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sábado, 25 de julho de 2015

O baloiço



Era uma vez uma menina pequenina que quis andar de baloiço na casa dos seus avós, onde ficava todos os dias enquanto os seus pais iam trabalhar. 
Ela pediu à Avó para pôr o baloiço, mas a Avó disse-lhe que estava muito ocupada e não podia interromper o que estava a fazer, por isso, que fosse pedir ao Avô. 
A menina foi pedir ao Avô, mas este disse-lhe para pedir à Avó, porque também estava muito ocupado na sua oficina de concertos de carros.
- Mas Avô…já pedi à Avó e ela disse que estava muito ocupada, não podia, e para pedir a ti. Agora peço a ti e tu dizes para pedir à Avó…estão os dois muito ocupados. E eu? – Resmunga a menina triste
- Filha, vai brincar com outra coisa…mais tarde, eu ponho-te o baloiço, estamos combinados? – Negoceia o Avô
- Mas que chatice! Vocês adultos às vezes são horríveis. Põe o trabalho à frente dos filhos e dos netos. Que seca! – Resmunga e vira costas
Vai para o jardim amuada, e senta-se no banco de ferro em forma de nuvem, pintado de azul-bebé. Aparece um duende pequeno, muito traquinas, a voar muito apressado sobre as árvores de mochila às costas e óculos de sol.
- Ei…onde vais com tanta pressa? Até tu estás com pressa…? De quê? – Pergunta a menina
O duende para e olha para ela.
- Estás a falar comigo?
- Sim! Porque estás a voar tão depressa?
- Estou no meu trabalho.
- Até tu, tens trabalho? Só trabalho...só trabalho.
- Estás zangada?
- Estou.
- Posso saber porquê?
- Pedi aos meus avós para pôr o baloiço, e não podem. Pedi à minha Avó, ela disse para pedir ao meu Avô porque estava muito ocupada. Pedi ao meu Avô, ele disse para eu pedir à Avó, porque estava muito ocupado. Estão sempre muito ocupados…sempre o trabalho primeiro do que as netas.
- E qual é o trabalho deles?
- A minha Avó faz bolos, e costuras, roupas, lãs…o meu Avô concerta carros. Os meus pais estão a trabalhar, e eu fico sempre aqui. Brinco muitas vezes sozinha, e não gosto nada. Hoje queria andar de baloiço e os meus avós não podem. Que chatice. – Resmunga
- Eu ponho-te o baloiço e brinco contigo, pode ser?
- Pode! Não te importas…?
- Não.
- Mas estás a trabalhar.
- Não faz mal. Há tempo para tudo…eu quero, é ver um sorriso teu, e brilho nos olhos.
- Boa…obrigada.
O duende chama os amigos e juntos prendem o baloiço feito pelo Avô, a gosto da menina, entre duas árvores, fazem uma vénia à menina e ajudam-na a subir para o baloiço, e empurram-na.
A menina grita e ri feliz, pede para dar mais ou menos lanço, e os duendes aproveitam a boleia, numa grande alegria, e conversam divertidos uns com os outros.
- Áh, áh, áh…faz cócegas…e os cabelos a voar…Uau! Parece que até estou a voar… éééééééhhhhhhhhhhhh…………
Todos riem e aplaudem, voam à volta do baloiço, penduram-se e balançam-se. Passado um bocado, o trombone da floresta dos duendes soa, e eles estremecem.
- Óh não…vamos ter de ir embora. Até logo, menina…voltaremos.
- Até logo. Obrigada…
Eles voltam para a floresta e a menina fica outra vez sozinha e triste:
- Óh…estava a ser tão divertido. Que pena! – Lamenta a menina
A árvore dá um valente e sonoro espirro. A menina salta do baloiço muito assustada, mas ao mesmo tempo ri-se.
- Foste tu que espirraste?
- Sim, desculpa, querida…
- Santinho!
- Obrigada.
- Estás constipada?
- Sim…esta poluição.
- Óh, coitadinha. Olha, podes empurrar-me um bocadinho, por favor…?
- Claro que sim!
A menina e as árvores têm uma longa conversa, enquanto a árvore empurra o baloiço. Quando a menina não quer andar mais de baloiço, as árvores contam-lhe histórias, ela ouve encantada, e conta outras, riem e no fim da tarde voltam os duendes para brincar com a menina.
Os Avós continuam a trabalhar, até que se lembram que a menina deveria estar sozinha e saem de casa muito preocupados para o jardim. Quando vêem a menina ela está divertidíssima, e brincar com os duendes e com as árvores.
- Já acabaram o trabalho? – Pergunta a menina zangada
- Sim…
- Agora já não quero andar de baloiço. Já andei…pelo menos alguém ainda teve tempo para mim. Vocês sempre ocupados. – Resmunga
- Quem? – Perguntam os avós assustados
- Os duendes da floresta, e as árvores. Eles puseram-me o baloiço, as árvores empurraram-me e contaram-me histórias, eu contei-lhes outras…os duendes foram trabalhar, mas voltaram para brincar comigo! – Responde a menina
- Acho que é imaginação dela… - murmura a Avó
- Ááááááhhhh… - respondem os dois avós
- Porque é que vocês os dois e os meus pais…só pensam em trabalhar, e não têm tempo para mim?
Os Avós tentam explicar à menina, mas ela ainda é muito pequena para entender. Mas depois desse dia, os Avós passaram a dar-lhe um bocadinho mais de atenção, a empurrá-la no baloiço e a contar-lhe histórias.
Os duendes e as árvores substituíam os Avós, quando estes estavam muito ocupados, e a menina já não estava sozinha. Ela adorava esses amigos, eles eram muito enérgicos, eléctricos e divertidíssimos.
Perceberam que a menina se sentia muito sozinha, e como os pais também trabalhavam, eles também, mas se não fossem os Avós, a menina sentia-se abandonada. Como dizia o duende…há sempre tempo para tudo, mesmo com muito trabalho, há sempre tempo para as crianças.

