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segunda-feira, 12 de agosto de 2019

o espelho

       

     
desenhado por Lara Rocha 

        Era uma vez uma concha com uma pérola muito bonita. Parecia igual a todas as outras conchas com pérolas, mas esta só algumas pessoas conseguiam abri-la. As que tivessem uma alma bonita, as bondosas, as que amavam a natureza. 
         A pérola da concha, cansada de ver almas escuras, decidiu retirar-se uns dias da superfície. Nesses dias em que esteve a descansar, também pensou muito, principalmente porque é que as pessoas andavam com as almas tão escuras.
         Viajaram até Angola, Moçambique, e Índia. Viram a miséria que lá havia, mas ao contrário do que elas imaginavam, muitas almas conseguiram abrir a concha, e ver-se ao espelho. Algumas eram tão bonitas que até apareciam pequeninos pontinhos brilhantes, de minúsculas fadas que cintilavam com a beleza das almas. Outras vezes apareciam arco-íris.
Elas não sabiam porque é que isso acontecia, até que decidiram perguntar a uma menina:

- Menina, desculpa a nossa pergunta: mas...como é que as vossas almas são tão bonitas numas cidades como estas, tão pobres, que não tem quase nada, vocês mal podem comer e viver?

- Concha, essa pergunta é fácil! É que nós temos tão pouco, mas temos o que nos faz mais felizes, e mais bonitas. Um coração generoso, os nossos mais velhos ensinam-nos o que é preciso. Temos casa, temos roupa, temos calor, temos comida, natureza que nos dá tudo o que precisamos para viver, temos família, temos amor, e saúde.

- Mas os outros povos têm muito mais do que vocês, e as almas deles são feias, escuras, infelizes! - diz a pérola

- Claro, são ricos em material, mas eternamente insatisfeitos. Quanto mais têm, mais querem, mais exigem. Como podem ser felizes com mais, se não acham suficiente? Talvez lhes falte o principal…

- E o que é o principal? - pergunta a concha

- É a felicidade nas pequenas coisas, nas mais pequenas, como poder ver, ouvir, cheirar, sorrir, ter braços e mãos para ajudar, trabalhar, abraçar, e fazer tudo o que queremos. É a felicidade de ter pessoas que sabem muito, com idade, mas corações enormes, mãos vivas, olhos felizes. Os outros povos não sabem o que é isso! Não têm de buscar nada, não veem nada do que é realmente bonito.
Como podem ser bonitos e com almas claras, se não veem...a felicidade e a paz. Os abraços, os carinhos e os sorrisos. - Explica a menina

- Áhhhh! Que bonito! - Dizem as duas a sorrir encantadas

- Muito bonito, e verdadeiro. Foi o que me ensinaram, a mim e ao meu povo! - diz a menina

- Mas que maravilhosa lição. Muito obrigada. - Diz a concha

- Muito bom. Obrigada.

- Já vão embora? - pergunta a menina

- Sim, vamos ensinar esta lição às almas escuras. - diz a concha

- Vão iluminá-las…? - Acrescenta a menina

- Isso! - Dizem as duas

- Mas voltamos! - promete a pérola

- Até já!

- Até já e boa viagem.

            A concha e a pérola regressam aos outros povos onde as almas eram infelizes, e em vez de só permitirem que as almas bonitas as abrissem, deixaram que as almas tristes pudessem ver-se e ao mesmo tempo, quando se viam no espelho da concha, a pérola irradiava luzes de todas as cores, que tornavam as pessoas mais felizes.
           E sempre que precisavam de luz, voltavam aos povos que eram mais pobres, mas mais felizes. Mesmo assim, havia pessoas que não conseguiam mudar para cores claras. Para essas, a concha fechava rapidamente, pois achava que elas não queriam ser felizes.

         Se fossem vocês, a concha abriria? Que cores veriam no espelho?

                                                             Fim
                                                             Lálá
                                                      12/Agosto/2019