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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A lenda da fechadura


fotografia de Lara Rocha 


Era uma vez uma praia como todas as praias…com areia, mar e rochas, que recebia muitas visitas porque tinha algo de diferente das outras. Esta tinha uma rocha com uma forma estranha, e uma fechadura, que nem sempre estava à mostra, mas não havia chave.

Muita gente que visitava esta praia, especialmente a rocha que tinha uma fechadura, dizia sentir vibrações diferentes, tanto ouviam um silêncio aterrador, gelado, como sentiam uma ventania de cortar a respiração e os ossos, só nesse canto da rocha.

Umas vezes conseguiam ouvir choros, gritos, uma voz que cantava melodias tristes e pesadas, outras vezes cantava doces, lindas e leves canções que pareciam músicas instrumentais, e percebiam que as ondas umas vezes ficavam serenas, outras vezes com um tamanho monstruoso que corria toda a gente da praia. Umas vezes passava água por baixo da rocha da fechadura, outras vezes não.

Era um mistério que muita gente tentava descobrir, mas não conseguiam. Só um marinheiro sabia o segredo, mas não o desvendava, porque gostava de ver tanta gente na praia curiosa, e que sentiam coisas como ele dizia.

O mistério era uma lenda muito antiga, embora alguns ainda mais antigos dissessem ser verdadeiro…contavam os marinheiros que era nesse lugar que se encontravam com a princesa dos mares.

Essa princesa era uma mulher demasiado linda, linda demais para ser verdadeira, elegante, muito sedutora, que despertava invejas em todas as outras princesas e seres marinhos, que queriam ser tão bonitas como ela.

Como não conseguiam seduzir os marinhos, porque na verdade eles gostavam mesmo dela, as outras aprenderam uns truques maldosos com a feiticeira dos mares, para conseguir conquistar, e tentaram roubar todos os marinheiros que puderam. Aos que iam pescar, elas formavam tempestades, apareciam a dançar, hipnotizavam-nos, e eles deixavam-se encantar.

A princesa não sabia de nada, nem precisava de fazer feitiços ou hipnotizar para que os marinheiros se encantassem por ela, sentia-se muito sozinha, porque na verdade ela salvava os marinheiros, e queria a companhia deles, porque sentia-se muito sozinha. Começou a achar muito estranho não aparecerem.

Uma vez ficou transparente e assistiu a tudo o que as outras fizeram. Ficou muito triste e com muita raiva, gritou até ficar quase sem voz, levantou ondas gigantes, revirou o mar todo com os seus movimentos de fúria, sacudiu os barcos, e todos os marinheiros caíram à água. As outras ficaram realmente apavoradas, e fugiram.

Ela pegou nos marinheiros e atirou-os todos para a areia numa grande ventania que formou com a sua raiva. Salvaram-se todos, mas ela ficou muito perturbada. Refugiou-se numa rocha para se acalmar. Nessa rocha…

Nessa rocha gritou tudo o que sentia, toda a sua raiva pela desilusão que as outras com quem ela se dava tão bem, e considerava quase família, lhe tinham provocado.

Como é que elas puderam fazer isso com ela…perguntou-se muitas vezes, e praguejou…a voz dela parecia um tremor de terra num túnel, que se ouvia na praia toda.

Depois de conseguir libertar a sua raiva, chorou tanto que as suas lágrimas formaram uma baía à volta da rocha. Por fim, completamente cansada calou-se, deitou-se na areia e adormeceu.

Os seus pais compreenderam o estado em que ela ficou, e deixaram-na lá ficar até recuperar forças. Cobriram-na, deixaram-lhe alimentos e bebidas, e roupas secas, e fecharam aquele canto com uma porta que abriram na pedra, para que ninguém a perturbasse, mas nunca a deixaram sozinha, estavam sempre vigilantes.

Depois de muitas horas a dormir, ela abriu os olhos, olhou em volta, não sabia onde estava, alimentou-se e bebeu, trocou de roupa que estava toda molhada, e ficou em silêncio.

Os pais foram vê-la e conversaram com ela, ouviram todas as suas revoltas, dores, tristezas, angustias, desilusões, tentaram consola-la, e ela voltou com eles para casa.

Nos dias seguintes, ela ainda ficou muito irritada, e nesses momentos, pegava na chave e refugiava-se no seu recanto, nessa rocha. Gritava, chorava, às vezes tanto que a água passava por baixo da porta e aparecia na praia.

Quando havia marinheiros em perigo, principalmente à noite, a princesa pegava neles, e acolhia-os no seu recanto, alimentando-os, dando-lhes de beber e cobrindo-os, fechava-lhes a porta na rocha, ficando assim protegidos até que amanhecesse para saírem em segurança, e falava com eles, de forma muito meiga, simpática, amigável. Eles adoravam-na, e depois não conseguiam libertar-se dela…iam ter com ela.   

