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quinta-feira, 28 de abril de 2016

O monte vermelho

                                foto tirada por Lara Rocha 

Era uma vez várias famílias que viviam num lugar sossegado, que se chamava monte amarelo. Um paraíso perto da cidade onde trabalhavam, com ar puro, sem poluição, só com os sons da natureza.
A paisagem era encantada, e fazia parte desta um monte mais alto, conhecido como o Monte Vermelho que era habitado por lobos…alguns humanos já tinham ido lá, mas poucos se atreviam, porque tinham medo dos lobos que ouviam uivar, e que os fazia arrepiar até os ossos.
Esse Monte Vermelho também servia de inspiração para as ameaças dos pais quando queriam pôr os filhos na ordem, e para artistas escritores, pintores e fotógrafas que tiravam boas ideias. Um dia uma criança de uma das famílias olhou para o monte dos lobos e reparou que em vez de verde ou amarelo, estava vermelho, e mostrou ao Avô:
- Avô, olha aquele monte…não é verde, nem amarelo.
- Pois não. É vermelho. – Responde o avô
- Porquê? – Pergunta a criança
- O nosso é amarelo, aquele é verde, o outro é vermelho…olha…foi o nome que lhe deram…podia ser o monte azul, o monte branco. Sempre o conheci com esse nome. – Explica o Avô
- Já foste lá?
- Não.
- Porque não?
- Porque…olha porque…é…muito longe daqui.
- E não gostavas de ir lá?
- Não faço muita questão.
- O que é isso?
- Isso, o quê?
- Não fazes isso que disseste?
- Muita questão?
- Sim.
- Quer dizer que não quero ir lá.
- Porquê?
- Porque…já te disse que é longe.
- O Avô está a mentir. – Diz a Avó  
- O quê? 8entre dentes para a Avó) Não lhe contes. – Resmunga o Avô
- Estás a mentir, Avô? Isso não se faz. – Repara a criança
- O Avô não vai lá porque lá vivem os lobos. – Responde a Avó
- Lobos? – Pergunta a criança
- Sim, lobos. – Respondem todos
- É um lugar horrível. – Reforça o pai
- Já foste lá? – Pergunta a criança
- Já. – Diz o pai
- Não queiras ir para lá…sempre me disseram que era um lugar perigoso. – Acrescenta um tio
- Já foste lá, tio?
- Não. Mas os adultos ameaçavam-me muitas vezes que me levavam para lá se eu não ficasse à mesa,  e que os lo… (os adultos interrompem e mandam-no calar discretamente)
- E quê? – Pergunta a criança curiosa
- E que… - Dizem todos
- E que esse lugar é selvagem, não é para nós, seres humanos. – Diz a outra avó
- Já foste lá, Avó?
- Não. Bastou que me ameaçassem uma única vez… respeito era muito bonito.
- E porque é que o monte é vermelho? – Volta a perguntar a criança
- Porque…os lobos…
O outro tio ia dizer o que lhe tinham dito, mas os adultos interrompem e respondem em coro:
- Foi o nome que lhe deram!
- É…! – Dizem todos
- Podia-se ter chamado monte roxo, monte cor-de-rosa… - Diz uma tia
- Pois. – Dizem todos
- Já foste lá, tia?
- Não.
- Eu gostava de ir lá. – Comenta a criança
- Só os lobos podem andar por lá, o caminho é muito difícil
A criança não ficou convencida, mas não perguntou mais nada. Quando se foi deitar, olhou para o monte e não estava vermelho. Estava escuro.
No dia seguinte, a criança volta a olhar para o monte e estava vermelho, mas quando se ia deitar, estava escuro outra vez. Ele começou a achar muito estranho, e perguntou ao outro avô:
