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domingo, 31 de maio de 2020

Direitos Humanos



Sou mãe, e por causa disso não posso andar vestida como quero? 

Ontem saí com o meu filho, ainda bebé, sim, fui mãe há muito pouco tempo. Quando me preparava para sair de casa, com um vestido acima do joelho fui recriminada pela minha sogra, com o seu comentário infeliz, falsa moralista de que tinha acabado de ser mãe, não podia andar com aquele vestido tão curto, porque uma mãe tem de andar tapada, uma mulher com filhos é só do marido, só pode agradar ao marido. 
Estou gorda para andar com este vestido, depois de ser mãe. É uma vergonha, vai tudo pensar que sou da vida...ou de rua. Mas era só o que mais faltava, eu andar vestida como acham que tenho de andar. 
Ainda ligou ao meu marido a fazer queixinha, e ainda bem que ele teve a feliz atitude de lhe dizer que ela não tinha nada que se meter, com todo o respeito...mas disse-lhe que eu andava como queria. 
Ele confia em mim, e pode confiar, porque não vai ser o vestido curto ou comprido que dita a minha fidelidade, ou amor pelo meu marido. Há respeito na nossa relação e amizade principalmente. 
O ser mãe é um privilégio que muitas mulheres gostariam de ter e não podem, mas não impede que ande vestida como eu quero, como me sinto bem, de acordo com a temperatura exterior. 
Era só o que faltava eu dar ouvidos e seguir as teóricas moralidades da minha sogra. Ela que ande como quiser, e não tem nada que se meter. O meu marido nunca se pronunciou sobre como eu devia andar, sempre andei ao lado dele enquanto namoramos, com roupas mais curtas ou mais compridas, como queria. 
Porque sempre me dei ao respeito, e respeitavam-me! Os meus pais também nunca me impediram de andar vestida como eu queria, como me sentia bem, vinha agora a minha sogra meter-se. 
Nem permitam que eles se metam nas vossas escolhas, meninas. Vistam-se como querem, como se sentem bem, não interessa o que os outros vão dizer ou pensar. 
Como se...o ser mãe implicasse andar tapada dos pés à cabeça, não? Temos o direito de andar vestidas como queremos, como gostamos, para nós, não para os outros repararem. 
Temos o direito de ser respeitadas, com vestido curto, comprido, mini saia. Temos o direito de não ser julgadas ou criticadas pela nossa maneira de vestir, só porque temos um filho. 
    Não temos de ser objeto de satisfação de prazer dos nossos namorados ou maridos, namoradas o que for. Merecemos respeito, como somos, como vamos vestidas ou calçadas, penteadas, despenteadas...vamos como gostamos, os outros só tem obrigação de nos respeitar.  

Sou homossexual, isso não me impede de ser respeitado pela minha escolha sexual. Os herterossexuais também são respeitados, porque é a escolha deles, que diferença faz ser homo ou hetero…? 
Todos temos um corpo, é como é, mais ou menos perfeito, todos somos iguais em sentimentos e emoções, que não têm rosto, nomes de pessoas, género. Todos merecemos ser acolhidos, abraçados pela diferença, respeitados pelas nossas escolhas sejam elas quais forem. 
A homossexualidade não é crime, xenofobia, homofobia, e companhia...isso sim, é uma doença grave! Podemos escolher livremente quem queremos amar, com quem queremos ficar, a quem queremos mostrar o nosso corpo. 
Temos o direito de ocultar essa nossa escolha, mas também podemos assumir livremente o amor pela outra pessoa, seja do mesmo género que nós ou diferente. 
Porque o amor não tem rosto, o rosto somos nós que lho damos, o da outra pessoa que escolhemos e com quem temos o direito de ser felizes, sem sermos atacados, julgados ou postos de lado, rejeitados, humilhados. 
Sou homessexual, mas sou um ser humano, como aqueles que não me respeitam. Temos direito de gostar do nosso corpo, e aceitá-lo como ele é, somos dignos de valor e de aceitação, porque na verdade, todos somos diferentes. 
Sou homossexual mas tenho direito a um trabalho, onde sou acolhido, integrado, valorizado, respeitado, admirado pelas minhas competências, e não pelo que escolho amar. 
Tenho direito a pertencer a uma família, que me ame, que me acolha, que me abrace, por ser parte deles, independentemente da minha escolha. Tenho direito a uma casa, a cuidados de saúde, à educação. 
Tenho o direito de não me esconder do mundo, só porque sou homossexual, e tenho direito a ser respeitado. Tenho direito a ter amigos. 