A lenda foi rapidamente divulgada, porque um dia viram um velho marinheiro sentado à porta da rocha, e perguntaram-lhe o que estava ali a fazer…ele respondeu que estava à espera que a princesa do mar lhe abrisse a porta, que queria reencontrá-la ao fim de tantos anos.

Acharam que ele estava louco, ou a delirar, mas ele contou o que tinha acontecido há muitos anos atrás, quando a princesa o salvou e o fechou no seu recanto para o proteger.

Contou com tantos pormenores que quem o ouviu quase conseguiu ver e sentir. Como percebeu que estavam a duvidar dele, mostrou a fechadura na rocha que nesse dia estava à mostra, e sem água. Disse para fazerem silêncio, e ouviram vozes…o marinheiro sorriu e disse que ela estava ali com alguém.

Todos se arrepiaram porque realmente tinham ouvido vozes. Espreitaram pela fechadura, não viram nada, nem ouviram nada. Ele explicou que ela tinha ido embora…e na verdade…só se ouvia o vento, que parou de repente, e só se ouviu o silêncio.

De repente aparece um fiozinho de água por baixo da fechadura na rocha. O marinheiro sorriu e disse que aquele fiozinho de água eram umas lagrimazinhas da princesa do mar que o reconheceu…ele sabia que um dia destes iriam reencontrar-se, e conversar.

Todos os que ouviram arrepiaram-se, e o marinheiro entrou pela porta da rocha que se abriu, quando a maré ficou vasa. Sentou-se na areia e viu a princesa, a princesa fechou a porta, e quem ficou do lado de fora ouviu vozes, e gargalhadas…mas só viam o senhor pela fechadura.

Pensaram que ele estava a delirar, ou a sonhar…e foram embora, pensando como é que ele iria sair dali. Mas saiu, quando a princesa, depois de uma longa e animada conversa com o marinheiro que recordaram os tempos em que se encontraram, voltou para casa, com a promessa de se encontrarem mais vezes.

E o marinheiro voltou lá mais vezes. Ainda hoje, quando a maré vasa o marinheiro e quem vai visitar a praia vão a essa rocha da fechadura e ouvem vozes, quando a fechadura não está à mostra, sentem vibrações, e movimentos estranhos.

Há muitas pessoas que vão para esse sítio na esperança de ver e falar com essa princesa dos mares que era tão linda…mas nunca a veem…só os marinheiros conseguem vê-la e conversar com ela.

Os outros, apenas sentem, arrepiam-se, sentem-se estranhos, e ficam deixam-se levar pelo encanto do cantinho, ou da…lenda…ou será que foi mesmo verdade? Se calhar foi verdade para os marinheiros, pelo menos salvaram-se.

E vocês? Acham que foi lenda, ou pode ter acontecido na realidade? Será que foi imaginação dos marinheiros com o medo, para ganharem força de se salvarem? Ou será que essa princesa existiu mesmo…? Será que ela ainda existe? Porque é que acham que só os marinheiros a conseguem ver?

FIM

Lálá

(31/Agosto/2016)

domingo, 28 de agosto de 2016

A floresta das quatro estações



Era uma vez uma floresta cheia aparentemente igual a qualquer floresta, cheia de enormes e centenárias árvores, animais raros, em vias de extinção, sol e sombra. Mas era só aparentemente, porque era realmente uma floresta muito diferente.

A entrada era feita por uma pequena gruta que tinha um guarda: um peixe grande, estranho, feio, que parecia muito assustador, carrancudo e antipático, mas na realidade, sempre que via alguém, olhava de cima a baixo, cheirava, e se achava que o visitante era do bem, sorria, cumprimentava e deixava entrar.

Puxava uma alavanca e abria-se uma cortina feita de grandes ervas, muito compridas que caiam de umas rochas. 
O visitante atravessava a porta, e entrava num lugar da floresta com uma temperatura muito agradável, nem calor nem frio, geralmente sol, não muito quente, uma aragem, um vento suave.

Por todo esse espaço havia flores, umas em botão, outras abertas, de todas as cores, e espécies, cada qual a mais bonita, flores que pareciam sorrir a quem passava, e dançar ao sabor do vento, leves…Viam gotinhas brilhantes pousadas e a reluzir com o sol, na relva fresca, do orvalho da noite.  

Ouviam sons de pássaros a cantar, árvores cheias de ninhos, uns com ovos, outros com passarinhos bebés, tocas nos pés das árvores, de coelhos, tocas nos troncos, de raposas, mochos, corujas e outras espécie de aves, borboletas e andorinhas. 
Ouviam o barulho de água a correr, viam sol e sombra, e umas vezes apareciam nuvens, o vento tornava-se mais frio, caiam umas gotas de chuva, e o sol voltava a brilhar.

