Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Dá-me o meu sol













foto de Lara Rocha 

Era uma vez o imenso universo, lá em cima onde vivem as nuvens, a luz, as estrelas, os planetas, e o sol, a chuva e a trovoada, que durante muitos anos viveu em paz e amizade. De repente tudo ficou virado ao contrário, e não se sabe como, começaram a discutir, e a resmungar uns com os outros. Todos estavam a movimentar-se e a desviar-se dos seus eixos.
E na terra, havia uma criança que queria o sol, queria agarrá-lo a todo o custo. Pediu esse desejo às estrelas, e elas como eram generosas, quiseram realizá-lo. Eram tão inocentes como a criança…e para isso puxavam o sol de um lado, a lua puxava do outro:
- Larga! – Diz uma estrela
- O sol é nosso! – Dizem as duas estrelas
- Não largo! O sol é meu! – Grita a lua
- O sol é nosso! – Gritam todos os do universo que até fazem tremer o espaço
O sol que é dado à paz, não responde, e vai para um lado, vai para o outro.
- Que conversa…é meu…é nosso… é meu…é nosso…ora esta…eu sei que gostam de mim, mas não é preciso tanto! – Resmunga o sol
As estrelas vão atrás dele, e a lua também.
- Nós precisamos de ti, sol! – Diz uma estrela
- Eu é que preciso de ti, sol! – Diz a lua
- És nosso! – Gritam as estrelas
- És meu! – Diz a lua
O sol grita:
- Calem-se! Já me estão a irritar. Que conversa é essa…és meu…és nosso…és meu, és nosso… nunca outra ouvi. Não estou a gostar nada disto! O que é que se passa convosco? Estão insuportáveis…já estou a ficar cansado e irritado de vos ouvir. Calem-se! Deixem-me sossegado. Estamos todos fora dos eixos. Mas o que é isto? Vamos lá acalmar.
- Mas, nós temos que te levar para realizar o desejo de uma criança! – Diz uma estrela
- Não faltava mais nada! – Dizem todos
- Vocês também? – Pergunta o sol – Ora essa, meninas, eu não vou a lado nenhum.
- Pois não vais, não! – Garante a lua
- Lua, não te estou a conhecer! – Diz o sol surpreso
- Só te estou a defender…gosto de ti. – Justifica a lua
- Estás muito possessiva! – Comenta o sol
- Ááááhhh…que ingrato! – Resmunga a lua
- Estão a ver? Eu não queria responder assim à lua
- Nós temos de te levar para a menina! – Insiste uma estrelinha
As estrelinhas e a lua voltam a puxar pelo sol, para um lado e para o outro, ele grita e ordena:
- Parem imediatamente! Estou a ficar irritado.
E aparece um pequeno artista que vive num planeta, e sentiu várias vezes a sua casa a tremer.
- Mas o que está a acontecer? A minha casa está farta de tremer. O problema é aqui ou lá em baixo? (ninguém responde) Estão todos desalinhados.
Olha com muita atenção e delicadamente, com muito cuidado, puxa os fios dos habitantes do universo, e alinha-os.
- Estamos todos muito irritados. – Comenta o sol
- Áh! Por isso…mas porquê? – Pergunta o artista
- Estas meninas estão loucas! Umas dizem que têm de me levar para a terra, para realizar um desejo de uma menina…outra diz que sou dela…e todos dizem que sou deles! Umas puxam-me para um lado, outra puxa-me para outro lado…todos gritam…já estou nervoso. Eu não vou a lado nenhum! Muito menos para realizar desejos e fantasias de criaturas inocentes. Onde já se viu? – Resmunga o sol
O artista ri-se.
- Santa inocência!
