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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

As quatro marionetas

      

 Era uma vez quatro marionetas. Uma feita de chocolate, com os fios de ovos moles, outra feita de feijões, de várias qualidades e por isso, cores. Outra era feita de lã, e a outra de brilhantes.
A marioneta de chocolate com fios de ovos moles, foi oferecida a uma menina que não podia comer doces. Estava muito refeitinha, e sua Sra. Dra, tinha-a proibido de comer chocolate e ovos moles, pelo menos durante algum tempo, até ela baixar o seu peso.
         A menina estava sempre desejosa para lhe dar uma bela trinca, e queria comê-la de uma só vez, sem sobrar um único resto de chocolate e de ovos. Como a menina não podia comê-la, estava bem conservada e inteira, no frigorífico. Sempre que a menina abria o frigorífico olhava para ela e dizia:
- Queria tanto trincar-te...porque é que eu tinha de ser gorda! Que tristeza!
         E voltava a fechar o frigorífico.
         A marioneta que era feita de feijões coloridos, vivia pendurada por fios de cana de pesca, na porta do quarto de um menino a quem tinham oferecido. O menino adorava ouvir o som dos feijões a tocar uns nos outros, e no chão. As cores dos feijões era alegres: brancos, vermelhos claros, vermelhos escuros, pretos, castanhos claros e outros, castanhos escuros. O menino brincava muito com a sua marioneta feita de feijões.
         A marioneta feita de lã, foi oferecida a uma senhora solitária, com muita idade, embora tivesse muitos netos e filhos, mas estavam longe, e ela estava divorciada do marido há muitos anos. A senhora gostou tanto da marioneta que ficou com pena dela, não a queria pendurar e disse:
- Óh, linda marioneta, gosto tanto de ti, tu és tão bonita e tão fofa, tão colorida! Não mereces ficar aí pendurada. Mereces estar à minha beira, ser a minha companheira, e aquecer-me. Vais ser tratada como uma neta, ou uma filha.
         Pegou na tesoura de costura, e cortou os fios da marioneta, carinhosamente, com um grande sorriso. Olhou para ela, abraçou-a, como se a marioneta fosse mesmo uma pessoa. Abriu um grande sorriso e sentou-a à sua beira, no sofá, cobrindo-se a cobrindo a sua nova companhia.
         A marioneta de brilhantes, foi a realização do desejo de uma menina muito rica, demasiado vaidosa, caprichosa e mimada. Ficou eufórica com a beleza de tantos brilhantes, mas tratava-a apenas como uma boneca para enfeitar. Esta marioneta não fez a sua felicidade.
         Cada marioneta cumpriu a sua função, de tornar os seus donos felizes. Mas será que todas conseguiram mesmo...?

                                                              FIM
                                                              Lálá
                                                          20/1/2020  
    

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

REENCONTRO - Para adolescentes e adultos (romance)


REENCONTRO
(Uma rapariga visita um teatro, um rapaz entra silenciosamente e vai para a porta onde se entra para o palco)