Depois havia outra porta, feita com uma cortina de conchas, que faziam um barulho delicioso quando se tocavam e balançavam à passagem do vento leve e quente. 
Quando desviavam as cortinas, os visitantes punham os pés em areia, macia, fofa, branca, limpa e com uma temperatura agradável.

Caminhavam pela areia, viam palmeiras, e ouviam o som do mar vagaroso, muito baixinho, com rochas à mostra, água quentinha, transparente, onde se viam corais, pedras de todos os tamanhos e cores, peixes de muitas espécies diferentes, estrelas-do-mar, cavalos-marinhos, viam-se golfinhos muito próximo da costa, barquinhos, ouviam-se gaivotas, e podia-se mergulhar à vontade.

O sol começava a ficar cada vez mais quente, a escaldar, e as pessoas deitavam-se na areia à sombra de palmeiras, e dos seus guarda-sóis, depois mergulhavam, molhavam-se várias vezes e secavam-se, porque o calor era muito, e bebiam muita água, depois iam para as suas casas.

Saiam desse lugar, e encontravam uma porta feita de um tronco de uma árvore velha, que abria e fechava com um galho mais ou menos grande e grosso. Esse lugar era mais fresco, o vento umas vezes era quente e forte, outras vezes era fresco, frio e forte, mesmo com sol que era mais fraco.

Havia mais nuvens, às vezes chovia, e a paisagem era um bocadinho mais escura, as folhas das árvores caiam às centenas, e eram em tons de vermelho, castanho, amarelo, verde, roxo. 
Viam-se nozes no chão, castanhas, umas nos ouriços, outras fora dos ouriços, bolotas espalhadas por todo o lado, e os varredores da floresta amontoavam as folhas aos pés das árvores, mas vinha o vento e elas que adorava as folhas, principalmente vê-las a dançar, soprava-lhes forte, elas rodopiavam outra vez, e faziam quase uma chuva de folhas de várias cores. Que lindo espetáculo, mas coitados dos varredores.

Viam uvas, maçãs e peras, milho alto, espigas, e muitos outros produtos da terra típicas que só apareciam nessa época do ano. 
Os seus habitantes apanhavam tudo o que a terra lhes dava, para ganharem dinheiro com as utilidades e coisas deliciosas que faziam com esses brindes da natureza. Faziam festas típicas, andavam mais agasalhados e a natureza era um bocadinho mais triste.

Por fim, chegavam à última porta, que era feita de uma nuvem escura, macia mas espessa. Atravessavam a porta e sentiam logo um vento gelado, que atravessava a pele e gelava todo o corpo. Quase não havia natureza, toda a paisagem era gelo, um manto branco, e sentiam flocos de neve a cair na cara, nas mãos, na cabeça…

Os seus habitantes passeavam enchouriçados de roupa, quase só com os olhos de fora, praticamente não havia animais a circular, o céu estava quase sempre escuro, o sol quando aparecia era tão fraquinho que quase nem se sentia, só trazia um bocadinho mais de claridade. Dos telhados das casas via-se sair fumo, das lareiras e das cozinhas.

Só havia uma grande festa, que aparentemente cortava todo o frio… a que chamavam o Natal…aquecia os corações, porque juntavam-se muito mais nas casas uns dos outros, e também vendiam muitas coisas.

Era uma floresta que tinha as quatro estações do ano num só lugar! Uns visitantes conheciam todas, e depois instalavam-se alguns dias ou semanas no lugar da estação do ano que mais gostava…Primavera…Verão…Outono e Inverno.

As que tinham mais visitas eram a Primavera e o Verão, porque seria? Porque há mais luz, mais vida na natureza e mais alegria.


Se fossem a esta floresta, para que cantinho iam? Porquê? O que encontrariam lá, além disto? Ou encontrariam coisas diferentes? Desenhem ou pintem, ou escrevam sobre a vossa estação do ano preferida.