- Com certeza. E elas são tão inocentes como ela…onde já se viu? Estão fartas de saber que não posso ir lá abaixo! A menina se quiser olha para a janela e vê-me.
- Pois! – Concorda o artista
- Mas temos de te levar. Não vamos desiludir a menina! – Comenta uma estrelinha
- O quê? – Todos riem – Ela vai ter muitos desejos que não se vão realizar…quer dizer…a maior parte dos desejos não se vão realizar, e se ela não consegue habituar-se desde pequena a experimentar desejos que não se realizam, nunca se habituará. Não podem satisfazer tudo o que vos pedem. – Diz o sol
- Claro que não! – Confirma o artista
- A menina vai ficar muito triste! – Comenta uma estrela
- Até vocês sabem que esse desejo dela não é possível realizar. E não lhe faz mal nenhum ficar triste. Fica muitas outras vezes e ficará. A tristeza faz parte da vida e do ser humano. – Lembra o sol
- É verdade! – Apoia o artista
- E agora como é que vamos dizer-lhe? – Pergunta a outra estrelinha
- Não precisam de lhe dizer…ela daqui a pouco esquece, e algum adulto vai destruir a fantasia dela…vai dizer-lhe que eu não desço, e que ela não me pode tocar… - Diz o sol
- É isso mesmo! – Diz a lua
- Não nos faz nada bem, estar assim irritados. – Diz o sol – e por favor… parem de me puxar, de dizer que sou vosso…ou dela…por favor! Não sou de ninguém. Sou de todos os que me vêem, mas aqui em cima.
O artista cria uma pintura de uma praia, com cores suaves, para todos acalmarem os nervos e funciona. Todos aclamam, pedem desculpa uns aos outros em coro, e regressam aos seus eixos.
- Eu quero o sol…o meu sol! O sol é meu, é para mim! – Grita a menina – Sooooooooolllllll…. Anda para aqui, para o meu quarto.
A menina da terra está muito triste porque… felizmente para as estrelas, os adultos à sua volta, contaram à menina que esse desejo dela não era possível realizar, porque o sol parecia perto, mas estava realmente muito longe, e a sua temperatura é intolerável para o ser humano. Disseram-lhe que nunca nenhum astronauta chegou perto do sol, porque derretia antes de lá chegar.
A menina percebeu e disse:
- Áh! Então eu vejo-o daqui da janela.
- Isso mesmo! – Responde um adulto da sua família
- O sol é meu amigo, mas lá em cima onde ele está! – Diz a menina
- Sim! O sol é amigo de todos nós, mas lá no universo, junto das estrelas, dos planetas e da lua. É a família dele. – Explica o adulto
- Da natureza também! – Acrescenta a menina
- Claro! – Diz o adulto
E a paz volta ao Universo…as estrelinhas e a lua deixam de puxar o sol e continuam a ser amigas dele. Pois é…há muitos sonhos e desejos que não são possíveis de realizar.
O único sítio onde eles são possíveis é na nossa imaginação, porque na vida real, à medida que vamos crescendo e descobrindo o mundo, reparamos que não podemos realizar quase nada do que desejamos ou sonhamos…umas vezes porque sonhamos alto demais, outras vezes porque encontramos obstáculos, outras vezes porque simplesmente são impossíveis, ou não dependem de nós.
E os vossos desejos, ou sonhos já se realizaram todos? Muitos? Alguns? Poucos ou nenhuns? E na vossa imaginação, ou nos vossos sonhos, já conseguiram realizar muitos dos vossos desejos ou sonhos?
Mas é sempre bom termos sonhos, e desejos, mesmo sabendo que alguns poderão nunca se realizar, pelo menos, enquanto imaginamos, podemos realizá-los.  

