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domingo, 31 de maio de 2020

Direitos Humanos



Sou mãe, e por causa disso não posso andar vestida como quero? 

Ontem saí com o meu filho, ainda bebé, sim, fui mãe há muito pouco tempo. Quando me preparava para sair de casa, com um vestido acima do joelho fui recriminada pela minha sogra, com o seu comentário infeliz, falsa moralista de que tinha acabado de ser mãe, não podia andar com aquele vestido tão curto, porque uma mãe tem de andar tapada, uma mulher com filhos é só do marido, só pode agradar ao marido. 
Estou gorda para andar com este vestido, depois de ser mãe. É uma vergonha, vai tudo pensar que sou da vida...ou de rua. Mas era só o que mais faltava, eu andar vestida como acham que tenho de andar. 
Ainda ligou ao meu marido a fazer queixinha, e ainda bem que ele teve a feliz atitude de lhe dizer que ela não tinha nada que se meter, com todo o respeito...mas disse-lhe que eu andava como queria. 
Ele confia em mim, e pode confiar, porque não vai ser o vestido curto ou comprido que dita a minha fidelidade, ou amor pelo meu marido. Há respeito na nossa relação e amizade principalmente. 
O ser mãe é um privilégio que muitas mulheres gostariam de ter e não podem, mas não impede que ande vestida como eu quero, como me sinto bem, de acordo com a temperatura exterior. 
Era só o que faltava eu dar ouvidos e seguir as teóricas moralidades da minha sogra. Ela que ande como quiser, e não tem nada que se meter. O meu marido nunca se pronunciou sobre como eu devia andar, sempre andei ao lado dele enquanto namoramos, com roupas mais curtas ou mais compridas, como queria. 
Porque sempre me dei ao respeito, e respeitavam-me! Os meus pais também nunca me impediram de andar vestida como eu queria, como me sentia bem, vinha agora a minha sogra meter-se. 
Nem permitam que eles se metam nas vossas escolhas, meninas. Vistam-se como querem, como se sentem bem, não interessa o que os outros vão dizer ou pensar. 
Como se...o ser mãe implicasse andar tapada dos pés à cabeça, não? Temos o direito de andar vestidas como queremos, como gostamos, para nós, não para os outros repararem. 
Temos o direito de ser respeitadas, com vestido curto, comprido, mini saia. Temos o direito de não ser julgadas ou criticadas pela nossa maneira de vestir, só porque temos um filho. 
    Não temos de ser objeto de satisfação de prazer dos nossos namorados ou maridos, namoradas o que for. Merecemos respeito, como somos, como vamos vestidas ou calçadas, penteadas, despenteadas...vamos como gostamos, os outros só tem obrigação de nos respeitar.  

Sou homossexual, isso não me impede de ser respeitado pela minha escolha sexual. Os herterossexuais também são respeitados, porque é a escolha deles, que diferença faz ser homo ou hetero…? 
Todos temos um corpo, é como é, mais ou menos perfeito, todos somos iguais em sentimentos e emoções, que não têm rosto, nomes de pessoas, género. Todos merecemos ser acolhidos, abraçados pela diferença, respeitados pelas nossas escolhas sejam elas quais forem. 
A homossexualidade não é crime, xenofobia, homofobia, e companhia...isso sim, é uma doença grave! Podemos escolher livremente quem queremos amar, com quem queremos ficar, a quem queremos mostrar o nosso corpo. 
Temos o direito de ocultar essa nossa escolha, mas também podemos assumir livremente o amor pela outra pessoa, seja do mesmo género que nós ou diferente. 
Porque o amor não tem rosto, o rosto somos nós que lho damos, o da outra pessoa que escolhemos e com quem temos o direito de ser felizes, sem sermos atacados, julgados ou postos de lado, rejeitados, humilhados. 
Sou homessexual, mas sou um ser humano, como aqueles que não me respeitam. Temos direito de gostar do nosso corpo, e aceitá-lo como ele é, somos dignos de valor e de aceitação, porque na verdade, todos somos diferentes. 
Sou homossexual mas tenho direito a um trabalho, onde sou acolhido, integrado, valorizado, respeitado, admirado pelas minhas competências, e não pelo que escolho amar. 
Tenho direito a pertencer a uma família, que me ame, que me acolha, que me abrace, por ser parte deles, independentemente da minha escolha. Tenho direito a uma casa, a cuidados de saúde, à educação. 
Tenho o direito de não me esconder do mundo, só porque sou homossexual, e tenho direito a ser respeitado. Tenho direito a ter amigos. 