 

FIM

Lara Rocha 

(27/Agosto/2016)

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Os ninhos da gata sem nome

desenhada por Lara Rocha 

Era uma gatinha pequenina, de pelo branco, e olhos verdes que foi abandonada pelos donos que ficaram com a sua mãe. Deixaram-na no parque da cidade, debaixo de um banco para quem a quisesse adotar, ou então se a encontrassem.
A gatinha estava cheia de frio e fome, e miava fininho, baixinho, mas uma senhora de muita idade reparou nela. Olhou-a, e levava consigo um saco e um pacote de leite.
Pegou na gatinha carinhosamente, e meteu-a no saco. Chegou a casa, encheu uma tigela de leite e deu à gatinha, e enquanto a gatinha se alimentava, a boa senhora preparou um ninho para ela, no chão da sala com lareira, à beira da sua cadeira de baloiço, lamentando a pouco sorte da gatinha, e sempre a resmungar por abandonarem os animais.
Pegou numa almofada e numa das suas mantas, pôs por cima da almofada, pegou na gatinha, deu-lhe um banho quente, e encheu-a de mimos.
Mas de noite, a gatinha não parava de miar, e a senhora ficou muito irritada, porque não conseguia dormir com os seus miares. Na manhã seguinte, deu leite à gatinha e meteu-a outra vez no saco.
Saiu de casa e foi a casa de uma amiga, também já com muita idade, e perguntou-lhe se queria ficar com a gatinha. A senhora aceitou, e a gatinha lá ficou…a senhora deu-lhe leite, mimos, e preparou-lhe um ninho muito confortável, dentro de uma caixa de sapatos, com uma mantinha, e na sala de jantar.
A gatinha estava muito contente, até que a senhora começou a coçar-se toda, a tossir e a espirrar. Deixou a gatinha e à noite foi ao médico, porque já não aguantava mais…o médico disse-lhe que era alergia ao pelo dos gatos.
A senhora tomou uns medicamentos, ficou muito zangada com a gatinha, e pô-la fora da porta sem ninho. A gatinha miou sem parar, para pedir abrigo, mas nessa noite teve mesmo de dormir fora da casa, porque estava muito escuro, e ela não conhecia o sítio, dormiu enroscadinha sobre si mesma para tentar aquecer-se.
De madrugada, a senhora pegou no ninho que tinha feito para a gatinha e pô-lo fora da porta com a manta, a gatinha ainda se pôs a miar para ver se a senhora tinha pena dela, e se a deixava entrar, mas a senhora não lhe abriu a porta, então, meteu-se dentro da caixa de sapatos e conseguiu cobrir-se com a manta.
Na manhã seguinte, a senhora saiu a porta, ainda mal-humorada e deixou uma tigelinha com leite para a gata, mas gritou-lhe que fosse embora, e chutou-a. A gatinha tomou o leite, e foi embora muito triste.
Caminhou um bom bocado, muito assustada, a miar, para ver se alguém a encontrava, mas não teve sorte. Muito mais à frente, encontrou um acampamento, cheio de tendas, e tentou a sua sorte…recebeu muitos mimos, alimento, e prepararam-lhe um ninho confortável, feito numa boia de uma criança com uma toalha de praia, e cobriram-na.
A gatinha miou a noite toda, porque queria mimos, e tinha medo… muita gente começou a atirar-lhe objetos para a chutar, gritaram com ela, bateram com os pés no chão e deram pontapés no seu ninho…a gatinha fugiu sem olhar para trás, correu muito triste, e parou numa casa, fraca, com frio e com fome.
De manhã bem cedo, a dona da casa saiu a porta e olhou para a gatinha. Ficou cheia de pena, e voltou a entrar para lhe dar leite…nessa casa já havia uma gata, que tinha sido dada por uma amiga sua no dia anterior, e…áhhh…que surpresa…era a sua mãe.
As duas gatas reconheceram-se, lamberam-se, festejaram e nunca mais se largaram. A dona não percebeu que as duas eram mãe e filha, e não sabia que a gata que a amiga lhe tinha dado no dia anterior, tinha tido gatinhos, com quem ela não podia ficar, então deu alguns e abandonou outros.
Achou aquela proximidade e aquele carinho imediato entre as duas, eram as duas tão bonitas, e como a pequenina até era parecida com a grande, ficou com as duas, pois para ela seriam uma companhia já que vivia sozinha.
Enquanto a rapariga foi trabalhar, a gata mãe recuperou o tempo perdido, encheu a sua cria de mimos, alimentou-a, foi passear com ela pela casa, brincaram uma com a outra, muito felizes, descansaram encostadas uma à outra, alimentaram-se com o que a dona tinha deixado.
À noite, a dona voltou, encheu as duas gatas de mimos, brincou com elas, e deu-lhes um nome: à mãe chamou Gata Vénus, e à filha gata Lua.
Conversou muito com elas, ensinou-lhes algumas regras de higiene, passeou com elas pela casa e pelo jardim, e preparou um ninho para as duas, muito especial…uma alcofa que tinha comprado de propósito para elas, com um lençol e alguns brinquedinhos para gatos, para a pequenina.
As duas eram tratadas como rainhas, e retribuíam a todo o momento, todo o carinho e tudo de bom que a dona lhes dava. Eram umas companhias maravilhosas, a dona era louca por elas, quando cresceram um bocadinho mais, a dona levava-as para o parque, onde andavam à vontade, mas sempre debaixo do olhar muito atento da dona…e elas adoravam esses passeios. A dona era maravilhosa com elas, e elas adoravam-na.
Depois de serem abandonadas e maltratadas encontraram um lar que lhes deu amor, carinho, dedicação, ninho, alimento e ainda melhor…mãe e filha estavam juntas, e ainda ganharam um nome.
Fim
Lálá
(26/Agosto/2016)
Atividade:
Quantos ninhos teve a gata que não tinha nome?
De que eram feitos os ninhos?
Porque é que elas foram abandonadas?
E vocês? Acolhiam uma gatinha ou várias?
Que nomes lhes davam?
Como fariam os ninhos delas?

