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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

AS JOANINHAS E AS UVAS GIGANTES





Era uma vez uma linda e pequenina joaninha que saiu com a sua família para passear, e reparou numa árvore que tinha umas enormes bolas roxas, pretas, vermelhas e verdes. Ela não fazia a mais pequena ideia do que ela aquilo, nunca tinha visto! Mas achou tão bonitas...e perguntou aos seus pais se eles sabiam o que eram aquelas bolas.

         Os seus pais também não sabiam, mas uma ave de grandes penas compridas e pretas ouviu a pergunta e respondeu:

- São uvas, criatura vermelha às bolinhas pretas! - Responde a ave com riso endiabrado e irritante

- Ei, Óh monte de penas, vê lá como falas com a criança...ela só fez uma pergunta e nem eu nem a mãe sabemos o que são.

- Deixem lá...somos vermelhas e pretas, mas ela é toda preta! - Diz a joaninha

- Pois claro! - Concordam os pais

- Tens toda a razão. - Concorda a mãe

- Mas que ignorantes! Ih, ih, ih, ih...Nem pensem que vão lá pousar ou comer...aquilo é tudo para mim. - Diz a ave arrogante

- Não faltava mais nada! És a dona da casa? - Pergunta a mãe

- Sou! - Responde a ave

- Não querias mais nada! - Ri o pai 

- Esta casa sempre deve ser melhor que a tua... - Diz a joaninha 

- Põe-te a andar! - Ordena o pai

- Porquê? Os donos são vocês? - Desafia a ave

- Não! Mas também não vamos comer, muito menos sem autorização. - Diz a mãe

- Os donos podem ficar muito zangados, e com toda a razão! - Responde a joaninha

- Medricas! - Goza a ave

- Vai para longe, maldita! - Ordena o pai

- Áh, mas que antipáticos... - Ri a ave

- É como tu mereces ser tratada... - Diz a joaninha

- Vai lá para a tua toca. - Resmunga o pai

- Não vou. Só quando tiver feito o meu trabalho. E vocês não vão dizer nada. - Goza a ave

- Estás a falar com demasiada certeza... Vai para bem longe. - Ordena outra vez o pai

              A ave desce sem dar mais respostas, e começa a cortar cachos de uva. Eles nem querem acreditar no que estão a ver e ficam verdadeiramente irritados. A joaninha pousa no nariz de um dos cães da casa, que olhou para ela, ela assustou-se:

- Ai, não olhes assim para mim.

             O cão começa a tentar soprá-la, e ela levanta do seu nariz, encolhida. O cão abre a boca e tenta apanhá-la.

- Espera...por favor...ladra! (o cão ladra) Não é para mim...mas anda uma ave muito estranha a tentar comer aquelas bolas grandes penduradas.

            O cão fica muito nervoso, percebe que alguma coisa errada está a acontecer, e ladra sem parar, os outros ladram com ele, e os donos da casa vão a correr ver o que se passa...apanham a ave em cheio a debicar atrevidamente, e a lançar veneno na raiz de uma árvore para que as uvas murchassem.

Os donos pegam em paus e vassouras, dão sapatadas na ave e chutam-na.

- Maldita! Xôôô. Vai-te embora...- gritam os donos

            Ela grita e depois de apanhar umas boas vassouradas, voa. Todos aplaudem. Os pais da joaninha não cabem em si de orgulho pelo trabalho que ela fez. Os donos acariciam os cães, e nem reparam na joaninha. A joaninha fica triste...mas os cães olham para ela, ladram e cheiram-na, para os donos a verem.

Os donos veem-na, e fazem-lhe uma grande festa, de encanto.

- Óh! Que linda...tão fofinha...tão gira...Óhhh...

             Os cães ladram em coro para agradecer à joaninha, mas os donos não entendem. A joaninha sorri feliz e vaidosa. Um dos donos pega numa uva e dá à joaninha. A joaninha não sabe o que fazer com aquela bola gigante, como ela lhe chamava...era realmente gigante à sua beira.

Pensou que era para brincar, pousou em cima da uva, e sentiu a sua casca, macia, um pouco escorregadia, até que escorrega mesmo e a uva rola, fica deitada. Todos se riem, e a joaninha também.

- Será que as joaninhas comem uvas? - Pergunta um menino

- Acho que não! - Respondem todos

- Isto é de comer? Mas é tão grande... Como é que se come? - Pergunta a joaninha e fica à espera de resposta.