FIM
Lara Rocha 
(25/Julho/2015)




quinta-feira, 23 de julho de 2015

O DESEJO DA GOTINHA


Era uma vez uma gotinha de chuva que vivia numa pequena nuvem com a sua família. 
Um dia, a gotinha Esmeralda estava à janela da sua nuvem e olhou para as estrelas que estavam muito lá em cima, mas pareciam perto.

Teve uma longa conversa, com elas, e antes de dormir, depois de ouvir as notícias da terra, voltou à sua janela muito desanimada e triste.

- Então, amiga, que tristeza é essa? Ainda há bocado estavas feliz e a rir-te comigo, e agora estás aí com as lágrimas nos olhos? – Perguntou a estrelinha

- É. Fiquei mesmo muito triste com as notícias que ouvi da terra. – Explica a gotinha

- Óh, amiga…entendo-te, eu também fico muito triste, quando ouço essas notícias, e toda a gente. Mas fico ainda mais triste, porque infelizmente não podemos fazer nada para melhorar a terra. – Diz a estrelinha triste

        A gotinha ficou pensativa…ela queria mesmo encontrar uma maneira de melhorar a situação da terra. Para quebrar a tristeza daquele momento, a estrelinha conta um episódio divertido que viveu naquela tarde, e as duas riem às gargalhadas.
    
     A gotinha conta outras situações engraçadas, e as duas riem-se muito. Não pensam mais na tristeza, pelo menos enquanto estão a conversar e a rir. 

    Passado um bocado, a gotinha boceja.

- Ai…desculpa! Estou com sono.

