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quinta-feira, 12 de abril de 2018

o coelho de orelhas enormes

 

Era uma vez um coelho com umas orelhas enormes. Apesar de todos os habitantes o gozarem, e rirem das suas orelhas, até lhe chamavam nomes feios, às vezes ficava triste, e não respondia às provocações, logo a seguir lembrava-se que era uma marca que distinguia toda a sua família dos outros coelhos, e até sentia orgulho, ficava feliz, sorria e andava pela floresta como se estivesse a desfilar.
             Um dia, estava um dia tão quente de Verão que quase não se respirava. Um bando de formigas quase desmaiava, estavam a ficar quase torradas e desidratadas. Outros animais passavam por elas e só queriam encontrar sombra, por isso passavam rápido. O coelho passeava-se lentamente, abanava as suas orelhas e assim refrescava-se. Olhou para o bando de formigas, percebeu que estavam a precisar de ajuda, pôs-se de joelhos, inclinou-se sobre as formigas, e abanou-as. As formigas sentiram fresco, e ficaram muito envergonhadas porque também elas diziam mal das orelhas do coelho.
- Venham comigo, vou levar-vos a uma fonte onde se podem refrescar. Abriguem-se aqui debaixo das minhas orelhas ! - Diz o coelho
- Óh, não...não merecemos...nós dizemos mal das tuas orelhas. - diz a formiga chefe
- Não faz mal. Venham, vocês estão a precisar. - Insiste o coelho
             Lá vão as formigas debaixo das orelhas de quem diziam tão mal, envergonhadas, e o coelho leva-as para a fonte. As formigas deliciam-se e refrescam-se com água da fonte, bebem e tomam banho, o coelho abana as orelhas, até faz vento, e as formigas recuperam.
- Muito obrigada, querido coelho! As tuas orelhas abrigaram-nos...
- E refrescaram-nos.
- Obrigada! Muito obrigada, amigo coelho!
- Desculpa-nos. Não vamos voltar a dizer mal das tuas orelhas! 
- As minha orelhas são grandes mas servem para muitas coisas. São o que distinguem a minha família das outras famílias de coelhos. - Diz o coelho
- É verdade! - Dizem todas
- Vão para a sombra! Está demasiado calor, e bebem água.
             As formigas abrigam-se à sombra, e o coelho continua o seu passeio. Ele conseguia passear mesmo com calor, porque as suas orelhas abanavam e refrescavam-no. Num outro dia, de frio e chuva, o coelho passeia e encontra um ninho com passarinhos pequeninos no chão, que quase ficavam congelados e ensopados. Sentou-se no chão junto ao ninho e abriu as suas orelhas, tapando o ninho para que não apanhassem chuva, e cobriu os passarinhos até os pássaros pais chegaram.
- O que estás a fazer, seu malvado? - Resmunga o pássaro pai
- O ninho dos seus filhotes caiu da árvore, eu estava a abrigá-los e a cobri-los, não lhes vou fazer mal. - Explica o coelho
- De certeza que não foste tu que deitaste o ninho abaixo? - Pergunta o pai pássaro desconfiado
- Absoluta! - Garante o coelho
            Os passarinhos confirmam com o chilrear.
- Afinal as orelhas grandes não tem nada a ver com a bondade! - Comenta a mãe irónica
- Pois não! - Diz o pai pássaro.
- Obrigada, coelho! - Diz a mãe
- Óh... - Diz o pai pássaro, triste
- O que se passa, sr. Pássaro? - Perguntou o coelho
- Estou envergonhado, e devo-lhe um pedido de desculpas. - Diz o pássaro pai
- Não estou a perceber! - Diz o coelho
- É que... - começa o pai, e a mãe interrompe:
- É que ele não era muito simpático a falar de si, coelho, mas agora provou-lhe que afinal tem um coração grande.
- Sim, eu sei, entendo...tenho um coração grande como as minhas orelhas! - Diz o coelho a sorrir orgulhoso
- É... ! Desculpe! Que vergonha. - Diz o pai surpreso
- Não se preocupe, eu sei que todos me gozam por causa das minhas orelhas, dizem coisas feias sobre elas, mas eu não me importo, porque elas distinguem a minha família que tanto amo, das outras famílias de coelhos. Tenho orgulho nelas, e são úteis.
- Você, também foi muito útil. - Diz o pai
- Muito obrigada! - Dizem todos
- Quando precisarem de mim, chamem-me! Até já...
- Até já. - Dizem todos
                Os pássaros põem o ninho num sítio mais abrigado e protegem-se do frio. Mais à frente, uns gatinhos pequeninos miam desesperados com a chuva e o frio.
- Venham cá. Abriguem-se aqui, nas minhas orelhas.
                Os gatinhos ficam com medo.
- Venham. Não tenham medo, as minhas orelhas não mordem.
                Os gatinhos metem-se debaixo das orelhas do coelho, o coelho enrola-as nos gatinhos para os aquecer, e abrigá-los.
- Estás à chuva, coelho?
- Não se preocupem. Querem ir para onde?
- Podes levar-nos para a nossa toca, por favor...?
- Claro que sim, onde é?
               Os gatinhos explicam onde é, e ele deixa-os lá. Eles agradecem e quando o coelho sai, cruza-se com borboletas que voam desvairadas, e com dificuldade.
- Abriguem-se aqui... - convida o coelho
               As borboletas agarram-se às orelhas do coelho, ele dobra-as e cobre-as até uma árvore onde elas costumam descansar. As borboletas gostaram tanto das orelhas dele que pediram para brincarem nelas num dia de sol. E o coelho prometeu que iria. Foi o que aconteceu no dia seguinte, que estava sol. Foi uma tarde tão divertida, com as borboletas a andar de baloiço nas orelhas do coelho, ele rebolou com elas na relva, ainda se juntaram às brincadeiras uns grilos e uns gafanhotos que andavam no campo.
             Depois destes dias, todos aprenderam uma grande lição, a respeitar as orelhas do coelho, e sempre que precisavam dele, ele estava lá. Às vezes nem precisavam de pedir, porque andava sempre de um lado para o outro, e oferecia ajuda a quem percebia que estava em apuros. Mais nenhum animal disse mal das suas orelhas enormes, até porque elas serviam de guarda-chuva, guarda-sol, ventoinha, cobertor, baloiço e meio de transporte.
             Realmente, o seu coração era tão grande como as suas orelhas enormes, de quem todos diziam mal, e chamavam nomes feios.

                                                                  FIM
                                                                  Lálá
                                                            12/Abril/2018