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segunda-feira, 22 de abril de 2019

A amizade entre as gotinhas de água e a aranha

       

Era uma vez uma aranha que vivia num país muito quente, poluído, onde já não chovia há muitos anos. Os habitantes e os animais que lá viviam já estavam habituados ao calor. Mas ultimamente estava a ser demasiado, o calor, e a secura.
         Uma aranha passeava pela areia quente, sem pressa, e aos saltinhos pequeninos para não sentir tanto o quente, procurava desesperadamente uma sombra, era quase um oásis encontrar alguma. Para não ficar ao sol, ela andava mais rápido, e finalmente encontrou uma palmeira com grandes folhas.    Trepou rapidamente pelo tronco e chegou à primeira folha, dobrada, macia.

- Áh! Que bela sombra! - Suspira a aranha - Encontrei o paraíso. Como é possível este forno, quase ficava esturricada. Que sufoco...aqui está fresquinho. Áh! Que bom. Só falta água para ser perfeito. Quando irá acontecer? Aiiii...

        Umas gotas de água ouviram o seu desejo e ficaram com pena dela. Decidiram cair da atmosfera e pousaram em cima da teia. A aranha tece uma teia em cima da folha, muito vagarosamente, mas o efeito final parece uma colcha rendilhada. Finalmente repousa num cantinho da sua teia. Adormece, e sonha com muita água, que havia água por todo o lado, e ela nadava feliz, saboreava a frescura da água, e refrescava-se.
       As gotinhas já lá estão a brincar e a saltar na teia, quando a aranha acorda a sorrir. Teve de olhar várias vezes para as gotinhas, pois pensava que ainda estava a sonhar.

- Água...? Ááááááhhhhh.... Sim, quero água! Quero tanto água que até sonho com ela. Acho que ainda estou a sonhar, e a vê-las aqui. Mas com este calor é impossível haver água. Ai, que sede! Água... por favor, onde há água? Água!

- Coitadinha, está a delirar com o calor. - diz uma gotinha

- Olá! - dizem as gotinhas em coro

- Água...- diz a aranha

- Estamos aqui. - Respondem as gotinhas

         Sacodem-se e molham a aranha, outras gotas contorcem-se por cima da aranha e dão-lhe um belo jato de água. A Aranha suspira feliz, ri.

- É real ou estou a sonhar?

- É real.

- Água? Isto é água? Áááááááhhhhhh... Á-g-u-a...Água! Sim, é agua! - Salta a aranha feliz - molhem-me mais, por favor.

         As gotas juntam-se, entrelaçam-se, abraçam-se, e enchem um buraco no tronco da palmeira com água. Depois enchem outro buraco ainda maior com água para ela beber. A aranha sorri, saltita feliz, toda brilhante.

- Áh! Água... Muito obrigada. Quero beber mais água...

         Abre a boca, e as gotinhas deitam mais água na teia para a aranha se molhar e beber sempre que sentisse sede. As gotinhas riem ao ver a enorme felicidade da aranha.

- Quando precisares de água, chama-nos. - Diz outra gotinha

- Muito obrigada!

         As gotinhas voltam para a sua casa, e a aranha sente-se tão feliz, mas tão feliz que fica mergulhada na água que as gotinhas deixaram no tronco. Mas, começou a pensar:

- Eu estou aqui agora, rodeada de água, que maravilha! Mas...e os humanos, será que também não precisam de água? Eu até lhes dava alguma, mas não quero saber, também não gostam de mim, nem da minha família. Que se arranjem! Espera...e se eu lhes der água, será que eles me aceitam melhor e começam a gostar mais de mim? Hum, acho que não. Eles são muito nojentos. Tratam-nos muito mal, não merecem! Não. Esta água é toda para mim. Óh…mas...e se há bebés? E outros animais? Todos precisamos de água! Mas não quero saber.
       
         Enquanto a aranha refletia, dividida entre a bondade e a vontade de ignorar quem não gosta dela, começa a chover torrencialmente. Ela dá um grito, e muito assustada corre para uma toca onde estavam morcegos a dormir. Ela nem reparou.
         Choveu durante horas e horas seguidas, as pessoas da terra ficaram tão felizes, queriam tanto água, e precisavam mesmo, que dançaram, apanharam chuva, cantaram, encheram baldes, atiraram-se para as piscinas, porque estava calor.
         A chuva foi tanta que encheu barragens completamente vazias. Felizmente voltou a haver muita água nas torneiras, criaram ilhas naturais no meio de areias, encheu tanques, fez crescer vegetais, e voltou a haver água que se farta, o que foi ótimo para a alimentação dos animais.
        A teia da aranha ficou cheia de gotinhas saltitantes, que se desprendiam com o vento, que as sacudia. Umas conseguiam agarrar-se à teia, outras caíam. A aranha ficou deliciada a ouvir o barulho da chuva a cantar em tudo o que batia. Ela saiu da toca e foi brincar com as gotinhas. Por isso, além de água, a aranha ganhou novas amigas que adoravam saltar na sua teia, e elas, em troca para agradecer, matavam-lhe a sede, e refrescavam-na. A aranha e as gotinhas tinham longas conversas, riam e brincavam muito umas com as outras. Sempre que estava tudo demasiado seco, as simpáticas gotinhas levavam as famílias e as amigas para inundar tudo outra vez.
         E assim cresceu uma linda amizade entre as gotinhas e a aranha.

                                                                            FIM
                                                                            Lala
                                                                      22/Abril/2019