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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

ALDEIA ALGODÃO


      
Foto de Lara Rocha 
      Era uma vez muitos bonecos feitos de algodão que viviam na atmosfera, onde vemos as nuvens. Um dos seus passatempos preferidos era apanhar os balões que vinham da terra, aqueles que fugiam das mãos das crianças.

Enquanto as crianças choravam desconsoladas, por terem ficado sem os balões, a bonecada lá de cima ficava eufórica. Sempre que chegavam balões todos da mesma cor, ou coloridos, saltavam felizes, aos gritinhos.

Agarravam nos balões, esvaziavam-nos e metiam-nos numa máquina especial, que os derretia, para serem transformados em roupas, brinquedos, camas, móveis e outros objetos. Quando ganhavam uma nova função, os bonecos distribuíam-nos pelas famílias que mais precisavam, ficando com o resto e algumas coisas para eles também.

Trabalhavam muitos bonecos de algodão nessa fábrica, e nas poucas horas livres que tinham fora de trabalho estavam com a família. Outras vezes, faziam torneios desportivos com esferas muito leves, feitas de pedacinhos de nuvens que sobravam das misturas com os balões.

Umas esferas eram do tamanho de berlindes, muito coloridas, com padrões e desenhos que pareciam desenhadas à mão, mas faziam parte dos balões transformados. Outras eram enormes, muito redondinhas e também cheias de cores misturadas.

Eram centenas de esferas tão fofas, tão macias, tão leves e confortáveis que muitas quase pareciam de veludo. Uns bonecos atiravam-nas uns para os outros, outros jogavam volley, outros, futebol, com publico que aplaudia, vibrava, ria, e puxava pelos jogadores. Outros grupos jogavam basquetebol, com as bolas maiores, e o publico delirava.   

Quando não havia jogo, e estava muito calor, os bonecos mergulhavam em piscinas de água que chegava da terra pela evaporação, verdadeiros jácusis, com bolhas de água a borbulhar. Era uma grande animação.

Os mais velhinhos gostavam de ficar noutra piscina onde se sentavam em escadinhas de nuvens, ou em tapetes feitos do mesmo material no chão da piscina. Conversavam, riam e massajavam o corpo com jatos de água, uns mais fortes, outros mais suaves, podiam escolher entre água fria, água morna e água quente.

Nesta aldeia também havia parques com mesas, cadeiras, e lagos ao ar livre, onde podiam flutuar, caminhar, descansar, ouvir o silencio e o som do vento, voar em pássaros e asas de águias, ou em nuvens.

Faziam piqueniques e festas tradicionais, viam a terra por um miradouro, o mar, os rios, as casas, as estradas, os carros, as praias e o sol.

Um dos momentos que eles mais gostavam era deitar-se nas soleiras das suas casas, ou nos terraços, e ver as estrelas e a lua a desfilar… o outro momento em que todos os habitantes se reuniam e sentiam paz…quase um momento de meditação ou oração silenciosa coletiva, em que ninguém falava, era o nascer e o pôr-do-sol, muito aplaudido quando aparecia e quando desaparecia.

Ficavam tão encantados que não se atreviam a interromper aquele momento tão mágico. No final, sorriam, e como todos se conheciam, trocavam abraços e recolhiam. Tudo era leve, desde os habitantes, até todo o meio onde viviam.

Já imaginaram como seria bom se o nosso lindo planeta terra fosse mais vezes assim, com esta aldeia? E se todos tivéssemos momentos em que parávamos a ver o sol nascer e pôr-se, em silêncio?

Imaginem…!



