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terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Um filho

Um filho é uma luz que brilha debaixo de uma pele,

é como uma flor a abrir 

ao som das batidas do coração de uma Mãe feliz, 

que ama, cuida e respeita, 

aceita o pequenino botão de rosas em formação, 

uma flor de luz,

que se abre e cresce dentro dela… 

mesmo com os seus espinhos! 

Um filho é um diamante bruto e valioso 

 guardado num lugar seguro 

A mãe!!! 

Depois de ser um lindo botão aberto, 

À luz do dia, 

o botão precisa de amor, cuidado, atenção, carinho e regras. 

E aceitação! 

Para que o botão continue a brilhar 

Com a sua própria luz, 

E continue a crescer, 

precisa de saber ouvir Nãos, 

de ser contrariado,  

de sentir a frustração e lidar com ela, 

mesmo com birras.

Um filho não precisa de máquinas nas mãos, 

Precisa dos pais, 

De dialogar com eles, 

Brincar com eles , e com outras crianças, 

Ouvir histórias, 

ler, inventar, criar, escrever, 

desenhar, pintar. 

Ser ouvido 

e valorizado mesmo na sua imperfeição. 

Um filho é uma luz que brilha, 

Mas para que ilumine a si próprio, ao mundo e aos outros, 

Precisa dos pais, 

Precisa de brincar, 

Precisa de falar sobre sentimentos, emoções,

Precisa de abraços, 

Carinho, colo, 

Precisa de ter tempo para ser criança! 

Não precisa de ser o melhor na escola, 

nem de ter altas notas, 

ou muitas atividades para competir com os outros. 

Tem de fazer o que mais gosta.

Um filho não é a continuidade dos pais, dos avós, dos tios, 

nem das vontades, sonhos ou desejos deles. 

Um filho é um ser único, 

diferente de todos, 

desenvolve ao seu ritmo, 

aprende ao seu ritmo, 

não é porque o outro fala mais ou anda mais rápido, 

que um filho tem problemas 

ou deve ser entupido de terapias e atividades, mais atividades…! 

De que vale tudo isto se vai contra o que ele é? 

Não é porque o outro tem, 

e este não, que ele deixa de ser um filho amado 

Só a aceitação da criança e das suas características físicas e psicológicas 

transmite à mesma o sentimento de pertença a uma família, 

e a sensação de ser amada. 

Um filho para a sua luz brilhar 

não precisa de ter tudo o que quer, 

ou tudo o exige, 

só porque o outro tem...! 

Um filho, 

Para a sua luz brilhar e iluminar os outros, 

Não precisa de ser arrogante, 

vaidoso ou magoar os outros, 

nem de ser stressado, 

Precisa de aprender ao seu ritmo,

e ser aceite com as suas dificuldades, 

ser respeitado e respeitar 

ser criança e ser feliz! 

Um filho é um ser em constante construção. 


                                             FIM 

                                         Lara Rocha  

                                    12/ Dezembro/2023 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Apreciar o sol


     Era uma vez umas folhas caídas de umas árvores no Outono, amontoadas pelas ruas sombrias de uma aldeia, com montes à volta, neve, e frio. 

       Tudo coberto de branco, mesmo o sol, só espreitava em determinados pontos da aldeia, de forma tímida, mas não era o que acontecia com estas pobres folhas que viviam aos pés das árvores. 

       Algumas tinham a sorte de encontrar tocas nas árvores, aos seus pés, ou nos troncos, outras eram convidadas pelos cogumelos gigantes a abrigar-se debaixo deles. 

        As menos sortudas, ficavam no chão desde que o vento as arrancava das árvores, eram levadas para baldes, e lá se consolavam com o calor umas das outras. 

foto de Lara Rocha 

       Pareciam já estar todos habituados àquele frio, mas as folhas viam uma luzerna de sol entre as ruas, não sabiam o que era.  Pensavam que era a luz das casas, só que quando olhavam para as casas essa luz era diferente. 

       Ficavam muito intrigadas. Um dia uma folha decidiu perguntar a uma menina que passava a naquele local, toda encasacada a cantarolar que ia ao supermercadinho fazer umas compras para a mãe: 

- Menina...desculpa...-diz uma folha 

   A menina olhou para todo o lado, não viu ninguém. A folha percebe que a menina não a viu e aos colocou-se aos seus pés. 

- Olá! Sou eu que estou a falar contigo! 

      A menina sorri: 

- Áh! Uma folha! Olá! Desculpa, não estava a ver ninguém. Pensei que estava a imaginar. 

- Olha...não te vou roubar muito tempo, mas...o que é aquela luzinha ali, entre as ruas? 

- São as luzes das ruas, e das casas! Como mesmo de dia, está escuro, elas ficam acesas. 

- Áh! Sim. E aquela luz diferente? Que só vemos de vez em quando? 

       A menina olha para as ruas. 

- Não vejo nada de diferente! São as luzes de sempre! 

       A folha ficou desiludida com a resposta. Sentia que alguma coisa diferente havia naquelas ruas, mas não sabia o que era. Sorriu e disse: 

- Entendi! Obrigada...! 

- De nada! 

      A menina segue caminho, a folha volta para o seu local, triste. 

- Tenho a certeza que aquela luz é diferente! Não é a das ruas nem das casas. - murmura a folha

- Falaste comigo? - pergunta outra folha 

- Não, não...estava só a pensar alto na resposta da menina. Perguntei que luzinha era aquela, ela disse-me que não havia luzinha...era a das ruas e a das casas. Eu disse-lhe que era uma luzinha diferente, aquela que só vemos de vez em quando, além da das ruas e das casas. Tu não vês uma luz diferente? 

- Sim, sei de que luz estás a falar. Talvez a menina nunca a tenha visto. 

- Acho difícil ela nunca ter reparado numa luzerna diferente! 

