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sábado, 31 de julho de 2021

Amor de Verão e amores a sério (para adolescentes e adultos)



Mulheres falam entre si, de amores de Verão e de relações mais adultas. 

M1 - Dizem que amores de Verão enterram-se na areia. Vivem-se, e esquecem-se. Eu acho que não é bem assim, vivem-se e recordam-se para sempre, mesmo que seja só aqueles poucos dias, se forem intensos, já vale a pena. 

M2 - Quem nunca os teve? 

M3 - A extraterrestre da minha prima. 

(Riem) 

M4 - Se calhar essa também teve, mas não diz. 

M5 - Eu acho que não existem. 

M1 - Porque é que achas que não existem? 

M5 - Acho que é pouco tempo para construir uma relação. 

M2 - Pode ser pouco tempo, mas são coisas que não conseguimos controlar. Eu pelo menos não resisto, se tiver um homem jeitoso a desfilar diante de mim, e se mostrar interesse, eu respondo. 

M4 - O quê? Também nunca os tiveste? 

M5 - Não! 

M6 - Não sei como conseguiste não ter nenhum. 

M7 - Eu quando vou de férias, aproveito tudo o que vem à rede! Tudo a que há direito. 

M5 - E depois quando regressas a casa, se ele é doutra cidade? 

M1 - Agora existem as novas tecnologias que aproximam. 

M5 - Sim, há outras maneiras de contato, mas não é a mesma coisa que o cara a cara, e a proximidade física. 

Todas - Claro. 

M8 - Podes curtir só com alguém, sem grande ligação. 

M2 - Isso! Apesar de eu achar difícil não te envolveres, não sentires nada, e curtires só porque sim. 

M3 - Isso também concordo. 

M4 - Eu acho que não chega a ser Amor...talvez...atração.

M7 - Sim, mas também não tens que ter obrigatoriamente alguma coisa com eles, só porque gostas do aspeto. Alguns também não querem nada, só aproveitar o momento, a oferta para se sentirem muito machos. 

M5 - Depois de acabar, o que fica? 

Todas - Nada. 

M8 - Fica a baixa auto-estima! 

(Todas riem) 

Todas - É verdade. 

M2 - O nojo, no meu caso!

M4 - Sentiste nojo do teu ex? 

M2 - Senti. Foi um amor de Verão que eu imaginava ser para a vida toda. Tanta fantasia minha! 

M7 - Essa é a fantasia de qualquer mulher. 

Todas - É. 

M1 - Às vezes ficam filhos indesejados. 

Todas - Também. 

M2 - Ou alguma IST. 

Todas - Pois. 

M1 - Mas, eu que acabei de chegar de férias, vivi um amor que começou no Verão, sim, este mês...aquele príncipe que desfilou diante de mim, foi com a minha cara, gostou do meu ar, e fez tudo para cativar a minha atenção. Eu não queria que ele percebesse, mas a mim também me agradava ao olho. Não facilitei, mas essa minha defesa durou poucas horas, porque no dia seguinte, na piscina meteu conversa comigo, e eu caí, feita pata, agora estou numa depressão profunda, porque ele falhou com a promessa dele. Que desilusão. Curtimos, de forma escaldante, ele beijou-me como se não houvesse amanhã, e eu deixei-me levar, saímos algumas noites para os bares, e claro, aquela música a rebentar com tudo, dançamos, e fomos descansar para a praia. O que aconteceu na praia, foi fixe, mas só curtimos. Passados uns dias, qual não é o meu espanto… vejo a mulher dele e 4 filhos a chegar, crianças ainda pequenas, lindas como ele, a mulher carregada de coisas, e ele passou por mim, como se não me conhecesse, um seco bom dia, e boa tarde. Eu, claro, como não queria escândalo, fiz o mesmo, mas que vontade de o esganar. Maldito. Disse-me que era solteiro. Senti-me uma sucata, usada, com nojo de mim mesma. 

Todas - A sério? 

M1 - Sim. Aquela explosão de hormonas, apagou logo que vi a mulher dele com os filhos. Que nojo. Apetecia-me chibá-lo, mas tive pena da respetiva e das crianças… porque se fosse eu a esposa dele, com filhos e alguma outra me viesse dizer na fuça que o marido, pai dos 4 filhos andou com outra enquanto a escrava trabalhou, que até teve de ir mais tarde… 

M2 - É só fogo de vista. Mas acontece. Eu na minha adolescência tive uma pequena curte com um rapazito, que já nem me lembro da cara dele, nem do nome, às tantas até já nos cruzamos pelo mesmo sítio e nem nos reconhecemos. 

M3 - Claro, esquecem-se rápido. E os teus pais souberam? 