- Claro. Vai descansar…eu é que quando começo a falar também nunca mais me calo. – Diz a estrelinha a rir

- Eu também! E gosto muito de conversar. Hoje gostei muito de conversar e de me rir contigo! – Responde a gotinha

- Eu também! – Retribui a estrelinha  

- Tu não realizas desejos? – Perguntou a gotinha Esmeralda

- Bem…alguns…sim, tentamos sempre fazer o nosso melhor, mas há coisas que nos pedem, que não dependem de nós para serem realizadas. – Responde a estrelinha

- Áh! Claro. E tu tens os teus desejos? – Perguntou a gotinha Esmeralda

- Claro que sim. Todos temos desejos. – Responde a estrelinha

- Já realizaste muitos? – Perguntou a gotinha Esmeralda

- Não! Ainda não realizei muitos. Mas não faz mal. Sei que alguns são isso mesmo…desejos, e sei que são como os sonhos…muitos não se realizam, mas é sempre bom que eles façam parte da nossa vida! Mesmo que não se realizem, dão-nos força para lutarmos, e darmos o nosso melhor, ou querer mais. É muito bom. Para realizarmos os nossos desejos, temos de procurar caminhos para os realizar, aqueles que sabemos que não são possíveis, bem...preenchem-nos e fazem-nos sonhar. – Responde a estrelinha

- Eu posso pedir-te um desejo? – Perguntou a gotinha Esmeralda

- Sim, se eu puder realizar-to. – Responde a estrelinha

- Este acho que podes realizar. – Diz a gotinha confiante

- Qual? – Pergunta a estrelinha

- Eu gostava que vocês estrelas, se juntassem e fizessem no céu o desenho de uma vela, pela paz. Que fosse vista na terra. – Conta a gotinha

- Áhhh…que lindo desejo. Quem sabe! Mas agora vai descansar… se ele se realizar chamamos-te. – Diz a estrelinha

- A sério? – Pergunta a gotinha em dúvida

- Sim! – Responde a estrela segura

- Prometes? – Tenta confirmar a gotinha

- Prometo. – Responde a estrelinha

- Uau! Muito obrigada. – Responde a gotinha

- Boa noite! – Deseja a estrelinha

- Boa noite! – Retribui a gotinha

        E a menina vai para a sua cama. Fica a olhar para a janela enquanto não adormece. A estrelinha partilha o desejo da menina com as outras estrelas, e decidem realizá-lo. 
  
  Unem as pontas e formam uma gigantesca vela, brilhante, com uma chama enorme. Caminham todas juntas, ao mesmo tempo como se estivessem de mãos dadas. 

      A vela parece verdadeira, mas esta é feita só de estrelas. O vento fica tão maravilhado com aquela imagem que assobia, e elas pedem-lhe para as levar pelo universo, para que todos os seres humanos da terra as vissem, e ficassem a pensar.

  A gotinha vê um lindo brilho na janela, levanta-se rapidamente da cama, e elas acenam-lhe sorridentes. Ela abre um grande sorriso, e saltita de felicidade.

   Vai chamar toda a família de gotinhas e todos ficam à janela ver aquela vela gigante de estrelas, caminhar pelo espaço, levadas pelo vento. 

  A gotinha e os seus familiares ficam emocionados, e deixam escapar algumas lágrimas dos seus olhos. Na terra todos viram a imagem da vela, e a Paz tomou conta de todos, iluminou todos os olhares, abriu sorrisos e aplaudiram…pelo menos naqueles instantes em que a vela de estrelas passeou pelo espaço, sentiu-se a paz! 

      As estrelas percorreram um longo caminho para passar a sua mensagem tão importante ao Mundo. E escreveram de mãos dadas, a palavra PAZ.

       A gotinha ficou muito feliz por ver realizado o seu desejo de Paz para o mundo, e quando as estrelas regressaram, a gotinha agradeceu-lhes convidando um grupo de pirilampos malabaristas, elfos brincalhões, fadas dançarinas e mágicos que deram vários espetáculos, vários dias seguidos só para as estrelas verem. 

    As estrelas adoraram, e fartaram-se de rir, de brincar. Era bom para o Mundo, que dos nossos desejos individuais e secretos, fizesse parte um desejo comum para todos…para o Mundo: que a Guerra acabasse, e que houvesse Paz, amizade entre os povos, união e respeito, e que as armas se transformassem em instrumentos, para que os corações toquem o hino da paz e do amor, numa única sinfonia…Feliz.