- Avô…olha…aquele monte está vermelho. Mas à noite, quando vou para a cama, o monte não está desta cor.
- Pois não, porque quando vais dormir, está escuro.
- Muda de cor?
- Muda.
- Porquê?
- Porque de dia tudo tem cor, de noite, parece tudo igual…a nossa casa e todas as outras casas, as árvores, os montes…tudo parece igual. De dia o monte é vermelho porque se reparares existem ali nuvens, e o sol está por trás das nuvens, que fazem o sol parecer vermelho, por isso, onde o sol reflecte, ali, no chão do monte, parece que tudo fica vermelho! Se estivesse um sol aberto como aqui, ias ver o monte amarelo, ou verde-claro e verde escuro…ao fim da tarde é cor-de-laranja ou vermelho, e é branco quando há neve.
- Áh! Que lindo. E há mesmo lobos lá, ou são homens disfarçados? – Pergunta a criança
- Há lobos, mesmo.
- Daqueles como a história do capuchinho?
- Sim.
- E maus como ele?
- Nem sempre.
- Como assim?
- Se sentirem que estão em perigo, se os agredires, ou se estiverem com fome, são selvagens, podem ser um pouco agressivos, ou tentar magoar-te para se defenderem, e às vezes comem animais para se alimentarem. Mas poucas vezes vêm aqui ao monte.
- Áh! Estou a perceber.
Nessa noite, foi Lua Cheia…e estava enorme, linda. Começou a aparecer por trás do monte vermelho. O menino estava a ver com a família. Um espectáculo da natureza que todos gostam de ver, e deliciam-se.
- Avô…olha a cor do monte…parece que tem ali uma bola de luz.
- Sim, já vais ver o que é.
A lua sobe, sobe, sobe…até que aparece por inteira.
- A lua. – Diz a criança encantada com um grande sorriso.
E ouve-se o uivo crescente dos lobos…como uma orquestra…começa o chefe da alcateia, e os outros seguem-no, até que todos uivam prolongadamente em coro, virados para a lua. Pode ver-se as sombras deles. Os humanos arrepiam-se e sorriem, os cães ladram.
- O que é isto? – Pergunta a criança
- São os uivos dos lobos. – Respondem todos
- Estão a saudar a lua! – Diz uma avó
- Áhhhh…que lindo! Agora o monte já não está vermelho…está… – Suspira a criança a sorrir  
- Prateado. – Diz a mãe
- Branco. – Diz um tio
- Amarelado. – Diz outra tia
- Branco azulado. – Diz o pai
- Enluado! – Diz o Avô.
- Agora o monte está avermelhado porque o sol viu a sua apaixonada lua. – Diz uma adolescente da família com ar de sonhadora
- Eu acho que ele está vermelho por ter tantos lobos a olhar para ele… - Diz outra adolescente da família
- Pode ser o reflexo da raiva dos lobos por alguma coisa…olha como eles uivam…- Diz outra adolescente da família  
Estas famílias tinham a tradição de se reunir em noites de Lua Cheia, para viver e reviver estas fantasias saudáveis da infância, e para correr com os medos, que sabiam agora em adultos, não serem reais, mesmo assim gostavam de sonhar…Eram momentos de união e partilha, convívio, magia…depois das crianças se deitarem, a noite era dos crescidos.
Muitos segredos e medos que os adultos viveram, os mitos, as lendas, as histórias e as fantasias que o Monte Vermelho tinha despertado nas suas infâncias, ficaram por contar às crianças, para que elas não ganhassem medo, e para cada uma delas poder viver, experimentar a magia, as suas próprias fantasias em relação aos mistérios da Natureza.
E vocês? Porque acham que o monte era vermelho?