AS JOANINHAS E AS UVAS GIGANTES





Era uma vez uma linda e pequenina joaninha que saiu com a sua família para passear, e reparou numa árvore que tinha umas enormes bolas roxas, pretas, vermelhas e verdes. Ela não fazia a mais pequena ideia do que ela aquilo, nunca tinha visto! Mas achou tão bonitas...e perguntou aos seus pais se eles sabiam o que eram aquelas bolas.

         Os seus pais também não sabiam, mas uma ave de grandes penas compridas e pretas ouviu a pergunta e respondeu:

- São uvas, criatura vermelha às bolinhas pretas! - Responde a ave com riso endiabrado e irritante

- Ei, Óh monte de penas, vê lá como falas com a criança...ela só fez uma pergunta e nem eu nem a mãe sabemos o que são.

- Deixem lá...somos vermelhas e pretas, mas ela é toda preta! - Diz a joaninha

- Pois claro! - Concordam os pais

- Tens toda a razão. - Concorda a mãe

- Mas que ignorantes! Ih, ih, ih, ih...Nem pensem que vão lá pousar ou comer...aquilo é tudo para mim. - Diz a ave arrogante

- Não faltava mais nada! És a dona da casa? - Pergunta a mãe

- Sou! - Responde a ave

- Não querias mais nada! - Ri o pai 

- Esta casa sempre deve ser melhor que a tua... - Diz a joaninha 

- Põe-te a andar! - Ordena o pai

- Porquê? Os donos são vocês? - Desafia a ave

- Não! Mas também não vamos comer, muito menos sem autorização. - Diz a mãe

- Os donos podem ficar muito zangados, e com toda a razão! - Responde a joaninha

- Medricas! - Goza a ave

- Vai para longe, maldita! - Ordena o pai

- Áh, mas que antipáticos... - Ri a ave

- É como tu mereces ser tratada... - Diz a joaninha

- Vai lá para a tua toca. - Resmunga o pai

- Não vou. Só quando tiver feito o meu trabalho. E vocês não vão dizer nada. - Goza a ave

- Estás a falar com demasiada certeza... Vai para bem longe. - Ordena outra vez o pai

              A ave desce sem dar mais respostas, e começa a cortar cachos de uva. Eles nem querem acreditar no que estão a ver e ficam verdadeiramente irritados. A joaninha pousa no nariz de um dos cães da casa, que olhou para ela, ela assustou-se:

- Ai, não olhes assim para mim.

             O cão começa a tentar soprá-la, e ela levanta do seu nariz, encolhida. O cão abre a boca e tenta apanhá-la.

- Espera...por favor...ladra! (o cão ladra) Não é para mim...mas anda uma ave muito estranha a tentar comer aquelas bolas grandes penduradas.

            O cão fica muito nervoso, percebe que alguma coisa errada está a acontecer, e ladra sem parar, os outros ladram com ele, e os donos da casa vão a correr ver o que se passa...apanham a ave em cheio a debicar atrevidamente, e a lançar veneno na raiz de uma árvore para que as uvas murchassem.

Os donos pegam em paus e vassouras, dão sapatadas na ave e chutam-na.

- Maldita! Xôôô. Vai-te embora...- gritam os donos

            Ela grita e depois de apanhar umas boas vassouradas, voa. Todos aplaudem. Os pais da joaninha não cabem em si de orgulho pelo trabalho que ela fez. Os donos acariciam os cães, e nem reparam na joaninha. A joaninha fica triste...mas os cães olham para ela, ladram e cheiram-na, para os donos a verem.

Os donos veem-na, e fazem-lhe uma grande festa, de encanto.

- Óh! Que linda...tão fofinha...tão gira...Óhhh...

             Os cães ladram em coro para agradecer à joaninha, mas os donos não entendem. A joaninha sorri feliz e vaidosa. Um dos donos pega numa uva e dá à joaninha. A joaninha não sabe o que fazer com aquela bola gigante, como ela lhe chamava...era realmente gigante à sua beira.

