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terça-feira, 25 de julho de 2023

De que cor é a paz?

 


    Do livro de pintar para adultos  

     Era uma vez um menino que andava muito pensativo, sobre a Guerra e a Paz. 

    Não gostava nada do que via na televisão sobre os países em guerra, nem de ouvir os adultos a falar sobre Guerra, mas era o que existia. 

    Chorava quando ia dormir, agradecia por o seu país ter Paz, e por tanto ele como a família estarem em Paz. 

    Pedia nas suas orações em conjunto com a família, que a Guerra acabasse e que houvesse Paz. 

     Antes de ir dormir, aquelas imagens e a pena que sentia daquelas pessoas, perturbavam-no, mesmo não estando lá, porque conseguia imaginar-se naqueles sítios, imaginava o que ele próprio sentiria e a sua família se algum dos seus estivesse lá. 

     Adormecia com as lágrimas a cair, mas acreditava que um dia a Guerra acabaria. 

     Para tornar o sono mais agradável, depois de pensar na Guerra, pensava e perguntava-se: 

- Será que a Paz só tem a cor branca? Ou será que tem as cores da bandeira onde andam em Guerra, e as nossas em so...li...soli...solidaridade...ai...solidariedade, acho que é assim que se diz. 

        No dia seguinte, de manhã, ao pequeno almoço, perguntou à mãe: 

- Mãe...de que cor é a Paz? 

- É branca! 

- Será que não tem outra cor? 

- Não. Despacha-te mas é, esquece lá a cor da paz...! Temos de sair a seguir. 

- Está bem! 

        Entra o pai, e o menino pergunta: 

- Pai, de que cor é a paz? 

- É da cor do não me chateies, que estou cheio de pressa e do despacha-te! 

- Porque é que estão tão zangados? Também querem a Guerra, é? 

- Come e despacha-te. - gritam os dois 

- Deixa lá a Guerra, ela não está cá. 

     O menino fica tão triste, que quase não toma o pequeno almoço, e os pais cheios de pressa nem reparam. 

     Engolem os deles, pegam no menino, metem-no no carro e vão depressa levá-lo ao colégio, a mãe num carro e o pai no outro, com velocidade, a murmurar, a resmungar baixinho, a bufar, por causa do trânsito, a buzinar, a bater com as mãos no volante. 

     Nem um beijo deram um ao outro, nem ao menino, largam-no à porta do colégio e avisam-no que a Avó vai buscá-lo ao fim do dia. 

      O menino está triste como a noite. Entra na sala, cumprimenta a educadora, senta-se num canto triste. 

     A educadora vai ter com ele, preocupada, e pergunta: 

- Então, príncipe, estás muito triste hoje, o que aconteceu? 

    O menino desata num pranto, a educadora abraça-o, acaricia-o na cara, e o menino a soluçar responde: 

- Os meus pais hoje foram maus comigo, como são sempre. 

- Foram maus…? Mas....o que fizeram? Bateram-te? 

- Não. Gritaram comigo, eu perguntei se a paz tinha outra cor, mandaram-me despachar, disseram que a Paz tinha a cor do não me chateies e do despacha-te...isso não são cores, pois não? 

- Não! 

- Estão sempre a correr, sempre a gritar um com o outro e comigo, eu não gosto da Guerra, choro sempre à noite, por aquelas imagens, e agradeço por estarmos em paz, mas afinal, os meus pais não fazem pela paz, fazem Guerra. 

- Óh, meu querido, isso é muito bonito de tua parte. Os teus pais fizeram isso sem pensar, estavam com pressa para ir para o trabalho, os adultos são assim. 

- Nem deram um beijinho um ao outro, nem a mim...eu não gosto quando eles falam assim um com o outro e comigo! Parece que gostam da Guerra. 

- Não, eles não pensaram, só estavam com pressa, mas de certeza que te amam, e que querem a paz. 

- Mas, eu queria saber se havia outra cor da paz...eu gosto da Paz. Não sei porque ficaram tão zangados com essa pergunta! 

- Vais ver que à noite, já estão mais calmos. 

- Não gosto de os ver sempre a correr. Tu também corres? 

- Às vezes, sim, corro, quando me atraso, e às vezes também resmungo com o meu marido e com os meus filhos, mas gostamos da paz, fazemos pela paz, e ao fim do dia estamos todos bem. 

- Porque é que fazem isso? 

- Olha, porque...os adultos são uns apressados! Deixa lá, agora vamos mas é brincar! 

- Mas, e tu, achas que a Paz tem outra cor? 

- Huuummm… a paz tem a cor branca! Mas sim, pode ter outra cor. Que agora não sei. E tu, achas que a paz pode ter outra cor? 