Fim
Lálá

(27/Abril/2016)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

As várias atividades da árvore

       
               Foto de Lara Rocha 
 
          Era uma vez uma árvore mágica muito sensível às energias boas e más das pessoas. Mudava o seu tamanho, a sua forma, as cores das suas folhas, mexia-se, abraçava e transformava-se em colo, em berço, em cadeira de encosto e em casa para quem precisasse.
        Quando alguém bom se aproximava dela, ela sorria, enchia-se de folhas que ficavam mais verdes e luminosas, às vezes o tronco ficava mais largo e ganhava novas formas, e quem se encostava a ela sentia-se bem.
          Se alguém estava mais triste ou solitária, a árvore transformava o seu tronco em banco onde a pessoa se sentava, e os seus ramos transformavam-se em braços que a envolviam, ouvia os desabafos, amparava e secava as suas lágrimas, e às vezes chorava com elas, mesmo antes da pessoa se aproximar, mas também tinha sempre palavras agradáveis e bonitas para dizer, consolar, até deixava cair flores no colo da pessoa, por isso ficava melhor.
     Se a árvore sentia que alguém mau se aproximava, umas vezes transformava-se em terra, em pó, em erva ou em cinzas, e voltava como árvore depois de a pessoa ir embora. Outras vezes deixava enormes e grossas raízes de fora da terra, para as pessoas que ela sentia como más ou perigosas não se aproximarem, caiam, e para proteger as outras árvores.
     Brincava com as crianças, e estava sempre atenta para que elas não se perdessem, nem ficassem sozinhas, divertia-se muito com elas, transformava-se em lindas figuras femininas, ou em fadas, e era tão criança como elas. Os pais pensavam que era da imaginação das crianças, porque quando olhavam, ela já estava em árvore outra vez.
    Se sentia que as pessoas estavam doentes, as suas folhas cheiravam a eucalipto e deixava que os passarinhos fizessem ninhos nos seus troncos e ramos…ela ficava deliciada a ouvir as melodias e cantos dos passarinhos, abrigava flores, animais e pessoas aos seus pés e debaixo das suas folhas.    
     À noite, a árvore dava luz, iluminava o parque todo, as outras árvores, e as pessoas que gostavam de passear no parque. Rodava e circulava com a sua luz forte por todo o lado, onde ela sentia energias…como se fosse um farol.
     Além de luz, a árvore ganhava muitas formas e tamanhos para se proteger, e proteger os outros sem darem por ela, descansar e renovar as suas energias, para se encher outra vez de força. 
      Umas vezes borboleta e voava ao sabor do vento, leve, outras vezes pássaros e aves grandes, quando queria ver mais de cima, ou subir aos montes e prédios da cidade, ou candeeiros, e sempre que queria ir à praia com vontade de se molhar no mar transformava-se em sereia, peixe, concha, búzio ou estrela-do-mar. 
      Outras vezes mocho, coruja, pirilampo, outras vezes lobo, flor, cigarra cantora que se juntava aos outros e cantava e dançava com eles, muito divertida, fada do lago para se juntar com as outras fadas do lago e participar nas suas grandes festas, cheias de música, cor, alegria, espetáculos, magia e amizade, e até transparente.   
      Muitas vezes à noite, a árvore dava grandes passeios e voltava sempre ao seu sítio, onde sonhava e era feliz. Era uma árvore realmente sensível, amiga, acolhedora, protetora e cuidadora, tinha muitas formas, nunca se sentia sozinha.

FIM
Lálá
(18/Abril/2016)