FIM
Lálá

10/Setembro/2015)

A chávena de chá


           Era uma vez uma senhora que vivia numa casinha pequenina, que mais parecia de bonecas, mas tão bonita, que toda a gente queria visitar. A senhora já estava habituada a ter tantos olhares pregados na sua casa, e quando reparava que estava a ser observada, sorria para quem passava e perguntava se queria uma chávena de chá. As pessoas ficavam envergonhadas e fugiam…nem lhe respondiam, e ela ria às gargalhadas.
Um dia, a senhora tinha acabado de chegar das compras, e estava um frio de congelar. O céu estava carregado de nuvens e o vento soprava forte, parecia que cortava tudo à sua passagem. Agasalhou-se, e arrumou as coisas enquanto pôs o chá a fazer. Que bem que lhe soube!
A sua casa já costuma ser sobrevoada por lindas borboletas e fadas, e hoje não era excepção. Apesar de estar muito frio, elas andavam por lá, quase sem conseguirem voar. A dona da casa já as conhece, e encheu uma chávena de chá bem quentinho para elas porque achava que também teriam frio.
Elas sentem um cheirinho diferente, e especial no ar. Mal vêem a chávena de chá a fumegar várias fadas e borboletas voam baixinho, e bebem o chá num abrir e fechar de olhos. Vão dormir para de volta dos candeeiros do jardim para se aquecerem, mas não conseguem porque está mesmo muito frio.
A senhora que já estava deitada lembrou-se que as suas fadas poderiam estar com muito frio, levantou-se e foi preparar outra chávena de chá, mas desta vez, dividiu por várias chávenas mais pequenas e pôs na beira da janela, ficando a apreciar de dentro, enquanto também tomava.
Vêem as chávenas a fumegar na janela e voam para lá, devagar e a tremer.
- Boa noite…é uma chávena para cada uma…quantas são?
- Só mais quatro, por favor, para as nossas irmãs.
- Claro…
- Manas… - chamam as fadas em coro
Juntam-se todas, mergulham como se estivessem numa piscina e bebem deliciadas.
- Áh! Que quentinho… - Suspiram as fadas deliciadas
- Uau! – Dizem outras fadas
- É maravilhoso. – Comenta outra fada
- Obrigada, boa senhora. – Dizem em coro  
- Áh! Que bom. – Comenta outra fada
- Durmam cá dentro da minha cozinha. Esse frio faz-vos muito mal! – Propõe a senhora
- Não queremos incomodar. – Diz uma fada
- Nem invadir a sua casa! – Diz outra fada
- Não invadem, nem incomodam. Entrem. Fazem-me companhia e estão agasalhadas. – Diz a senhora
- Mas ainda somos várias! – Lembra uma fada
- Não faz mal. Venham todas…cabem todas. Esta é uma forma de vos agradecer a companhia que me fazem todos os dias, a protecção que dão à minha casa, a amizade, a magia e a felicidade que trazem à minha vida. – Responde a senhora
E as fadas entram com as suas famílias, a senhora fecha a janela.