- Sim! Azul, ou...amarelo, ou verde. 

- Áh, sim? Porquê?

- Azul porque é a cor do céu, do dia, o amarelo porque dá claridade e luz, o verde porque é natureza, e traz bem. 

- Olha, muito bem visto! Concordo contigo. Essas cores também me trazem Paz. Gosto muito dessas cores. 

- Eu também. 

- Agora lembrei-me de outra cor da paz...

- Qual? 

- A do sorriso! 

- Áh! Sim, e a dos abraços...-diz o menino

- Também! 

     A educadora abraça o menino, e este retribui o sorriso e o abraço. 

- E qual é a cor dos abraços? - pergunta o menino

- São muitas cores! Todas as alegres. 

- E a cor dos sorrisos? 

- Todas as cores alegres. 

- Tu gostas dessas cores? 

- Adoro. E tu? 

- Eu também. 

- Vamos lavar a carinha, brincar com os meninos e tu pode ir perguntando ou perguntamos na roda, aos outros meninos qual é a cor da Paz, combinado? 

- Combinado. 

   O menino abre um grande sorriso, vai brincar com os meninos, alegre, e quando se sentam na roda, a Educadora pergunta: 

- Meus amores...hoje o nosso amiguinho trouxe uma pergunta muito boa e bonita: qual é a cor da Paz? Eu quero saber o que cada menino acha! 

- Branca! - respondem em coro 

- Mas que outras cores podem ter? 

- A cor dos abraços. - diz uma menina 

- Que lindo! - diz a educadora 

- Tem a cor de quando nos portamos bem! - diz um menino 

- Gosto muito dessa cor! - diz a educadora a sorrir 

- Azul. - diz uma menina 

- Boa! Gosto muito dessa cor, para mim também me faz sentir paz. 

- É a cor dos jardins! - diz uma menina 

- Boa! Qual é a cor dos jardins? 

- São muitas. Verdes, todas as cores das flores. 

- A água! 

- Os rios! 

- Os lagos!

- Os pássaros. 

- A cor da amizade! 

- A cor dos risos. 

- A cor dos sorrisos. 

- A cor das estrelas e dos animais.

- A cor do carinho. 

- A cor de algumas canções! 

- A cor do canto dos pássaros. 

- A cor das borboletas e das joaninhas.

- A cor do vento. 

- A cor da chuva. 

- A cor das árvores, das folhas nas estações do ano. 

- A cor do dizer «bom dia», do «obrigado», do «gosto muito de ti». 

- A cor da praia. 

- A cor do mar. 

- É os pais não andarem sempre a discutir. 

- Pois, os meus andam sempre a discutir. 

- Os meus também! Às vezes nem falam comigo, só quando eu saio de onde eles estão. Apetece-me pô-los de castigo, ou dar-lhes umas sapatadas, como eles fazem.

      Todos dão uma gargalhada. 

- Não gosto nada quando eles fazem isso! 

- Nem eu! 

- Os adultos são mesmo assim. - diz a educadora 

- É os pais não andarem sempre a correr. 

- Os meus pais estão sempre a correr, engolem o pequeno almoço, fazem-me correr e engolir o pequeno almoço. 

- Os meus também. 

- Mas isso não é paz. 

- Depois de certeza que fazem as pazes…! 

      E ficam ali um bom bocado de tempo a dizer as cores que achavam que tinham a paz, na verdade, era tudo o que lhes trazia paz, o que os fazia sentir paz. 

      A falar de paz, e de Guerra, dão as mãos e pedem pela paz. O menino estava feliz com tanta coisa bonita que ouviu, e para ele tudo o que ouviu também eram as cores da paz. 

     No fim do dia, a Avó vai buscá-lo ao colégio, abraça-o, beija-o, e leva-o para sua casa, faz-lhe um lanche com tudo o que ele gosta. O menino pergunta ao Avô: 

- Avô, a Paz tem outras cores? 

- Sei lá, nunca a vi! 

- Já parecem as respostas dos meus pais! - diz o menino 

- Ááááhhhh...então não vives em paz comigo? - diz a Avó 

- Tem dias! - diz o Avô 

- Avó, para ti qual é a cor da paz? 

- Hummm…são muitas cores! 

      Enquanto o menino lancha com a Avó, a Avó diz-lhe cores parecidas com as que os meninos disseram. O menino sorri:

- Obrigada, Avó! Disseste coisas parecidas com o que os meninos disseram hoje. É que os meus pais estão sempre zangados, a correr, sempre a mandar-me despachar, sempre a correr, sempre a resmungar...eu acho que eles não conhecem a Paz. Eu não gosto da Guerra, quando adormeço peço sempre para a Guerra acabar, e agradeço por estar em paz, afinal vem os meus pais e andam em guerra. 