Pensou que era para brincar, pousou em cima da uva, e sentiu a sua casca, macia, um pouco escorregadia, até que escorrega mesmo e a uva rola, fica deitada. Todos se riem, e a joaninha também.

- Será que as joaninhas comem uvas? - Pergunta um menino

- Acho que não! - Respondem todos

- Isto é de comer? Mas é tão grande... Como é que se come? - Pergunta a joaninha e fica à espera de resposta.

- Come joaninha... - Diz outra menina da família

- Por aqui... - Diz outra menina da família

             A joaninha sente um cheirinho bom, e percebe que aquilo parece água, no sítio onde cortaram a uva, prova e grita:

- Papá, mamã...isto é delicioso. Venham provar.

            A mãe e o pai voam até à uva, provam-na e confirmam.

- Olha...mais duas joaninhas! Que giras! Parece que também quiseram provar. - Repara a dona da casa

- Realmente...Hummm...que sabor! - Confirma a mãe

- É mesmo bom, e fresco. - Reforça o pai

           E deliciam-se com a uva. Sem se aperceberem, comem-na toda num abrir e fechar de olhos. No fim, já mais que satisfeitos, tentam voar, mas estão tão pesados que não se mexem nem um centímetro.

- Ui, o que está a acontecer connosco? - Pergunta o pai

- Não sei. Mas sinto-me muito estranha! - Diz a mãe

- Eu também... - Diz a joaninha

- Acho que... – Diz a mãe

          Quando percebem que comeram a uva toda...

- Aquela bola gigante? – Pergunta a joaninha

- O que tem? – Pergunta o pai

- Onde está? – Pergunta a mãe

- Eu pensei que ela era para brincar, mas depois disseram-me para a... – Conta a joaninha

- Comer...! – Dizem os três

- E tu convidaste-nos a provar... – Lembra a mãe

- Sim. Não gostaram? – Pergunta a joaninha

- Muito! – Respondem os pais

- Mas onde está essa bola gigante? – Pergunta outra vez a joaninha

- Acho que... – Diz a mãe

- Já entendi tudo. – Diz o pai

- O quê? – Pergunta a joaninha

- Está dividida pela nossa barriga! – Responde a mãe  

- Ãh? – Pergunta a joaninha

- Sim! Comemo-la! – Confirma o pai

- Não! – Diz a joaninha a duvidar

- Não pode ser. – Diz a mãe

- Um dos meninos deve ter levado. – Diz a joaninha

- Não levou não! – Diz o pai

- Aaaaaaiiiiiii... – Suspiram os três

- Tens a certeza? – Confirma a mãe

- Agora tenho! – Diz o pai

- Aiiiiiiiiiiiiii... – Suspiram todos

- E agora? – Pergunta a joaninha

- O que vamos fazer? – Pergunta a mãe

- Acho que vou rebentar. – Comenta a joaninha

- Eu também! – Dizem os três

- Mãe...estás com uma barriga...e tu também pai... – Repara a joaninha preocupada

- Mas que delicada...- Comenta o pai a rir

- Desculpem...é verdade. – Diz a joaninha

- A tua está igual. – Responde o pai

- Está? – Pergunta a joaninha preocupada

- Está! – Respondem os pais a rir

- Ai! – Geme a joaninha

- E agora? – Pergunta a mãe

- Ficamos à espera que ela esvazie. – Responde o pai

- E isso vai acontecer? – Pergunta a joaninha assustada

- Claro que vai. – Garante o pai

- Quando? – Pergunta a joaninha

- Daqui a bocado. – Responde o pai

- Como é que conseguimos comer tanto? – Pergunta a mãe

- Não sei... – Dizem todos

           Soa uma gargalhada de um pequenino cogumelo debaixo da árvore.

- O que foi isto? – Perguntam mãe e joaninha

- Foi uma gargalhada. – Diz o pai

- Alguém está feliz. – Repara a mãe a rir

           Do cogumelo sai um pequeno dragãozinho amarelo que adora enciclopédias e investigar, a rir.