Sou mulher, mas não sinto como tal, quero ser homem 
    Tenho direito de mudar todo o meu corpo, se não gosto dele. Nunca me senti realmente mulher, detesto o meu corpo enquanto mulher. Sou transgénero, mesmo assim, mereço ser respeitada nessa escolha e nessa decisão de querer mudar. 
Tenho direito de manifestar essa vontade, e de querer mudar, sem que me ponham fora de casa, ou sem que a minha família me expulse e rejeite. Sei que os desiludi, porque imagino que seja muito mau para os pais mas mereço ser tratada, acolhida, protegida e cuidada, amada pela minha família. 

Sou mulher, mas não tenho de ser tua posse… 
    Sou mulher, gostava da nossa relação, até ao momento em que mudaste e começaste a controlar tudo o que eu fazia. Perdeste o meu interesse, desde que começaste a levantar-me primeiro a voz, e a seguir a mão. Sou mulher, mas tenho liberdade e direito de não me submeter às suas agressões. 
    Sou mulher, e podia ser tua namorada, mas não sou tua posse! Tenho direito a ser acarinhada e bem tratada, tenho direito à minha liberdade, às minhas saídas, às minhas relações, como tu tens esse direito. 
    Eu sempre respeitei esses teus direitos, mas tu proibiste-me de ter amigas, e amigos, de sair com eles, de falar com eles, até de estar e falar com a minha família. 
    A quantidade de vezes que menti, adiei, inventei desculpas, para eles não me verem com as marcas das suas porradas. Até que cansei de ti, da minha submissão desmedida, e do teu excesso de liberdade. 
    Não tens direito a aprisionar-me, a matar-me, a maltratar-me, a possuir-me, nem a tirar-me a minha liberdade, a que toda a gente tem direito. Querias uma escrava, não tens esse direito. A escravatura acabou, e quando existe não deve ser permitida. Não tens o direito de me torturar. 
    Eu tenho direito e liberdade para não te querer mais, e tu tens obrigação de me respeitar nessa liberdade. Sou mulher, e tenho direito e liberdade de escolher quem quero ter ao meu lado, com quem me quero relacionar. 
    Sou mulher e quero ser respeitada como tal. Não, não tenho que fazer tudo o que queres, se eu não quiser. Tenho é de respeitar a minha própria vontade, as minhas próprias emoções. 

Sou mulher...tenho que ter filhos…
    Não. Sou mulher, e não tenho que ter filhos, se eu não quiser. Sou livre para escolher e decidir ter um namorado ou marido e não ter filhos. Não é isso que me torna menos mulher, nem é isso que vai desfazer a minha relação com a outra pessoa, se ela respeitar e aceitar a minha decisão. 
    Ele também pode vir a escolher não ter filhos, e a mulher com quem está poderá nem conseguir dar-lhe filhos. Ele é livre para decidir continuar com ela, ou deixá-la, e ela tem de o respeitar. 
Temos direito a refazer e reconstruir a nossa vida, se não estamos felizes com alguém, mas deve haver sempre respeito. É importante respeitarmos acima de tudo o nosso próprio corpo, a nossa própria vontade, os nossos gostos, assumirmos as nossas escolhas, e responsabilidades, sem deixar que os outros decidam por nós. 

Sou Africano, sou Francês, Francesa, Turca, Chilena, Chinesa, Húngara, Brasileira, Peruana, Irlandesa… ou outra qualquer, temos liberdade para circular por todo o mundo, como tu tens liberdade de passear, viver ou mudares para outra cidade, outro país. 
Sou de um país diferente, e depois? Sou humano, como tu, tenho um corpo como o teu, igual ao teu, por dentro, tenho uma família como a tua, tenhos os mesmos direitos e deveres que tu, porque me chamas nomes ofensivos, pela minha cor diferente? 
Porque gozas com o meu sotaque, porque fazes piadas com as crenças do meu povo? Porque ofendes a minha crença, se eu não sou da tua, mas respeito-a? 

Tenho uma deficiência, mas sou humano como tu, que não tens deficiência, mas podias, ou ainda podes vir a tê-la. São situações que ninguém escolhe, e podem acontecer a qualquer um. 
Porque gozas com a minha deficiência? Porque não me tratas como um igual a ti, que sou? Tenho essa diferença, mas tu também és diferente, e eu gosto de ti. 
Não quero, nem preciso que tenhas pena de mim, nem que digas que sou um coitadinho, muito menos que faças por mim, coisas que consigo fazer. Só quero que me respeites como sou, que me mostres o teu respeito e carinho, a tua amizade, e que me acolhas, que me abraces, que brinques comigo, que converses comigo. 
Pensamos de forma diferente, mas porque tentas obrigar-me a pensar como tu? Temos direito e liberdade de pensar o que quisermos sobre os mesmos assuntos. 
Porque temos de ter a mesma ideia ou opinião sobre os mesmos assuntos, pessoas ou acontecimentos? Temos sempre coisas em comum, apesar das diferenças, e temos de respeitar, mesmo não concordando, podemos respeitar e muitas vezes até enriquecemos trabalhos ou fortalecemos amizades, conciliamos ideias que podem funcionar. 
Temos direito a pensar diferente, e todos pensamos diferente, mas não temos o direito de impor as nossas ideias, crenças e pensamentos aos outros. Todos temos direito à nossa liberdade de expressão, opinião, pensamento e ação, desde que não façamos mal ao outro, nem o outro a nós. 
Todos temos direito a uma casa, família, ao sentimento de pertença, ao afeto, ao cuidado, à saúde, à educação, à liberdade individual, à escolha sexual, ao trabalho, ao respeito, à valorização, realização pessoal e à dignidade.
Todos temos direito a ser tratados como seres humanos, como pessoas dignas de respeito, a não ser as que maltratam, matam, violam ou aprisionam os outros. 
Nos dias de hoje, ainda há muitos direitos que ficam aquém do acesso a todos. Ainda há muito a fazer. 