sexta-feira, 15 de abril de 2016

Sentidos a rimar



Foto de Lara Rocha 

Era uma vez um parque onde viviam patinhos, passarinhos, gatinhos, outros animais e para onde iam as pessoas da cidade. Numa tarde bem quente, um lindo céu azul, e um sol luminoso, dez patinhos amarelinhos saíram em filinha do seu lago, atrás da sua mãe pata, e foram dar um passeio pelo parque!
Pelo caminho todos viram as mesmas coisas, e cada um viu coisas diferentes. Todos viram que estava uma bela tarde, o céu azul, uma parte da relva…a que estava ao sol, tinha cor amarela, e a que estava protegida pelas enormes árvores do parque era verde e fresca.
Todos viram muitas mantas, e sacos de muitas cores, estendidas debaixo das árvores, na relva fofa, onde repousavam pessoas: umas eram mais crescidas, outras mais pequenas e bebés, que talvez fossem da mesma família…pais e filhos, e avós, tios e primos...
Todos viram que debaixo dessas, e de outras árvores estavam alguns animais de companhia como cães e gatos…que cheiraram os patinhos, fizeram um grande alarido e foram a correr atrás dos patinhos, a ladrar e a miar. Os patinhos ficaram muito assustados e desataram a correr.
Os donos dos cães e dos gatos acharam muita piada, e riram, tiraram fotografias e foram também atrás dos patinhos, a tentar agarrá-los. Mas os patinhos fugiram e não se deixaram apanhar, voltaram a entrar para o laguinho. As pessoas voltaram para os seus sítios, com os seus animais.
Depois do susto ter passado, os dez patinhos e a mãe pata voltaram a sair em filinha, para outro lado do parque, sempre atentos a ver se os outros animais e as pessoas não iam atrás!
Pelo caminho os dez patinhos viram e fizeram coisas diferentes. A mamã pata estava sempre atenta a tudo à sua volta, olhava muitas vezes para trás e contava até dez, para ver se estavam os seus dez filhotes.
O primeiro patinho começou a cantar uma canção que a mamã tinha ensinado…não se lembrava da letra toda, mas era uma canção que a mãe cantava muitas vezes, só que ele era distraído e ainda não sabia toda. Quando o patinho se calou, a mãe continuou a canção, e os outros acompanharam.
O segundo patinho lembrou-se de se abanicar, e parecia que estava a dançar sem música. Os que estavam atrás de si, imitaram-no com muitos risinhos, mas quando ele olhou para trás, para saber do que se estavam a rir…eles pararam e olharam para trás também.
O terceiro patinho deu um saltinho por cima de um buraquinho que parecia ser de uma toupeira ou de um rato do campo; como já tinham feito a mãe pata, o primeiro e o segundo patinho, que já tinham visto o buraquinho, e tinham dado o saltinho. Os patinhos que vinham atrás. Também deram o saltinho, mas não perceberam que foi por causa do buraquinho. Pensaram que estavam a brincar.
O quarto patinho pisou um raminho de um pinheiro, que lhe picou os dedinhos. O patinho gritou e encolheu a patinha. Todos os patinhos pararam e olharam para a patinha dele. Não tinha nada…não estava magoada, foi só impressão…por isso continuaram o passeio.
O quinto patinho viu um passarinho a voar de um ninho que foi construído no cantinho de uma árvore muito velha. O sexto patinho assustou-se quando um gatinho de pêlo branquinho se atravessou na sua frente…vinha a correr disparado de algum sítio que não sabiam de onde, e rapidamente desapareceu.
O sétimo patinho deu um gritinho, quando viu um sapinho saltar para um laguinho de lama, que se formou depois de regarem. Os outros patinhos riram. O oitavo patinho chutou um ratinho que chiou e parou assustado ao pé das patinhas do patinho….o ratinho ia atravessar o parque, mas não contava com a passagem dos patinhos, que lhe disseram para ter cuidado com os cães e os gatos que andavam no parque. O ratinho agradeceu e seguiu muito atento.
O nono patinho apanhou com uma patinha, um molhinho de flores selvagens, e fez um raminho muito mimoso para oferecer à sua mamã, e levou-o no biquinho até pararem. A mamã pata recebeu o raminho do patinho, e deu-lhe um beijinho.
O décimo patinho chamou a atenção para um conjunto de arco-íris espalhados, e pousados em molhinhos de ervas, no chão, que tinham sido regados, e o sol que passava nos espaços entre as folhas das árvores, refletia nas gotas e apareciam os arco-íris. Os patinhos tentaram tocar nos arco-íris mas não conseguiram agarrá-los.
Levantou-se um ventinho mais fresquinho, começaram todos a espirrar, por isso voltaram para o seu lado, onde tiveram uma grande e feliz surpresa…estavam lá as suas amigas fadas com roupas brilhantes e sorrisos abertos, a ensaiar um espectáculo de saltos, danças e brincadeiras, com nenúfares. Todos os patinhos ficaram a ver o ensaio, encantados, e aplaudiram. As fadinhas agradeceram, e assim os patinhos passaram este dia.
FIM
Lálá
(15/Abril/2016)


a descoberta do gato

         