                                               FIM

                                               Lálá

                                               25/Setembro/2018




quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O fio dourado

         
          Era uma vez um grupo de anjinhos que brincava com um fio cheio de estrelas, que atiravam uns para os outros alegremente, enrolavam-se no fio e trocavam abraços quando puxavam todos ao mesmo tempo. Na terra viam-se estrelas cadentes, e nunca se descobriu que eram os anjos a brincar com esse fio. Só sabiam que era lindo!
          Cantavam doces melodias, com uma voz tão suave que pareciam acordes de violinos, ou sininhos a tocar. Dançavam, deixando-se levar com a brisa suave e o vento, sem pressa, leves, luminosos, transparentes, mas vestidos de estrelas cintilantes, para não serem vistos na terra.
          No meio de tanta doçura, vivia um planeta muito invejoso, que estava sempre triste, amuado, zangado, irritado, sem motivo, e choramingava, não suportava a ideia dos anjos conseguirem ser tão felizes com tão pouco, e ainda menos, vê-los tão divertidos, tão amigos.
          Sempre que via os anjos, quase explodia de raiva, por estes não lhe ligarem...não o faziam por maldade, mas apenas sabiam que o planeta não gostava deles, nem era seu amigo, por isso, deixavam-no sossegado. Sabiam muito bem, como era invejoso de os ver felizes, mas não ligavam.
          O planeta fartou-se de ser ignorado, e por estar tão triste, decidiu roubar o fio com que os anjos brincavam. Um fio que afinal era dourado, e quando não estava a ser usado, não tinha estrelas.
- Mas o que é que este maldito fio tem de especial, que os diverte tanto? - Perguntou o planeta  enquanto olhava atentamente para o fio. Dava voltas e mais voltas ao fio, e não via nada que fosse divertido, naquele fio. Enrolou-o muito zangado e atirou-o para o chão, ficando outra vez amuado.
Chegou a altura de brincar outra vez, e os anjos ficaram muito surpresos por não ver o fio.
- Mas... onde está o fio?
- Ontem deixamo-lo aqui e hoje não está!
- Será que o levamos para outro sítio, e nem nos lembramos...?
- Hummm...acho que não!
- Não! Eu tenho a certeza que o deixamos aqui.
- Vamos procurar melhor.
- Acho que ninguém vinha buscá-lo...!
- Também acho que não.
Começaram a procurar, e de repente passa uma constelação de estrelas, em forma de seta.
- Precisam de ajuda, amigos...? - pergunta a estrela que ia à frente
- Estamos à procura do nosso brinquedo...
- Um fio dourado com estrelas!
- Ontem deixamo-lo aqui, como sempre, mas hoje não está!
- Vamos procurar por outros sítios.
           As estrelas da constelação, já o descobriram, e discretamente dão indicação aos anjos que o fio está nas mãos do planeta invejoso. Os anjos perceberam o sinal, agradeceram e foram ter com o planeta. Como quem não sabe de nada, para ver onde chegava o descaramento dele, perguntam:
- Olá vizinho, estamos à procura de um brinquedo, tu por acaso não o viste aí? Ou...em algum sítio?
O planeta fica corado, todo atrapalhado e a gaguejar:
- Eu...na...não, não...não vi tal coisa.
- Hummm... - dizem os anjos em coro
- Está bem!
- Não faz mal.
- Se por acaso vires, avisa-nos, por favor... está bem?
- Si...sim, claro! Não se preocupem. Boa sorte. Espero que os encontrem rápido.
- Obrigada. - Dizem todos
Quando os anjos viram costas, e quase saem o planeta sente-se mal, e grita:
- Esperem... por favor.
Os anjos param, e viram-se para ele, devagar:
- Diz...?
- Óóóhhhh...que vergonha!
- Nós? - Perguntam os anjos surpresos
- Não. Eu. - Diz o planeta, muito envergonhado
- Então? - perguntam todos
- O que se passa?
- É que... prometem que não ficam zangados, nem me fazem mal?
Os anjos levantam a pálpebra e olham para ele, surpresos:
- Prometemos!- respondem todos
- Pareces preocupado...
- Estou envergonhado pelo que fiz.
- O que fizeste?
- Bem. Nem sei por onde começar? - Os anjos olham para ele a sorrir.- Vocês estão à procura do brinquedo não é?
- Sim.Viste-o? - perguntam os anjos
- Vi...quer dizer...eu sei...ups...bem, eu...sou eu que tenho o vosso brinquedo! Já falei! Ufa! Ai...desculpem, eu sei que não devia ter feito isso, mas fiz porque queria perceber o que vos faz tão felizes, e tão divertidos, eu não consigo. Sou solitário, não tenho nada que me faz feliz. Pensei que o vosso brinquedo fosse mágico, e me fizesse feliz, mas não fez. Podem levá-lo. Desculpem-me!
Os anjos dão uma gargalhada.
- Foi muito mau o que eu fiz! - Diz o planeta
- Não! - Dizem todos os anjos
- Quer dizer, roubaste...ou...tentaste roubar o nosso brinquedo, isso é mau, claro!
- Não se faz, mas sabemos que na verdade, tu não fizeste por mal.
- Só quiseste tentar ser feliz.
- E queria que vocês fossem meus amigos, mas não gostam de mim. - Acrescenta o planeta
- Nós gostamos de ti, mas não te chamávamos porque achávamos que tu é que não gostavas de nós, que tinhas inveja!
- E tinha, confesso que sim! Outra coisa má, e que me deixa com vergonha.
- Não te preocupes, nós compreendemos!
- Podias ter arranjado outra maneira de seres nosso amigo, de brincar connosco, nós nunca te poríamos de lado.
- A sério...? - pergunta o planeta surpreso
- Claro. - respondem todos
- Não era a roubar o nosso brinquedo que ias conseguir ser nosso amigo, mas como disseste a verdade, e como não fizeste por mal, nós convidamos-te a brincares connosco, se quiseres, porque também não és obrigado a brincar connosco. - diz um anjo
- Eu sei...desculpem!
- Não é o brinquedo que tem magia, e que nos faz felizes, sabes, nós é que já somos naturalmente felizes, porque estamos aqui, rodeados por quem amamos, com amigos, inventamos coisas para brincar uns com os outros, sentimos a natureza, somos livres.
- Há muito mais que nos faz feliz, o brinquedo é só um auxiliar.
- Mas tudo parte de nós, do nosso coração, da nossa luz.
- Tu também não precisas de ter inveja de nós, também podes ser muito feliz! Nem precisas do nosso brinquedo para seres feliz... queres experimentar? Anda connosco.
           O planeta sorri, junta-se aos anjos, devolve o fio dourado, e fazem jogos coletivos, brincam com o planeta, atiram o fio dourado uns para os outros, entrelaçam-se, saltam, dão cambalhotas, muitas gargalhadas, e passeios.
          O planeta compreendeu tudo o que os anjos disseram sobre a felicidade, e experimentou que era verdade o que diziam, pois todo o carinho e todos os sorrisos, abraços e brincadeiras que partilhou com eles, encheram-no de alegria, como nunca antes visto. Era um novo planeta.
          Os anjos acolheram-no e trataram-no como mais um elementos da família, alguém que brincava e que se divertia muito com eles, com quem trocavam abraços.
          O fio dourado foi só um pretexto para os aproximar, mas o principal, o que realmente os deixava felizes, era a amizade que os unia, a admiração, o carinho. Essas são as estrelas que decoram os fios dourados que nos unem uns aos outros, não é? 