Inspirado no 2º Artigo dos Direitos Humanos 

                                                              Lara Rocha 
                                                              30/Maio/2020 



                                                                  


terça-feira, 26 de maio de 2020

monólogo A pressa, e à pressa


foto de Lara Rocha 

    Vivemos numa sociedade feita à pressa, e com pressa! Não há tempo para nada, dizemos todos! O tempo...ele próprio parece correr. Parece que mal começa, já está a terminar...tão rápido. 
    Onde vai tudo com tanta pressa? Os carros, as pessoas, os telemóveis, a sociedade, a vida, as relações. Nada mais existe à nossa volta? Não há flores que gostam de ser apreciadas? 
    Porque não paramos um minuto que seja a olhar para elas, flores, que se vestem de sol para ficarem mais vistosas? Se qualquer mulher gosta de ser apreciada, as flores também...e merecem. 
    Não há tempo para relações, não há tempo para abraços reais, sorrisos sinceros, e reais, naturais, não há tempo para sorrir, para conversar e ouvir as vozes dos outros. 
    Sim, porque um dia, numa outra época, isso já aconteceu! E como era bom! Na sociedade que só sabe correr, não acontece mais nada a não ser...correr...! 
    Comer a correr para satisfazer caprichos, enganar o estômago, sem sabermos o que comemos ou sem sentirmos o sabor das coisas, para dar resposta a caprichos de patrões que vivem a correr, e mandam os seus funcionários, pessoas iguais a ele, com um título diferente do dele, mas os patrões têm mais em que pensar, por exemplo, no que era para ontem. 
    Os funcionários correm, pressionados pelos patrões esfomeados de lucro, que só veem cifrões à frente, e só sabem correr. Agora é tudo a correr...conhece-se alguém a correr, desliga-se com a mesma rapidez de alguém a quem já nos ligamos, fala-se a correr, de forma seca, pouco sincera, e distante, porque temos de correr, não temos tempo para ouvir o outro. 
    Beijamo-nos a correr, porque às vezes já há outro escondido, ou outra, à espera impaciente, cheio de pressa, que tem de se envolver com outro a correr, e voltar para aquele a correr, para não desconfiar.     Somos feras loucas, a conduzir, impacientes, sem vermos sequer se há peões ou obstáculos, porque vamos a correr, temos segundos ou milésimos de segundos a cumprir, porque o chefe mandou correr, e já ligou 50 mil vezes, a dizer que era para ontem. 
    Conduzimos a correr, em piloto automático, sem sentir o carro, sem termos consciência do que temos nas mãos, e explodimos, quando alguém nos empata a marcha, porque o outro pode não ter que correr, mas nós temos. 
    Somos intolerantes a demoras no supermercado mas muitos de nós não nos importamos de esperar horas e horas em fila para ter um bilhete de futebol ou um concerto, ou um telemóvel topo de gama.        Tanta correria! Não há conversa, só por redes sociais e telemóveis, é aí que fica a família, nas conversas fúteis, máscaras, exibicionismos do que não se é. Onde fica a pessoa que está por trás de cada rosto que se vê? 
    Onde ficam aqueles que convivem com gente que só corre, e que escolhe viver mais devagar? Solitários? Antissociais? Egoístas, frios...Sim, mas são esses os que reparam no que há de melhor à nossa volta. São esses que não tem tantos problemas causados pelo sempre a correr. 
    Os que andam sem tempo, são os mais felizes e serenos, os mais saudáveis, porque param nem que seja por um ou dois minutos para apreciar, ver ao vivo, sentir, ouvir, sorrir a uma flor. 
    Os que só correm, ignoram, nem devem saber que ela existe, porque passam por ela mas olharam para o que corria no carro ao lado, mais do que o outro, e que buzinou porque parou na passadeira para um peão passar. 
    Nem repararam naquelas flores bonitas que esperam os seus olhares, porque vão a olhar para o telemóvel que exibem nas mãos, não interessa se passa alguém ao lado dele, conhecido. 
       Não veem mais nada. Só correm. Esquecem as árvores, as cores, o vento, as folhas a cair, ou a voar com o vento, esquecem de ouvir os pássaros e as rãs que saltitam nos rios, esquecem das praias, e o reflexo prateado, multicolor às vezes, do sol na água. 
       Correm tanto que não ouvem enquanto podem, enquanto os seus ouvidos permitem. Vão com tanta pressa que nem veem as crianças, nem os seus sorrisos e inocência, perfeição. 
    Como podemos estar saudáveis, se só sabemos correr todos os dias? Só corremos para o dinheiro, para a fama, para a exibição e competição...Corremos na verdade para a desgraça, infelicidade, isolamento, conflito, vazio, solidão, frieza, desconfiança... 
    Corremos sem vermos o que há de melhor à nossa volta, a natureza. Corremos! Só corremos! E o planeta corre connosco para a destruição. 
    Como corremos tanto, todos os dias, ele tem de chamar a atenção, e fá-lo da pior forma porque está magoado, triste, desiludido, com gente que corre tanto que o destrói. 
    E continuamos a correr. Só correr! Correr cada vez mais, sem nos darmos conta disso, talvez quando o planeta nos fizer parar...sabe-se lá como... nós que tanto corremos, nos demos conta, mas nessa altura pode ser tarde demais. 
    Podemos não ter para ver aquilo de que ainda dispomos e não vemos, porque passamos os dias a correr! Porque não paramos vários minutos por dia para ver o melhor que nos cerca? 
    Porque não saímos dos telemóveis e computadores e olhamos, sentimos, sorrimos, tocamos, no que realmente nos faz bem no que nos revitaliza, e renova as nossas forças gastas pela correria ?! 
    A natureza! Ela que nos dá tudo, e nós... o que lhe damos? A correria! Se continuarmos a correr tanto, não teremos a melhor recompensa, pois pode já ser tarde, pode já não haver mais nada para ver, do que ainda podemos ver, em vez de correr. Paremos então, alguns minutos...? A natureza merece, e nós também. As melhores coisas não são aquelas feitas a correr, nem podem ser feitas a correr. 