ELA – Sim! Foi mesmo nesta sala…os meus olhos perdem-se aqui…onde, há uns catorze anos, ou mais…nos voltamos a ver…depois de nos termos visto antes no circo que havia perto das piscinas da cidade. Nesse circo…apenas os nossos olhos se fixaram, nem nos conhecíamos, mas a tua beleza era inesquecível, os teus olhos…de um verde especial, misterioso, diferente…a minha mente não te apagou mais…e nos dias seguintes procurei-te por entre a multidão que passava, principalmente os jovens da nossa idade. Era procurar uma agulha num palheiro, no fundo, eu sabia, mas podia acontecer! Se estavas no Circo…serias da cidade. Em nenhum dia nos vimos, mas o destino voltou a juntar-nos…talvez uns meses mais tarde! Não no circo…nem na cidade…mas no Teatro…neste Teatro monumental, lindo…nesta sala…onde nos sentimos minúsculos. E foi em cima do palco que o meu coração te reconheceu! Que engraçado, a tua cara não me era estranha, e tu disseste o mesmo da minha, mas não sabíamos de onde…só mais tarde é que me lembrei de onde te tinha visto. Quando os nossos olhos se cruzaram…neste palco imenso…onde me sentia minúscula, os teus olhos verdes tocaram o meu coração, e senti-me enorme, com aquela troca de olhares. Senti o tocar dos teus olhos, pois no meu coração formou-se um terramoto de emoções, que rapidamente dilataram todo o meu corpo. O palco ganhou uma luz intensa, forte…tanto que fez os meus olhos chorar…fiquei encandeada, não sabia se era da luz pendurada, que foi usada para o exercício…se era a luz dos teus olhos...que acenderam os meus, ou se era a luz da minha paixão por ti que tinha acabado de nascer. A tua voz…atravessava-me…era bem projectada, potente, intensa…e ao mesmo tempo meiga e serena…que me arrepiava e fazia o meu corpo arder! Trocamos algumas palavras e olhares mas tu deves ter percebido que tinhas mexido comigo, e as minhas amigas que queriam aproximar-nos, estragaram tudo…foram-te dizer o que eu sentia por ti, e como não sentias o mesmo…de repente tornaste-te frio…distante…e o meu coração ficou esmigalhado. As noites tornaram-se infindáveis para mim…e só chorava! De dia…usava máscaras para fingir que estava tudo bem, que não precisava de ti para nada! E de facto…não! Só queria a tua amizade, mesmo sentindo o que sentia…até porque podia ser apenas um amor de teatro, como os amores de verão! Nem sequer chorava por não gostares de mim…chorava por não te teres dado ao trabalho de te aproximares de mim, e de me conheceres! Deixamos de nos encontrar, porque fomos de férias…e com o calor do Verão, as lágrimas secaram. Demorou…mas passou! Tal como os amores de Verão…tu foste para mim, um amor de teatro. O teatro entrou em obras, e nunca mais nos vimos…talvez já nem te lembres de mim…tu seguiste o teu caminho, e eu segui o meu…tu deixaste o teatro, eu continuei noutro teatro…e a minha paixão por ti…ficou soterrada no meu coração…no meu coração e no pó das obras, quando o palco foi deitado abaixo! Está ainda mais bonito, este palco e esta sala…transformada…mas ao entrar aqui…e ao olhar para o palco, ainda me lembro dos teus olhos verdes…sinto a tua presença…e imagino um bailado com nós os dois…onde os nossos corpos se encontravam, e fundiam um no outro, embalados pela música, entregues à dança, cheia de sensualidade…tudo não passa de um sonho…Não sei o que aconteceria se nos reencontrássemos agora. A paixão…renasceria dos escombros? Talvez não! Nem sei se tudo não passava de uma ilusão, ou atracção…mas muito forte. Talvez não acontecesse nada, ou talvez sim…estaremos mais maduros, pensaremos de forma diferente, no que se refere a relações…pelo menos eu! Gostava de ver numa bola de cristal como estás, o que estás a fazer…talvez…já sejas casado e com filhos…ou…talvez não! Uma coisa é certa: depois da paixão, e tal como este espaço…também eu entrei em obras…o meu coração ficou fechado, e aos poucos foi-se restaurando; depois de desarrumado e desmoronado pelo terramoto do desgosto de amor não