- Com que então são vocês...? – Diz o dragãozinho sorridente

- Já nos conhecemos? – Perguntam as joaninhas

- Não...quer dizer, eu já vos conheço, mas vocês não me conhecem. – Diz o dragãozinho

- Como? – Perguntam as joaninhas

- Eu sei quem vocês são! – Garante o dragãozinho

- Sabes? – Perguntam as joaninhas

- Sei. Vocês são joaninhas. – Responde o dragãozinho muito seguro

- Sim...- Dizem as joaninhas

- Isso toda a gente sabe. – Lembra o pai

- Mas eu sei mais... muito mais. – Diz o dragãozinho

- O quê? – Perguntam as joaninhas

- Vocês comeram uma uva e agora estão que não se mexem. – Responde o dragãozinho

- Isso é novidade, e é saber tudo de nós? – Pergunta a mãe

- Sim, comemos, e estamos muito pesados. – Acrescenta o dragãozinho

- Mas o que é que isso tem de importante? – Pergunta o pai

- Eu sei que estão à espera de fazer a digestão! – Responde o dragãozinho

- O quê? – Perguntam as joaninhas

- Áh! Vocês não sabem? Sempre que comemos, fazemos a digestão...os pedacinhos de tudo o que comemos espalham-se por todo o nosso corpo, através do...sangue... Que corre dentro de nós...depois de passar por uma máquina que os tritura...o estomago e o fígado que separa gorduras e outras coisas que não nos fazem falta, para depois irem para as...sanitas!

         O dragãozinho fala com grande entusiasmo, até dança e faz movimentos exagerados com o corpo enquanto fala, sorri, e continua a falar sem parar sobre tudo o que sabe sobre joaninhas, e sobre uvas, sobre os cães, sobre os humanos, sobre a ave da bruxa...dá exemplos, tira os óculos para ler, fala nos óculos, ajusta-os à cara, dá exemplos...

As joaninhas não percebem mais de metade do que ele diz, às vezes riem-se, e dizem que sim, só para ele não ficar tristes, mas elas estão tão cheias da uva, que nem o ouvem com atenção. Ele não se cala...parece um rádio ligado.

- Sugiro que...saltem de cacho em cacho de uvas para se sentirem melhores, mais vazias... - Diz o dragãozinho

- O quê? - Perguntam as joaninhas

- Sim. – Diz o dragãozinho

- Mas vamos estragar os cachos...- Repara a mãe

- Não vão nada...são tão leves! – Assegura o dragãozinho

                As joaninhas decidem experimentar.

- Podem confiar em mim, é seguro e muito divertido! – Garante o dragãozinho

E as joaninhas começam a saltar, acompanhadas da longa explicação do dragãozinho sobre movimento, ginástica, digestão, músculos...elas saltam de bago em bago, devagar, porque estão muito pesadas, balançam-se nos caninhos quando descansam ao passar de um para o outro, riem, respiram, e começam a perceber que é muito divertido!

Ganham mais energia e começam a saltar mais rápido, uns saltinhos um bocadinho maiores, depois maiores, e depois conseguem voar. O dragãozinho ri, aplaude e fica feliz, mas logo fica calado e triste, a olhar para baixo.

- O que foi dragãozinho? – Pergunta a joaninha

- Estás triste? – Pergunta a mãe

            O dragãozinho suspira, e começa a falar mais devagar, sobre tristeza, sobre o coração, sobre lágrimas, sobre solidão...sobre amizade, soluça...e umas lágrimas caem dos seus grandes olhos verdes. As joaninhas ficam tristes, e também choramingam. A joaninha dá um abraço ao dragãozinho, e um beijinho repenicado na bochecha.

- Não fiques triste, dragãozinho...nós voltamos!   

            O dragãozinho abre um grande sorriso, as suas lágrimas transformam-se em cristais brilhantes que lhe caem no colo, e ele oferece uma a cada joaninha. As joaninhas sorriem, agradecem, dão-lhe abraços, beijinhos e festinhas, e prometem voltar. O dragãozinho volta para casa muito feliz.

            Vão descansar, e no dia seguinte lá estão elas outra vez. O dragãozinho leva as joaninhas à sua casinha que fica no tronco da árvore por cima, onde estão os seus pais e os seus irmãos.

Ele apresenta toda a família, e as joaninhas são recebidas como se fossem família, servem-lhes chá, sumo, bolachinhas, e o dragãozinho volta ao pequenino cogumelo onde é o seu escritório, para mostrar todo orgulhoso, as centenas de livros e enciclopédias que adora ler...e fala sobre eles, mas desta vez também deixa as joaninhas falarem.

             As uvas pareciam gigantes, mas o dragãozinho explicou-lhes que as joaninhas é que eram pequeninas, por isso as uvas para elas pareciam gigantes, mas para as pessoas não são grandes, porque também têm bocas maiores, e dentes...deu mais uma aula.

            As joaninhas aprenderam muito com ele, e tornaram-se grandes amigos, porque na verdade, o dragãozinho também se sentia muitas vezes sozinho, embora tivesse a companhia dos livros, mas ele gostava mesmo era de conversar, ensinar e ter animais ou pessoas perto dele.

            A ave, depois das vassouradas ainda tentou voltar lá, mas os cães estavam muito atentos, e quando sentiam a sua presença aproximar-se, começavam logo a ladrar, e lá iam os donos com as vassouras em punho. Ela ficava furiosa, mas não se atreveu mais a descer àquele campo. 