 Era uma vez um gato que vivia numa casa com uma família muito numerosa. De entre os filhos do casal, havia um rapaz que adorava pintar e desenhar, e tinha muito jeito. O gato recebia mimos de toda a família mas tinha uma relação mais próxima e mais especial com o rapaz que pintava. 
         Os dois ficavam na varanda fechada, espaçosa e envidraçada, quente, e com lareira que às vezes estava acesa. O rapaz sentado em frente ás telas, umas atrás das outras, de volta das tintas, e ás vezes parado a olhar para elas, talvez em busca de inspiração, e mergulhado nas cores, nos seus sonhos, desejos, imaginação e fantasias, que punha nas telas.
       O gato circulava pela varanda, umas vezes dormitava, outras vezes estendia-se em cima das almofadas que estavam no chão, outras vezes senta-se num cadeirão e parecia o dono daquilo tudo, quando tinha mais frio, deitava-se nas mantas aos pés da lareira e dormia.
          Mas o que ele gostava realmente...era de ver o rapaz a pintar. Seguia todos os movimentos, ficava em suspenso, e a sua cabeça acompanhava os braços do pintor...isto fazia-o tentar imaginar o que ia sair dali, parecia que era o gato que estava a desenhar ou a pintar. Muitas vezes acertava! E ficava encantado...quase hipnotizado com a beleza dos quadros do seu amigo humano. Miava, enroscava-se nas pernas do rapaz, ele pegava no gato ao colo para ver melhor, e perguntava-lhe sempre o que achava. 
       O gato não usava palavras, mas apreciava e transmitia isso ao dono de outra maneira, que ele entendia muito bem. Era só elogios. O gato imaginava como seria bom pintar, pois o seu dono ficava feliz sempre que pintava...e tinha um enorme desejo de experimentar, para ver se era fácil ou difícil, se conseguia fazer coisas tão bonitas como ele. 
          Mas como é que ele ia fazer isso? Não podia falar... Nem de propósito, um dia, o rapaz atirou uma folha para o chão, num momento em que estava muito zangado, e também caíram pincéis,e tintas. O gato nem queria acreditar...e num impulso começou a experimentar, imitando todos os movimentos que tinha visto o seu dono a fazer enquanto pintava. 
         O rapaz ficou a apreciar...o gato estava tão absorvido na pintura com o seu dono, que nem reparou que estava a ser visto. Pintou uma bela gata, muito perfeita, parecia quase uma fotografia. O dono ficou espantado, aplaudiu-o, o gato ficou assustado e depois riu-se...miou, como que a pedir desculpa, mas o dono ficou deliciado, achou lindo, maravilhoso e perfeito. O gato tinha acabado de descobrir um novo talento e pôde perceber nesse momento, como é que o seu dono se sentia. Desde esse dia, o seu dono pintava em conjunto com o gato, e quando não estava inspirado, o gato inventava sempre alguma coisa nova...Mas que grande artista! Passado uns tempos, já tinham tantos quadros, que quase não tinham espaço para eles, então foram vendê-los para ajudar a família. Eram quadros tão especiais que desapareciam no mesmo dia, e porque havia pessoas que não acreditavam que tinha sido o gato a pintar, o dono punha-o a pintar diante das pessoas, tudo o que elas quisessem. Elas ficavam sem palavras...aplaudiam, tiravam fotografias, e pagavam os quadros. O dono e o gato não tiveram mais sossego, mas era algo que eles adoravam fazer, tinham esse dom, e ajudaram mesmo muito a família. Nem o gato sabia que tinha jeito para a pintura...foi uma descoberta mágica! 
E se vocês tivessem um gato pintor...ou um gato que aprendesse os vossos talentos? Será que ele aprender alguma coisa convosco, ou ensinar-vos alguma coisa? 
Nós também somos assim...às vezes só descobrimos os nossos talentos para certas coisas, sem estarmos á espera. Experimentamos e descobrimos...e com os nossos amigos também! Não é? Já aprenderam coisas novas com os vossos amigos? Quais? Coisas que não sabiam que gostavam, ou que tinham jeito? 

Fim 
Lálá 
(15/Abril/2016) 