FIM 
Lálá 
20/Setembro/2018

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A pena, o dente de leão e a joaninha


A pena, o dente de leão e a joaninha

foto de Lara Rocha 

                Era uma vez uma joaninha que vivia num cogumelo com a sua família. Tinham em casa um dente de leão, que era o seu animal de estimação muito dedicado, meigo, companheiro, educado, e adorava ajudar. Recebia muita atenção e mimos.

                Uma tarde foram passeá-lo, estava nublado, frio, e preparava-se para chover, mesmo assim saíram um pouco de casa. Uma pena cai aos pés da joaninha, cansada. Todos param a olhar para ela.

- Uma pena, aqui? – exclamam todos

- Não é nada comum! – repara a mãe joana

- É comum, sim, vocês é que andam sempre distraídos, sempre a pensar noutras coisas, mas sempre que eu saio, vejo penas aos montes. – diz o dente de leão

- Nunca me chamaste para ver? – reclama a joaninha mais pequena

- Pensei que vias como eu, mas nunca falamos sobre isso…temos sempre outros assuntos. – explica o dente de leão

- Pois, tens razão. – concorda a joaninha

- Foi trazida pelo vento, ora…qual é o espanto? – pergunta o pai

- Que insensível. Ela pode trazer uma mensagem importante. – diz a mãe joana 

- Não acredito que acreditas nessas coisas… - resmunga o pai

- Sim, acredito, e faz favor de me respeitar… obrigada. – diz a mãe

- Deve ser uma armadilha de um animal invejoso ou da feiticeira – comenta outra joaninha pequena

- Ai, que nuvem negra! – comenta o dente de leão

- Onde? – perguntam todos

- Ali, e aqui, nesta cabeça às pintas! – diz o dente de leão

                Dão uma gargalhada geral.

- Desculpem estragar a vossa boa disposição… mas… o que tenho para vos dizer é muito sério. – interrompe a pena

- Eu não disse? – Afirma a mãe joana

- O que é? – perguntam todos, agora sérios

- Venho por parte do Luzerninha!

- O Luzerninha…? – perguntam todos em coro, assustados

- Sim! E os avisos dele devem ser levados muito a sério! Ele sabe o que diz, e foi ele que me mandou avisar. Vem aí uma tempestade. Eu confirmo, porque estava com ele e vi, além disso, estou muito cansada, pois tento voar, as já caí muitas vezes, a atmosfera está muito pesada, cheia de nuvens e húmida. Há muito vento! – responde a pena

- Bem, se foi o Luzerninha é melhor não demorarmos – diz outra joaninha

- É. Não percam tempo, ela aproxima-se a passos muito largos. Vou acabar os meus avisos e também recolho. Não saiam de casa. Protejam-se e protejam as vossas coisas. – recomenda a pena

- Obrigada! – respondem todos

                As joaninhas e o dente de leão ficaram mesmo assustados, e voltam para casa logo que fecham a porta, começa a chover torrencialmente.

- Nem parece chuva! Parecem pedras. – repara uma joaninha

- Ai, que medo… - diz o dente de leão, nervoso

- Não te preocupes, dentinho, estás connosco. – tranquiliza a joana mãe

                O vento assovia, abana as janelas, a porta, as flores quase saem da terra, os trovões parece que rebentam dentro de casa, e o telhado quase levanta. De repente batem á porta. A mãe espreita:

- É a pena!

                Abre a porta e a pena está completamente encharcada, a tremer:

- Peço desculpa! Posso recolher-me aqui um bocadinho? Enquanto a tempestade não passa. Bati a várias portas mas ninguém me abriu. É que estou toda ensopada, quase não me mexo, estou cheia de frio, e não consigo voar…!

- Claro que sim! Entra! Seca-te e quando parar vais. A mesa dá para mais gente! Está quentinho, aqui! – diz outra joaninha

- Muito obrigada. – responde a pena

                Ela entra com a mãe joaninha. Vão para a beira da lareira, o dente de leão fica ciumento, e espirra.

- Então? Parece que estás com ciúmes?! É nossa amiga!

- Óh, coitadinha! Está toda murcha.

- Vem secar-se até o vento e a chuva pararem…não consegue voar! – explica a mãe

- Claro! Bem-vinda! – dizem todos

                Todos conversam com a pena enquanto ela se seca. Jantam, e a pena acaba por dormir na casa delas porque a tempestade dura a noite toda. A partir dessa noite, a pena torna-se mais um elemento daquela família, levando-lhes coisas para agradecer o acolhimento, avisos importantes, e leva-os a passear por sítios onde nunca tinham ido.

                O dente de leão gostou tanto dela que davam boleia um ao outro, trocavam abraços e muitas gargalhadas, brincavam juntos, muitas vezes por dia, e carregavam as joaninhas. Esta família do coração da pena nasceu numa tempestade! É mesmo assim, às vezes temos outras famílias além da nossa feita de amigos, que gostam de nós e que nos preenchem.

