeço por estar em paz, afinal vem os meus pais e andam em guerra. 

- Santa Inocência! - murmura e ri o Avô 

- Não, filho. Não andam em guerra, andam é mais nervosos, com muitas coisas a fazer, pensam em muita coisa ao mesmo tempo, atrasam-se, é o trabalho, é o trânsito...mas isso não é Guerra.

- Gritam um com o outro, e comigo, mandam-me despachar, fiz esta pergunta, o meu pai disse que era a cor do despacha-te e do não me chateies, nem repararam que eu nem tomei o pequeno almoço todo. Não me deram beijinhos, foram o caminho todo a resmungar. 

- Tu quando fores mais crescido, vais perceber melhor, mas não é Guerra, como a da televisão. 

- Mesmo assim não gosto. 

- Eu sei, mas é normal. 

     A Avó conversa com o menino mais um pouco, os pais vão buscá-lo quase à noite, e veem que o menino não quer ir. 

- Então filho? 

     Ele não responde, está triste. 

- Fez queixinhas. - diz a Avó 

- De quê? - perguntam os dois 

     A Avó conta a conversa que teve com ele, os pais ficam envergonhados, pegam nele ao colo, pedem desculpa, abraçam-no, beijam-no. 

- Eu não quero ir para a Guerra, nem para casa, para vos ouvir sempre aos gritos um com o outro, e comigo, a mandar despachar-me, ou a dizer que não me chateies. 

- Desculpa, filho. Estávamos nervosos, cheios de coisas para fazer, mas agora estamos mais calmos. 

- Não interessa. Magoaram-me! E magoam-me muitas vezes com as vossas pressas...parece que não existo. Só sirvo para vos atrasar, e para ser mais uma coisa a fazer. 

- Não, não é isso. 

- És o nosso filho, trabalho é trabalho, filho é filho. 

- Não parece. Vocês não gostam um do outro, nem de mim. 

- Claro que gostamos, amamo-nos, e a ti também. 

- Então porque estão sempre aos gritos um com o outro, a bufar, a gritar comigo, a mandar-me despachar...sempre a correr...isso é Paz? Não conheço essa cor, como Paz. 

- Desculpa, filho! - dizem os dois 

- Os adultos às vezes são muito mauzinhos, mas não é por mal. É sem querer, sem pensar. 

- Mesmo assim, amam-se e amam os filhos. 

- Como te amamos a ti. 

- A Avó não grita comigo, nem me manda despachar. Vou ficar com ela. 

- Prometemos que não voltamos a fazer isso, está bem? 

- Não acredito! 

- Podes acreditar. 

- Só estão bem no meio da Guerra, para vocês não existem cores da paz. Que tristeza! E deixam-me muito triste. 

- Nós sabemos

- Vamos! - diz a mãe 

- Jantamos e brincamos contigo, contamos-te uma história… pode ser? 

- Não acredito que vão fazer isso. Estão sempre com pressa! Até ao jantar, e para me deitar. 

- Mas a partir de agora vai ser diferente! 

- Se não for diferente, eu fujo para a casa da Avó. 

- Está bem. - diz o pai a rir 

- Vamos? - diz a mãe 

- Avó, está atenta ao telefone, se faz favor. Eu não acredito neles! 

- Obrigado, filho, por nos abrires os olhos! - diz o pai, triste 

- Obrigada, meu amor...não imaginávamos o quanto sofrias. 

- Mas em casa, explicamos-te, ou quando cresceres. 

- Eu não quero ser grande...quero viver sempre na Paz. Vocês nem sabem as cores da Paz, não veem nada, como podiam ver a minha tristeza…? É sempre o despacha-te, não há bom dia, nem beijinhos… 

- Tens razão! - dizem todos 

     Todos riem, e lá convencem o menino a ir para casa. Nesse dia cumprem o que prometeram e viram a diferença na criança. 

     Nos dias seguintes, sempre que podiam, evitavam discutir um com o outro, e gritar com a criança. 

     E para vocês…? Qual é ou quais são as cores da Paz, além do branco? Porquê? (crianças e pais, tios, avós...) 

Já pensaram nesta situação real em muitas famílias? A correria todas as manhãs, outras prioridades, em vez de estar inteiros com os filhos? Já imaginaram como eles se sentirão? Mesmo que as vossas preocupações sejam compreensíveis? Já agradeceram o vivermos num país em Paz? Tudo o que temos, e tudo o que os inocentes em Guerra perderam? 


