Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

notas outonais

       


         Era uma vez uma menina que num dia cheio de nuvens, vento frio e chuva, desenhou várias notas musicais, em linhas de uma pauta musical, sem saber que notas eram aquelas, e se dariam uma música. Era apenas um pedaço de papel de músicas, com uns desenhos parecidos com notas que ela nem sabia quais eram, mas foi o que lhe apeteceu desenhar na hora.
        Olhou pela janela e vê uma chuva de folhas a cair das árvores, a rodopiar como ela nunca antes tinha visto, faziam redemoinho.
- Que ventania! - Diz a menina assustada
- Filha, anda lanchar... - Diz a mãe da cozinha
- Óh mãe, anda ver como aquelas folhas caem e rodopiam.
- Claro, está muito vento. - Diz a mãe
- Eu nunca as vi  rodopiar assim!
- Pois não, não adamira, estás sempre a olhar para outras coisas.
- Alguma coisa de muito estranho está a acontecer lá fora.
- Não há nada de estranho. Anda lanchar.
        A menina vai lanchar, mas sempre a pensar no que tinha visto. Enquanto ela está na cozinha, as notas musicais apresentam-se, e conversam entre elas. Quando a menina chega, calam-se. Olha para o desenho e está tudo igual:
- Será que estes desenhos têm algum valor? Será que são uma música?
        Quando o seu irmão mais velho chegou, a menina pediu-lhe para tocar na viola, aquelas notas musicais.
- Óh mano, achas que isto que desenhei são notas musicais?
        O irmão olha:
- Claro que são.
- São? Eu desenhei, mas não sei o que significam. Será que consegues tocá-las aí na viola?
- Posso experimentar...
        O irmão segue as pautas, e toca nota por nota, cada nota dança e canta com a voz que lhe pertence, depois toca tudo seguido, e todas as notas cantam em coro, dançam, brincam umas com as outras. O irmão sorri:
- Viste? Construíste uma linda canção.
- Gostaste? - Pergunta a menina a sorrir
- Gostei muito. É bonita. Onde foste buscá-la?
- Só desenhei estas bolinhas, com estes traços à sorte, vi-as num caderno teu, achei-as engraçadas e há bocado quando olhei para a janela, lembrei-me delas. Não sabia se iam ser música ou não, mas pelos vistos...
- Sim, construíste mesmo uma música.
- É assim que tu também fazes as tuas músicas?
- Algumas sim, mas a maior parte delas já está feita, eu só copio. Que nome queres dar a esta tua música?
- Hum, não sei. O que achas?
- A mim parece-me uma música de Outono. Quando a ouço, parece que consigo imaginar folhas de outono, o vento, as nuvens...os sons soam-me a Outono. Parece que consigo ver uma cor de Outono em cada nota musical que desenhaste.
- Áh! E quais são as cores do Outono que consegues ver?
- As que tu conheces...amarelo, verde, castanho, vermelho, roxo, cinzento, cores misturadas...
- E como é que consegues ver?
- Com os olhos da minha imaginação, os sons também nos fazem sentir coisas...despertam a nossa imaginação, como as palavras e as imagens.
- Que lindo! Nunca experimentei.
- Experimenta...fecha os olhos, eu vou tocar outra vez a tua música, e esquece o que eu disse... deixa que seja a tua imaginação a falar, pode ser muito diferente da minha. Preparada...?
- Sim.