- Áh! Que casa tão bonita. – Comenta uma fada a sorrir
- É? Obrigada.
- Sim, está decorada com muito bom gosto, e recheada de flores, como nós gostamos! – Diz outra fada
- Eu adoro flores, e adoro a minha casa.
- Está quentinha a casa! – Repara outra fada
- Estavam a ficar congeladas. Venham comigo! – Diz a senhora
E a senhora enquanto conversa alegremente com as fadas, prepara umas camas muito confortáveis no seu quarto para as fadas, bem quentinhas, com lençóis e cobertores, e almofada. Um mimo.
- Estas são as vossas caminhas. Espero que sintam confortáveis.
- Áh! – Exclamam todas
- Podia-nos ter dito, que tínhamos ajudado. – Comenta uma fada
- Não faz mal…então, vocês são visitas e amigas, não fazia sentido fazerem isto.
- Porque não?
- O que eu quero é que se sintam bem.
- Estamos óptimas.
E cada uma deita-se, cobre-se e suspira a sorrir:
- Áh! Que maravilha… - Elogia uma fada
- Muito bom! – Dizem todas as fadas a sorrir
- Que quentinhas…! – Diz outra fada a sorrir
- Áh! Parece uma nuvem… - Repara outra fada a sorrir
- Obrigada! Obrigada! Obrigada! – Dizem todas as fadas
- Descansem. Se precisarem de mais roupa, digam. – Avisa a senhora
- Está óptimo… - Dizem todas
- Vou apagar a luz, está bem? – Pergunta a senhora
- Sim, claro! – Dizem todas
- A casa é sua… - Diz outra a sorrir
Desejam boa noite e a luz apaga-se. Em cada caminha vê-se uma luzinha de presença. A senhora está na cama e vê as luzinhas.
- Áh! Que lindas que vocês são…até debaixo dos cobertores. Adoro-vos.
- Óh… - Exclamam todas deliciadas
- Quer que tornemos a nossa luz mais fraquinha? – Pergunta uma fada preocupada
- Não, filhas. Está óptimo assim… é tão bonita a vossa luz. – Diz a senhora a sorrir  
- Se a incomodar, diga-nos… - Recomenda outra fada
- Não, queridas… estejam à vontade.
E a senhora fica a apreciá-las até que chega o soninho. As fadas dormem quase logo a seguir. De manhã, estão como novas, felizes, e cheias de energia. Tomam uma chávena de chá ao pequeno-almoço e conversam alegremente com a senhora. Elas adoraram dormir no quarto e naquelas camas, tão quentinhas que estavam. Quando olham pela janela está tudo coberto de neve, e sol.
A senhora vai trabalhar e deixa a cada fada uma chávena de chá, e uma frincha na janela, para que sempre que as fadas quisessem beber chá quente, tinham à disposição uma chaleira com chá, e podiam aquecer-se. Assim também tomavam conta da casa.
Desde esse dia, as fadas tornaram-se uma família para a senhora, com quem tomavam todos os dias uma chávena de chá, e com quem passaram a dormir todas as noites, no quarto quente, e nas belas camas confortáveis que a senhora lhes tinha preparado com tanto carinho.