Coisas simples, podem encher-nos de Paz. 


Podem deixar nos comentários se quiserem.

                                            FIM 

                                     Lara  Rocha 

                                   25/Julho/2023 




sábado, 22 de julho de 2023

A DANÇARINA DE RUA

 

    Era uma vez uma linda e elegante rapariga, mascarada, vestida com cores coloridas.     Todos os dias vestia uma roupa diferente, tal como fazia com as pinturas da sua cara. 

      Fazia parte do seu trabalho uma bola de acrílico, grande, transparente, às vezes preenchida com luzes, outras vezes brilhantes, cores e água. 

      As suas atuações eram tão mágicas que pareciam fáceis, deixavam todos na expectativa e às vezes assustados quando ela dançava e lançava a bola ao ar. 

     Adoravam vê-la pôr a bola a girar nas pontas dos dedos, um por um, em cada mão, e parecia tão leve como penas, em conjunto com o que tinha nas bolas, e o seu sorriso a mostrar ao público. 

      Dançava, contorcia-se, ondulava o corpo, soprava, deitava-se, a bola parecia ter cola no ar, quando se deitava a bola caía sobre as pontas dos dedos dos pés, e ela girava-as. 

      Aplaudiam-na, ela sorria, outras vezes utilizava várias bolas que flutuavam e não caiam ao chão, ela brincava com elas, soprava-lhes, e elas dançavam sozinhas no ar, misturavam-se, o que dava um efeito tão bonito que quem via parecia ficar hipnotizado! 

       A rapariga dobrava uma perna para trás, atirava a bola, ou várias bolas para as costas, elas desciam a rolar pelas costas e pousavam direitinho nos pés. 

       Quando chegavam aos pés, ela saltava como se tivesse uma corda nas mãos, e as bolas giravam, cruzavam, iam de um lado para o outro, umas para cima, outras para baixo e voltavam a subir. 

       Noutros espetáculos, a jovem dançava com as bolas e as mãos, era muito bonito de ver. Às vezes atirava as bolas livremente e estas percorriam os seus longos cabelos, como se estivessem a penteá-los, e ela apanhava-as no fundo das costas, atirando-as novamente para a frente, soprando e dançando com elas, como se fossem gente. 

       Eram todos tão bonitos, diferentes, tão apreciados...mas um dia cansou! Ficou sem ideias para os seus espetáculos. Olhava para as suas bolas, triste, e perguntava: 

- O que vou fazer convosco? Porque é que isto tinha de acontecer comigo? E agora? 

        Deixou de atuar duas noites, pensou, repensou, deambulou pelas ruas à procura de ideias, chorou, perguntou aos pais, mas os pais também não sabiam, parou na ponte a olhar para o rio. 

        Uma menina adolescente reconheceu-a: 

- Olá! Porque não estás a atuar? Gostamos tanto de te ver, mas não te temos visto! Está tudo bem? 

- Óh minha querida, obrigada...está tudo...

- Então porque estás a chorar? 

- É...porque...o rio...emociona-me...

- Claro, e eu nasci ontem! 

- Fizeste anos ontem? 

- (ri) Não, o que eu quero dizer é que sei que não estás a chorar porque o rio emociona-te! Mas não és obrigada a contar-me. Se precisares, eu estou aqui, só gostaria que voltasses a atuar. 

- (sorri) Tão querida! Pois, tens razão, eu não estou assim porque o rio emociona-me. Gosto do rio, claro que sim, mas estou mais triste por outra coisa. É que estou sem ideias para os meus espetáculos, e procuro novas ideias. 

- Sei o que sentes, eu sou igual, quando não consigo fazer trabalhos de grupo ou individuais, quando estou sem ideias, ou a pensar noutras coisas. Mas porque queres novas ideias? 

- Porque as pessoas não gostam dever sempre a mesma coisa, todos os dias. 

- Mas não são sempre as mesmas pessoas que te veem, e se forem, gostam de ver. Aquelas tuas bolas são mágicas, não cansam, apetece ver mais e mais. Adoro. Olha, porque não convidas quem te vê a brincar também com as tuas bolas? 

        A jovem fica pensativa, olha para a adolescente:

- Tu...achas que iam gostar? 

- Tu gostas do que fazes? 

- Adoro! 

- Eu adoro ver-te. Acho que ficamos todos com vontade de tocar e brincar com as tuas bolas. 

- A sério? 