                                                  Lara Rocha 

                                                 30/Maio/2019   

sábado, 23 de maio de 2020

As marionetas que nunca desistiram

      




foto de Lara Rocha 

 

desenhado por Lara Rocha 

     Era uma vez um grupo de marionetas que estava abandonada num teatro, em ruínas. Elas foram arrumadas nu  armazém, juntamente com muitos outros fatos de atuações que enchiam salas. Estavam lá há tanto tempo, que nem tinham a noção de quanto.
    Começaram a estranhar tanto tempo de silêncio, e tanta quietude. Olharam umas para as outras, e para o espaço todo à sua volta.
- Meninas, não acham estranho todo este silêncio?
- Sim! - concordam todas
- E este espaço...? - pergunta uma delas
- Está muito maltratado.
- Não sei o que está a acontecer,  nem o que estamos a fazer aqui há tanto tempo.
- Tens razão. - dizem todas
- Mas o que terá acontecido?
- Acho que fomos abandonadas... lamento mas parece que já passamos à história.
- O quê?
- De moda.
- Falas de maneira esquisita.
- (suspira) quero dizer que fomos esquecidas.
- Ahhhh... - dizem todas
- Não pode ser!
- Infelizmente sim.
- Oooohhhh! - dizem todas
- Sim.
- Mas... como é que isto nos foi acontecer?
- Isso não sei.
- Parece que já ninguém quer saber de nós!
- Pois, acho que já não vemos gente, há muito tempo, pela maneira como está a sala.
- E agora? - perguntam todas
- Agora...
- Vamos embora daqui! - Dizem todas
- Mas como e para onde?
- Logo veremos. Vamos!
- E o que fazemos com estes fios?
         Faz-se silêncio. Uma marioneta acabou de ver uma tesoura no chão. Sorri, pega na tesoura. Todas gritam e tentam fugir.
- Calma! Porque estão a gritar e a esconder-se?
- Tu vais acabar connosco?
- Olha que não fomos nós que  te trouxemos para aqui.
- Pensei que estavas connosco,  mas com isso na mão...
 (a marioneta suspira e ri)
- Ai, como vocês são! Nada disso. Esta tesoura vai cortar os nossos fios ou querem continuar com eles?
- Ah, que susto! - suspiram todas e sorriem.
- Sim.
- Posso cortar, ou não?
- Sim, por favor. - dizem todas
          A marioneta corta fio por fio, às outras, elas encolhem-se com medo e respiram de alívio.
- Por favor... alguém me pode cortar estas?
- Eu corto.
          E outra marioneta corta-lhe os fios.
- Obrigada! Agora vamos à procura da saída. 
          Elas levantam-se, sacodem-se.
- Será que não vamos precisar dos fios? - lembra uma marioneta
- Se quiseres guarda.
          E a marioneta guarda os fios, encontram rapidamente a saída, agora são bonecos todos articulados sem fios. Sentem-se leves, saltitam, correm, fazem movimentos com todo o corpo para desentorpecer, descem as escadas do sótão para a sala grande, e quando se preparavam para sair  encontraram umas bolas transparentes a flutuar. Quase focam hipnotizados ao ver as bolas.
- Ah! Que lindas.
- Uau. Para que servem?
- Não sei.
        As bolas pousam no chão, e as marionetas tocam-lhes a medo.  Depois sentem uma enorme vontade de subir pelas bolas e experimentá-las. Quando sobem, apreciam a sala em ruínas. 
- Óh! Que sala tão bonita. 
- Que saudades de ver esta sala cheia de luz, crianças às gargalhadas ao ver-nos, os aplausos. 