M2 - Não, a minha geração era muito controlada pelos pais. Sofri em silêncio, chorei às escondidas, disfarcei a minha dor. Nem ficamos com o contato um do outro. Mas ele era giro, ainda éramos talvez pré-adolescentes. 

M4 - Às vezes esses namoricos inocentes deixam boas recordações. 

M6 - Tu tiveste algum? 

M4 - Tive. (ri) Começou com a mesma rapidez que acabou, e não sofri, porque na verdade acho que não sentia nada por ele, era só aquela coisa de...atração. Quisemos experimentar. 

M7 - Deram asas à fantasia. 

M4 - É. Foi isso. Foi giro e tal, mas parecia uma cena de novela. 

M1 - Eu acho que quando escolhes que não queres nada sério, e alguém te dá troco, pensando da mesma maneira, até podem viver momentos escaldantes, mas logo que o fogo apaga, vês que eles ficam na maior, e a mulher às vezes fica mal. 

M2 - Eu acho difícil estares com alguém por quem não sentes nada. 

M6 - Eu também acho, e não seria capaz, mas sei de muita gente que consegue. 

M8 - Depois devem ficar mal emocionalmente. 

Todas - Claro. 

M3 - Acho que alguns adolescentes só curtem para imitar o que veem nas novelas. 

M6 - Claro, e andam com praticamente tudo de fora, reveem a matéria de ciências e biologia, fazem os testes na prática e tudo. 

M5 (a rir) - Está muito bem visto. 

M7 - Para muitos adolescentes, umas curtes de Verão, quando acabam, parece que ficam no fim do mundo, com tanta tristeza. Uns tempos depois já não se passou nada, a não ser, contar aos outros que são muito pretendidos e desejados. 

M8 - Sim, eles acham que sabem muito, mas muito do que pensam saber, vão buscar à Internet, o que não é a melhor forma de aprenderem. 

M2 - Pois, quando passam para a prática, é só asneirada. 

M4 - O pior ainda é praticarem, a achar que sabem muito, e sem proteção! Depois...ai, o que aconteceu... 

Todas - Pois é. 

(Todas riem) 

M1 - É preciso maturidade, e às vezes não existe na idade adulta, quanto mais na adolescência. Mas eu acho bem que os adolescentes vivam essas ilusões, mesmo que não passem de ilusões. Eu na minha geração, também teria vivido se me dessem mais liberdade. 

M3 - Concordo, mas fomos de um extremo ao outro, nesse ponto. 

M5 - Realmente. Eu vejo fazer coisas, agora, que se fosse na nossa geração, levávamos logo uma tareia. 

Todas - Mesmo.

M6 - Havia mais respeito, e mais cuidados. Agora banaliza-se a palavra namoro, e amor, relações, intimidade e outras. 

M7 - Uns tios meus, começaram por ser namorados de Verão, encontravam-se todos os anos, são de cidades vizinhas, mas foi uma coisa mais séria, começaram com uma curte, trocaram contatos e perceberam que era mais que um amor de Verão, passaram a falar-se todos os dias, encontravam-se ao fim de semana, e depois foram para a mesma universidade. Continuaram o namoro. 

Todas - Que máximo. 

M1 - E achas que eles foram fiéis? Hummm...tanto tempo...? 

M5 - Duvido. 

M2 - Eles na altura eram mais fiéis, e não havia tanta oferta. 

Todas - Pois. 

M4 - A minha mãe diz que eu fui feita num amor de Verão, e o meu pai não assumiu, mas depois entenderam-se uns anos mais tarde. 

M3 - Uns primos meus, ficam bué de deprimidos quando voltam de férias, porque conhecem meninas, e travam amizades com elas, mas são de longe, ou são da mesma cidade, mas é como se não fossem. E agora têm outras possibilidades de contato uns com os outros, lá com as redes sociais e telemóveis. 

M8 - Os meus tios gozam à brava, quando os meus primos sofrem depois das férias, por causa de miúdas que conhecem, como se fosse uma relação muito séria, às vezes nem têm coragem de se envolverem com elas, ou trocam uns beijitos e já acham que é para a vida toda. 

(Riem) 

M1 - Coitadinhos, Santa Inocência. Nós na idade deles, não tínhamos hipótese. 

M5 - Eu não tive porque era muito tímida, e acho que também não reparavam em mim, mas lembro-me que as minhas primas tiveram para aí uns amores de Verão, que hoje lembram-se e dizem não perceber o que tinham visto naquilo. 

(Riem) 

M3 - Pois, também já me aconteceu. Mas isso faz parte. 

M2 - Eu acho que com aquela euforia do fogo de vista, nem pensam no que pode vir a acontecer, e passam por cima dos sentimentos. Isso pode ser bom, mas talvez tenha as suas consequências, dependendo da idade. 