         A menina fecha os olhos, e o irmão toca a música que ela própria compôs. Enquanto o irmão tocava, ela também deixou que a sua imaginação falasse. Encontrou-se com uma princesa feita de tronco de árvore, cheia de folhas e ramos ondulados que faziam lembrar os cabelos, tinha dois olhos, que eram uns enormes girassóis, um botãozinho de tronco que era o nariz, uma boca com um lindo sorriso, a condizer com os olhos, um vestido amarelo, com folhas de várias cores pregadas, e castanhas como se fossem brilhantes espalhadas por todo o vestido. Era tão simpática.
         As notas musicais, puseram o ser que ela imaginou, a dançar, e tudo nela dançava, até dançaram as duas: a menina e a outra menina que ela imaginou. Quando a menina lhe perguntou quem era, e como se chamava, ela disse que era a menina Outono.
         O irmão acabou de tocar, e ela diz:
- Mano, essa música vai chamar-se a menina Outono! Eu encontrei-me com ela, essa música fez magia...! Enquanto tocavas, vi uma menina  feita de tronco de árvore, cheia de folhas e ramos ondulados que faziam lembrar os cabelos, tinha dois olhos, que eram uns enormes girassóis, um botãozinho de tronco que era o nariz, uma boca com um lindo sorriso, a condizer com os olhos, um vestido amarelo, com folhas de várias cores pregadas, e castanhas como se fossem brilhantes espalhadas por todo o vestido. Era tão simpática! Dançamos as duas, e ela disse que era a menina Outono!
- Áh! Vês? Imaginaste uma coisa diferente de mim, enquanto ouvimos a mesma música. O tema era o mesmo...o Outono, mas o que imaginamos sobre o Outono, foi diferente.
- Pois foi. Que engraçado!
- Imaginaste uma coisa muito bonita.
- Eu também gostei.
- E que tal se esta música se chamar... notas Outonais?
- Notas Outonais...? Hum, até acho um nome bonito. É...acho que pode ser.
- Vou tocá-la aos meus amigos, pode ser?
- Pode. E pergunta-lhes o que imaginaram com essa música.
- Está bem. De certeza que vão gostar.
- Obrigada. Se calhar vão imaginar outras coisas diferentes.
- Sim, claro. Mas pode ser que o tema seja o mesmo. Estamos a entrar no Outono.
- Quando é?
- Depois de amanhã.
- O tempo que faz lá fora, já parece Outono.
- É. Ele já anda por aí.
- O Outono é um menino ou uma menina?
         O irmão dá uma gargalhada.
- É um menino...
- Então porque é que eu vi uma menina?
- Não sei, ele pode ter uma irmã!
- Pode, e pode ser gémea. Da próxima vez que a encontrar pergunto-lhe.
- Claro, se ela for como a que tu viste, ele é muito parecido. Mas achas que vais vê-la outra vez?
- Sim.
- Podes imaginar outras coisas diferentes, das próximas vezes que ouvires a música.
- É?
- É!
- Tu gostas dele?
- Gosto...algumas coisas.
- Eu também gosto.
        Os dois irmãos continuam a conversar sobre o Outono que se aproxima rapidamente, falam do que ele traz, do que muda na natureza, do que mais gostam e do que menos gostam. O irmão toca a música da menina aos amigos, e estes imaginam outras coisas, como era de esperar, mas dão os parabéns à menina pela música tão bonita que criou, sem saber que o que ela pensava ser só um desenho, afinal era música que o irmão conseguiu tocar na sua viola, e gostou muito.