- Santa Inocência! - murmura e ri o Avô 

- Não, filho. Não andam em guerra, andam é mais nervosos, com muitas coisas a fazer, pensam em muita coisa ao mesmo tempo, atrasam-se, é o trabalho, é o trânsito...mas isso não é Guerra.

- Gritam um com o outro, e comigo, mandam-me despachar, fiz esta pergunta, o meu pai disse que era a cor do despacha-te e do não me chateies, nem repararam que eu nem tomei o pequeno almoço todo. Não me deram beijinhos, foram o caminho todo a resmungar. 

- Tu quando fores mais crescido, vais perceber melhor, mas não é Guerra, como a da televisão. 

- Mesmo assim não gosto. 

- Eu sei, mas é normal. 

     A Avó conversa com o menino mais um pouco, os pais vão buscá-lo quase à noite, e veem que o menino não quer ir. 

- Então filho? 

     Ele não responde, está triste. 

- Fez queixinhas. - diz a Avó 

- De quê? - perguntam os dois 

     A Avó conta a conversa que teve com ele, os pais ficam envergonhados, pegam nele ao colo, pedem desculpa, abraçam-no, beijam-no. 

- Eu não quero ir para a Guerra, nem para casa, para vos ouvir sempre aos gritos um com o outro, e comigo, a mandar despachar-me, ou a dizer que não me chateies. 

- Desculpa, filho. Estávamos nervosos, cheios de coisas para fazer, mas agora estamos mais calmos. 

- Não interessa. Magoaram-me! E magoam-me muitas vezes com as vossas pressas...parece que não existo. Só sirvo para vos atrasar, e para ser mais uma coisa a fazer. 

- Não, não é isso. 

- És o nosso filho, trabalho é trabalho, filho é filho. 

- Não parece. Vocês não gostam um do outro, nem de mim. 

- Claro que gostamos, amamo-nos, e a ti também. 

- Então porque estão sempre aos gritos um com o outro, a bufar, a gritar comigo, a mandar-me despachar...sempre a correr...isso é Paz? Não conheço essa cor, como Paz. 

- Desculpa, filho! - dizem os dois 

- Os adultos às vezes são muito mauzinhos, mas não é por mal. É sem querer, sem pensar. 

- Mesmo assim, amam-se e amam os filhos. 

- Como te amamos a ti. 

- A Avó não grita comigo, nem me manda despachar. Vou ficar com ela. 

- Prometemos que não voltamos a fazer isso, está bem? 

- Não acredito! 

- Podes acreditar. 

- Só estão bem no meio da Guerra, para vocês não existem cores da paz. Que tristeza! E deixam-me muito triste. 

- Nós sabemos

- Vamos! - diz a mãe 

- Jantamos e brincamos contigo, contamos-te uma história… pode ser? 

- Não acredito que vão fazer isso. Estão sempre com pressa! Até ao jantar, e para me deitar. 

- Mas a partir de agora vai ser diferente! 

- Se não for diferente, eu fujo para a casa da Avó. 

- Está bem. - diz o pai a rir 

- Vamos? - diz a mãe 

- Avó, está atenta ao telefone, se faz favor. Eu não acredito neles! 

- Obrigado, filho, por nos abrires os olhos! - diz o pai, triste 

- Obrigada, meu amor...não imaginávamos o quanto sofrias. 

- Mas em casa, explicamos-te, ou quando cresceres. 

- Eu não quero ser grande...quero viver sempre na Paz. Vocês nem sabem as cores da Paz, não veem nada, como podiam ver a minha tristeza…? É sempre o despacha-te, não há bom dia, nem beijinhos… 

- Tens razão! - dizem todos 

     Todos riem, e lá convencem o menino a ir para casa. Nesse dia cumprem o que prometeram e viram a diferença na criança. 

     Nos dias seguintes, sempre que podiam, evitavam discutir um com o outro, e gritar com a criança. 

     E para vocês…? Qual é ou quais são as cores da Paz, além do branco? Porquê? (crianças e pais, tios, avós...) 

Já pensaram nesta situação real em muitas famílias? A correria todas as manhãs, outras prioridades, em vez de estar inteiros com os filhos? Já imaginaram como eles se sentirão? Mesmo que as vossas preocupações sejam compreensíveis? Já agradeceram o vivermos num país em Paz? Tudo o que temos, e tudo o que os inocentes em Guerra perderam? 


Coisas simples, podem encher-nos de Paz. 


Podem deixar nos comentários se quiserem.

                                            FIM 

                                     Lara  Rocha 

                                   25/Julho/2023 




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