  Vocês gostariam de fazer parte da grande vela feita de estrelas?
  Se fossem a estrela realizavam esse desejo da gotinha? Como?
    Já fizeram alguma coisa pela PAZ no Mundo? 
    O quê? 
    Só vocês, ou vocês e amigos?
    O que fizeram pela Paz no Mundo?
    Quantas vezes?
    Como se sentiram?
    O que acham que poderiam fazer mais?
   Como acham que poderíamos acabar com as armas e as guerras?

FIM
Lara Rocha 
(23/JULHO/2015)

terça-feira, 21 de julho de 2015

As habitantes das lanterninhas

            


Era uma vez um bairro de casas, pequeninas vivendas, de cores alegres, que visto de longe quase parecia um presépio. Todas tinham um jardim pequenino com flores e ervas aromáticas, sempre muito visitados por seres especiais como joaninhas, fadas, borboletas.
Além disto tinham lanterninhas penduradas em suporte de ferro, cada uma com o formato de uma flor diferente, ao gosto de cada habitante. Essas lanterninhas de dia estavam fechadas, e dentro de umas dormiam as fadas da noite, noutras dormiam pirilampos.
Noutra lanterna em forma de berço, dormia o João Pestana, e nas restantes lanterninhas viviam umas famílias de chamas pequenas e grandes. Essas trabalhavam dia e noite, mas nunca se cansavam porque enquanto umas trabalhavam mais de dia, as outras descansavam e ao contrário.
Adoravam este trabalho porque eram sempre úteis às pessoas e isso deixava-as muito felizes e mais fortes. Acendiam as lareiras e aqueciam as casas, a água para os banhos, e para as botijas das camas, acendiam os fogões para cozinhar os alimentos, e velas de qualquer tipo, para várias funções: perfumadas, para agradecer, meditar, rezar, e tornar o ambiente mais romântico para os apaixonados.
À noite, juntamente com as fadas da noite, e os pirilampos acendiam as lanterninhas de todas as casas, principalmente as do jardim. Às vezes uma chaminha em cada lanterninha era suficiente, outras vezes iam várias chaminhas para a mesma lanterna.
Cada casa tinha os seus gostos por mais, ou menos luz, e tanto as fadas como os pirilampos e as próprias chamas já sabiam, por isso distribuíam-se como entendiam que era melhor.
Elas ficavam sossegadas, nas lanternas até os donos das casas e os pequenos adormecerem, ou até se cansarem de ler. Depois, as chaminhas, as fadas e os pirilampos, saem do seu local de trabalho e dão os seus passeios. Vigiam todo o espaço e protegem os habitantes, fazem grandes festas, dançam alegremente uns com os outros, durante toda a noite, até o sol nascer, e voltarem a ser chamadas.
No Verão e na Primavera, depois do trabalho, elas podem ser vistas a passear e a dançar ao sabor do vento que umas vezes é suave, e leva-as devagar, outras vezes sopra mais forte e elas mexem-se com mais força.
Elas adoram esses momentos porque confiam totalmente no amigo vento, e deixam que ele as leve…é assim que elas descansam e se sentem em paz.
Outras vezes, principalmente no Outono e no Inverno, estes seres de luz, tal como dão, também precisam dela, por isso juntam-se mais na maior lanterna da aldeia, descansam, e convivem, bem encostadinhos uns aos outros para se aquecerem.
Os pirilampos dormem debaixo das asas das fadas ou dos seus vestidos, e as chamas juntam-se mais, para aquecerem os amigos, e também não sentirem frio.
Este é o dia-a-dia das chamas, para todos nós, é graças a elas que sentimos conforto e ficamos bem quentinhos, na nossa casa. É com elas que temos água quente, lume no fogão e nas lareiras, e ainda em alguns lugares da terra, são elas que dão luz!