                                                          FIM
                                                          Lálá
                                                 (20/Setembro/2017)  

E vocês? Acham que o Outono é um menino ou uma menina? Como é que o, ou a imaginam? O que gostam mais dessa estação do ano? O que muda na natureza? Façam uma composição ou um desenho sobre isso!

sábado, 9 de setembro de 2017

Os cheiros no quarto da Maria e da Luísa




foto de Lara Rocha 

            Era uma vez duas meninas: uma chamava-se Maria, a outra chamava-se Luísa, que eram irmãs e dormiam em quartos separados. Uma noite, a Luísa que era a mais nova acordou para ir à casa de banho e sentiu um cheiro no seu quarto que não costumava sentir. Cheirava-lhe a praia, maresia e algas.
- Mas que cheiro bom é este?
            Foi ao quarto da irmã Maria, mais velha, que estava a dormir, e acorda-a:
- Mana…há um cheiro diferente no meu quarto!
            A irmã acorda assustada, com os abanões da Luísa.
- O que foi, Luísa?
- Tenho um cheiro diferente no meu quarto! 
- A quê?
- A maresia, a algas e a praia.
- Como é possível? Não tens a janela aberta, nem estás na praia.
- Pois não! Mas acordei para ir à casa de banho e senti esse cheiro.
- Óh, deve ser impressão tua! Se calhar sonhaste que estavas na praia ou imaginaste!
- Anda comigo, para sentires o cheiro!
- Que chata, Luísa. Vai dormir, deixa o cheiro para lá!
- Anda comigo mana, vá lá…por favor!
- Ai…! Eu tenho que aturar cada uma…
                A Maria levanta-se e vai com a Luísa, de olhos quase fechados ao quarto.
- Cheira! – Diz Luísa
            A Maria inspira e responde:
- Não sinto nada, cheiro nenhum. Sonhaste, só pode.
- Mas eu sinto esse cheiro.
- Eu não! Vai dormir, que eu também vou dormir. E não me acordes outra vez para cheirar se cheira.
            A Maria volta para o seu quarto, e a Luísa fica no dela, amuada. Volta a dormir, mas sempre a pensar no cheiro, de onde vinha e porque é que a Maria não tinha sentido! Adormece e volta a acordar. Agora cheira-lhe a cerejas. Acende a luz para ver se existiam cerejas no quarto mas não as encontrou.
- Cheira-me a cerejas, mas não estão aqui no quarto!
            Levanta-se e vai ao quarto da Maria outra vez. Acorda-a e diz-lhe:
- Mana, agora cheira-me a cerejas! Anda…
- Outra vez, Luísa? Que chata. Agora não vou. Há bocado cheirava-te a praia, algas e não sei que mais, agora cheira-te a cerejas. Dorme! Esquece os cheiros, isso és tu a imaginar. Vai dormir.
                Luísa amua e volta para o seu quarto. O cheiro a cerejas tinha desaparecido. Ela fica muito pensativa, mas volta a dormir. Quando acorda outra vez sente um cheiro de flores. Levanta-se:
- Agora cheira-me a flores. Não estou a perceber nada.
            Procura no quarto todo.
- Nada de flores.
            Vai ao quarto da Maria, mas esta grita-lhe:
- Nem te atrevas…já vens outra vez com a história dos cheiros? Vai dormir.
            Luísa ainda tenta:
- Agora cheira-me a flores!
- E a caca não te cheira? – Diz a irmã zangada
            A Luísa choraminga:
- Má…
- Vai dormir.
                Luísa não consegue sossegar. Já que a irmã não lhe ligou, foi ao quarto dos pais.
- Mamã, papá, cheira-me a flores no quarto! Há bocado cheirou-me a mar, algas e praia, depois cheirou-me a cerejas, agora cheira-me a flores. Venham ao meu quarto. A mana foi lá mas diz que não lhe cheirava a nada. A mim cheirou-me, mas depois quando voltei já não me cheirava a cerejas. Mas agora cheira-me a flores. Anda cheirar mamã…e papá! Não sei de onde vem, eu não tenho flores no quarto.
            O pai mandou-a dormir, zangado, a mãe vai com ela ao quarto, inspira e diz:
- A mim não me cheira a nada, filha!
- A mim cheira-me a flores. Há bocado fui à casa de banho e cheirou-me a praia, algas e mar.
- Depois a cerejas e agora a flores. Deves ter sonhado, ou imaginaste! – Diz a mãe
- A mana também me disse isso. Mas eu sinto, e senti. – Garante Luísa.
- Está bem, agora dorme!