- Sim, para saber se são leves, e como tu seguras nas pontas dos dedos, sem as deixar cair...como é que elas descem dos teus cabelos e tu consegues apanhá-las no fundo das costas, elas voltam a subir e parece que flutuam, que dançam contigo. É tão bonito! E tu danças tão bem! 

- Obrigada, princesa! - diz a jovem a sorrir 

- Faz mais espetáculos desses! E se queres fazer diferente, podes...pintar as bolas com outras coisas, sei lá...botões, balões, feijões, cascas, musgo, folhas secas, flores, pintas, conchas, areia, digo eu...não sei como as fazes, mas já vi pessoas a fazer isso, ou numas parecidas. E podes convidar o público a atuar contigo, ou outros amigos teus...! 

       A jovem abre um grande sorriso, abraça a adolescente, feliz e diz: 

- Mas que ideias maravilhosas que m deste hoje! Óh! Não sei como te agradecer. Já sei...queres ajudar-me a encher as bolas com coisas diferentes, e serás a primeira a ser convidada quando fores ver os meus espetáculos. 

- Eu aceito! - diz a adolescente feliz 

- Eu falo com os teus pais. Onde estão? 

- Ali! 

     A adolescente dá a mão à jovem e vai ter com os pais que ralham com ela: 

- O que é isto? Onde foste? Estávamos preocupadas contigo à tua procura, e agora aparecem com...ahhhh....é a jovem que atua, não é? (sorriem) 

- É. 

- Sim, sou eu, os senhores têm uma filha de ouro! - diz a jovem

- Ela estava triste, eu reconheci-a. 

- E se não fosse ela? - disse a mãe 

- Se não fosse ela, e estivesse em apuros, ia na mesma! Mas eu sabia que era ela. 

- Tem razão! - diz a jovem 

- Mas devias ter avisado...desapareces assim de repente... - ralha o pai 

- Desculpem, estavam a falar com aqueles amigos vosso... 

- Jovem, muitos parabéns pelo trabalho! - diz o pai a sorrir 

- Muito obrigada! - sorri a jovem

- Que bonita que és, com máscaras e sem máscaras! - diz a mãe a sorrir 

- Condizem com  os espetáculos! - acrescenta a adolescente 

- É verdade! - dizem todos 

- Obrigada! - diz a jovem a sorrir 

- Não te temos visto! - diz a mãe 

- Estava sem ideias, mas a vossa filha acabou de me dar umas excelentes ideias. 

        A jovem conta aos pais, e pede autorização, os pais sorriem orgulhosos. 

- Claro que sim! - dizem os dois

- Se os pais também tiverem ideias são muito bem vindas! - diz a jovem a sorrir 

- Vamos ver...quem sabe! - diz a mãe

- Mas realmente não deixe de atuar! - diz o pai 

        Os pais combinam com a jovem, como vão fazer, e o que fazer. 

- Muito obrigada! - diz a jovem 

        As duas abraçam-se. Nos dias seguinte, a adolescente e a jovem encontram-se na casa da adolescente, e as duas divertem-se como nunca. A mãe também dá sugestões, e ajuda, a conversar alegremente. 

        Vão em busca de plantas, flores, enchem algumas bolas de areia, pedrinhas, feijões, flores, pintam de várias cores, cantam, ensaiam juntas. 

       E a jovem volta a fazer lindos espetáculos, a fazer as delícias de todos os que viam, deixando sempre moedinhas e notas num saquinho, embora ela não o fizesse com esse objetivo, como já antes acontecia. 

       Convida o público para participar nas brincadeiras e espetáculos, tão bonitos, tao mágicos, como os dela. Aplaudem, fotografam, riem, interagem com ela, com muita gargalhada, dança, música, alegria e voltou a sentir-se feliz, com cada vez mais público a vê-la. 

       Nos espetáculos, pedia opinião aos espectadores sobre o que gostavam de ver, o que imaginavam que tinham aquelas bolas, e com isso ela ganhava novas ideias para mudar os espetáculos. 

      Cansou, mas não desistiu. Às vezes também cansamos, ficamos sem ideias, tristes, parece que os pensamentos nos fogem ou que estamos perdidos, mas encontramos uma nova inspiração e uma nova alegria, em pequenas coisas, pequenos carinhos, palavras de incentivo, conversas, partilhas, paisagens. 

       Se é mesmo o que gostamos, às vezes podemos mudar alguma coisa e tudo volta a ser como antes. 

E vocês? O que punham nas bolas? Podem imaginar e deixar nos comentários. 