                Vocês também têm outra família, além da vossa? Quem faz parte dela?

                                                               FIM

                                                               Lálá

                                                               7/Setembro/2018

a casa da pena







                











          



foto de Lara Rocha 



          Era uma vez uma pena grande, muito leve, e com cores brilhantes. Andava à procura de uma casa onde pudesse descansar dos seus voos e abrigar-se. Já tinha percorrido muitos quilómetros, espreitado por muitas janelas de quartos, vivido em muitos parapeitos, mas logo que a viam sopravam-na ou deitavam-na abaixo. Já tinha pousado em muitas ervas, muitas areias de praias diferentes, árvores e ninhos, mas de todas elas era expulsa pelo vento mais cedo ou mais tarde, ou pisada por pés humanos.
     Continuava a sua procura solitária, nenhum sítio lhe agradava, todos lhe pareciam no início sossegados, mas logo se transformavam em lugares assustadores, onde era maltratada. Numa das suas procuras, olhou para uma janela de uma casa, onde lhe parecia ser um talvez um quarto de criança, cheio de brinquedos, que não estava lá, mas a janela estava aberta.

            Pousou no beiral, respirou fundo, olhou em volta e disse:

- Acho que vou ficar aqui um pouco, só para recuperar forças, espero que não me corram outra vez! Se aparecer alguém vou esconder-me…onde? Áh! Aqui. De certeza que não me veem.

Boceja e deita-se à sombra. Olha para o quarto e diz:

- Que lugar tão bonito! Será que há um espacinho para mim? Quem dormirá aqui? Gosto deste espaço.

            Olha para o chão e vê um violino pousado, encostado à parede.

- Acho que encontrei a minha casa! O que é aquilo?

           E decide entrar pela janela. Dirige-se para o violino, olha e volta a olhar. Aproxima-se e afasta-se, olha à volta para ver se estava segura.

- Está muito silêncio aqui!

         O violino acorda, boceja barulhentamente, e sopra a pena com força. A pena bate na parede e grita:

- Ai! O que foi isto?

- Menina? – Pergunta o violino intrigado.

- Não! Não sou menina…acho eu…! Sou uma pena!

- Uma pena?

- Sim.

- Não nos conhecemos, pois não?

- Vives neste quarto?

- Não! E tu?

- Eu sim! Já há muito tempo. Sou um violino.

- Um violino?

- Sim!

- E o que fazes neste quarto?

- A menina do quarto, toca-me. Sou um instrumento musical. E tu?

- Eu sou uma pena.

- O que fazes aqui?

- Estou à procura de uma casa. Já passei por muitas casas, mas fui corrida de todas!

- Porquê?

- Por muitas razões, que para mim não justificavam a expulsão, mas sabes como são os humanos…estranhos!

- Sim, tens razão.

- Achas que posso ficar neste quarto?

- Desculpa, eu gostava muito de te ajudar, mas é melhor perguntares à menina!

- Onde está a menina?

- Acho que está cá em casa. Olha, lá vem ela.

- Óh!

                A pena fica cheia de medo, paira e olha para a menina. A menina vê a pena:

- Áh, uma pena! Como é que entrou para aqui? Áh, pois…pela janela que está aberta.

- Óh, não! Lá vou eu ser outra vez expulsa…! – suspira a pena triste

- Que linda pena! – Diz a menina

                Agarra na pena, e esta encolhe-se.

- Vou guardá-la. Nunca vi uma pena tão bonita! Mas onde?  

                O violino solta uns acordes.

- O que foi, violino? Também gostaste dela?

                O violino dá um acorde alegre, a dizer que sim!

- Já sei…não te importas que ela fique aí, pois não, violino? É que a minha mãe não quer penas na janela, nem no quarto.

- Não! – Responde o violino

- Obrigada, violino!