FIM
Lálá
(20/Julho/2015)



domingo, 5 de julho de 2015

As grandes crinas




Era uma vez um parque numa grande quinta onde viviam muitos animais, incluindo famílias de lindos cavalos, éguas e póneis. Todos eram muito bem tratados pelos lavradores, mas nos últimos dias da semana anterior, os lavradores perceberam que alguma coisa de muito estranho se passaria com os cavalos.  
Parecia que não estavam a segurar-se bem em pé, caiam e tropeçavam em tudo, até nas próprias patas, batiam contra tudo o que encontrava, pela frente, por isso estavam com várias feridas nas patas e não só. Estariam com algum problema nos ossos ou de equilíbrio, ou visão?
Chamaram o veterinário e mostraram-lhes os comportamentos muito estranhos dos cavalos. O veterinário analisou-os, observou-os, pediu-lhes várias habilidades e tarefas, fez-lhes vários exames, e…
- Até aqui tudo normal! Realmente… é um mistério! Eles seguram-se em pé, equilibram-se nas patas, levantam as patas e não caem, seguem todas as instruções…então…o que estará mal por aqui? – Diz o veterinário.
O veterinário vai sempre acompanhado por um ser minúsculo que só ele o vê, e só ele o ouve. É uma espécie de anjo da guarda ou de vozinha interior…que está sempre presente e ajuda-o.
Ele nunca falou desta companhia a ninguém, pois se dissesse ninguém acreditaria nele, ou pior ainda, diriam que ele era louco ou que estava a imaginar coisas. O mais importante para ele é que acredita e confia muito neste ser.
O ser minúsculo logo que entrou no curral e olhou para os cavalos, começou a rir às gargalhadas e não parou mais. Ele percebeu logo qual era o problema dos cavalos, e o seu protegido, que deveria ter as respostas para o caso, na ponta da língua, não sabia o que se passava.
O veterinário olha de canto para ele e parece estar a pensar sobre o caso, mas na verdade está a falar com o seu amigo:
- Desde que entramos aqui ainda não paraste de rir. Não tens respeito pelos bichos. Não percebo de que é que tanto te ris…isto não tem graça nenhuma. É muito sério. – Murmura o veterinário
- Olha que os donos dos cavalos estão a olhar para ti, de certeza que querem saber uma resposta rápida. Estão preocupados.
- Por isso mesmo não devias estar a rir…eu também estou muito preocupado. Nunca me apareceu um caso destes.
- Pois não! Está tudo a dormir. – Ri o ser
- Estás a deixar-me nervoso com tanto que já te riste…
- Tu és o veterinário, mas eu é que já descobri a resposta logo que entrei aqui.
- O quê?
O ser minúsculo responde a rir:
- Ainda não percebeste qual é o problema? Olha bem para eles…coitados dos animais, até me fazem calor com aquele pêlo todo. Olha bem…olha para aquilo! Pêlo por todo o lado, parecem passadeiras, ou cortinas penduradas. Pêlos do lado, a arrastar pelo chão…parecem vassouras ou espanadores…aquelas patas e o rabão devem estar limpinhos…pelo menos deve ficar tudo bem varrido, ou então levantam pó. Pêlos nas patas que parecem saias compridas, ervas daninhas ou folhas de palmeiras penduradas…que horror…é claro, com aquele tamanho de pêlos só podem tropeçar, e nas próprias patas. E para completar…pêlos na frente dos olhos…olha para aquelas cortinas. Como é que eles hão-de ver? Nem com meia dúzia de pares de óculos.  