                                                    FIM 

                                                Lara Rocha       

                                             8/Julho/2023                                      

                                           



quinta-feira, 6 de julho de 2023

A rapariga que mudava o dia das pessoas

 



        Era uma vez uma rapariga muito especial, diferente de todas as outras, a começar pela cor do cabelo, ruivo, dos olhos e da pele clara, e a sua sensibilidade. 

     Vivia numa aldeia pequena, onde todos se conheciam, e a menina também, só ainda não sabiam que ela era tão especial e que fazia tão bem aos outros. 

      Os pais e os Avós sentem orgulho nela, porque sabem que ela é uma boa menina, porta-se bem, é amiga de todos, simpática e gosta de ajudar. 

      Mas não sabiam que ela era assim tão sensível ao que os outros diziam sem palavras, às suas energias e expressões faciais, e que ajudava a melhorar. Aos poucos, ela foi mostrando quem era. 

   Era muito meiga, doce, sensível às energias dos adultos, sorridente, carinhosa, toda a gente repara nela. A sua diferença em relação às outras raparigas ainda mais as da idade dela, é que sentia quando alguém estava solitária, tristonha, vazia, com pensamentos feios, sem sorrisos, oferecia sempre alguma coisa para alegrar e transformar o dia dessas pessoas. 

     Não tinha dinheiro, mas tinha magia, pureza, inocência, bondade. Passou por um Sr. sentado num banco, carrancudo, parecia falar sozinho. A rapariga para em frente a ele, olha para ele: 

- Porque estás com essa cara tão comprida? 

- Não tens nada a ver com isso...(grita o sr.) 

- Com quem estás a falar? 

- O que te interessa? 

- Não vejo aí ninguém. 

- E depois? 

- Porque é que estás tão irritado? 

- Como é que sabes que estou irritado? O que sabes dos adultos? 

- Sei muita coisa. 

- São coisas de adultos. 

- Não devias irritar-te, nem falar assim...(atira-lhe uma flor para as pernas) 

- O que é isto? 

- Não conheces as flores? 

- Conheço! 

- Se falas assim com ela, como estás a falar comigo, ela vai murchar rápido, mas não faz mal. 

        O Sr. fica calmo de repente, olha para a flor, sorri. 

- Obrigado. 

- Trata-a bem. Quero ver o teu sorriso! 

- Não tenho sorriso. 

- Como não tens sorriso? Claro que tens...eu estou a vê-lo nos teus olhos, porque é que ele não aparece na tua boca onde todos aparecem? Porque estás trombudo. A resmungar...mas eu sei que também sabes sorrir. 

        O Sr. olha para a rapariga, ela sorri-lhe e ele retribui. 

- Não gosto desse sorriso, falso! - diz a rapariga 

- Não é falso. 

- Mas é triste, eu quero um sorriso feliz, aquele que vejo nos teus olhos e que quer sair. 

        O Sr. olha para a flor, e para a rapariga, ela sorri-lhe com toda a sua pureza, e ele abre um sorriso gigante, como não acontecia há muitos anos. 

- Assim, sim, esse foi um sorriso! - diz a rapariga a sorrir 

- Obrigado, realmente já não me sentia assim com tanta vontade de sorrir há muitos anos. 

- Pois, escondeste a tua criança.

- Escondi? As minhas crianças já cresceram, já pouco me ligam. 

- Os teus filhos ? 

- Sim. 

- Não estava a falar desses, estava a falar da criança que foste. 

- E tu consegues vê-la? 

- Consigo! Ela saiu agora, quando sorriste, ela também sorriu. Ela saiu quando olhaste para a flor e disseste obrigado, em vez de resmungares e estares carrancudo! Deixa-a sair. Dá-te saúde...cuida da flor. Volto um dia destes. (e vai ter com uma senhora sentada noutro banco) 

- Tão querida...que ser...especial. Será que existe mesmo, ou imaginei…? Não, não imaginei porque a flor está aqui. Não sei o que é que ela tem, mas é especial. - diz o Sr. 

- Olá, Sra. 

- Olá minha querida! 

- O que estás a fazer aí sentada, com esse ar tão triste? 

- Estou...a pensar só. Como sabes que estou triste…? Uma rapariga da tua idade...não se preocupa com os velhos. Que bonita que tu és! 

- Obrigada. Não conheço essa palavra horrorosa que tu disseste! Mas é claro que já raparigas e rapazes da minha idade que se preocupam com os avós deles, e com outros. - sorri a menina 

       A rapariga sorri e sopra uma joaninha que pousa na roupa da sra. 