correspondido. E tudo se transformou num sonho…numa recordação enevoada. Até um dia destes! Quem sabe…ou talvez não…se tiver saudades tuas procurar-te-ei nas cinzas, dos amores não correspondidos…do passado…no armazém onde estão as recordações e os sonhos realizados e não realizados…que são desejos. Quero-te lá, e tenho-te lá…pois serves de inspiração quando preciso, e ajudaste-me a crescer, apesar da dor. A culpa não foi tua…nem minha. Hoje sei…apenas porque não tínhamos de ser um do outro…só tínhamos de nos encontrar, para eu reparar nos teus olhos! E nada mais…Mas só para isso! Que sejas muito feliz! Hoje sei…a minha verdadeira paixão era o Teatro, tu foste apenas o pretexto para eu entrar e conhecer esse mundo que amo.
(Aparece o rapaz, sorridente, os dois olham-se fixamente)
ELE (sorri) – Olá. Lembras-te de mim?
ELA (sorri) – Miguel…?
ELE (sorri) – Sim, sou eu Luciana. Estou aqui, mesmo diante de ti, no palco onde nos conhecemos! Não precisas de me procurar nas cinzas dos amores não correspondidos do passado, no armazém dos sonhos…! Estou aqui mesmo. Era por isso que sentias a minha presença.
ELA (sorri) – Uau! Estava mesmo a pensar em ti…e a lembrar-me de quando nos conhecemos.
ELE (sorri) – Sim, eu ouvi. Já foi há muito tempo, mas lembro-me muito bem!
ELA – De mim, ou do teatro?
ELE – De ti e do teatro!
ELA – Que engraçado…e eu pensava que nem sequer reparavas em mim…quanto mais, ao fim de tanto tempo…!
ELE – Claro que reparava em ti…não da maneira que tu querias, mas reparava. É impossível não reparar em ti.
ELA (sorri) – Isso é bom, ou é mau?
ELE (ri) – É bom, claro! (p.c) Estás muito diferente…estás…uma linda mulher…! Mas o teu olhar continua mais do mesmo!
ELA – Como assim?
ELE (sorri) – Brilhante, inocente, meigo…e assustado…um pouco triste…
ELA – Brilhante…? Isso deve ser da luz…!
ELE – Sim, é a luz dos teus olhos.
ELA – Ou é o reflexo dos teus olhos…consegues ver-te ao espelho, nos meus olhos? Tu és engraçado. Achas que eu parei no tempo. Que não evolui, continuo aquela coisa que conheceste há uma série de anos! 
ELE - Não. Continuas na mesma. 
ELA - Fisicamente, mais gorda, claro, com a idade, mas não sou aquela que tu conheceste. Não chegaste a conhecer, fugias de mim a mil pés. 
ELE - Não digas isso. 
ELA - Porquê? Não é verdade? 
ELE - Não. 
ELA - Claro...
ELE - É claro, sim! Não fugia de ti... 
ELA - É...só me ignoravas. E não correspondias. 
ELE (ri) - Eu era tímido, e ainda sou. 
ELA - E eu era extrovertida, queres ver...? 
ELE - Eras mais que eu. 
ELA - Nunca quiseste saber de mim. 
ELE - Estávamos na Adolescência.
ELA - E...? 
ELE - Na adolescência achas que queríamos compromissos? Mesmo que quiséssemos era às escondidas. 
ELA (ri) - Tu e eu nem às escondidas. 
ELE - Tu eras assim tão apaixonada por mim?
ELA - Naaaaaaa... quem fala em paixão... 
ELE (ri) - Sei. Mas esqueceste-me? 
ELA - Ainda tenho alguma memória. 
(Os dois riem) 
ELE - Eu também. Mas esqueceste o que sentias por mim.
ELA - Claro. Que remédio. Não sofri pouco para te esquecer, mas o ódio acabou por falar mais alto. 
ELE - Ódio? 
ELA - Sim. 
ELE - Usas essa palavra? 
ELA - Com certeza. Em certos casos, e em relação a certas pessoas ou coisas sim. E tu, não? É uma palavra como outra qualquer, faz parte de nós... se sentimos isso, porque não havemos de dizer?
ELE - Não. 
ELA - De certeza que também o sentes, mas não o confessas. 
ELE – Não…vejo uma mulher…apaixonada, sensível, delicada.
ELA – Sim, por algumas coisas…
ELE (sorri) - Porque é que estás a mudar de assunto? 
ELA - Não estou a mudar de assunto! 
ELE – Não! Leio a tua alma, nos teus espelhos.
ELA – Tens uns olhos misteriosos!
ELE – Misteriosos…? Não…! Acho que os meus olhos mostram o que sou.
(Aproxima-se mais, e dá a mão à Luciana, ela tenta recuar a medo)
ELA - É melhor ficarmos por aqui... regressar à terra, lembrarmo-nos que isto é só um momento de recordação... nostalgia... um bom momento, uma cena de um filme, mas não é a realidade... 