                A menina pousa a pena no violino, e recomenda-lhe:

- Olha pena, esta vai ser a tua casa! Quando entrar aqui alguém escondeste, vais por aqui, e assim não te veem. O violino é teu amigo, vais ver. Ele toca muito bem! Podes falar com ele, que ele responde. Eu também falo com ele. Ele respondeu-me, que não se importava que ficasse aqui, e que gostou de ti!

                A pena sorri, e respira de alívio:

- Obrigada, menina!

- Áh! Tu também falas, pena?

- Falo!

           A pena conta-lhe a sua história, as casas que já teve, e ao ouvir os passos da mãe pede à pena para se esconder. A pena esconde-se dentro do violino, a mãe não desconfia. Quando saiu do quarto, a pena e o violino tem uma longa e divertida conversa. Mais tarde, a menina pega no violino e começa a tocar. A pena que estava a dormir, desperta e acorda assustada.

- Óh, desculpa, pena! Não sabia que estavas a dormir. Gostaste da tua nova casa?

- Adorei! – diz a pena

- Toca comigo! – convida a menina

- Eu não sei tocar! – Diz a pena

- Tocas comigo! Eu ensino-te!

- Está bem!

       A menina explica e a pena aprende rapidamente. Toca sozinha uma linda melodia, ao dançar levemente nas cordas do violino que sorri deliciado. A menina fica embalada, aplaudem a pena, e tocam os três em conjunto. Depois, só a menina, que faz a pena pairar, a seguir toca a pena ao mesmo tempo que brilha mais, soltando brilhantes, com todas as suas cores. A menina parece que fica hipnotizada com tanta beleza. Fazem outras experiências, juntos e em separado. A mãe entra no quarto, e a pena esconde-se rapidamente.

- Áh! És tu que estás a tocar essas músicas tão bonitas?

- Ouviste-as, mamã?

- Ouvi.

- Sim, fui eu! Inventei! Estava a brincar com as notas, e a tocar sem pauta!

- Muito bem! Que lindas músicas. Tenta lembrar-te das notas e escreve-as, para tocares nas aulas. A tua professora vai ficar muito orgulhosa de ti. Continua!

- Obrigada, mamã. Até já.

       A mãe sai, os três respiram de alívio. A mãe não viu a pena mágica. Voltam a tocar as mesmas músicas, e a menina escreve as notas musicais.

- Obrigada, amigos! – Diz a menina a sorrir

                Todos os dias inventam músicas novas. A menina toca na aula, com a pena dentro de casa…o seu violino, e ajuda-a nas músicas. A professora gosta tanto que a convida para dar espetáculos na escola, e noutros locais. Todos não cabem em si de orgulho e felicidade pela menina, pelas músicas e pelo brilho. Os três nunca mais se separam. A menina tornou-se muito famosa, a pena encontrou uma casa, e uma família…a menina e o violino.

Às vezes a pena ia para a janela do quarto apanhar ar, ver a paisagem e inspirar-se para ajudar a criar novas músicas. Dançava livre, flutuava, passeava leve com o vento que a levava e conversavam os dois alegremente. Ia, mas voltava sempre para o quarto da menina.

Quando estava calor, a pena refrescava-se numa fonte de quem era amiga. Para lhe agradecer, deixava muitos brilhantes de várias cores na água. Muita gente achava que aquela fonte era mágica.

Depois, andava muito feliz, largava brilhantes pela erva e em cima das árvores. Quem via, parecia uma cascata de diamantes de cor. Outros brilhantes da pena iam para as pétalas das flores por onde sobrevoava, estas ficavam ainda mais bonitas, dançavam e riam.

Não estava sempre em casa. Mas voltava e partilhava com os seus amigos onde tinha ido, o que tinha feito, e o que tinha visto, porque tudo isto inspirava a menina para as suas músicas.

Uma pena cheia de sorte! E se vocês tivessem uma pena no vosso quarto? De onde vinha? Como era? Que fazia? Onde a punham a viver? Imaginem e escrevam…ou desenhem.



FIM

Lálá

7/Setembro/2018