       Ficam tristes e percorrem a sala com os olhos. Deixam escapar uns soluços e umas lágrimas, as bolas começam a rolar, a subir, e a flutuar pela sala, devagar, até à saída. 
- Óh! Que tristeza! 
- Bem, sim... é muito triste, mas temos de continuar. 
- Talvez um dia destes voltemos a este espaço, cheio de crianças , grandes, aplausos e gargalhadas. 
- É. 
- Vamos acreditar que sim. 
- E agora vamos para onde? 
- Por aí... 
       As bolas transparentes levam-nas pela cidade e pousam num belo parque, muito verde. 
- Áh! Que sítio lindo! 
- Sim! Gosto. 
- É muito diferente do nosso. 
      Saem das bolas, e correm livres pelo parque como nunca antes tinha acontecido. Soltam grandes gargalhadas, de satisfação, exclamações, trepam árvores, deliciam-se com a paisagem, rebolam na relva, brincam, cheiram flores, tocam nas pétalas, molham-se nas fontes, tomam banho nos pequenos lagos, e secam-se refastelados ao sol. 
      Quando a noite chega não querem dormir, ficam deitados nas bolas, que estão pousadas e paradas, a ver as milhares de estrelas, e a conversar, até o sol nascer. 
      Quando começa muito movimento de pessoas, as marionetas refugiam-se nos troncos das árvores, quase se confundem com elas, pela sua cor, e dormem. 
      Sonham que aquelas sala de onde saíram estava cheia de crianças e adultos que riam à gargalhada com elas, interagiam com elas, brincavam, aplaudiam. Uma sala tão bonita, cheia de luz, e voltavam a atuar. 
        Quando acordaram tudo estava igual, e foi igual durante muito tempo, mas muitos meses depois, para grande surpresa e felicidade das marionetas num dos seus passeios viram que a sala de teatro estava a ser restaurada. 
       Foram acompanhando as obras e as mudanças, com a esperança que os atores as procurassem, mas perceberam que infelizmente, aquele espaço onde tinham ficado já não existia, tinham tirado as roupas e os adereços, para outra sala, mas não se lembraram das marionetas. 
        Como ficaram tristes, as pobres marionetas. 
- Que injustiça! - Suspira uma marioneta 
- Fomos esquecidas! - diz outra marioneta 
        E regressam ao parque a chorar. 
- Agora só podemos contar umas com as outras. 
- Como acontecia antes. 
- Pois. 
- Não estamos sozinhas, resta-nos continuar e unirmo-nos mais. 
- Sim. 
        E assim foi, trocam abraços, e apesar da enorme tristeza que acompanhou as marionetas vários dias e várias noites, as lágrimas que teimavam em cair, não se deixaram vencer. 
        Continuaram juntas a dar espetáculos, que eram vistos por centenas de crianças e adultos que se deliciavam, aplaudiam, riam, interagiam com elas. 
       Elas ensaiavam e apresentavam para quem estava. Ninguém sabia como tinham ido lá parar, mas todos as adoravam. As marionetas divertiam-se muito, e sentiam-se mesmo muito felizes.
      Uns anos mais tarde, entre as pessoas que assistiam estava um ator de teatro, que também escrevia peças e estava sempre à procura de atores para as representar. 
     Gostou tanto das marionetas que as convidou para trabalhar com ele em espetáculos de rua e de sala. Elas aceitaram logo, e com isso, ganharam reconhecimento, e mais um novo amigo, que as levou para sua casa. 
       Elas não desistiram, e conseguiram! 