ELE - Espera! Por favor...
ELA - Espero o quê? Perdi a paciência. 
ELE - Vamos conversar mais um pouco. Está tão bom este ambiente...  
(Os dois sentam-se no chão, olham em volta) Esta sala é mágica. 
ELA (sorri) - Sempre foi. 
ELE (sorri) - É linda! Está cheia de histórias... de amores, de paixões, de risos, lágrimas, alegrias, tristezas, personagens! 
ELA (sorri) - É. 
ELE - Eu adorava teatro. 
ELA - Eu também. Ainda continuei noutra companhia. 
ELE (sorri) - A sério? 
ELA - Sim. 
ELE - Tiveste outra paixão como a minha? 
ELA - Não. Felizmente! 
ELE - Falas com um gelo...
ELA - É uma defesa! 
ELE - Uma máscara? 
ELA - Não. É real. Estou mesmo um cubo de gelo. 
ELE - Porquê? 
ELA - Porque cansei de desilusões. 
ELE - Desististe do amor? 
ELA - Sim, desisti! 
ELE - Porquê? 
ELA - Porque ele nunca apareceu. 
ELE - Ainda pode aparecer. 
ELA - Para mim não! 
ELE - Ei, estamos no teatro, mas não sejas tão dramática. 
ELA - Não estou a ser dramática! Estou só a ser realista. 
ELE - Não! Isso não é a realidade...eu também não fui correspondido, muitas vezes, nas minhas paixões, mas mesmo assim, ainda espero. Sei que ele vai aparecer. 
ELA - Gostava de pensar isso, e de acreditar nisso, mas acho que não. 
ELE - Porque não? O amor existe, o amor acontece... 
ELA - Para não sermos correspondidos...mais vale não acontecer. 
ELE - Que exagero! Achas que podemos controlar o que sentimos?
ELA - Podemos. O meu coração está congelado há muito tempo, e fui eu que quis que ele ficasse assim. 
ELE - E ele obedece-te? 
ELA (ri) - Que remédio tem ele. Claro que obedece. 
ELE - Porque é que fazes essa maldade contigo mesma?
ELA - Maldade era se eu não o congelasse, e continuasse a apaixonar-me. 
ELE - Nem pareces tu.
ELA - Sou eu, sou. 
ELE - Não és a rapariga que conheci.
ELA - Sou, e não sou. 
ELE - Como assim? 
ELA - Nunca mais fui a mesma. 
ELE - E sabes porquê? 
ELA - Sei. Depois de tanto desgosto. 
(Os dois olham-se fixamente)
ELA - Porque é que estás a olhar assim para mim? 
ELE (sorri) – Eu não mordo…só quero ver o teu olhar, mais de perto.
ELA – O que tem o meu olhar?
ELE – Ele diz muito.
ELA – Mas se queres saber alguma coisa de mim, perguntas-me directamente…não precisas de olhar para os meus olhos.
ELE (ri) – As palavras voam…misturam-se com o ar…os olhos não! Os olhos são sinceros. Tens uns olhos muito bonitos.
ELA (sorri) – Obrigada.
ELE – Nunca tinha reparado! 
ELA (ri) - Que novidade... áááááhhh... 
(Ele ri-se)
ELE - Como o tempo passa, e como nós mudamos! 
ELA - É mesmo... mas só descobriste isso agora? 
ELE (ri) - Não. Nunca mais nos encontramos.
ELA – Pois não…até hoje.
ELA – Já estavas aí há muito tempo?
ELE – Sim, algum. Promete que não vais fechar o teu coração...que vais descongelá-lo!  
ELA - Não prometo! Tenho a certeza que não vou cumprir. 
ELE - Não faças isso! Isso faz-te mal! Não fujas! (p.c) Não tenhas medo de mim. (p.c) Vamos recuperar o tempo perdido.
ELA – Recuperar o tempo perdido, como? Recuperar o quê?
ELE – Recuperar o tempo que não aproveitei para te conhecer em profundidade.
ELA (ri) – Não aproveitaste, azar o teu.
ELE – Agora achas que é tarde?
ELA – Sim, muito tarde.
ELE – Porquê?
ELA – Porque…nunca mais nos encontramos, e nunca tivemos nada um com o outro.
ELE – Mas gostavas de ter tido, não gostavas?
ELA – Na altura sim, há catorze ou quinze anos…mas agora é tarde.Tu não quiseste, não ia ficar à tua espera! 
(Ela levanta-se, e vira costas, passeia pelo palco)
ELE – Por favor…dá-me essa oportunidade! 
ELA - Não tenho nada a ver com isso. Nem sei do que estás a falar...o que aconteceu aqui passou, foi só um conto, uma fantasia adolescente, como muitas outras.
(Miguel levanta-se, agarra na mão da Luciana, os dois olham-se): 
ELE - Não faças isso. Estás com um olhar triste... 
ELA - São...apenas...saudades! Mais nada.
ELE - E a desilusão de eu não te ter correspondido! Eu sei...ficaste magoada. É normal. 
ELA - Já passou. Não há mais nada a fazer. Nunca mais pensei em ti, depois de ter desistido. 