FIM
Lálá

(10/Setembro/2015)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A ONDINHA IRRITADA



Era uma vez uma praia como as outras, com areia, mar e rochas. Na praia havia sempre muitas pessoas a apanhar sol, crianças a jogar futebol, e a brincar. No mar, os animais e as ondas tinham os seus trabalhos e era um ambiente sossegado, mas de um dia para o outro, tudo se transformou.
Passou a ser muito agitado por causa de uma ondinha que parecia pequena mas ultimamente andava armada em onda grande, muito revoltada, inquieta agitada, irada, irritada, e quando vinha à superfície aproveitava para descarregar o seu mau-humor e a sua ira na praia.
Só fazia asneiras! Se via crianças a construir castelinhos de areia, ou a brincar vinha e destruía os castelinhos. Outras vezes, dava banho completo às crianças, e elas desatavam a fugir, a chorar e a tremer de frio, aos gritos. Arrastava brinquedos, e tirava as bolas aos adultos que estavam a jogar, ou quando via casais de namorados também gostava de os refrescar, para os lembrar que estavam na praia, e deitava-os para trás, empurrando-os, ou molhando-os e enchendo-os de areia da cabeça aos pés.
Enquanto todos ficavam muito zangados, a ondinha ria às gargalhadas e voltava para o fundo do mar mais relaxada, toda feliz. A rainha do mar via tudo, e recebeu várias queixas de outros seres do mar, da ondinha…isto deixou-a realmente irritada e mandou que chamassem a ondinha.
- Mas o que é que se passa com ela? Só faz asneiras…Chamem aquela endiabrada da Ondinha…
Os guardas da rainha vão chamar a ondinha. A ondinha não sabia a rainha já tinha visto tudo. Ela espreita, e a Rainha diz-lhe docemente, e sorridente:
- Estás a espreitar? – Mas logo fica muito séria e grita – Entra!
A ondinha estremece, a rainha respira fundo para não explodir.
- Precisas de alguma coisa, rainha?
- Senta-te! – Ordena
A ondinha senta-se a medo.
- Os teus pais? – Pergunta a rainha
- Estão na praia.
- Vou ter de falar com eles! E vou directa ao assunto contigo. Não sei como é que eles ainda não perceberam que estás muito diferente…talvez porque te misturas com as outras, e eles nem vêem…confiam…acham que têm uma menina muito bem comportada. Mas não gosto nada do que tu andas a fazer.
- Eu?
- Não…! Eu! Claro que és tu. O que é que se passa contigo? Andas muito irritada, só fazes asneiras. Vais lá para cima, pareces inofensiva, e de repente, do nada…transformas-te em algo parecido com tsunami…destróis tudo. Destróis os castelinhos das crianças que elas fazem com tanto carinho, paciência e arte! Arrastas os seus brinquedos, dás-lhes banho dos pés à cabeça! Levas bolas de futebol e outros jogos dos adultos. Enrolas namorados, arrastas toalhas, molhas roupas, lavas roupas e chapéus…Ai! Mas o que significa isto tudo? Quem é que tu pensas que és? Nunca foste assim. – Diz a rainha, primeiro calma, depois, com a irritação sobe no tom de voz.
A ondinha fica assustada e preocupada responde:
- Rainha, eu…não sabia que já tinhas visto tudo!
- Ora! Estás farta de saber que vejo sempre tudo, e vieram-me fazer queixas! Não posso permitir que faças coisas como estas que tens feito!
- Mas é assim tão mau?
- É. Mesmo muito mau. Pões vidas de pessoas em risco…e depois…? Quem é que as ia tirar daqui? Ias-nos meter em sarilhos, e é tudo o que nós não queremos.
- Eu só queria brincar!
- Tens muita coisa para brincar cá em baixo, porque raio hás-de brincar com vidas humanas?
- Eles também brincam connosco.
- Sei muito bem que andas a fazer isto por mal. Sinto-te muito revoltada…tudo o que estás a fazer é por revolta! Não pode ser.
- É que…eu…adoro a praia.
- Não és só tu. Todos adoramos a praia. E as pessoas também. Isso não justifica o que estás a fazer.
- É que…eu…só estava a tentar proteger a praia daqueles malditos.
- O quê?
- Sim, os humanos só poluem, só estragam.
- Isso é verdade, mas também não serve de justificação. Não vais conseguir evitar que eles poluam, infelizmente, porque eles não têm nada nas cabeças. Mas não vais ser tu, a fazer essas coisas, que lhes vais pôr alguma coisa nos miolos para deixarem de poluir. Um dia…vão pagar cêntimo por cêntimo, as consequências do que fazem, aliás, já estão a pagar, mas ainda não repararam. Isso nunca vão perceber, mas é problema deles!
