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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A árvore Cristal

       
       Foto de Lara Rocha 

             Era uma vez uma árvore centenária, a quem chamavam Cristal. Já tinha visto crescer e envelhecer várias gerações de pessoas da mesma família, estava no meio de tantas outras, cheia de folhas com as cores do Outono: amarelas, castanhas, verdes claras, verdes escuras, vermelhas, manchadas e todas lindas.
         Uma menina que olhava pela sua janela, num dia de aguaceiros, reparou em algo muito diferente que nunca tinha visto naquela árvore de quem toda a família falava. A Cristal estava muito mais brilhante do que as outras.
       O vento soprava forte, e quando abanava as folhas, esta parecia que estava cheia de leves teias de aranha que dançavam ao vento. Foi a correr ter com a mãe à cozinha, que estava muito atarefada, pediu que visse a Cristal:
- Mamã, o que achas que tem aquela árvore?
- Qual?
- A Cristal.
- Para mim são todas as árvores iguais, que mudam as suas folhas conforme a estação do ano, e estão ali desde há dezenas ou centenas de anos.
- Está bem, eu sei isso tudo, mas a Cristal, tem... qualquer coisa que a faz brilhar muito. Acho que são teias de aranha penduradas.
- Que disparate! As aranhas não andam nas árvores. Quer dizer, podem andar, mas não fazem as teias ali.
- Porquê? Têm medo de alturas?
- É! Deve ser.
- Olha...elas a abanarem com as folhas, sempre que o vento lhes dá.
- Sim, mas duvido que sejam teias de aranha.
- Mas as teias de aranha não brilham ao sol, nem abanam com o vento?
- Sim, fazem isso tudo, mas não neste sítio.
- Porque não?
- Ai...óh filha, vai fazer outra coisa. Deixa lá a Cristal sossegada, ela não te come.
- É vaidosa?
- É.
       A menina fica amuada, a mãe volta para o seu trabalho. Não satisfeita com aquela resposta, foi perguntar ao seu pai que ralhou com ela porque também estava muito ocupado, e não podia perder tempo a olhar para árvores. Disse para perguntar à Mãe, mas isso já tinha feito. A menina, triste, foi tentar a sua sorte, e perguntar aos avós que estavam a trabalhar na horta.
- Avó, olha a Cristal está a brilhar.
- Áh. É linda.
- Porque é que ela brilha tanto? São teias de aranha penduradas nas folhas que abanam com o vento?
- Não me parece! - diz o Avô
 - Também acho que não. - Diz a Avó
- Então o que brilha?
- É um presente dos anjos! - diz o Avô com ar poético a sorrir
- A sério? Tu viste Avô?
- Vi.
- E como é que eles fizeram isto?
- Isso é segredo deles! - diz a Avó a sorrir
- Tu também viste os anjos, Avó?
- Vi.
- Áh! Que lindo! Está tão bonita esta árvore. São cristais?
- São! - Respondem os dois
- Transparentes como as lágrimas. - Diz a Avó
- Lágrimas? De quem? - pergunta a menina
- Não sei! - Dizem os Avós
- O sol beija os cristais - diz a Avó
- Beija os cristais? Então são estrelas? - deduz a menina
-É! São estrelas de dia! - Sorri o Avô
- São iguais às estrelas da noite? - pergunta a menina
- Não! Estas estrelas só se vêem de dia, e as outras só se vêem de noite.
- Também são os anjos? - pergunta a menina
- São! - respondem os dois
- E porque é que eles põem estrelas de dia e estrelas de noite?
- Para nos mostrar que estão connosco, que nos amam e protegem. - responde o Avô
- Áh! Que lindo. Obrigada, anjos. E porque é que eles não puseram cristais em todas as árvores? Ficam tão bonitas! - observa a menina
- Não devem ter que chegue. - Diz a Avó
- Ou então, puseram naquela árvore para que tu os visses, fica mesmo em frente à tua janela... - justifica o Avô
- Uau! - Sorri a menina
- Eles estão felizes! - Diz a Avó
- Como sabes?
- Porque estão a dançar nas folhas! - diz o Avô
- Áh, tu consegues vê-los?
- Consigo! E tu também estás a vê-los.
- Estou?
- Estás. Estão a cintilar...vês?
- Sim, mas eu não estou a ver anjos.
- Estás sim! Os cristais na árvore...e em tudo o que há na Natureza. São eles que estão lá. Nós é que nem nos lembramos que eles existem e que nos enchem de mimos! E nós...nem agradecemos! Mesmo assim, eles estão sempre ali, ali, aqui, acolá...em todo o lado! - diz o Avô
- É verdade! - Confirma a avó
- Os anjos não precisam de ser vistos, como os pintam, ou dizem que são! Eles são discretos. Mas fazem coisas maravilhosas. - Diz a Avó
- Pois é! Obrigada Anjos...adoro-vos.
            Caem umas pintas de chuva e aproxima-se uma nuvem negra.
- Óh, vai chover! - repara a menina
- Os anjos até na chuva estão. - Diz a Avó
           Os três entram em casa. A menina olha pela janela, e chove torrencialmente.
- Olhem... os cristais desapareceram! - repara a menina
- Os anjos foram brincar para outro lado! - diz o Avô
- E levaram os brilhantes?
- Eles voltam...
- Mamã, olha os Avós já disseram que a Cristal brilha porque estão lá anjos.
         A mãe sorri ao olhar com ternura para os pais e para a menina. Eles retribuem.
- Áh...pois... eu disse-te logo que não eram teias de aranha.
- Ai, tu também já sabias?
- Já. Mas estava tão ocupada que não me lembrei quando falaste da Cristal...não estava atenta.
- Tu também vês anjos a dançar ali na árvore?
- Vejo.
- Podias ter dito logo.
         Todos sorriem.
- Quis que tu visses primeiro. Podias não os ver.
- Há pessoas que não os vêem. - Diz a avó
- Então, eu já os vi em muitos lugares! - repara a menina
- Já.
- Vejo-os todos os dias.
- Sim! - dizem todos
- Em todas as surpresas que eles deixam em tudo o que é bonito na Natureza.
- Ora.
         O sol reabre e as árvores ao lado também ficam brilhantes.
- Olha, Avô. Voltaram!
- Sim! Estavam abrigados...
- Ou foram buscar os outros para brincar! Porque as árvores ao lado também estão brilhantes.
- É verdade! Eles gostam de brincar acompanhados.
- Obrigada, anjos...! Pela vossa presença, e pelas prendas!
- Obrigada! - dizem todos

E vocês? Já viram anjos? Onde? Em quê?

                                                                  FIM
                                                                 Lálá
                                                                (22/Nov/2018)