- Come joaninha... - Diz outra menina da família

- Por aqui... - Diz outra menina da família

             A joaninha sente um cheirinho bom, e percebe que aquilo parece água, no sítio onde cortaram a uva, prova e grita:

- Papá, mamã...isto é delicioso. Venham provar.

            A mãe e o pai voam até à uva, provam-na e confirmam.

- Olha...mais duas joaninhas! Que giras! Parece que também quiseram provar. - Repara a dona da casa

- Realmente...Hummm...que sabor! - Confirma a mãe

- É mesmo bom, e fresco. - Reforça o pai

           E deliciam-se com a uva. Sem se aperceberem, comem-na toda num abrir e fechar de olhos. No fim, já mais que satisfeitos, tentam voar, mas estão tão pesados que não se mexem nem um centímetro.

- Ui, o que está a acontecer connosco? - Pergunta o pai

- Não sei. Mas sinto-me muito estranha! - Diz a mãe

- Eu também... - Diz a joaninha

- Acho que... – Diz a mãe

          Quando percebem que comeram a uva toda...

- Aquela bola gigante? – Pergunta a joaninha

- O que tem? – Pergunta o pai

- Onde está? – Pergunta a mãe

- Eu pensei que ela era para brincar, mas depois disseram-me para a... – Conta a joaninha

- Comer...! – Dizem os três

- E tu convidaste-nos a provar... – Lembra a mãe

- Sim. Não gostaram? – Pergunta a joaninha

- Muito! – Respondem os pais

- Mas onde está essa bola gigante? – Pergunta outra vez a joaninha

- Acho que... – Diz a mãe

- Já entendi tudo. – Diz o pai

- O quê? – Pergunta a joaninha

- Está dividida pela nossa barriga! – Responde a mãe  

- Ãh? – Pergunta a joaninha

- Sim! Comemo-la! – Confirma o pai

- Não! – Diz a joaninha a duvidar

- Não pode ser. – Diz a mãe

- Um dos meninos deve ter levado. – Diz a joaninha

- Não levou não! – Diz o pai

- Aaaaaaiiiiiii... – Suspiram os três

- Tens a certeza? – Confirma a mãe

- Agora tenho! – Diz o pai

- Aiiiiiiiiiiiiii... – Suspiram todos

- E agora? – Pergunta a joaninha

- O que vamos fazer? – Pergunta a mãe

- Acho que vou rebentar. – Comenta a joaninha

- Eu também! – Dizem os três

- Mãe...estás com uma barriga...e tu também pai... – Repara a joaninha preocupada

- Mas que delicada...- Comenta o pai a rir

- Desculpem...é verdade. – Diz a joaninha

- A tua está igual. – Responde o pai

- Está? – Pergunta a joaninha preocupada

- Está! – Respondem os pais a rir

- Ai! – Geme a joaninha

- E agora? – Pergunta a mãe

- Ficamos à espera que ela esvazie. – Responde o pai

- E isso vai acontecer? – Pergunta a joaninha assustada

- Claro que vai. – Garante o pai

- Quando? – Pergunta a joaninha

- Daqui a bocado. – Responde o pai

- Como é que conseguimos comer tanto? – Pergunta a mãe

- Não sei... – Dizem todos

           Soa uma gargalhada de um pequenino cogumelo debaixo da árvore.

- O que foi isto? – Perguntam mãe e joaninha

- Foi uma gargalhada. – Diz o pai

- Alguém está feliz. – Repara a mãe a rir

           Do cogumelo sai um pequeno dragãozinho amarelo que adora enciclopédias e investigar, a rir.

- Com que então são vocês...? – Diz o dragãozinho sorridente

- Já nos conhecemos? – Perguntam as joaninhas

- Não...quer dizer, eu já vos conheço, mas vocês não me conhecem. – Diz o dragãozinho

- Como? – Perguntam as joaninhas

- Eu sei quem vocês são! – Garante o dragãozinho

- Sabes? – Perguntam as joaninhas

- Sei. Vocês são joaninhas. – Responde o dragãozinho muito seguro

- Sim...- Dizem as joaninhas

- Isso toda a gente sabe. – Lembra o pai

- Mas eu sei mais... muito mais. – Diz o dragãozinho

- O quê? – Perguntam as joaninhas

- Vocês comeram uma uva e agora estão que não se mexem. – Responde o dragãozinho

- Isso é novidade, e é saber tudo de nós? – Pergunta a mãe

- Sim, comemos, e estamos muito pesados. – Acrescenta o dragãozinho

- Mas o que é que isso tem de importante? – Pergunta o pai

- Eu sei que estão à espera de fazer a digestão! – Responde o dragãozinho

- O quê? – Perguntam as joaninhas

- Áh! Vocês não sabem? Sempre que comemos, fazemos a digestão...os pedacinhos de tudo o que comemos espalham-se por todo o nosso corpo, através do...sangue... Que corre dentro de nós...depois de passar por uma máquina que os tritura...o estomago e o fígado que separa gorduras e outras coisas que não nos fazem falta, para depois irem para as...sanitas!