                                                             FIM 
                                                             Lálá 
                                                         22/Maio/2020    
 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Entre a lembrança e o recomeçar...- monólogo para adolescentes e adultos

    
Desenho de Lara Rocha 

       Enquanto tocaste no violino do meu coração, com os teus beijos, os teus abraços, o teu olhar, as tuas mãos nas minhas...enquanto os nossos corpos estavam juntos...as cordas do violino do meu coração...e do teu...tocaram juntas, e o seu som ecoou por todo o meu corpo, por todo o meu ser...quando deixaste de me amar...as cordas do violino do meu coração, vibraram desafinadas, descoordenadas, descompassadas, misturadas, confusas, e choraram...e no meu ser...ficou o silêncio, pois as cordas do violino do meu coração. cansaram de tanto chorar...e secaram! 
    Agora...o violino permanece...aos poucos, voltou a tocar músicas alegres! Que pena não as ouvires...apenas para saberes, que o violino do meu coração, toca alegremente mesmo sem ti! Apanhei todas as notas musicais que pairaram no ar, a cada gargalhada sincera que davas. 
     Com cada nota musical, fiz a mais linfa música de amizade que se transformou num grande amor...e essa música tocou até que o leitor avariou, nem a música, nem o amor voltaram a tocar. 
   Mas as notas musicais que pairavam, aquelas com que construí a nossa música de amor ficaram guardadas para sempre na floresta da memória. Às vezes ainda ouço essas notas musicais, e a música completa. Mas a música agora é triste! 
     De cada vez que te vi, pendurei nas cortinas do meu coração: desejos, sonhos e sorrisos, palavras alegres. Das janelas dos meus olhos elas desprenderam-se e voaram em forma de beijos quando me sorriste e quando me ofereceste uma flor. Óh, afinal a flor era só mais um dos desejos que pendurei com os outros nas cortinas do meu coração, e que voou da janela dos meus olhos. 
    Com o pincel das tuas longas e escuras pestanas, pintaste com o verde dos teus olhos, um lindo jardim de Primavera no meu coração. 
    Desenhaste com a tua boca, estrelas...e colaste-as nos meus olhos, e no meu sorriso. Flores abertas ao sol. O tempo passou, e como não cuidaste mais do jardim que pintaste em mim, nem olhaste mais para as estrelas e flores...o jardim da Primavera transformou-se num jardim silencioso, sem cor, nem vida...pelo gelo da tua indiferença, pelas palavras geladas que me dirigias, e todo o meu corpo, todo o meu ser, toda a minha alma, congelou! 
  Nesse jardim, debaixo do gelo, juntamente comigo, transformei as lágrimas que os meus olhos deixaram cair, por ti...em sólidos candeeiros de cristais de estalactites que no fim...quando voltou a ser Primavera brilharam e derreteram todo o gelo que tinhas deixado no meu coração! 
   Até um dia...quem sabe... meu escultor de gelo...ou meu pintor de Primavera ! Ou simplesmente...até já...bem...sei onde te encontrar, e estás nem perto...se nos voltarmos a encontrar... olha para os meus olhos, e verás no que me transformei!   

                                            Lara Rocha 
     

terça-feira, 12 de maio de 2020

UIVO - monólogo reflexão sobre o mundo para adolescentes e adultos

            

            O que está a acontecer connosco? Parece que o gelo dos glaciares derreteu, mas veio parar aos nossos corações. O gelo dos glaciares derretidos,  congelou os nossos corações, gelou os nossos sentimentos. 
              Petrificou os nossos gestos de amor, e carinho para com os outros. Transformamo-nos em pedras. O gelo dos glaciares materializou-nos. 
              Parece que o nosso planeta se transformou num enorme glaciar com pessoas,  feitas de gelo, debaixo da pele... é por isso que eu uivo! 
              Sim, uivo, não são só os lobos que uivam...  Uivo, sim, não são só os lobos que uivam...As pessoas também uivam de medo, raiva e dor, tristeza, indignação pelas crueldades, injustiças, friezas.
          Uivo, pelos pequeninos anjos que perdem a vida, a infância que mal conhecem, a dor dos pais. Uivo pelas lutas desiguais, pelas imagens perturbadoras de fugas impedidas.
          Uivo, pelo desespero de quem procura o sonho de uma vida melhor...Uivo, por quem procura PAZ e só encontra cães famintos por dinheiro, sem mais preocupações que transportam em camiões ou barcos pessoas... Aos milhares como se fossem pedras ou materiais,  só por dinheiro, como quem troca animais em feiras...
           Uivo, de raiva com todas as forças pelo número de desempregados
com família, sem família, sem emprego...Cabeças loucas, seres ocos, vazios, perdidos, em busca de melhor.  
           Qualquer um de nós está melhor do que aqueles que fogem, dos que vivem com medo, dos que lutam, dos que nunca sabem o que vai acontecer daqui a uns segundos...Ninguém sabe! Mas não precisamos de fugir... Para já.
            Uivo, por tantas vidas que se têm perdido, atrás de um sonho, que se afunda e se funde na dor. Sonho idealizado, de uma felicidade utópica, de uma vida melhor...que acaba tão rápido como o sonho que procuram numa fuga.
           Anjos sem rumo, almas sem nome, sem cor, com dor.
Almas que procuram a Luz, almas que só encontram a escuridão!  
Uivo...Com todos os que sofrem, uivo baixinho pelas minhas desilusões, uivo baixinho pelas minhas tristezas, uivo baixinho pelas minhas angústias...Que nada mais são do que simples sons de bocejos. 
      Mas uivo bem alto, e vamos todos uivar a plenos pulmões pelos refugiados, pelas almas desorientadas, pelos que correm atrás de um sonho, de uma vida, e encontram apenas...DOR, VAZIO, MEDO, DESESPERO...
         Vamos dar as mãos, e criar uma corrente de luz, paz e amor...pela PAZ, POR UM MUNDO MELHOR! Uivemos bem baixinho por nós mesmos...Pois...por maiores que sejam as nossas tristezas.  
         Elas são apenas nuvens no espaço quando comparadas com este flagelo, que nos invade todos os dias, com aquelas imagens que horrorizam...que nos gelam! 
Uivemos... 