FIM


Lálá


(25/8/2016)


 

domingo, 14 de agosto de 2016

GOTOLÂNDIA


quadro pintado por Lara Rocha 

           Era uma vez um reino na atmosfera na primeira camada de céu, perto da terra, cheia de nuvens fofas de todos os tamanhos, onde viviam milhares de gotas. Essas gotas gostavam muito de passear pela terra, e cuidar da natureza, nos sítios onde o homem não cuidava.

         Para elas irem à terra, e andarem por lá, tinham de passar por uma piscina que as transformava em gotas gigantes de gelatina para não derreterem, e abriam, largando toda a água que fosse precisa para regar, ou matar a sede a alguns animais e plantas.

         Ultimamente, as gotas andavam muito preocupadas e zangadas com a falta de cuidado que estavam a ver no ser humano, em relação à Natureza e decidiram deixar de ir à terra por algum tempo até que lá em baixo se lembrassem da água e da sua importância para todos.

         Enquanto esperavam esse momento, aproveitaram para descansar e conviver…então, fizeram uma grande festa. Todas as gotas foram convidadas as que se transformavam em gelo e neve, as de chuva, as de nevoeiro e orvalho, as de saraiva e de granizo, e outras.

         Juntaram-se aos milhares, na gotolândia, vindas nas suas nuvens: umas a reboque, outras a conduzir…de todo o lado…famílias de gotas e de nuvens, de todos os tamanhos. O trânsito nos dias anteriores ficou caótico.

         Estacionaram as nuvens, e foram para o grande parque da atmosfera. Nesse parque houve muita música, tocada por bandas de trovões, que fizeram concursos de despiques e «combates», jogos de perguntas e respostas, assistiram a concertos de bandas que tocavam sons da natureza, com instrumental mágico, e ouviram despiques de bandas sonoras.

         Puderam experimentar pistas de gelo, com muita gargalhada e alguns trambolhões, assistiram a espetáculos de bailados em lagos gelados dados por gotas dançarinas, e puderam participar.

         Além disso, tinham um mega parque de bolas de sabão com uma porta feita de arco-íris, escorregas feitas de nuvens, e passaram por caminhos com neve experimentaram espaços pequenos onde passavam por nevoeiro, sentiram num pequeno túnel o que era o orvalho e arrepiaram-se com o frio.

         Caminharam por passeios onde havia gelo e um pedacinho onde podiam sentir a neve, vê-la no chão, a uma altura que quase tapava as portas das casas, viram exposições de fotografias da terra onde apareciam nas muitas formas.

         Passaram por túneis com vento de várias intensidades: brisa suave, vento fraco, vento forte, ventania, tão forte que fazia um barulho assustador, e elas até tinham dificuldade em segurar-se, rodopiavam, eram empurradas para trás, e para a frente, e andaram em baloiços de nuvens empurrados por vento.

         Ficaram maravilhadas. Tocaram em cristais de gelo, sentiram flocos de neve e brincaram muito. Comeram, beberam, divertiram-se muito, conheceram e reencontraram muitos amigos…partilharam conhecimentos e experiencias em tertúlias, sobre tudo o que fizeram e fazem na terra, e reúnem-se em longos debates sobre o mal que os humanos estavam e estão a fazer a água, e à própria terra, natureza.

         Nesse momento ficaram tristes e muito zangadas, ao ver imagens que pareciam um filme de terror, mares e rios poluídos, cheios de lixo, muitas árvores destruídas, florestas desertas, secas, animais com fome e magros, sítios com pouca ou nenhuma água, mas elas sabiam por experiência própria que eram bem reais.

Ficaram com muita vontade de dar uma boa lição ao homem, mas não sabiam como. Achavam que já estavam a dar, mas parecia que não estava a fazer efeito…não tinham aprendido nada. A saúde já estava a pagar, mas eles ainda não tinham percebido.

Apesar disso, a festa continuou, durante vários dias. Ao fim de umas semanas, soam alarmes vindos da terra, a pedir chuva e água. As gotas fizeram uma grande festa. Formaram várias tempestades, com trombas de água, inundações, trovoadas, ventos fortes e até neve.

Foi imprevisível e na terra, os habitantes ficam com muito medo…cada um pede perdão à natureza e agradecem a chuva mas uns tempos depois…volta ao mesmo…Na gotolândia ninguém ficava parado! Tanto trabalhavam, como faziam festas e debates.

Aos poucos vão tentando ensinar o homem, mas este não aprende. Quer dizer…depende de cada um de nós, e de todos.

FIM

Lálá

(8/Agosto/2016)