- Eu odeio aqueles objectos dos pequenos.
- Que objectos?
- Aquilo com que eles fazem castelos, e tiram a areia.
- Não é justificação para essas asneiras.
- Odeio bolas.
- Eu também, mas o que é que isso implica contigo?
- Nada! Mas não gosto, e podem estragar a praia.
- O quê? Que disparate. Nunca ninguém se queixou de estragos por bolas.
- Odeio aqueles namoradinhos sentados na areia. Eu gosto de os enrolar para os acordar e lembrarem-se que estão na praia…há gente a vê-los.
- É muito pior ver guerra.
- Não gosto.
- Não é motivo para fazeres as asneiras que fazes.
- Eu só quero proteger a praia, o mar e a ti…!
- Isso é muito bonito de tua parte, mas não serve de desculpa para o que fazes. Vou ter de te castigar.
- Óh não! Por favor, rainha. Desculpa, eu não volto a fazer asneiras.
- Pensa em silêncio no que tens feito. Aí…quieta. (pequena pausa, silêncio) Minha pequena…ainda és muito criança, com muitos sonhos, sem maldade, achas que és super criança, que tens poderes para salvar o mundo, e a humanidade, mudar as mentes…melhorar o planeta. (Silêncio) Já percebi, estás revoltada com os humanos pelas asneiras que eles fazem, e maldades contra nós, contra a nossa casa. Tens razão. Todos nós ficamos, claro que é injusto, revolta, magoa…e temos imensa vontade de nos vingarmos deles, de fazer ainda pior do que eles nos fazem. Mas…por muito que queiras, as tuas maldades, asneiras, não vão servir para os emendar, nem ensinar, ou mudar as mentes. Descansa, o planeta tratará de lhes ensinar e castigar. Aliás, já está a tratar disso. O planeta tem a força de todos nós juntos e muita mais que só ele sabe! Deixa-os aproveitar enquanto têm!
A ondinha fica pensativa.
- O que posso fazer agora?
- Não voltes a fazer asneiras e tenta ser amiga dos humanos, carinhosa como as outras.
- Está bem.
Aparecem as filhas da rainha do mar, lindas como ela.
- E o castigo, rainha? Qual vai ser? – Pergunta a ondinha triste
A rainha suspira, olha para as filhas, elas sorriem-lhe:
- Bem…preciso de pensar… o que acham?
- Mamã…eu acho que ela está a precisar de um abraço! – Diz uma
- O que ela fez não foi bom, mas à beira do que eles nos fazem, também não foi nada de mal…só foi…umas brincadeirinhas…uns sustinhos a fingir… - Diz outra
- Acho que ela não fez por mal. – Diz outra
- É. Acho que ela fez isso só para chamar a atenção. Como é pequenita, quer que reparem nela…fingindo que é grande. – Diz outra
- Pois. A sua raiva é grande…eu sinto as vibrações… ui…! – Diz a mais velha
- Sim! – Dizem todas
- Olha que daqui a pouco o mar ainda fica mais poluído do que o que está, com a tua revolta. – Diz um caranguejo
- Xiu! – Mandam todas
- É. Eu não fiz por mal. – Confirma a ondinha
- Huummm…um abraço…huuummmm… bem…acho que…- Pensa a rainha
- Siiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmm… - Dizem todas a sorrir
- Parece-me…bem! Menina agora vê lá o que fazes! Não te esqueças do que eu te disse, e vou dizer aos teus pais que precisam de estar mais atentos.
- Está bem! Não me esquecerei. Muito obrigada.
- Agora…podem ir.
E as princesas, uma por uma abraçam a ondinha, depois dão um abraço colectivo e vão para a superfície brincar. A ondinha gostou tanto daqueles abraços que voltou a ser tão meiga como era antes, carinhosa, e durante muito tempo pensou no que a rainha lhe tinha ensinado.
A ondinha e as princesas tinham combinado que para a ondinha não voltar a fazer maldades e asneiras, sempre que se sentisse irritada, raivosa, revoltada e com vontade de se vingar…procurava as princesas, elas davam-lhe um abraço e brincavam juntas. Foi mesmo isso que ela fez, desde esse dia. Talvez a verdadeira razão fossa a falta de um abraço…tornaram-se uma verdadeira família.
Os abraços fazem milagres, tornam-nos melhores pessoas, não é? Ficamos mais calmos com um abraço, ganhamos mais saúde, e ficamos mais felizes não é?
Já experimentaram?
Vamos dar todos um abraço pelo menos a quem está ao nosso lado? Como se sentiram?
A ONDINHA SENTIU-SE ÓPTIMA.
FIM
Lálá
(7/Setembro/2015)