M4 - Eu tive várias desilusões antes do meu amor recente. 

M8 - E conseguiste voltar a apaixonar-te? 

M4 - Sim, sem problema. Depois de passar a dor, pensei que ele estava bem, já tinha outra, e eu ia ficar no fundo do poço? Ele não me ia lá buscar. Eu é que tinha de sair de lá, e tinha o mesmo direito de arranjar outra pessoa, melhor do que ele. Este é mesmo melhor do que ele. E não demorei muito a sair da tristeza. Por acaso...começaram os dois no Verão, e acabaram no Verão, o primeiro durou 2 anos, e este, dura há 6 anos. 

M7 - O meu atual foi o meu amor de Verão este ano, dura há algumas semanas. Vamos ver se vou enterrá-lo na areia, no fim do Verão, ou se vou continuar. 

(Todas riem) 

M2 - Hoje nada é certo. 

M7 (ri) - Por isso é que estou a dizer. 

M3 - Mas tiveste algum amor de Verão, na tua adolescência, ou idade adulta? 

M7 - Não. Na adolescência, tive algumas ilusões, mas nunca me envolvi com nenhum, porque eles eram de outras cidades, e na verdade não estavam interessados em grande coisa. Não houve tempo.  Entretanto construí amizade com três deles, de quem gosto muito, e falo com eles muitas vezes. 

M5 - Pois, eu acho que é preciso tempo para construir amizades, ainda mais para construir uma relação de amor, séria, segura, que na prática pode não ser assim tão séria, nem tão segura, mas pelo menos, que haja alguma garantia. 

Todas - Claro. 

M6 - A paixão dura poucos segundos a poucas horas, só serve para aproximar, depois, passa a ter outra intensidade e outros nomes. A atração é a primeira coisa que surge numa relação. 

Todas - Sim. 

(M1 para M5): 

M1 - E o teu primeiro amor, foi de Verão? 

M5 - O meu primeiro amor...a amizade começou no fim do Verão, mas o namoro já começou no Outono. Ele era de outra cidade, mas encontrávamo-nos 1 vez por semana, e falávamo-nos todos os dias, víamo-nos pela web cam, até eu conhecer a família dele, onde passei alguns dias, e ele também veio à minha casa, mas eu passei mais tempo na casa dele, do que ele na minha. 

M1 - O teu namoro durou muito tempo. 

M5 (ri) - E podia ter durado muito mais...ele é que não quis. 

M3 - É porque ele não tinha que ser para ti. 

M6 - Pois, e o que ficou depois disso…? 

M5 - Boa pergunta. Não sei bem! Raiva...tristeza...cheguei a sentir...ódio e nojo...um vazio interior, uma tristeza...senti-me desrealizada e despersonalizada. Tive algum acompanhamento psicológico, que ajudou, mas foi um processo longo. 

M8 - É quase um luto, não é? 

M5 - Sim. 

M2 - Mas já ultrapassaste…? 

M5 - Acho que sim. Nunca mais se volta a ser a mesma pessoa. 

M1 - Não voltaste a ter alguém? 

M5 - Não. Não voltei a apaixonar-me. 

M1 - Mas isso é muito tempo. 

M2 - Eu não vou buscá-los. Sabes que a nossa educação era diferente da de agora. 

Todas - Claro. 

M8 - Então se calhar não fizeste bem esse luto. 

M5 - Não sei. Acho que fiz, mas cansei de amores não correspondidos e de desilusões. Parece que ficou um glaciar dentro de mim. 

(Todas riem) 

M6 - Vais ver que quando menos esperares, ou quando for o momento certo, alguém vai aparecer, e provar-te que há diferentes. 

M5 - Isso era o que toda a gente me dizia, mas eu não acreditava. E acho que agora continuo a não acreditar. Realmente apareceu alguém que provou ser diferente, e que gostou de mim, apareceu quando não esperava, e quando já tinha desistido...mas não sei se vai voltar a aparecer. Acho que não acredito muito nisso. Perdi a magia toda, o romantismo todo, e a capacidade de acreditar. 

M8 - Acho que as relações são difíceis de construir. 

Todas - Claro que sim. 

M1 - E atualmente, todos têm muita pressa em construir relações, como aquelas amizades que duram a vida toda.

M4 - Não sei se ainda existem essas relações. 

M5 - Eu acho que podem existir, mas é mais raro. Dá muito trabalho conhecer alguém em quem acreditas que podes confiar, e há sempre a possibilidade de não seres correspondida. 

M2 - Sem dúvida. 

M8 - Mas isso até nas amizades, as desilusões acontecem. 

Todas - Claro. 

M6 - Mas nas amizades que desiludem acho que é mais fácil ultrapassar do que uma relação a quem te entregas e depois desiludes-te. 