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Os grãozinhos de areia

foto de Lara Rocha 

Era uma vez milhares de grãozinhos de areia, muito finos, de muitas cores diferentes, que foram apanhados na mesma praia, pintados com as mesmas tintas, e viviam numa ampulheta que foi levada para um grande palácio onde viviam reis com as suas princesinhas e príncipes.
Os pequenos foram ensinados pelos pais a serem muito competitivos, e a lutarem para serem os melhores que os outros. Esta ideia fixa dos reis deixava as crianças muito nervosas e insuportáveis quando perdiam, quando se atrasavam, quando alguém era melhor que eles.
Para fazer os trabalhos de casa, e qualquer outra pequena tarefa, pegavam nas ampulhetas, cada um tinha a sua, e corriam como selvagens, faziam tudo a correr, tudo mal, caiam muitas vezes, gritavam…só para ver as ampulhetas a girar.
Os grãozinhos andavam sempre a correr de um lado para o outro, centenas de vezes durante o dia, e de noite até as crianças dormirem. Nos primeiros tempo em que foram para o palacete ainda achavam engraçado e divertiam-se muito, mas estavam a ficar cansadas e nervosas como as crianças.
Conversaram a combinaram que passariam a andar mais devagar para ensinar as crianças a andarem também mais devagar, e assim fizeram. No dia seguinte, logo de manhã começa a correria das crianças, e pegam nas ampulhetas.
Os grãozinhos de areias dão as mãos num grande círculo, cruzam-se uns com os outros, e deixam-se cair para o outro lado da ampulheta muito devagar.
As crianças ficam completamente loucas, irritam-se, gritam, abanam as ampulhetas, e atiram com elas para o chão. As ampulhetas não partem. Todos se encolhem, e as crianças exigem umas ampulhetas novas, porque acham que elas estão estragadas…andaram muito devagar.
Os reis fizeram-lhes a vontade. Levaram essas ampulhetas para o armazém do senhor caracol que recolhe coisas estragadas, e deixam-nas lá. Na sua lentidão habitual, fica muito surpreso a olhar para as ampulhetas.
- Mas onde é que isto está estragado? Não vejo nada.
Experimenta virá-las e elas correm normalmente.
- Porque é que eles me deixaram aqui isto?
Das areias sai uma borboleta, e atravessa o vidro de uma ampulheta.
- Áh! Estavas aí? Como é que aguentavas aí tanto peso? – Pergunta o caracol
A borboleta sorri:
- Fui enviada por elas, e trago a resposta à tua pergunta.
- Por quem?
- Pelas areias das ampulhetas.
- Porque é que elas foram deixadas aqui? Não vejo nada estragado.
- Pois, e não estão. Mas fizeram de propósito para ver se ensinavam os pequenos apressados a andar mais devagar, e a não serem tão insuportáveis…
- Mas isso era uma excelente ideia.
- Era. Combinaram passar para o outro lado mais devagar, mas os pequenos não perceberam. Elas estavam cansadas de tanto andar de um lado para o outro.
- Claro. Coitadas! Vou libertá-las daquele vidro.
O caracol abre as ampulhetas e os grãozinhos de areia saem felizes para um lago sem água, arejado, e conversam alegremente com o caracol. Todos concordam que o que os reis estavam a fazer com os pequenos era terrível, e mais cedo ou mais tarde, eles iam parar e andar mais devagar.
Foi mesmo isso…uns dias depois ficaram doentes, põe serem tão nervosos, a cabecinha começou a funcionar mal, e tiveram mesmo de começar a andar muito mais devagar porque se andassem depressa, ou se se enervassem, podia ser muito perigoso para a saúde deles. Até deixaram de ligar às ampulhetas e aprenderam a ser mais calmos.
Só nessa altura é que se lembraram da forma como as areias das ampulhetas estavam a andar devagar. A borboleta entra no quarto dos pequenos e diz-lhes:
- Deviam ter aprendido com as areias das ampulhetas. Elas estavam a andar devagar, para vos ensinar a fazer o mesmo, mas vocês deitaram-nas fora. Elas estavam cansadas de andar tão rápido, e vocês também já deviam estar.
A borboleta e as crianças têm uma longa conversa, explica a importância de andar mais devagar, para apreciar as coisas bonitas à nossa volta, para vermos e conhecermos muito bem o nosso mundo, e toda a natureza, para termos mais saúde, e não ficarmos nervosos… e realmente…as crianças perceberam que as areias tinham razão. Foi o que fizeram desde esse dia em diante e melhoraram a sua saúde.
Que grande lição dos grãozinhos de areia, não foi?

                                               FIM
                                               Lara Rocha 
                                    (13/Abril/2016)

   

segunda-feira, 4 de abril de 2016

As borboletas que mudavam de cor

desenhado por Lara Rocha 


Era uma vez uma aldeia onde viviam muitas pessoas. Era uma aldeia sossegada, mas um dia, sem darem por isso, foram invadidos por centenas ou milhares de borboletas. Quem reparou foram os cães das casas que sentiram uma presença diferente, ficaram assustados e ladraram sem parar.
Todos foram à janela, ver o que poderia estar a acontecer.