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Mistério na janela


foto de Lara Rocha 

foto de Lara Rocha 

Era uma vez uma menina que estava no seu quarto à noite, deitada na sua cama à espera que o sono chegasse. Ela deitava-se sempre cedo, mas às vezes não adormecia logo. 
A janela estava meia aberta, e a persiana meia aberta, meia fechada, porque o dia tinha estado escaldante e a noite ainda estava muito quente. 
Como era na aldeia, não havia perigo, e a mãe ia fechar a janela quando se fosse deitar. Além de estar uma noite quente, a menina não gostava de tudo escuro pelo menos enquanto não adormecesse.
A certa altura, quando já estava quase com os olhos a fechar olhou para a janela e viu qualquer coisa a brilhar. Estava com tanto sono que nem ligou. 
Na noite seguinte, voltou a ver o brilho na sua janela mas nem se levantou para ir ver o que era. Nas outras noites ela pensou que eram coisas diferentes!
Primeiro pensou que era algum pirilampo que andava por lá a voar como muitos outros que ela via todas as noites. Depois pensou que a luz fosse uma estrela que caiu do espaço para ela não ter medo do escuro.
Noutra noite pensou que fossem as gotinhas da rega a brilhar com a luz da rua. Ou podia ser o João Pestana a chegar à janela, para lhe trazer soninho e sonhos, ou uma garrafinha de soninho com sonhos, que ele tivesse deixado por lá para ela, ou teria caído do saquinho sem querer e ficou ali…talvez ele se tivesse esquecido. Ou seria uma prendinha para ela, de alguma fada.
Mas de manhã quando abria a janela, não via nada. Começou a achar muito estranho, misterioso…e queria descobrir o que era, mas o sono vencia sempre, por isso a menina ficava sempre pelo querer e pelo ver a luzinha, mas não sabia mais nada.
Uns dias depois disse à sua mãe, mas a mãe não ligou, não deu importância nenhuma, riu-se e pensou que era imaginação da menina. A menina nunca se levantou para ver o que estava na sua janela, mas queria muito saber.
Perguntou ao João Pestana se sabia o que era, e ele respondeu que não. E agora…um segredo…não contem nada! Mas é claro que ele sabia muito bem o que era porque também mandava soninho e sonhos para essa luzinha, só que elas pediram-lhe para não dizer nada, tiveram medo de ser expulsas.
Nessa noite, em que ela estava mesmo disposta a descobrir o que brilhava na sua janela, a menina pediu ao João Pestana para ir mais tarde, e este fez-lhe a vontade. 
Foi deixar soninho e sonhos noutros quartos, e voltou ao dela. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde, a menina ia pedir-lhe isso, e descobriria. Estava deitada com os olhos bem abertos, e mal viu a luzinha pousar na janela saiu da cama disparada.
Quando abriu a janela…mas que grande surpresa! Viu que afinal a luzinha não era nada do que tinha pensado. Não era nenhuma estrela, que estava lá para lhe tirar o medo ou fazer companhia, não eram pirilampos nem gotinhas da rega que brilhavam com a luz da rua, nem o João Pestana, nem garrafinhas de soninho.
Era uma linda borboleta de asas enormes, finas e de cor muito clarinha que abrigava debaixo delas, cobria, protegia e deixava passar a luz das lindas e pequeninas fadas enquanto as mais crescidas trabalhavam. A borboleta tomava conta delas.
A pequena ficou espantada, eufórica e encantada, saltitou e riu. Não estava a acreditar no que os seus olhos azuis estavam a ver. A borboleta ficou assustada, pediu desculpa por ter pousado ali, e pediu autorização para ficar na sua janela pois tinha umas pequeninas a seu cargo, e aquele espaço era mesmo muito bom para elas, mas não queriam invadi-lo sem autorização. Se a menina não deixasse, elas iam para outro sítio.
A menina ficou tão feliz, e gostou tanto daquela presença surpresa, que disse logo que ficassem, e até lhes arranjou um abrigo mais quente e confortável, porque não demorava nada a chegar o Outono e o tempo frio e a chuva.
O abrigo era espaçoso, quente, protegido do mau tempo e seguro. Até uma cobertura extra para os dias rigorosos de Inverno. Sentiam-se como umas verdadeiras rainhas num palácio. 
Gostavam tanto no sítio que até as fadas mais crescidas foram para o abrigo com a borboleta e as pequenas. E também ganharam uma amiga muito querida, que lhes dava atenção, carinho e com quem tinham longas e animadas conversas e brincadeiras.
E vocês? Já viram luzinhas ou coisas brilhantes na vossa janela? Foram ver o que era? O que viram? Se vissem alguma coisa brilhante ou luzinhas na vossa janela, iam ver o que era? O que poderia ser?
Fim
Lara Rocha 

(2/Setembro/2015)