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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

a casa da pena







                











          



foto de Lara Rocha 



          Era uma vez uma pena grande, muito leve, e com cores brilhantes. Andava à procura de uma casa onde pudesse descansar dos seus voos e abrigar-se. Já tinha percorrido muitos quilómetros, espreitado por muitas janelas de quartos, vivido em muitos parapeitos, mas logo que a viam sopravam-na ou deitavam-na abaixo. Já tinha pousado em muitas ervas, muitas areias de praias diferentes, árvores e ninhos, mas de todas elas era expulsa pelo vento mais cedo ou mais tarde, ou pisada por pés humanos.
     Continuava a sua procura solitária, nenhum sítio lhe agradava, todos lhe pareciam no início sossegados, mas logo se transformavam em lugares assustadores, onde era maltratada. Numa das suas procuras, olhou para uma janela de uma casa, onde lhe parecia ser um talvez um quarto de criança, cheio de brinquedos, que não estava lá, mas a janela estava aberta.

            Pousou no beiral, respirou fundo, olhou em volta e disse:

- Acho que vou ficar aqui um pouco, só para recuperar forças, espero que não me corram outra vez! Se aparecer alguém vou esconder-me…onde? Áh! Aqui. De certeza que não me veem.

Boceja e deita-se à sombra. Olha para o quarto e diz:

- Que lugar tão bonito! Será que há um espacinho para mim? Quem dormirá aqui? Gosto deste espaço.

            Olha para o chão e vê um violino pousado, encostado à parede.

- Acho que encontrei a minha casa! O que é aquilo?

           E decide entrar pela janela. Dirige-se para o violino, olha e volta a olhar. Aproxima-se e afasta-se, olha à volta para ver se estava segura.

- Está muito silêncio aqui!

         O violino acorda, boceja barulhentamente, e sopra a pena com força. A pena bate na parede e grita:

- Ai! O que foi isto?

- Menina? – Pergunta o violino intrigado.

- Não! Não sou menina…acho eu…! Sou uma pena!

- Uma pena?

- Sim.

- Não nos conhecemos, pois não?

- Vives neste quarto?

- Não! E tu?

- Eu sim! Já há muito tempo. Sou um violino.

- Um violino?

- Sim!

- E o que fazes neste quarto?

- A menina do quarto, toca-me. Sou um instrumento musical. E tu?

- Eu sou uma pena.

- O que fazes aqui?

- Estou à procura de uma casa. Já passei por muitas casas, mas fui corrida de todas!

- Porquê?

- Por muitas razões, que para mim não justificavam a expulsão, mas sabes como são os humanos…estranhos!

- Sim, tens razão.

- Achas que posso ficar neste quarto?

- Desculpa, eu gostava muito de te ajudar, mas é melhor perguntares à menina!

- Onde está a menina?

- Acho que está cá em casa. Olha, lá vem ela.

- Óh!

                A pena fica cheia de medo, paira e olha para a menina. A menina vê a pena:

- Áh, uma pena! Como é que entrou para aqui? Áh, pois…pela janela que está aberta.

- Óh, não! Lá vou eu ser outra vez expulsa…! – suspira a pena triste

- Que linda pena! – Diz a menina

                Agarra na pena, e esta encolhe-se.

- Vou guardá-la. Nunca vi uma pena tão bonita! Mas onde?  

                O violino solta uns acordes.

- O que foi, violino? Também gostaste dela?

                O violino dá um acorde alegre, a dizer que sim!

- Já sei…não te importas que ela fique aí, pois não, violino? É que a minha mãe não quer penas na janela, nem no quarto.

- Não! – Responde o violino

- Obrigada, violino!

                A menina pousa a pena no violino, e recomenda-lhe:

- Olha pena, esta vai ser a tua casa! Quando entrar aqui alguém escondeste, vais por aqui, e assim não te veem. O violino é teu amigo, vais ver. Ele toca muito bem! Podes falar com ele, que ele responde. Eu também falo com ele. Ele respondeu-me, que não se importava que ficasse aqui, e que gostou de ti!

                A pena sorri, e respira de alívio:

- Obrigada, menina!

- Áh! Tu também falas, pena?

- Falo!

           A pena conta-lhe a sua história, as casas que já teve, e ao ouvir os passos da mãe pede à pena para se esconder. A pena esconde-se dentro do violino, a mãe não desconfia. Quando saiu do quarto, a pena e o violino tem uma longa e divertida conversa. Mais tarde, a menina pega no violino e começa a tocar. A pena que estava a dormir, desperta e acorda assustada.

- Óh, desculpa, pena! Não sabia que estavas a dormir. Gostaste da tua nova casa?

- Adorei! – diz a pena

- Toca comigo! – convida a menina

- Eu não sei tocar! – Diz a pena

- Tocas comigo! Eu ensino-te!

- Está bem!

       A menina explica e a pena aprende rapidamente. Toca sozinha uma linda melodia, ao dançar levemente nas cordas do violino que sorri deliciado. A menina fica embalada, aplaudem a pena, e tocam os três em conjunto. Depois, só a menina, que faz a pena pairar, a seguir toca a pena ao mesmo tempo que brilha mais, soltando brilhantes, com todas as suas cores. A menina parece que fica hipnotizada com tanta beleza. Fazem outras experiências, juntos e em separado. A mãe entra no quarto, e a pena esconde-se rapidamente.

- Áh! És tu que estás a tocar essas músicas tão bonitas?

- Ouviste-as, mamã?

- Ouvi.

- Sim, fui eu! Inventei! Estava a brincar com as notas, e a tocar sem pauta!

- Muito bem! Que lindas músicas. Tenta lembrar-te das notas e escreve-as, para tocares nas aulas. A tua professora vai ficar muito orgulhosa de ti. Continua!

- Obrigada, mamã. Até já.

       A mãe sai, os três respiram de alívio. A mãe não viu a pena mágica. Voltam a tocar as mesmas músicas, e a menina escreve as notas musicais.

- Obrigada, amigos! – Diz a menina a sorrir

                Todos os dias inventam músicas novas. A menina toca na aula, com a pena dentro de casa…o seu violino, e ajuda-a nas músicas. A professora gosta tanto que a convida para dar espetáculos na escola, e noutros locais. Todos não cabem em si de orgulho e felicidade pela menina, pelas músicas e pelo brilho. Os três nunca mais se separam. A menina tornou-se muito famosa, a pena encontrou uma casa, e uma família…a menina e o violino.

Às vezes a pena ia para a janela do quarto apanhar ar, ver a paisagem e inspirar-se para ajudar a criar novas músicas. Dançava livre, flutuava, passeava leve com o vento que a levava e conversavam os dois alegremente. Ia, mas voltava sempre para o quarto da menina.

Quando estava calor, a pena refrescava-se numa fonte de quem era amiga. Para lhe agradecer, deixava muitos brilhantes de várias cores na água. Muita gente achava que aquela fonte era mágica.

Depois, andava muito feliz, largava brilhantes pela erva e em cima das árvores. Quem via, parecia uma cascata de diamantes de cor. Outros brilhantes da pena iam para as pétalas das flores por onde sobrevoava, estas ficavam ainda mais bonitas, dançavam e riam.

Não estava sempre em casa. Mas voltava e partilhava com os seus amigos onde tinha ido, o que tinha feito, e o que tinha visto, porque tudo isto inspirava a menina para as suas músicas.

Uma pena cheia de sorte! E se vocês tivessem uma pena no vosso quarto? De onde vinha? Como era? Que fazia? Onde a punham a viver? Imaginem e escrevam…ou desenhem.



FIM

Lálá

7/Setembro/2018

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