- Deixa lá! Estas pessoas andam sempre na lua...na vida delas, nos pensamentos delas, não olham para nós. 

      A menina regressa com as compras, ficou a pensar na pergunta da folha, parou e olhou para as ruas. Viu as luzes das ruas e as luzes das casas que já conhecia há muito, mas realmente viu raios de sol, pequenas luzernas que também não via sempre. 

- Realmente...existe ali uma luz diferente! Além das da rua e das casas...já sei o que é! (grita) Óh folha que há bocado me perguntaste o que era aquela luz...onde estás? 

      A folha, surpresa, e um pouco assustada, volta a aparecer aos seus pés. 

- Sou eu! Diz…! 

- Há bocado falaste numa luz diferente, além das ruas e das casas, e eu disse-te que eram as luzes de sempre, não havia outra! Mas tu tinhas e tens toda a razão! Aquela luzinha que só vês de vez em quando, além das outras, é a do sol que entra pelas ruas! Umas vezes mais forte, outras vezes, mais fraquinho. Quando sorri tímido, e o dia está mais cinzento, com mais nuvens. Olha que nunca tinha reparado quando se vê daqui! Que lindo! Ficam diferentes as ruas! Áááhhh…! Parece que sorriem e que se tornam mais quentes! Agora não, claro, mas no Verão, sim. 

- Áh! Que bonito mesmo! Obrigada! 

- Obrigada eu, folha! Nunca tinha reparado como ficam bonitas as ruas com  estes raios de sol entre nuvens! Se não me tivesses perguntado continuava sem ver este espetáculo. 

- Eu gostava de o sentir! Posso? 

- Queres hoje? Hoje não deve ser muito quente...mas posso levar-te e vês! 

- Está bem! 

      A menina leva a folha, deliciada com o que tinha acabado de descobrir, e um grande sorriso. 

- Aqui vê-se mais e melhor! É aqui que eu moro! - diz a menina 

- Uau! Que giro! - diz a folha

- Quando não há nuvens qualquer rua fica bem quentinha! Mas este sol de hoje é fraquinho, não aquece muito. 

- Virão dias mais quentes, com certeza! - diz a folha 

- Sim! Quando o sol estiver mais forte, eu vou-te buscar para o sentires! É muito bom! 

- Combinado! Muito obrigada! 

- Da nada! Ver-nos-emos em breve. 

- Claro que sim. Qualquer coisa estou ali! 

       A menina pousa a folha no chão, entra em casa, a folha sobe a rua à procura do sol. Numa praceta da aldeia, desamparada, sem árvores, o sol brilhava, tudo estava mais claro e mais agradável. 

- Ei, quase parece as luzes das ruas. - sorri 

O sol faz uma surpresa à folha. Começa a andar para trás. 

- Óh…vais fugir, agora que sei que és tu? 

      O sol sorri, e ela vai atrás dele, deixando as nuvens para trás, e vai parar à sua casa, onde quase nunca vai, no Outono e no Inverno. As folhas nem querem acreditar. 

fotos de Lara Rocha 

    Ficam tão felizes, que se levantam e sentem um sol quente. As saudades que elas já sentiam de um calor assim, e de tanta claridade. 

- Que delícia de calor! Obrigada querido Sol! - suspira uma folha

- Obrigada! - Dizem todas 

- Áh! Que espetáculo! Há quanto tempo não sentia assim uma coisa tão boa! - comenta outra folha 

       As folhas esbarrigam-se, saltam, de felicidade, deliciam-se com a claridade e o calor agradável do sol.

- Por favor, Sol, volta para este sítio mais vezes! Olha para isto...onde nós vivemos...já estamos habituadas mas com sol...contigo, é outra coisa! - pede uma árvore 

- Vocês também precisam de chuva! - lembra o Sol 

- Claro que sim, mas tu és melhor. - diz outra árvore 

- Deixa para lá quem não te liga nenhuma! - comenta outra árvore 

    As folhas correm, saltam, abraçam-se, brincam umas com as outras, dançam, cantam, batem palmas, caminham sorridentes. 

- Pois é! Olha a nossa alegria, olha a indiferença dos habitantes que nunca tinham reparado que tu passeavas pelas ruas. - comenta outra árvore 

- É mesmo! Nunca tinham visto a tua luz! E foi uma folha que reparou! Só não sabia que eras tu! 

    O Sol fica feliz e promete voltar: 

- Voltarei, sim! Tens toda a razão! Acho que não me ligam mesmo. Só quando eu não apareço há muito tempo, para me ralhar. E quando apareço durante muito tempo também não ficam satisfeitos...resmungam do meu calor! 

- Não sabem o que querem! - ri um cogumelo 

- Não mesmo! - diz o Sol 

- Bem...não saias daqui. É tão bom sentir-te! Estamos sempre neste lugar frio, sombrio, precisamos de ti! - diz a folha 

- Está bem, obrigado! Mas daqui a pouco vou ter de sair. Só que volto! 

- Está bem. - dizem todas 

- Muito obrigada por este bocadinho! - diz outra árvore 

- De nada! - diz o Sol a sorrir 

       Como prometido, o Sol vai e volta. As folhas ficam o resto do dia felizes, e mais quentinhas. Os habitantes continuam na vida deles, sem reparar na beleza que existe à sua volta, nem no Sol. Mas isso não o incomoda, porque ele vai alegrar as folhas que tanto lhe pediram, aquecê-las, vê-las dançar, cantar, brincar. 

       A menina aprendeu com a folha a ver os raios de Sol pelas ruas, e como isso tornava tudo mais bonito. Também passou a estar mais atenta à presença das luzernas de sol, e a sorrir. 

       Até contou aos pais, que contaram aos tios, e um deles, era fotografo. Dedicou-se a fotografar esses raios de Sol pelas ruas, em todos os recantos onde apareciam e nunca tinham visto, nas folhas, na neve, nos telhados, no chão, nas árvores. 