            A menina amua, a mãe cobre-a, dá-lhe um beijo e volta para o seu quarto, apagando a luz. No seu quarto, Luísa vê uma luzinha a andar de um lado para o outro, e agora sente no ar muitos cheiros diferentes, a fruta. Luísa senta-se na cama, a Luzinha aproxima-se e Luísa vê que é uma fada pequenina, com um cesto cheio de frascos vaporizadores.
- Olá!
- Olá! Quem és tu?
- Sou uma fada, venho da praia, e da floresta, fui recolher novos perfumes. Sentiste algum cheirinho aqui no quarto?
- Sim, senti vários cheirinhos diferentes, até fui buscar a mana e a mamã, mas elas não sentiram. Eu senti! Primeiro cheirava-me a praia, maresia, algas, depois cheirou-me a cerejas, mas quando voltei já não me cheirava, depois cheirou-me a flores, e agora está-me a cheirar a frutas variadas, e outras coisas.
- Áh! Boa! É que abri os frascos aqui, para ver se gostavam dos aromas, e se eu própria gostava. Se não gostasse teria de ir procurar outros.
- Tu fabricas perfumes?
- Sim, ajudo a fabricar, eu e muitas outras fadas.
- Áh! Que giro, e porque é que vieste aqui ao meu quarto?
- Desculpa, é que foi o lugar maior que encontrei para experimentar.
- E porque é que a mana e a mamã não sentiram?
- Não sei, talvez não sejam cheiros muitos fortes, ou não estavam muito atentas…mas tu gostaste?
- Gostei!
- Boa!
- Que outros perfumes já fizeste mais?
            As duas têm uma longa, agradável e divertida conversa. A menina cheira mais perfumes, e diz os que gosta e os que não gosta. A fada agradece e vai para a fábrica dos perfumes. A Luísa ainda dorme até de manhã.
            Na manhã seguinte, quando a menina acorda, sente um cheiro delicioso de bolo de chocolate.
- Hum…que cheirinho bom! És tu, fada dos perfumes? Olha que este é muito bom, nunca tive nenhum perfume com este cheiro, mas podes experimentar porque sei que há sabonetes com este perfume!
            Ela procura a fada pelo quarto toda, mas não está. Sai do quarto, vai ao quarto da Maria e diz:
- Mana, cheira-me a bolo de chocolate!
- A mim também me cheira a bolo de chocolate.
- Ai agora também sentes o mesmo cheiro?
- Sinto!
- Descobri de onde vinham aqueles cheiros que eu senti e tu não sentiste!
- A sério? O quê? Descobriste que sonhaste ou imaginaste não?
- Não! Era uma fada que trabalhava numa fábrica de perfumes e foi buscar novos perfumes à praia, e à floresta. Depois quis experimentar, e abriu lá os frascos para eu cheirar.
- Áh! Está bem. Mas este cheiro não deve ser de um perfume dela. Vamos à cozinha, deve ser a mamã ou a Avó que está a fazer lá um bolo.
            As duas vão à cozinha, e acertaram em cheio! O cheirinho delicioso que elas sentiam vinha de um bolo de chocolate que a Avó estava a fazer.
- Hummm…o cheiro vem daqui! – Gritam as duas com um grande sorriso!
- Bom dia! – Diz a Avó que espreita o bolo no forno – está mesmo a ficar pronto!
- Hum! Que delícia. – Dizem as duas
- Vão comendo o resto. – Diz a avó
- Avó sabes uma coisa? Esta noite senti muitos cheiros diferentes no meu quarto! – Diz Luísa
- Foi? Como assim? – Pergunta a avó surpresa
- Foi. Cheiro a praia, mar, algas, cheiro a cerejas, cheiro a flores e agora cheiro de chocolate.
- E de onde vinham tantos cheiros? Sonhaste?
- Não. Foi uma fada que trabalhava numa fábrica de perfumes, e foi buscar novos cheiros à praia, à floresta, e a jardins.
- Áh, que sorte! – Diz a avó com um sorriso
- Fui chamar a mana e a mamã, mas elas não sentiram.
            Chega a mãe.
- Áh! Que cheirinho bom! Este cheirinho acordou-me! Até parecia estar lá no quarto. – Diz a mãe
- Foi como o cheiro de praia, maresia, algas, e flores que só eu é que senti. E era uma fada que andava lá no quarto, que trabalhava numa fábrica de perfumes. – Conta outra vez Luísa
            Todas riem, tomam o pequeno-almoço sem pensar mais nos cheiros e preparam-se pois há muitas coisas para fazer.
            E vocês? Conhecem os cheiros do vosso quarto? Já sentiram algum cheiro diferente? E na vossa casa, que cheiros existem?
                                                           FIM
                                                           Lara Rocha 
                                               (7/Setembro/2017)