                                                    Lara Rocha

Monólogo romântico para adolescentes e adultos



         Desenhado por Lara Rocha 

  




























   Quando os nossos olhos se tocavam, e as palavras se calavam, apenas os olhos falavam entre si. Não conseguíamos ouvi-los, mas mesmo assim era tão bom...Tão leve...Momentos silenciosos, de paz, que repetimos muitas vezes...
 Momentos em que só os nossos olhos conversavam entre si e beijavam, e os nossos corpos, parados, rendidos, entregues à magia daquele silêncio. 
  Diálogos secretos entre os meus e os teus olhos. Olhos que se juntavam e se tornavam num só olhar envolvidos no amor. O que conversavam? O que confessavam? O que procuravam? O que encontravam
os nossos olhos quando se tocavam? 
 Quando os nossos olhos falavam, nós ficávamos calados. Só o silêncio reinava, só a paz, só o brilho das estrelas, e nós...Eu e tu...
 O nosso corpo descansava lado a lado, enquanto os nossos olhos conversavam! Que momentos tão bons...Que momentos tão mágicos...Foram aqueles em que os nossos olhos conversavam e os nossos corpos se calavam.
  Que momentos tão serenos e tão silenciosos para nós...Mas de grande magia e com certeza grandes conversas entre os meus e os teus olhos.
  Quem me dera voltar a viver esses momentos, esses, em que os nossos olhos conversavam e os nossos corpos se calavam. 
  Quem me dera voltar a viver esses momentos, só para ouvir o que os nossos olhos conversavam, enquanto os nossos corpos se calavam.
  Será que conseguiria ouvir o que os nossos olhos diziam? Talvez o coração saiba o que os nossos olhos conversaram, mas por causa da dor, não queira lembrar, ou confessar...
  Saudades desses momentos em que os nossos olhos eram apenas um! Gostava de poder mergulhar um dia...Só por uns momentos, nessas memórias. Para sentir paz...e sorrir ao recordar...Aqueles momentos tão, e só, nossos! Em que nos calávamos, e os nossos olhos conversavam...Brilhavam.  
  Quando folheio o livro das recordações ainda recordo esses momentos tão deliciosos, e mágicos, entre os nossos olhos. Momentos em que o Universo todo se refletia nos nossos olhos, e no nosso sorriso. 
  Enquanto os nossos olhos conversavam...esses momentos entre os nossos olhos, tão deles, tão nosso...Ainda cintilam na minha memória dos momentos de Felicidade!
  Agora que os teus olhos se cruzam com outros olhos...Será que eles também conversam com esses outros olhos? Será que nos teus olhos ainda vês o reflexo dos meus olhos, quando os teus olhos conversam com outros olhos, que não os meus? 
 Será que o Universo ainda brilha nos teus olhos, agora que te encontras com outros olhos que não os meus, como brilhava nos nossos olhos, quando conversavam?
 Era mágica aquela fusão de olhares...tão doce, tão especial. Tenho saudades! Sim. Saudades dessas conversas entre os nossos olhos.
  Queria poder voltar atrás no tempo, e trazer para o hoje, apenas esses momentos, em que só os nossos olhos falavam e os nossos corpos paravam!
 Entregues à Luz que iluminava os nossos olhos. Não sei bem como se chamava essa LUZ. Chamavas-lhe AMOR, mas se fosse AMOR, essa LUZ não teria fundido, teria continuado a brilhar só para os nossos olhos!
  Tenho saudades! Sim! Dessa conversa entre os nossos olhos! Que lindo momento...tudo deixava de existir. 