      Tudo ganhava um brilho especial, magia, cor. E foi a partir de uma exposição que o fotógrafo fez com as fotografias, que os habitantes começaram a apreciar a natureza que os rodeava.

      Isso fê-los sentir mais felizes, orgulhosos, ensinou-os a dar valor a tudo o que viam.

                                                FIM 

                                            Lara Rocha

                                        11/Dezembro/2023 


E vocês? Gostam de sentir, de apreciar o sol, a chuva, as nuvens, a neve e tudo o que a natureza oferece? 

O que gostam mais? 

Podem deixar nos comentários as vossas respostas.

                                            

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O mar com uma espuma diferente


Era uma vez um mar numa ilha paradisíaca, com a água transparente, onde se via o fundo, cheio de pedras, conchas, búzios, pedras e peixes. 

A areia era muito branca, e as ondas quase não se viam, eram tão calmas! Um dia, uma coisa estranha aconteceu: a espuma das ondinhas que era branca, começou a aparecer de todas as cores em tons claros, vindas não se sabia de onde. 

Os habitantes ficaram muito intrigados e assustados. Foram investigar, e não viram nada que pudesse indicar aquelas cores, nem sequer tinha mau cheiro. 

No dia seguinte, as cores mudaram outra vez, mas eram mais escuras. Voltaram a procurar e não encontraram nada de estranho! 

- Alguma coisa muito má, muito estranha está a acontecer aqui. - comenta um habitante 

- Estas cores não são nada normais, na espuma! - observa outro 

- Ontem eram claras, hoje são escuras. - acrescenta outro 

- Mas no mar não vimos nada de tintas. 

- Pois não! 

- É isso que é esquisito. 

Faz-se silêncio, e veem a sair do mar alto, um ser feito de água, transparente e com brilhantes, ao longe nem se via se era uma cara humana ou um outro ser qualquer, com uma paleta de cores, pincéis na mão, uma tela de areia. 

Os habitantes esconderam-se com medo, e ficaram a espreitar. O ser misterioso não se deu por achado, e pôs-se a desenhar sentado na areia. 

Respirou fundo, olhou para a paisagem, voltou a olhar e desenhou na areia com cores, que apareceram misteriosamente, pois a paleta não tinha cores. 

Fez uns lindos desenhos, perfeitos, ao longo de toda a praia, uns desenhos eram mais claros, outros mais escuros, uns onde se via bem o que estava desenhado, outros, pareciam mais sem formas, ou com formas geométricas, coloridas. 

No fim da praia, desenhou um corpo, com brilhantes, o dele, com uma lágrima a cair.  Foi lavar os pinceis e a paleta ao mar, a sorrir, e...mistério desfeito! 

As cores da espuma vinham do pintor misterioso que não era humano, mas feito de água e brilhantes. Os habitantes rodearam-no, com ar ameaçador. 

- Áh! Então és tu que andas a poluir o nosso mar...? - diz um morador 

- Poluir? O que é isso? - pergunta o ser

- Estás agora a fazer-te de santinho...muito inocente! Olha para esta porcaria de espuma! - reclama um habitante 

- A nossa espuma era branca, e tem aparecido com cores. Investigamos, e não vimos de onde poderiam vir, agora já sabemos. - explica outro 

- Mas...esta praia é vossa? - pergunta o pintor peixe 

- É! - respondem todos 

- O que vens para aqui fazer? Sujar tudo? - ralha um senhor 

- Não! Eu vim pintar. - responde o pintor peixe 

- E lavas os pincéis no mar! Para ficarmos com poluição, não é? Muito bonito…! - ralha uma senhora 

- Não. Esta tinta não é poluente, nem tóxica, é natural. Vem toda do que o mar dá. - explica o peixe 

- E o mar dá poluição. - insiste outra senhora a ralhar 

- Não, não é poluição! É feito das algas, das pedras de corais, de escamas de peixes, areia. - responde o peixe 

- Não vimos cores nenhumas, só agora na areia, e na espuma! - diz uma menina 

- Mas é isso mesmo! As cores que aparecem na areia e na espuma são naturais. - volta a explicar o peixe 

- De onde vens? - pergunta outra senhora 

- És tão estranho! - comenta outra menina 

- Eu sou um peixe pintor. 

- Peixe pintor? - perguntam em coro 

- Nunca outra ouvimos! - comenta um rapaz 

- E vocês também pode experimentar...querem? - convida o peixe 

- Eu quero! - disse um 

- Com muito gosto. Aproxima-te que eu não mordo! - desafia o peixe 

- Os desenhos que fizeste na areia, são...bonitos. - aprecia uma menina 

- Obrigado. - responde o peixe 

- Este último é...triste! - repara um menino 

- É. Sou eu.

- És tu? E estás triste? - pergunta o menino 

- Às vezes também fico! - diz o peixe 

- Porquê? - pergunta o menino 

- Por causa de uma sereia que não gosta de mim, mas eu gosto dela. 

- E porque não vais atrás dela, e fazes tudo para a  conquistar? - sugere uma jovem 

- Não! O amor não se obriga, nem se força. Se a outra pessoa não quer, não podemos obrigá-la, nem insistir. 

- Mas já lhe disseste que gostas dela? - pergunta outra jovem 

- Sim! 

- E ela disse-te na cara que não gosta de ti? - pergunta um jovem rapaz 

- Disse. 

- Não foi nada simpática! - comenta o jovem rapaz 

- E tu, o que fizeste? - pergunta outro jovem 

- Deixei-a em paz! Respeitei a vontade dela. 

- Óh, mas isso é triste, e dói. - diz uma jovem 

- É. Mas as coisas são assim mesmo! É essa tristeza que pinto com as cores escuras, principalmente este último, que sou eu com uma lágrima. Dói muito, claro! E as cores claras, são a esperança que algum dia, se não for ela, conheça outra, que goste de mim, como eu gostar dela. Ou então, que sejamos bons amigos! 