         O dragãozinho fala com grande entusiasmo, até dança e faz movimentos exagerados com o corpo enquanto fala, sorri, e continua a falar sem parar sobre tudo o que sabe sobre joaninhas, e sobre uvas, sobre os cães, sobre os humanos, sobre a ave da bruxa...dá exemplos, tira os óculos para ler, fala nos óculos, ajusta-os à cara, dá exemplos...

As joaninhas não percebem mais de metade do que ele diz, às vezes riem-se, e dizem que sim, só para ele não ficar tristes, mas elas estão tão cheias da uva, que nem o ouvem com atenção. Ele não se cala...parece um rádio ligado.

- Sugiro que...saltem de cacho em cacho de uvas para se sentirem melhores, mais vazias... - Diz o dragãozinho

- O quê? - Perguntam as joaninhas

- Sim. – Diz o dragãozinho

- Mas vamos estragar os cachos...- Repara a mãe

- Não vão nada...são tão leves! – Assegura o dragãozinho

                As joaninhas decidem experimentar.

- Podem confiar em mim, é seguro e muito divertido! – Garante o dragãozinho

E as joaninhas começam a saltar, acompanhadas da longa explicação do dragãozinho sobre movimento, ginástica, digestão, músculos...elas saltam de bago em bago, devagar, porque estão muito pesadas, balançam-se nos caninhos quando descansam ao passar de um para o outro, riem, respiram, e começam a perceber que é muito divertido!

Ganham mais energia e começam a saltar mais rápido, uns saltinhos um bocadinho maiores, depois maiores, e depois conseguem voar. O dragãozinho ri, aplaude e fica feliz, mas logo fica calado e triste, a olhar para baixo.

- O que foi dragãozinho? – Pergunta a joaninha

- Estás triste? – Pergunta a mãe

            O dragãozinho suspira, e começa a falar mais devagar, sobre tristeza, sobre o coração, sobre lágrimas, sobre solidão...sobre amizade, soluça...e umas lágrimas caem dos seus grandes olhos verdes. As joaninhas ficam tristes, e também choramingam. A joaninha dá um abraço ao dragãozinho, e um beijinho repenicado na bochecha.

- Não fiques triste, dragãozinho...nós voltamos!   

            O dragãozinho abre um grande sorriso, as suas lágrimas transformam-se em cristais brilhantes que lhe caem no colo, e ele oferece uma a cada joaninha. As joaninhas sorriem, agradecem, dão-lhe abraços, beijinhos e festinhas, e prometem voltar. O dragãozinho volta para casa muito feliz.

            Vão descansar, e no dia seguinte lá estão elas outra vez. O dragãozinho leva as joaninhas à sua casinha que fica no tronco da árvore por cima, onde estão os seus pais e os seus irmãos.

Ele apresenta toda a família, e as joaninhas são recebidas como se fossem família, servem-lhes chá, sumo, bolachinhas, e o dragãozinho volta ao pequenino cogumelo onde é o seu escritório, para mostrar todo orgulhoso, as centenas de livros e enciclopédias que adora ler...e fala sobre eles, mas desta vez também deixa as joaninhas falarem.

             As uvas pareciam gigantes, mas o dragãozinho explicou-lhes que as joaninhas é que eram pequeninas, por isso as uvas para elas pareciam gigantes, mas para as pessoas não são grandes, porque também têm bocas maiores, e dentes...deu mais uma aula.

            As joaninhas aprenderam muito com ele, e tornaram-se grandes amigos, porque na verdade, o dragãozinho também se sentia muitas vezes sozinho, embora tivesse a companhia dos livros, mas ele gostava mesmo era de conversar, ensinar e ter animais ou pessoas perto dele.

            A ave, depois das vassouradas ainda tentou voltar lá, mas os cães estavam muito atentos, e quando sentiam a sua presença aproximar-se, começavam logo a ladrar, e lá iam os donos com as vassouras em punho. Ela ficava furiosa, mas não se atreveu mais a descer àquele campo. 


FIM


Lálá


(25/8/2016)


 

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