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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Os grãozinhos de areia

foto de Lara Rocha 

Era uma vez milhares de grãozinhos de areia, muito finos, de muitas cores diferentes, que foram apanhados na mesma praia, pintados com as mesmas tintas, e viviam numa ampulheta que foi levada para um grande palácio onde viviam reis com as suas princesinhas e príncipes.
Os pequenos foram ensinados pelos pais a serem muito competitivos, e a lutarem para serem os melhores que os outros. Esta ideia fixa dos reis deixava as crianças muito nervosas e insuportáveis quando perdiam, quando se atrasavam, quando alguém era melhor que eles.
Para fazer os trabalhos de casa, e qualquer outra pequena tarefa, pegavam nas ampulhetas, cada um tinha a sua, e corriam como selvagens, faziam tudo a correr, tudo mal, caiam muitas vezes, gritavam…só para ver as ampulhetas a girar.
Os grãozinhos andavam sempre a correr de um lado para o outro, centenas de vezes durante o dia, e de noite até as crianças dormirem. Nos primeiros tempo em que foram para o palacete ainda achavam engraçado e divertiam-se muito, mas estavam a ficar cansadas e nervosas como as crianças.
Conversaram a combinaram que passariam a andar mais devagar para ensinar as crianças a andarem também mais devagar, e assim fizeram. No dia seguinte, logo de manhã começa a correria das crianças, e pegam nas ampulhetas.
Os grãozinhos de areias dão as mãos num grande círculo, cruzam-se uns com os outros, e deixam-se cair para o outro lado da ampulheta muito devagar.
As crianças ficam completamente loucas, irritam-se, gritam, abanam as ampulhetas, e atiram com elas para o chão. As ampulhetas não partem. Todos se encolhem, e as crianças exigem umas ampulhetas novas, porque acham que elas estão estragadas…andaram muito devagar.
Os reis fizeram-lhes a vontade. Levaram essas ampulhetas para o armazém do senhor caracol que recolhe coisas estragadas, e deixam-nas lá. Na sua lentidão habitual, fica muito surpreso a olhar para as ampulhetas.
- Mas onde é que isto está estragado? Não vejo nada.
Experimenta virá-las e elas correm normalmente.
- Porque é que eles me deixaram aqui isto?
Das areias sai uma borboleta, e atravessa o vidro de uma ampulheta.
- Áh! Estavas aí? Como é que aguentavas aí tanto peso? – Pergunta o caracol
A borboleta sorri:
- Fui enviada por elas, e trago a resposta à tua pergunta.
- Por quem?
- Pelas areias das ampulhetas.
- Porque é que elas foram deixadas aqui? Não vejo nada estragado.
- Pois, e não estão. Mas fizeram de propósito para ver se ensinavam os pequenos apressados a andar mais devagar, e a não serem tão insuportáveis…
- Mas isso era uma excelente ideia.
- Era. Combinaram passar para o outro lado mais devagar, mas os pequenos não perceberam. Elas estavam cansadas de tanto andar de um lado para o outro.
- Claro. Coitadas! Vou libertá-las daquele vidro.
O caracol abre as ampulhetas e os grãozinhos de areia saem felizes para um lago sem água, arejado, e conversam alegremente com o caracol. Todos concordam que o que os reis estavam a fazer com os pequenos era terrível, e mais cedo ou mais tarde, eles iam parar e andar mais devagar.
Foi mesmo isso…uns dias depois ficaram doentes, põe serem tão nervosos, a cabecinha começou a funcionar mal, e tiveram mesmo de começar a andar muito mais devagar porque se andassem depressa, ou se se enervassem, podia ser muito perigoso para a saúde deles. Até deixaram de ligar às ampulhetas e aprenderam a ser mais calmos.
Só nessa altura é que se lembraram da forma como as areias das ampulhetas estavam a andar devagar. A borboleta entra no quarto dos pequenos e diz-lhes:
- Deviam ter aprendido com as areias das ampulhetas. Elas estavam a andar devagar, para vos ensinar a fazer o mesmo, mas vocês deitaram-nas fora. Elas estavam cansadas de andar tão rápido, e vocês também já deviam estar.
A borboleta e as crianças têm uma longa conversa, explica a importância de andar mais devagar, para apreciar as coisas bonitas à nossa volta, para vermos e conhecermos muito bem o nosso mundo, e toda a natureza, para termos mais saúde, e não ficarmos nervosos… e realmente…as crianças perceberam que as areias tinham razão. Foi o que fizeram desde esse dia em diante e melhoraram a sua saúde.
Que grande lição dos grãozinhos de areia, não foi?

                                               FIM
                                               Lara Rocha 
                                    (13/Abril/2016)

   

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