- Áh! Que lindo! - dizem todos 

- Ela pediu distância, eu dou-lhe distância. 

- Ela magoa-te e tu ainda gostas dela? - comenta uma jovem rapariga 

(Cai uma lágrima com estrelas, dos olhos do peixe, enquanto faz silêncio) 

- Pinto para curar a minha dor! - responde o pintor 

- E resulta? - pergunta outra jovem rapariga 

- Para mim, sim! Vocês conseguem sempre conquistar quem gostam? 

- Não! - respondem todos 

- Mas tentamos, insistimos a conquistar de maneiras diferentes, tentamos, até que da outra parte haja sinais. - explica outro jovem rapaz 

- Mas não perdemos muito tempo. - diz outro jovem rapaz 

- Perder tempo? Para conquistar é preciso tempo, não é perder tempo, nem acontece de um dia para o outro. Eu e ela éramos amigos, mas quando eu disse que gostava dela, ela transformou-se, e disse que amigos podíamos ser, mas não queria mais nada. Mas agora, acho que nem amigos! 

- E não continuaste a tentar? - pergunta outro jovem rapaz 

- Não! O que tiver de acontecer, acontecerá. Se tivermos de ter alguma coisa um com o outro, ou se nunca tivermos de ter nada um com outro, outra virá que queira, ou não! 

- Áh! Que lindo. - dizem todos 

- És forte! - comenta uma jovem rapariga 

- Não, sou fraco, é por isso que ela não gostou de mim. 

- Acho que não. Ela não gostou de ti, porque não tinha de ser essa! - responde uma senhora 

- Acha? 

- Acho, pelo menos é o que nós dizemos aqui, quando não somos correspondidos no amor. 

- Áh! Também está bem visto, sim senhora. 

- Estes desenhos vão desaparecer com a água! - comenta um senhor 

- Os de ontem, também desapareceram. Não faz mal, lava a minha dor! 

- Então, tens a certeza que essas tintas não são poluentes? - pergunta outro senhor  

- Tenho. Queria experimentar, não queria? Venha!  

O ser misterioso, orienta, explica como se faz, e todos ficam encantados. Veem os outros desenhos na areia, um por um, e tentam imaginar o que significam.

- Que bonitos! - suspira uma menina a sorrir 

- Obrigado. - diz o peixe 

- Já experimentaste oferecer-lhe um desenho teu, destes tão bonitos ou outros? - pergunta uma jovem rapariga 

- Não! 

- Porque não? Ela até podia gostar. - comenta outra jovem rapariga 

- Ela não está disponível para me ver através dos desenhos. 

- Então ela não te merece. - acrescenta outra senhora 

- Podias experimentar! A ver se a conquistavas. - sugere um jovem rapaz 

- É espetacular, este tipo de pinturas! - comenta o senhor que experimenta 

- Olha que bonitas. Muito bem. Mais alguém quer aprender? - diz o peixe 

- Eu, eu, eu, eu...- todos querem aprender 

- Boa! Então virei quando quiserem aqui ensinar-vos. 

- Obrigado, obrigada, desculpa a nossa ameaça, pensávamos que era poluição. - comenta um senhor 

- Não faz mal, compreendo. Eu acho que pensaria o mesmo! 

Combinam os dias, e todos aprendem a fazer aqueles desenhos, a espuma branca ganha todos os dias novas cores, umas mais alegres, outras mais escuras, conforme os sentimentos e emoções que cada um pintava. 

O pintor peixe, estava feliz e orgulhoso, por ensinar a sua arte, e os habitantes, felizes por aprender. Tornaram-se uma família, divertiam-se sempre muito, ele ajudava quem precisava, conversavam muito e faziam lanches, festas. 

Ainda bem, que não era poluição! Uns tempos mais tarde, quando a sua dor estava curada, o pintor peixe encontrou um amor correspondido e apresentou-o aos amigos, que os pintaram na areia, dentro de um coração. 

                                                    FIM

                                                Lara Rocha 

                                                29/11/2023 


sábado, 25 de novembro de 2023

A bruxa boa distraída e o novo amigo

        Era uma vez uma bruxa que foi passear pelo parque da cidade, à noite, não era muito longe da sua casa, porque adorava ver as estrelas, ouvir o silêncio do espaço, e o vento quando havia. Até quando chovia e trovejava, ia para o parque. 

   À noite não reparavam nela, e podia pensar nos seus feitiços generosos, outros nem tanto, sem barulhos irritantes.

    De dia, quando a viam não eram simpáticos com ela, por isso, como era também uma grande sonhadora, gostava desse sítio para se inspirar, imaginar coisas novas. 

   Parecia estar sempre noutro planeta. Estacionou a vassoura no banco onde se sentou a ouvir o som do rio, e lá esteve a sonhar acordada, embalada pelo canto da água, das rãs e do vento entre as folhas. 

    Caminhou pelo parque, iluminado, devagar, mas não reparou que a sua vassoura tinha desaparecido, levada por um cãozinho vadio que passou, pensou que era um ramo de uma árvore e quis brincar. 

 Correu divertido pelo parque todo, a bruxa continuava mergulhada nos seus pensamentos, sonhos acordada, e bons feitiços para ajudar quem precisava, pessoas que lhe tinham pedido. 

   Tinha consigo um bloco e uma caneta, onde escrevia tudo o que se lembrava para cada caso, depois em casa consultava livros e acrescentava o resto que faltava. 

  Quando pensava voltar a casa, a sorrir, correu o parque todo atrás da vassoura. Já não se lembrava onde tinha estado sentada, olha para todos os bancos, em cima do banco e debaixo deles, nem sombra da vassoura. 