- Mas o que é que os bichos têm hoje? – Perguntou uma jovem
- Realmente…ainda não se calaram. – Disse um rapaz
- Será que anda aí alguém escondido? – Perguntou um homem
- Hummm…é melhor vermos. – Sugere outro homem
- Vou contigo! – Diz a esposa
- Não…- Dizem todos
- Vocês ficam. – Grita outro homem
- Deixem-nos ir. – Imploram elas
- Não. – Gritam todos os homens
- Pode ser perigoso. – Justifica outro homem
- E para vocês também. – Lembra uma das raparigas
- Não! – Dizem todos os homens
- Nós somos homens…- Afirma outro homem
- Grande coisa! – Dizem as mulheres
- Ficam e não há mais conversa. – Resmunga outro homem
- Teimosos…- Gritam todas
- E ai de vocês que saiam! – Ameaça outro homem
- Ainda nos vão chamar, seus convencidos! – Diz outra jovem
- Vão ter sorte… - murmura uma jovem
- Nós vamos já ficar aqui! – Murmura outra
- Nós é que vamos descobrir! – Murmura outra
Os homens das casas saem juntos, as mulheres ficam à janela, amuadas, mas aparentemente tudo normal. Os cães continuavam a ladrar e nervosos. As mulheres não ficaram descansadas. Elas sentiam que havia alguma coisa. Só podia! Olharam umas para as outras, sorriram e comunicaram-se com os olhos. Todas tiveram a mesma ideia.

- Será que vem aí algum fenómeno natural? – Pergunta um homem
- Que se saiba, não. – Respondem todos
- Devem ter sido eles a farejar qualquer bicho. – Diz outro homem
- Mas pelo sim pelo não… - Insiste outro homem
- Pois… - concordam todos
- Pode estar por aí. – Concorda outro homem
- Eles ainda não se calaram. – Repara outro homem
- Por isso é que é melhor vermos. – Reforça outro homem
- Vamo-nos dividir, mas nenhum vai sozinho.  
         Os homens passaram tudo a pente fino com ar de ameaçadores e prontos a atacar se fosse preciso. Não viram nada. Elas esperaram que os homens se fossem deitar, à janela a conversar umas com as outras e a rir, e sempre atentas. Encontraram-se à entrada, e foram à procura, silenciosamente, juntas, com lumieiras, os cães calaram-se, e elas sim…viram!
Nem queriam acreditar…quando olharam à sua volta e para as luzes, viram centenas de borboletas que mudavam de cor, onde pousavam…estava escuro, mas às luzes, elas tinham outras cores, e cada uma das borboletas mostrava nas suas asas todas as cores.
Os homens não as viram porque elas estavam transparentes, para se defenderem, porque tinham medo de ir parar a frascos ou a paredes com alfinetes, e ficaram quietinhas.
As mulheres seguiram-nas atentamente, e sorridentes, encantadas com as cores, e com as variações das mesmas nas suas asas, os bailados e os malabarismos, as danças que elas faziam, elegantemente…lindas!
E perceberam que eram borboletas de asas transparentes, quando olharam para aquelas que voavam em direção às estrelas e à lua… e quando brincaram com elas, às sombras no chão, com os reflexos das luzes e da lua gigante que estava nessa noite.
As mulheres quase se transformavam em borboletas também, de tanto dançarem com elas, e perseguirem as suas sombras. As borboletas desafiaram-nas, ensinaram às mulheres passos de danças, pousaram nos seus cabelos, nas suas mãos, nos seus vestidos, elogiaram os perfumes delas, e elas tocaram nas suas asas muito delicadas, transparentes… era por isso que elas tinham todas as cores.  
Divertiram-se, e deram muita gargalhada, mexeram-se, dançaram, correram, até quase de manhã, e os maridos dormiram, não se aperceberam de nada. Quando se levantaram, elas dormiam, eles foram trabalhar, e de manha, quando elas acordaram, a primeira coisa que fizeram foi ir janela ver as borboletas, e lá estavam elas…com asas brancas, outras amarelas, outras brilhantes, outras verdes, outras vermelhas, outras azuis, outras cor-de-rosa…outras com cores misturadas.
As borboletas pousaram nas janelas e deram bom dia às mulheres…as mulheres responderam felizes, e gostaram tanto delas que as acompanharam todo o dia, em todos os sítios onde elas iam! Afinal…as borboletas eram transparentes e de todas as cores…talvez…e acordo com os olhos de cada um que as visse, ou conforme os sentimentos. As borboletas nunca mais saíram de lá, e os homens continuavam sem as ver, talvez porque estivessem distraídos ou era mesmo uma defesa delas.


FIM
Lálá
4/Abril/2016