ELE - Ai... não gosto de te ouvir falar assim. Tira essa máscara de gelo! 
ELA - Não é máscara nenhuma...essa sou eu! Outra, que não conheceste, que existiu depois de tu não me corresponderes. 
ELE - E porque é que continuas com essa...que dizes já não existir?
ELA - Ela às vezes gosta de reaparecer. 
ELE - Sofreu tanto, para que é que volta?
ELA - Volta, para me lembrar e para não repetir o mesmo erro. 
ELE - Qual erro?
ELA - De me apaixonar outra vez. 
ELE - É sempre possível. Deixa acontecer.
ELA - Não quero! 
ELE - Porque não? 
ELA - Porque não quero sofrer outra vez. 
ELE - Vá lá! Não sejas assim. Derrete esse gelo. Dá-me uma oportunidade... porque é que me vais bloquear? 
ELA - Cansei. 
ELE - Mas já descansaste demasiado... não? 
ELA - Não.
(Os dois olham-se fixamente). 
ELE - Aceitas um abraço? 
ELA - Um abraço...? Ok..
(Abraçam-se, Luciana fecha os olhos e segura as lágrimas. Miguel beija Luciana suavemente)
ELE (sorri) – Por favor…dá-me essa oportunidade! Os teus olhos estão a brilhar.
ELA – Já te disse que é da luz do teatro! 
(Riem
ELE (ri) - É! Deve ser... da tua luz! 
ELA (ri) - Acho que estamos a pensar que somos duas personagens... 
(Os dois riem) 
ELE (a sorrir) - Porquê? Por estarmos em cima do palco? 
ELA (ri) - É. Será que está alguém a ver-nos? 
ELE (sorri) - Não. Estamos em ensaios... 
(Ele acaricia Luciana no rosto, olham-se fixamente, sorriem e continuam abraçados) 
ELE - Sentes-te bem? 
ELA - Sim. Mas tenho muito medo!
ELE (sorri) – Eu sei, mas vou tirar-te o medo. Confia em mim.
ELA – Mas porque te lembraste agora?
ELE – Não sei explicar, mas ultimamente tenho pensado muito em ti…
ELA – Eu também já me tinha perguntado, naqueles devaneios leves, longínquos... o que seria feito de ti. Nós mudamos muito…amadurecemos.
ELE – Sim, acho que foi isso que aconteceu também comigo…Senti vontade e curiosidade de te desvendar! Percebi que há uma verdadeira mulher dentro de ti, para descobrir e encontrar em cada milímetro da tua pele.
ELA (sorri) – Isso é verdade! Desculpa desiludir-te...Mas vais ter paciência para esperar e descobrir-me aos milímetros?
ELE (sorri) – Claro que sim…se não, não estaria aqui. Por favor…deixa-me transformar o que pareceu ser um amor de Verão…Um amor adolescente, de teatro, num amor real, para sempre!
ELA (sorri) – Bem…se queres tentar…tenta! Não prometo nada.
ELE (sorri) – Eu sei que vais cumprir. Os teus olhos prometem! Isso é o que me importa.
ELA (ri) – Chibos...! 
ELE (ri) - Chibos...? Quem? 
ELA (ri) - Os meus olhos. Traidores. 
ELE (ri) - Eles são sinceros. Eles sabem. Dás-me uma oportunidade?
ELA (sorri) – Huummm…Acho que vou ter de perguntar ao palco, aos fantasmas do teatro...
ELE (ri) - Deixa os fantasmas em paz! Na...vida...deles. Eu sei que és corajosa…mas achas que tens medo! 
ELA - Medo dos fantasmas...? 
ELE (ri) - É... tu sabes do que estou a falar.  
ELA (sorri) – Sim, é verdade! Tenho mesmo medo.
ELE – O medo não existe…e se existir, eu mando-o embora.
ELA (sorri) – Está bem.
ELE – Vamos concretizar todos os sonhos que tiveste comigo, e que quiseres…
ELA (sorri) – Está bem!
(Ele ajoelha-se)
ELE – Luciana…aceitas namorar comigo?
(Luciana abre um grande sorriso, ri)
ELA (a sorrir) – Aceito! Mas por favor…trata bem o meu coração!
ELE (sorri) – Deixa comigo! As nossas faíscas reacenderam…ao fim de quinze anos! Eu nunca te disse, porque pensei que era ilusão, mas também sempre tive um fraquinho por ti…Eu sei que podíamos ter tentado, mas ainda vamos a tempo de recuperar todo o tempo perdido, não achas?
ELA (sorri) – Sim! Parece que voltei a ser adolescente, por momentos. 
(Os dois riem)
ELE (sorri) - A história que vamos escrever juntos... a nossa história, vai ser a peça de teatro mais bonita, do palco das nossas vidas! Amo-te! 
(Os dois abraçam-se, trocam carinhos, beijos intensos e apaixonados, sorrisos, e desaparecem abraçados entre o fumo do palco)

FIM.
Lara Rocha
(27/Dezembro/2013)