    Começa aos gritos: 

- A minha vassoura? Onde é que eu estava sentada? que nervos...não me lembro onde estava, ainda por cima, a vassoura desapareceu. Porquê?...A minha vassoura? E agora como vou para casa? Onde está a minha vassoura…! Não estava aqui mais ninguém, como é que ela desapareceu Áááááááááááhhhhhhh...malditos. 

   O cão ouve aqueles gritos, e vê-a a correr de um lado para o outro, a repetir a frase: 

- A minha vassoura? Onde está a minha vassoura...vassouraaaaa....lembra-te onde estiveste. Lembra-te criatura, onde deixaste a vassoura, onde estiveste sentada? - fala para ela própria

     O cão vai ter com ela, com a vassoura na boca: 

- Mas o que é isto? Quem te deu autorização de mexer na minha vassoura? Onde é que ela estava? Foste tu que a levaste. dá cá isso. 

 O cão larga a vassoura, assustado, porque reconheceu-a. 

- Au, Au, Au…, desculpe! Quero eu dizer. Pensei que era um tronco de uma árvore e quis brincar com ele, não sabia que era a sua vassoura. - diz o cão 

   A bruxa pega na vassoura irritada, e o cão encolhe-se, porque pensou que ia levar com ela, mas não. A bruxa pensou duas vezes, olhou para o cão, e sentiu pena dele. 

- De que casa vieste? 

- Sou vadio. 

- Óh, coitadinho! Não tens onde dormir?

- Durmo onde calha. Quando está frio, durmo ali debaixo, outras vezes, durmo debaixo dos bancos, ou nas árvores. 

- E onde comes? 

- Como o que as pessoas que passam me dão! também me dão alguns mimos, e já puseram ali cobertores para não me deitar no chão frio. Enrosco-me nele, e já dá para me cobrir. 

- Mas quem te abandonou? 

    O cão fica triste e soluça. 

- Desculpa, não te queria fazer lembrar coisas tristes! 

- Não faz mal...! Foi uma família que me pôs fora de casa, porque também iam para fora do país. 

- Mas que injustos. E largaram-te assim, na rua? 

- Sim. 

- Já há muito tempo? 

- Não sei. Não sei o que é isso. 

- Gostas de estar aqui? 

- Gosto. E a sra.?

   A bruxa dá um grito: 

- Senhora? Credo…! (o cão encolhe-se assustado) O que é isso? Chama-me soli e trata-me por tu. 

   Ela ri-se: 

- Desculpa, assustei-te! chega-te mais para a minha beira…! Aqui. 

  Aponta para o banco e senta-se. o cão senta-se à beira dela, a medo. Ela olha para ela, faz-lhe umas festas, e ele deita a cabeça no colo dela. Ela sorri, e continua a fazer-lhe mimos. 

- Gostei de ti. Queres vir para a minha casa? Sabes é que eu sou muito distraída, andava aqui, louca atrás da minha vassoura, foste tu que a levaste para brincar, e eu nem percebi que fizeste isso. Andei à procura do banco onde estive, corri o parque todo, e não me lembrava. sou esquecida, e distraída… sonhadora! Podias vir para a minha casa, eu cuido de ti, e tu cuidas de mim, ou não gostaste de mim? 

  Os mimos da bruxa deixam o pelo do cão todo brilhante, e o cão abre um grande sorriso, cheira e lambe as mãos da bruxa. ela ri-se: 

- Gosto de ti. às vezes assusta-me, mas gosto de ti. E tu não te importas de acolher um cão vadio? - diz o cão

- Não. 

- Óh, muito obrigada! Até estou um pouco envergonhado. 

- Envergonhado de quê? 

- Por ter mexido na tua vassoura, andaste à procura dela, e eu com ela, a brincar. Agora vais acolher-me. 

- Eu sei que não fizeste por mim, e eu também sou uma distraída, por isso é que podes ser uma boa ajuda para mim! 

  A bruxa explica os motivos ao cão, porque quer adotá-lo, o cão aceita.

- Prometo que vou cuidar muito bem de ti. - diz a bruxa 

- E eu prometo que também vou cuidar de ti, ser teu amigo, proteger-te, tomar conta de ti e da tua vassoura. e vou lembrar-te do que precisares. 

- Boa! Acredito que sim. Vamos?  

- Vamos! 

   bruxa leva o cão ao colo, pousados na vassoura, voam até casa da bruxa. O cão está um bocadinho assustado, ela dá banho ao cão, carinhosamente, penteia-lhe o pelo, seca-o com a toalha, alimenta-o, dá-lhe água, e prepara-lhe a cama. 

   O cão deita-se, numa cama bem confortável, macia, quente só para ele, perto dela, todo brilhante, a bruxa enche-o de mimos, ele retribui a lambe-la, e a encostar-se a ela, ela ri-se, dá-lhe algumas ordens, ensina-lhe algumas regras e rotinas, e deseja-lhe boa noite. 

   Os dois dormem uma noite maravilhosa, e de manhã, depois de uma boa dose de mimos, um belo pequeno almoço, e conversa animada, vem o passeio matinal. como prometido, o cão mais feliz do que nunca, protege a nova dona. 

  Umas pessoas menos simpáticas, olham de canto para a bruxa e para o cão. 

- Coitado do cão, a que mãos foi parar… - comenta uma senhora

- Ela vai transformá-lo em alguma coisa horrível. - diz outra

   O cão ladra-lhes, e rosna-lhes: 

- Não sejam assim! eu sou a nova dona dele, vocês não sabem o que aconteceu para estarem a julgar mal. É uma retribuição de favores, e carinho. - diz a bruxa 

- Pois! 

- Deve ser…!

- Está agora armada em boa. 