- Áh! Que linda, uma joaninha. - diz a Sra. com um sorriso aberto 

- Assim está bem. Quero ver-te a sorrir da próxima vez que passar aqui! - diz a rapariga a sorrir 

- Combinado! - diz a senhora 

- A joaninha vai fazer-te sorrir. Até já. 

- E fez mesmo. Obrigada, querida. 

- De nada, até já. 

      A Sra. olha deliciada para a rapariga, que noutro banco estava uma mãe com um bebé ao colo, tristonha, e a menina sopra uma pequena borboleta com uma luzinha que circunda a mãe. 

      A mãe segue-a com os olhos, abre um grande sorriso de encanto, e vai para o bebé, que também ri à gargalhada, pondo a rapariga e a mãe a rir também à gargalhada, com as brincadeiras e mimos da borboleta com a luzinha.  

     A rapariga conversa um pouco com essa mãe que ganhou um novo ânimo, uma nova força, um novo sorriso. A mãe agradece. Vai para outro banco onde vê uma rapariga a chorar, encolhida. A rapariga acaricia-lhe os cabelos, estende-lhe a mão, e a jovem para a olhar para ela. 

- Quem és tu? Tão linda! (sorri) 

- Eu sei porque estás tão triste. 

- Sabes? Como? 

- Sei. Dá-me a tua mão! 

        A rapariga senta-se no banco, limpa as lágrimas, dão a mão, e a rapariga deixa-lhe uma flor na mão. 

- É para curar o teu coração partido! 

- Mas...como é que sabes que foi por causa disso? Está escrito na minha cara? (a rapariga ri-se) 

- Não está escrito, mas eu sei. 

- Posso dar-te um abraço? 

- Mas isso nem se pergunta...claro que sim! 

        As duas abraçam-se a sorrir. 

- Ai, não me apetece largar-te! Tens alguma coisa de muito especial!

- Eu? Não. Sou uma rapariga igual a ti. 

- Mas ninguém dá abraços assim tão bons, tão especiais. 

- Não sei o que te dizer, mas adoro abraços, deve ser por isso! 

- Eu também adoro abraços. 

- Também já te partiram o coração? 

- Claro que sim! Quantas vezes...sei como dói, mas faz parte, e há que seguir em frente. É porque não tem de ser. 

        As duas conversam um bocado de mão dada, a rir, e a sorrir. 

- Bem, desculpa, tenho de ir. 

- Está bem. Mas volta mais vezes! Adorei conhecer-te. E adorei os teus abraços. Obrigada por tudo. 

- Foi um gosto! Voltarei sim, até já. Mas amanhã quero ver-te sorrir como agora!

- Prometo que vou tentar. 

- Eu sei que vais conseguir. 

- Obrigada. 

- Até já. 

- Até já. 

   A rapariga continua a percorrer o jardim, soltando flores, borboletas, luzinhas, abraços que todos recebem com agrado, e abrem grandes sorrisos de ternura, joaninhas, balões, sorrisos a caras tristes, a pessoas chorosas, que ela sente que precisam. 

   Às vezes vai aos hospitais e discretamente sopra luzinhas de melhoras e de cura para quem lá está, e a realidade é que todos apresentavam melhorias. 

     Vai por casas de pessoas que vivem sozinhas no seu meio, estão à janela ou a trabalhar nas hortinhas, e a menina ajuda-os  com alegria. Todas as plantações e regas que a menina faz tornam-se mais bonitas, fortes, saudáveis, crescem, e parecem sorrir. 

    Passa algum tempo a conversar com elas, a fazê-las rir, lancha com elas, mostra-lhes coisas bonitas, faz companhia, aprende sempre muito com eles. 

    Na aldeia toda a gente a conhece, e quando perceberam que ela era uma menina jovem, realmente especial, todos começaram a procurá-la, porque fazia muito bem aos outros. 

     Era realmente uma rapariga muito jovem, que melhorava o dia das pessoas, em especial aquelas que estavam a sofrer, que eram mais solitárias, e tristes, que precisavam de um abraço, de um carinho, de quem as fizesse rir, de palavras simpáticas.

        Essa menina conseguia isso! 

E vocês têm coisas parecidas com esta menina? O quê?

Gostavam de ser como ela? Ou de ter uma amiga como ela? 

Se fossem como ela, o que faziam para alegrar pessoas mais tristes? 


                                                FIM 

                                             Lara Rocha 

                                            6/Julho/2023