                          Lara Rocha 

Decisão que dói - monólogo para adolescentes e adultos




Desenhado por Lara Rocha 

     Chegaste à minha vida embrulhado em sorrisos, e em palavras simpáticas, em trocas de mensagens. 
     E de repente mudaste...passei a ser o quê, para ti? Parece que me eliminaste da tua vida.          Ainda tinha tanto para te dar! Tanto para te mostrar! 
      Tínhamos tanto para viver, conversar, escrever, partilhar, criar, aprender, construir...o que aconteceu?
      Porque passaste a ser gelado comigo? É a indiferença que me ofereces? Depois de te oferecer carinho? É a indiferença que queres receber de mim? 
     É com o teu silêncio que retribuis? A tua indiferença dói em mim. O teu silêncio dói em mim.
      Todas as mensagens que te mando e não respondes, doem em mim. 
      Nem quando digo que preciso do teu abraço, das tuas palavras...dói em mim o teu gelo, e dói a minha decisão de responder com indiferença, quando a minha vontade é de te dizer essa dor toda que me sufoca. 
      O que faço para me livrar da dor que a tua indiferença causa em mim? Como faço para reagir aos teus silêncios que doem em mim? Como vou lidar com uma indiferença sem respostas, que não compreendo, e que me dói?         Dói em mim ter de te ignorar para ver se sentes a minha falta. Sentirás? 
      Não sei se é o melhor que faço, porque dói muito em mim. Não sei se me vou livrar da dor, porque dói muito em mim.  
      Neste momento obrigas-me a ser também indiferente contigo...talvez isso te deixe livre, e se as nossas almas tiverem algo para viver juntas, viverão...não fugirás mais. 
       Não teremos medo, talvez agora tenhamos. Talvez só nessa altura saberei a resposta, à pergunta se esta é a melhor decisão...dói muito em mim, mas talvez seja isso que queiras. 
      Como vou lidar com a dor? Não sei. Resistirei. Dói a minha decisão de escolher a indiferença! 
                                        
                     Lara Rocha
           
                                               


As palavras















As palavras

 

As palavras vem de muitos sítios...
Vem das palavras não ditas, nem ouvidas, ou escritas, lidas. 
As palavras vem da indiferença, aquelas difíceis de dizer, que doem, e que tem que ser engolidas! 
As palavras vem das gargalhadas soltas, vem do latir dos cães, 
Do miar dos gatos, 
do piar das gaivotas, 
das ondas do mar 
Do cantar dos pássaros que se escondem nas folhas das árvores. 
As palavras vem do gemido do vento, do cair das folhas, do dançar das pétalas das flores, e do cair das gotas. 
As palavras vem dos sussurros das águas, das pedras, das casas, da calçada.
As palavras vem dos caminhos com gente, e sem gente. 
As palavras vem das janelas abertas e das fechadas, das portas que escondem segredos, que guardam memórias,
As palavras vem das fotografias.
Vem das músicas, 
Dos pregões dos vendedores,
Dos lamentos, dos que cantam e tocam na rua. 
As palavras vem  
Dos sons,
Dos gritos,
Da solidão,
Dos lagos,
Dos peixes,
Das sereias,
Das montanhas,
Das estrelas,
Da neve,
Da chuva,
Do sol,
Do planeta...
As palavras
Vem nas nuvens,
Nos sorrisos,
Nas lágrimas,
Nas dores,
Nas alegrias,
Nas quedas,
Nas desilusões,
Nas brincadeiras...
As palavras voam livres
Nos abraços sinceros,
Nos carinhos,
Nos sonhos...
As palavras andam por aí,
Por todo o lado...
Até nos silêncios,
E nas perguntas que ficam sem reposta,
Nos olhares que se trocam,
Nas mãos que se tocam,
Nos corpos que se enrolam,
Nos olhares que se perdem no horizonte.
As palavras andam por aí,
Mesmo quando não encontram portos seguros
Onde atracar,
E repousar...
Elas flutuam,
Pairam,
Andam,
Correm,
Saltam,
Gritam,
Dançam,
Perdem-se,
Viajam...
As palavras andam por aí...
Sim...
Aí mesmo...
Aqui...aí...ali...
Neste, naquele, naqueles, nos outros...
Coração,
Corações.
As palavras querem sair,
Daí, dali, de acolá...
Quem voar,
Querem cantar,
Querem gritar,
Sussurrar.
As palavras querem tocar,
As palavras querem aparecer,
As palavras querem amar,
As palavras querem companhia,
As palavras querem risos...
As palavras constroem
E destroem mundos,
As palavras armam belos castelos,
As palavras pintam quadros, retratos, recordações,
As palavras ditam poemas,
As palavras compõem músicas,
As palavras elogiam
As palavras ofendem,
As palavras...
As palavras fazem o que lhes mandam!
São...palavras!!
As palavras são marionetas,
As palavras são raios de luz,
E floresta escura...
As palavras são de cada um de nós,
As palavras são de todos,
As palavras são para todos.
Palavras...!!!


                  Lara Rocha