- Eu sou uma bruxa boa! se precisarem de mim, vemo-nos por aqui. 

  cão ladra chateado. A bruxa e o cão correm felizes pelo recinto, a rir, o cão segura na vassoura dela, na boca, para ela não a perder, nem se esquecer 0nde a pôs. 

   Todos os que passam ficam muito surpresos, ao ver os dois tão felizes, a brincar, a rebolar, a bruxa a abraçar o cão, e este a lambe-la , a pôr as patas em cima dela, e ela a rir à gargalhada com muitos mimos. 

   Os dois correm. 

- Ui, o que é que aconteceu? A bruxa com um cão, tão feliz... 

- Huuuuuummmm...Tenho pena do cão! 

   O cão ladra-lhes:

- Deixa-os falar. estão cheios de inveja! - diz a bruxa 

  cão não sai da beira dela, ladra, e depois regressam a casa. Os dois tornam-se grandes amigos, têm longas conversas, e o cão está sempre atento à bruxa distraída, que deixa as coisas dela em tudo quanto é sítio e não se lembra, mas felizmente tem o cão que não deixa escapar nada. 

  Ela trata muito bem o cão, e o cão é uma grande ajuda, além de um grande amigo, muito meigo, com quem ela conversa muito. 

   Quando está a fazer os seus feitiços bons, o cão não incomoda, fica deitado ou vai ao parque sozinho e volta, feliz.

   Foi assim que o cão vadio abandonado, ganhou uma nova dona que o adorava e tratava muito bem, ignorava os comentários menos simpáticos e ajudava quem precisava, quem podia. 

  Até nisso, o cão era uma ajuda, porque sentia as energias das pessoas, protegia a dona, que por ser tão distraída, às vezes achava que eram boas pessoas, mas na verdade não eram, o cão avisava-a. 

  Iam passear juntos todos os dias, quem passava menos simpático, ficava surpreso por ver o cão tão feliz com ela, tão amigo, e ela tanto ou mais feliz que ele. 

   Era uma amizade verdadeira, companheira, cheia de carinho, sinceridade, proteção, e felicidade. ele sabia quando ela não estava bem, e nesses momentos não a largava, demonstrava todo o carinho por ela. 

  Ela abraçava-o, e fazia-lhe festas, ficava bem melhor. Que sorte teve este cão!

                                        FIM 

                                   Lara rocha 

                               24/Novembro/2023

                                                                

        

        



sábado, 18 de novembro de 2023

O pesadelo com a cascata que não tinha água



   Era uma vez uma cascata perdida num vale, onde não vivia ninguém, mas era muito visitada para ver a sua beleza de paisagem! 
     Ficava próximo da cidade, e muitas pessoas deslocavam-se para lá todos os dias, a pé, para fazer exercício físico, para apreciar a paisagem, respirar ar puro, descansar, e relaxar. 

    Tudo à volta era muito verde, com montanhas gigantescas cheias de neve, que não derretia, neblinas, ventos fortes, pareciam que iam engolir o mundo inteiro.  Chuva e sol. 

    Viam-se crateras de vulcões que despertavam sem ninguém estar à espera, jatos de lava a explodir e a saltar das fendas, umas vezes a escorrer pela montanha abaixo, mas estava longe, não havia perigo. 

    Existia um museu que se podia visitar para conhecer os usos e costumes dos habitantes que viveram há muitos, muitos anos. 

    Ouviam-se lobos a uivar ao longe que vinham ter com as pessoas, estas davam-lhes de comer, e eles regressavam às suas tocas, depois de levar uma dose de mimos dos visitantes. 

    Para agradecer, os lobos rebolavam, punham-se de barriga para cima, para receber mais mimos, e lambiam as mãos de quem os alimentava, e acariciava. 

      Faziam as delícias dos visitantes, ninguém tinha medo deles. Depois de satisfeitos seguiam o seu caminho. 

    Além de toda esta beleza, havia uma cascata seca, sem água, mas sobre ela voavam milhares de borboletas, de todas as cores e tamanhos, felizes. 

    Juntas, faziam o efeito de água a cair., que era o desejo de todos os visitantes, até o tinham escrito. Tão bonito de ver! Eram fotografadas centenas de vezes, por milhares de pessoas. 

    Um dia, sem que ninguém estivesse à espera, em vez de borboletas, apareceu misteriosamente água na cascata, que caía com tanta força, fazia tanto barulho que mais parecia uma tromba de água no Inverno. 

    De onde teria vindo? Perguntavam todas as pessoas. Aquela água parecia pura, transparente, fumegava. quando puseram a mão, era quente. 

- Já sei. Esta água veio debaixo das montanhas. Do lado dos vulcões! - disse um investigador 

- Corremos perigo! - disse uma visitante alarmada

- Sim, é melhor não entrarem nessa água, para já. Alguma coisa pode estar a acontecer debaixo da terra naquele sítio. - disse o investigador 

- Realmente, é estranho como é que ainda ontem estava seca, só com as borboletas, e hoje não se veem borboletas nem pássaros. - repara um visitante 

- Boa dica! pois é! é mais um sinal preocupante, mas claro, como a água é quente…! - diz o investigador 

- Os lobos pareciam já estar a pressentir qualquer coisa! - diz outra senhora 

- Porquê? - pergunta o investigador 

- Porque estavam inquietos, à nossa volta, uivavam, davam com as patas nas nossa pernas. - conta um senhor 

    De repente, todos sentem um violento tremor de terra. começam todos aos gritos, a tentar fugir, o investigador chama reforços e tenta acalmar-se mas todos estão assustados. 

    Pouco depois, sentiram mais abalos, e todos gritaram, chegaram os reforços que o investigador chamou. 

- Vamos embora daqui. O ar está horrível. - alerta um profissional da proteção civil 

    Começam todos a fugir, assustados, uns a chorar, outros a correr sem olhar para trás, o mais rápido que podiam, e depois foram investigar. 