- Ááááááááhhhhhh…
Ele pega numa crina de um dos cavalos e puxa-a para trás. O cavalo fica com os olhos à mostra, e sorri.
- Manda-os prender essas cortinas… - Diz o ser
- Tem aí coisas para prender estas crinas? Borrachas de cabelos ou ganchos… - Pergunta o veterinário
- Sim, tenho. Vou buscar. – Responde uma das donas
A senhora vai e volta com borrachas de cabelo e ganchos.
- Atem aqui atrás as crinas e prendam-nas aqui em baixo.
Os donos prendem as crinas e todos os pêlos compridos dos cavalos, sem apertar muito, e os cavalos ficam quietinhos. O veterinário manda-os andar e repte todos os exames e as habilidades. O ser minúsculo continua a rir:
- Agora já lhes vejo os olhos. E alguns têm uns olhos bem bonitos. Vais ver como agora eles não tropeçam mais.
O ser minúsculo tinha toda a razão. Depois de prenderem as crinas aos cavalos, éguas e póneis, tudo voltou a ser como era antes. Não tropeçaram mais, não caíram mais, não se magoaram mais, não bateram contra mais nada. Os cavalos não pararam mais de correr, livres, soltos, seguros e felizes.
- Obrigado amigo! – Murmura - Está resolvido! – Diz o veterinário a sorrir
- Eu não disse? Eu sabia! Até eu, se tivesse um cabelo daquele tamanho á frente dos olhos ou à volta das pernas e patas, estava sempre a cair. – Comenta o ser minúsculo
- O que era afinal? – Pergunta um dos donos
- Eram as suas crinas que estavam muito compridas e á frente dos olhos, eles não viam nada é claro. Tal como nós, humanos, quando deixamos o cabelo crescer muito, para a frente dos olhos…as franjas ou repas ou lá como é que as meninas chamam àquilo. – Explica o veterinário
- Áhhh! Claro! – Respondem todos
- Como é que nunca tínhamos reparado nisto! – Murmura outra dona dos cavalos  
- Realmente…! – Dizem todos
- Eu bem disse que estão todos a dormir…eu é que estou bem acordado. Descobri logo que entrei… - comenta o ser minúsculo
- Devem cortar mais vezes estas crinas, aparar as de trás e cortar estas da frente e das patas…ou prendê-las, mas nunca as deixar ir para a frente dos olhos. – Recomenda o veterinário
- Nós também cortamos os cabelos! – Lembra a dona a rir
- Pois. – Reconhecem todos
- Assim faremos, e é já. – Dizem todas
Os donos chamam os cavalos, as éguas e os póneis, e cortam-lhes as crinas da frente que estavam mesmo muito grandes, tão grandes como as do rabo, e nem os deixava ver ou andar livremente.
Logo que as crinas da frente começavam a ficar muito compridas, cortavam-nas. E os animais ficavam ainda mais vaidosos…gostavam muito destas idas ao cabeleireiro, porque para eles era um alívio e recebiam mimos extra. Até gostavam de ouvir o barulho das tesouras e as donas massajavam-lhes as cabeças.
Todos os animais precisam de cortar o pêlo, tal como nós pessoas. É muito bom cortar o cabelo, termos a cabeça arejada, o cabelo sempre limpinho e penteado, ou curtinho. Se for comprido é melhor não o pentearmos para a frente dos olhos…
E vocês? Gostam de cortar o cabelo?  
Fim
Lálá
(5/Julho/2015)