M1 - Acho que a dor deve ser ela por ela. Sim, mas acho que tens razão. 

M7 - É pena. 

Todas - É. 

M8 - Acho que na verdade, são opções que se fazem, e cabe a cada um assumir o sim, ou o não, o querer ou não querer, o envolver-se ou não ou o esperar para ver o que dá. Hoje talvez não estejam dispostos e dispostas a esperar, mas quando corre mal...o que fica...? 

Todas - O nada! 

M1 - O nojo. 

M2 - A raiva. 

M3 - A frustração.  

M4 - A desilusão.

M5 - O vazio e o medo! 

M6 - As lágrimas, e o gelo, até à próxima paixão, atração, ilusão e desilusão. 

M7 - Até ao amor real. 

M8 - Mesmo que não seja para sempre, o amor é sempre amor, e enquanto dura, é bom, aproveita-se, quando acaba, o amor desaparece, e vamos levá-lo para outro lado. 

M1 - Amores de Verão, não precisam de se enterrar na areia, podem ser vividos com segurança, respeito. 

M2 - E não, é não! Mesmo que doa, quando não se é correspondido.

M4 - Amores de Verão podem transformar-se em amizades para a vida. 

M6 - Depende de cada um. 

M8 - Amores de Verão não são posse. 

M5 - Amores de Verão podem ser uma ilusão, ou acabar numa desilusão porque é preciso tempo para ver nascer emoções e sentimentos tão bonitos. 

M3 - Para que sejam memórias inesquecíveis, para a vida. 

M7 - O amor acontece em qualquer altura do ano, e quando é verdadeiro, é melhor que um amor de Verão. 

M1 - Amores de Verão...quem os não teve…? Talvez não fosse de verdade, amor...mas uma fantasia, uma paixoneta na idade da inocência. 

M2 - Amores de Verão, são eternos, na nossa memória. 

Todas - Amores, 

M5 - Amores...de Primavera, Verão, Outono e Inverno.  

M8 - Amores quando acontecem. 


Debate: 

M6 - O que é para vocês, cada um de vocês, um amor de Verão, e um amor verdadeiro? 


                                                                FIM 

                                                            Lara Rocha 

                                                           30/Julho/2021 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Monólogo: como é bonito um rosto natural

         Como é bonito um rosto que se expressa em toda a sua plenitude, natureza e clareza. Como é bonito um rosto que se deixa ler e se mostra ao outro, aqueles rostos que revelam a sua verdadeira essência, o acontece no interior de cada um de nós, reforçada pelas curvinhas próximas da boca e nos cantos dos olhos. 

        As rugas que tanta gente quer esconder, parecem rastos de estrelas cadentes, brilhantes quando sorrimos com a alma, revelada pela boca toda aberta. Como é lindo esse sorriso e riso que ri connosco, que chora connosco, que sofre connosco, que se angustia, sente raiva, ódio, tristeza, medo, terror. 

        As rugas que são cometas quando estamos mais tristes ou calados, e acompanham a expressão do que sentimos ou do que queremos dizer aos outros. É por isso que se chamam rugas de expressão, e são lindas! 

        Se nascemos com um rosto e temos pele, ela vai mudando, como nós seres humanos alteramos a nossa maneira de ser de acordo com as nossas emoções mais ou menos (in) consciente, as vivências e experiências! 

        Fomos feitos com emoções, nascemos a expressar emoções de forma natural e espontânea, completa, total, pura, com o corpo todo, e todos adoramos ver bebés expressar as suas emoções com todo o corpo. 

        Mas porque há tanta gente que quer transformar toda a natureza e beleza do que são, de como são, o que sentem, em coisas falsas, retas, duras, frias, sem expressão? Para quê sacrificar a pele que nos protege os órgãos internos e que nos permite viver, sentir a magia do toque, do calor dos abraços, dos beijos, das mãos, só porque ganha rugas? 

        Se ela ganha rugas tem como objetivo ajudar-nos a ser mais autênticos, porque reforçam e tornam mais claro o que dizemos com, e sem palavras que às vezes dizem muito mais! Para quê contrariar o que já nasceu connosco, e continua connosco, de formas diferentes? 

        À medida que crescemos, a nossa pele também cresce, acompanha-nos, diferencia-nos uns dos outros, aproxima-nos e afasta-nos...para quê esconder o que nos torna humanos? Claro que a pele muda, mas nem por isso deixa de ser capaz de transmitir toda a nossa beleza interior, tudo o que somos, tudo o que sentimos, a nossa pele e o nosso rosto também sentem. 

        Como é bonito um rosto natural que deixa transparecer tudo o que somos e tudo o que podemos ser, dar aos outros, estar com os outros! 

                                                                            FIM 

                                                                        Lara Rocha 

                                                                        7/Julho/2021