    A cidade estava um caos, todos ansiosos por chegar a casa, ver se estava tudo bem com as suas casas, e respiraram de alívio quando viram tudo na rua, muito assustados, a gritar, a chorar, abraçados uns aos outros, alguns estragos nas casas. 

    Abraçaram-se no reencontro, e falaram do que tinham visto na montanha. A água misteriosa da cascata vinha mesmo de várias fendas que se abriram na terra à volta da cascata. 

    Era um estrago de um vulcão que tinha entrado em erupção. O fumo via-se da cidade, o cheiro era horrível, e a lava bem incandescente, a saltar com jatos assustadores. 

    Uma menina que estudava no ciclo, acorda aos gritos, muito assustada, e vai a correr para a cama dos pais. 

- O que foi, rapariga? - pergunta o pai assustado 

- Socorro! Não sentiram? - pergunta ela quase a gritar e a tremer

- Não sentimos o quê? - pergunta a mãe

- O terramoto! - diz a rapariga muito assustada e ofegante 

- Qual terramoto? - perguntam os pais 

- A cascata das borboletas, que não tinha água, de repente ficou com água que caía com tanta força que mais parecia uma tromba de água no inverno. E os investigadores disseram que foram estragos de um vulcão em erupção na montanha, abriu umas fendas `<a volta da cascata e a água era quente. Até se deve ver daqui...está tudo na rua! 

    Os pais desatam às gargalhadas. 

- Tiveste um pesadelo! - diz a mãe ainda a rir 

- Foi real! - Insiste a rapariga 

- Abre a janela e vê. 

    Ela abriu a persiana e a janela do quarto dos pais, estava tudo silencioso, não se via uma única pessoa na rua, nem se ouvia barulho. 

    Olhou para o monte, e estava tudo calmo, não se via sinais de vulcões, nem lavas, nem fumos, muito menos lobos a uivar. 

    Estava tudo normal, tudo calmo. Voltou a fechar a persiana 

- Vês? Foi um pesadelo, como estás a estudar isso na escola, tens medo, todos temos, acabaste por sonhar com isso. - diz a mãe 

- Acham que foi mesmo um pesadelo? 

- Foi. - dizem os dois 

- Vai dormir descansada! - diz o pai 

- A fonte está no sítio dela, amanhã vamos lá ver, de certeza que continua sem água, só com as borboletas. Os montes com vulcões estão muito longe do nosso, se houver terramotos, estamos em segurança. 

    A rapariga suspira de alívio. 

- Acho que não vou conseguir dormir outra vez. Tenho o coração aos saltos, parecia um filme de terror, verdadeiro! Que medo! 

- Ficaste com medo, do que tens falado na escola, sobre vulcões e terramotos, não foi? - pergunta a mãe 

- Acho que foi! - diz a rapariga ainda aflita 

- Essas coisas acontecem, não são para meter medo, são para saberes que existem, e que não estamos livres que aconteça. São reais, como há pequeninos tremores de terra todos os dias, aqui em Portugal, nem os sentimos. Noutros países acontecem de vez em quando, aqueles mais fortes, mas não precisas de pensar que isso vai acontecer! Não sabemos. Não podemos prever, mas se houver perigo, somos avisados. - explica o pai 

- Vai dormir descansada. Deita-te, e pensa na cascata das borboletas ou noutras coisas bonitas. - sugere a mãe 

- Vou tentar. Desculpem acordar-vos! boa noite! - diz a rapariga

- Não faz mal. boa noite! - dizem os pais 

    A rapariga volta a deitar-se, e faz o que os pais lhe disseram, pensa na beleza da cascata das borboletas que pareciam água. 

- Que nojo de pesadelo! Para que é que eu estive a estudar sobre sismos...e vulcões, tremores de terra, lava, montanhas, águas sulfúricas. Acho que sim, tenho medo disso. E os meus pais também. Dormir para ter pesadelos...francamente! Ainda estou a tremer, e o meu coração acho que vai saltar pela boca. Esta parte da matéria não devia ser dada. Será que os meus colegas e amigos também têm medo e pesadelos? - murmura consigo mesma chateada 

    pensa na paisagem. Esfrega-se na cama para ter a certeza que estava em segurança, cobre-se, ainda a tremer.

    Lembra-se de outras coisas bonitas, e adormece. no dia seguinte, os pais levam-na à montanha e veem que cascata das borboletas estava mesmo sem água, só com as lindas e gigantes borboletas, pássaros a voar, os lobos que foram cumprimentá-los e receber mimos, e comida que os pais tinham levado para eles.

    Ela pergunta aos amigos, e colegas se já tiveram pesadelos com essa parte da matéria, e eles disseram que sim. 

    Partilharam com a professora, e esta transmite-lhes uma mensagem de segurança, parecida com a que os pais da rapariga passaram. 

    e disse que também teve pesadelos quando estudou essa parte, mas esses pesadelos ajudaram-na a memorizar a matéria, que é normal. 

    Respiraram de alívio e sorriram, cada um contou pesadelos que teve. Todos riram uns dos outros, porque todos os pesadelos eram um exagero, mas mostravam o medo que sentiam desses fenómenos.  

    Utiliza vídeos explicativos, incentiva os alunos a pesquisaram onde quisessem, e mostra imagens incríveis que eles nunca pensaram ver. 

    Depois, ensina o que fazer quando acontece um tremor de terra violento, ou um terramoto.  


                                                  FIM 

                                            Lara Rocha 

                                            18/11/2023 


E vocês já sonharam ou tiveram pesadelos com partes de matérias como estas, que estudaram na escola? 

Qual ou quais foram os mais terríveis? 

Como acordaram? 

Voltaram a dormir? 

Imaginem um pesadelo sobre este tema, ou com outros de que sentem medo. 

Podem deixar nos comentários. 