No jardim das nuvens















foto de Lara Rocha 


Era uma vez numa grande cidade nas nuvens, um grupo de amiguinhas gotinhas de água que quiseram passar uma tarde diferente, e foram brincar para o jardim da cidade, perto das suas casas.
Este jardim não era igual aos nossos, era muito diferente mas não menos bonito e especial. Aqui não existiam flores com pétalas, nem lagos com água verdadeira, não tinha relva verde, nem árvores de troncos largos e folhas.
Era um jardim com muita claridade, onde tudo, mas mesmo tudo era feito de nuvens…a porta de entrada, os bancos, o chão, as árvores, as flores, os lagos, as fontes, as cascatas, e os animais.
Só os visitantes é que não eram feitos de nuvens. Quem ia para este jardim eram: as gotinhas de água, as gotinhas de chuva, as gotinhas de orvalho e de geada, os flocos de neve, as bolinhas de granizo, estrelam e planetas e às vezes o sol e a lua.
As gotinhas de água já tinham ido muitas vezes para esse jardim, e de cada vez que iam encontravam sempre amigas. Desta vez quem lá estava era um grupo de estrelas a ensaiarem lindas danças para um espectáculo nocturno que fazia parte do sonho de uma menina na terra que lhes tinha pedido para essa noite.
As gotinhas assistiram ao ensaio, soltaram grandes exclamações, abriram grandes sorrisos, aplaudiram vezes sem conta e brilharam mais de tão encantadas com o que viram.
As estrelinhas convidaram as gotinhas para participar e dançar com elas. As gotinhas dançaram leves e felizes, parecia que já dançavam há muitos anos, mas foi só porque gostaram tanto, que rapidamente memorizaram todos os passos.
Depois, andaram pelo jardim no comboio de nuvens que as levou por lindas grutas de nuvens cheias de surpresas agradáveis. Uma outra nuvem grande levou-as para um miradouro em cima de uma montanha gigante onde se sentiam cheiros diferentes e agradáveis e onde se via para a terra.
Que lindas paisagens! Tão bonitas que lhes deu vontade de descer nesse mesmo momento, mas lembraram-se que não tinham dito aos pais, por isso não foram.
No fim de verem toda a paisagem, uma borboleta feita de nuvens convidou-as para brincarem com ela no grande escorrega que ia dar à piscina. As gotinhas não pensaram duas vezes e foram logo nas asas da borboleta. Elas adoravam escorregar no escorrega feito de nuvens, muito comprido, e com algumas curvas, onde podiam ir à velocidade que quisessem.
No escorrega já estavam muitas borboletas, estrelas e planetas, aos gritos com o ar fresco, e às gargalhadas pelas cócegas que a descida provocava, começando nos rabinhos e estendendo-se a todo o corpo. Às vezes não escorregavam, preferiam descer de gatas ou de barriga para baixo, e outros desciam abraçados.
Todos se divertiam muito, principalmente quando caiam na piscina feita de nuvens muito finas e leves, fofas, onde nesta tarde já estavam mergulhados na piscina alguns planetas.
Depois de muita brincadeira com os amigos na piscina das nuvens, as gotinhas saíram e foram lanchar ao bar feito de nuvens, comem belos e saborosos pãezinhos feitos de nuvens e bebem chá em copos feitos de nuvens.
Ainda andaram nos baloiços feitos de nuvens, nos cavalinhos feitos de nuvens e descansaram um bocadinho, deitadas no chão de nuvens, debaixo das árvores de nuvens.
Estavam tão felizes, saltaram nas grandes bolas de nuvens e no trampolim de nuvens onde tinham de saltar em diferentes alturas e diferentes direcções para tocar em nuvens com formas diferentes que estavam penduradas.
De repente veio o Sr. Raio, solteiro, solitário, muito feio, trombudo, misterioso, raivoso, resmungão, antipático, detesta barulho, e é alguém de quem toda a gente tem medo. É tão egoísta que quando vai ao parque, não pode ter mais ninguém por perto para não ser incomodado nas suas meditações, diz ele.
Mas nesse dia, conheceu uma mulher muito especial, a Dona Tempestade, ainda pior do que ele em feitio, feia, pesada, escura, e nasceu entre eles um amor à primeira vista. Ficaram logo encantados um com o outro, os seus corações dispararam, tanto que se ouvia fora enormes estrondos. O parque ficou todo escuro, e todos saíram muito assustados para as suas casas.
Quando o Sr. Raio e a Dona Tempestade deram o primeiro beijo, toda a cidade das nuvens estremeceu, levantou-se uma enorme ventania, com chuva e granizo…festejavam aquele momento tão romântico. Felizmente todos os outros habitantes já estavam em casa, seguros e protegidos.    
Este casal foi mesmo feito um para o outro e felizmente foram viver o seu amor para bem longe. Às vezes ainda voltavam ao parque para passear e namorar, mas nessa altura já ninguém se aproximava.
Mesmo com o susto que apanharam, as gotinhas de água adoraram aquela tarde no jardim da cidade das nuvens, e voltaram lá muitas outras vezes para brincarem com os amigos.
E vocês? Gostavam de visitar o parque da cidade das nuvens? A vossa cidade também tem algum parque da cidade? Como é esse parque? É feito de nuvens? Imaginem ou desenhem como é esse parque…
                                                           FIM
                                                           Lálá
                                                  (5/Julho/2015)