Há pesadelos que não nos deixam voltar a dormir nessas noites.     


terça-feira, 14 de novembro de 2023

Somos uns privilegiados

Muitas vezes somos injustos, quando reclamamos, quando queremos mais e mais, e afinal já temos tudo! O essencial que já é tudo, é um privilégio. 

Temos o suficiente, mesmo que «pouco», e queremos sempre mais! Se temos família, alguns amigos verdadeiros, um teto que nos abriga, algum trabalho (ou muito), ganhamos algum (ou o suficiente) dinheiro para o que precisamos, já somos uns privilegiados! 

Se temos saúde, se não precisamos de fugir da guerra, se podemos andar em paz, sossegados, podemos ver coisas bonitas, ouvir os pássaros, o vento, a chuva, a trovoada, e todas as suas sinfonias, podemos ver as cores da Natureza, ouvir a água a correr nos rios, ver o mar, sentir o vento, a areia, o chão, já somos uns privilegiados! 

Como somos privilegiados! Já pensaram? Vivemos em cidades sossegadas, temos casa, onde estamos seguros, temos tudo o que precisamos e queremos, sofás, cadeiras, mesas, loiças, cozinha com tudo o que precisamos e queremos, casas de banho, água tratada, basta abrir as torneiras. 

Somos privilegiados porque temos luz, gaz, televisões, computadores, telemóveis, móveis, roupas para vestir todos os dias, calçado para todos os dias, camas confortáveis e quentes onde dormir, almofadas macias, lençóis, cobertores, colchas, pijamas. Temos o que mais gostamos e o que podemos, às vezes. 

Somos privilegiados porque podemos ver, ouvir, sentir, cheirar, abraçar, beijar, quem mais amamos e gostamos, temos comunicações, livros, medicamentos, transportes, escolas intactas, hospitais intactos, bem apetrechados de materiais para nos curar e salvar quando precisamos ou quando é possível. 

Somos privilegiados porque podemos andar em paz, a pé ou de carro, ver o céu em todas as suas cores, faça chuva ou faça sol, sol entre nuvens, o arco-íris, e não estarmos com a preocupação de ver mísseis e bombas que ameaçam cair. 

Temos tudo e ainda queremos mais, e mais, temos todos os luxos, mesmo que seja pouco para muitos de nós, temos mais do que muitos outros, em especial dos países que andam em Guerra. Que tristeza de imagens que vemos! 

Não nos tocam? Sim, estão muito longe de nós, mas o coração não fica apertado ao ver aquelas imagens? 

Não nos conseguimos imaginar ali, naquele caos? Não nos faz pensar como somos mesmo privilegiados? 

Pessoas «anjos» que dão tudo, enquanto podem, como podem, enquanto não são atingidos por uma bomba.

Dão o melhor que têm, não contam horas extraordinárias, não exigem pagamento, nem pensam no salário que ganham, ou se estão deslocados.

O único objetivo é salvar vidas inocentes, as que podem. Vivem com o coração nas mãos, e querem transformar as mãos em salvação, mas já nem eles estão seguros, a salvo, nem sempre conseguem! Isso dói em que vê, ainda mais em quem vive isso.

Devia fazer-nos pensar! Em vez de exigirmos mais dinheiro e reclamarmos tanto. Lugares onde neste momento não existem Hospitais com condições (quase não existe luz, não existem ventiladores nem outros aparelhos essenciais que os nossos têm, para o que é preciso, para segurar vidas). Estão a morrer bebés prematuros e outros feridos por não terem condições nem material, mal têm instalações! E ainda reclamamos dos nossos, os nossos reclamam.

Nunca sabem se vão conseguir concluir e dar resposta a milhares de vidas que entram naqueles hospitais improvisados, onde fazem o possível.

Tendas onde se grita de dores, pelas feridas, das explosões, das bombas, sítios onde se chora porque não sabem de familiares, pela perda de familiares! Tudo! Incluindo casa, amigos, família.

A qualquer momento tudo pode ser interrompido pela destruição, e os gritos, os choros, as vidas já feridas, transforma-se em silêncio, num amontoado de corpos estilhaçados como o espaço onde estão.

Famílias que fogem com crianças de colo, e outras mais crescidas, em desespero para ver se conseguem escapar, e muitas vezes são apanhados por bombas, terminando os sonhos, os projetos, a vida.

Tantos sonhos, tantos projetos, infâncias interrompidas, deixar tudo para trás e arriscar com o que têm temporariamente, sujeitos a não chegar ao objetivo de fugir sãos e salvos com toda a família!

Muitos não chegam! Muitos não voltam a ver nem a saber dos amigos, familiares sem saber se estão vivos ou se já são estrelas

Por isso somos privilegiados pela nossa casa, mas pelo mundo fora, existem lugares, onde há guerra, já não existem casas, nem prédios, apenas...pó, pedaços de pedras, cimento, fumo, estrondos, tudo vai pelos ares em segundos.

Tudo fica reduzido a escombros, juntamente com vidas que deixaram de ser, ou que por sorte conseguem escapar feridos, mas perdem tudo!

Ver tudo desaparecer num sopro, numa lágrima, num piscar de olhos! Tudo fica reduzido a pó, destruição, sangue, vidas humanas desfeitas, corpos que se fundem com os pedaços das casas onde estão, dos prédios que desabam, das estradas onde são apanhados.

Até as casas, hospitais e abrigos são destruídos. Pela PAZ! Deixemos de reclamar e exigir muito mais do tudo que já temos, se pensarmos nestes. Somos uns privilegiados.

Pensemos nisto quando exigirmos mais e mais dinheiro, quando reclamarmos do luxo que temos, mas queremos sempre mais, sem pensar no mais importante: a parte humana, as relações humanas, o trato humano uns com os outros sem a vaidade, arrogância e superioridade de alguns.
Somos injustos…

Lara Rocha
13/11/2023