Sou mulher, mas não sinto como tal, quero ser homem 
    Tenho direito de mudar todo o meu corpo, se não gosto dele. Nunca me senti realmente mulher, detesto o meu corpo enquanto mulher. Sou transgénero, mesmo assim, mereço ser respeitada nessa escolha e nessa decisão de querer mudar. 
Tenho direito de manifestar essa vontade, e de querer mudar, sem que me ponham fora de casa, ou sem que a minha família me expulse e rejeite. Sei que os desiludi, porque imagino que seja muito mau para os pais mas mereço ser tratada, acolhida, protegida e cuidada, amada pela minha família. 

Sou mulher, mas não tenho de ser tua posse… 
    Sou mulher, gostava da nossa relação, até ao momento em que mudaste e começaste a controlar tudo o que eu fazia. Perdeste o meu interesse, desde que começaste a levantar-me primeiro a voz, e a seguir a mão. Sou mulher, mas tenho liberdade e direito de não me submeter às suas agressões. 
    Sou mulher, e podia ser tua namorada, mas não sou tua posse! Tenho direito a ser acarinhada e bem tratada, tenho direito à minha liberdade, às minhas saídas, às minhas relações, como tu tens esse direito. 
    Eu sempre respeitei esses teus direitos, mas tu proibiste-me de ter amigas, e amigos, de sair com eles, de falar com eles, até de estar e falar com a minha família. 
    A quantidade de vezes que menti, adiei, inventei desculpas, para eles não me verem com as marcas das suas porradas. Até que cansei de ti, da minha submissão desmedida, e do teu excesso de liberdade. 
    Não tens direito a aprisionar-me, a matar-me, a maltratar-me, a possuir-me, nem a tirar-me a minha liberdade, a que toda a gente tem direito. Querias uma escrava, não tens esse direito. A escravatura acabou, e quando existe não deve ser permitida. Não tens o direito de me torturar. 
    Eu tenho direito e liberdade para não te querer mais, e tu tens obrigação de me respeitar nessa liberdade. Sou mulher, e tenho direito e liberdade de escolher quem quero ter ao meu lado, com quem me quero relacionar. 
    Sou mulher e quero ser respeitada como tal. Não, não tenho que fazer tudo o que queres, se eu não quiser. Tenho é de respeitar a minha própria vontade, as minhas próprias emoções. 

Sou mulher...tenho que ter filhos…
    Não. Sou mulher, e não tenho que ter filhos, se eu não quiser. Sou livre para escolher e decidir ter um namorado ou marido e não ter filhos. Não é isso que me torna menos mulher, nem é isso que vai desfazer a minha relação com a outra pessoa, se ela respeitar e aceitar a minha decisão. 
    Ele também pode vir a escolher não ter filhos, e a mulher com quem está poderá nem conseguir dar-lhe filhos. Ele é livre para decidir continuar com ela, ou deixá-la, e ela tem de o respeitar. 
Temos direito a refazer e reconstruir a nossa vida, se não estamos felizes com alguém, mas deve haver sempre respeito. É importante respeitarmos acima de tudo o nosso próprio corpo, a nossa própria vontade, os nossos gostos, assumirmos as nossas escolhas, e responsabilidades, sem deixar que os outros decidam por nós. 

Sou Africano, sou Francês, Francesa, Turca, Chilena, Chinesa, Húngara, Brasileira, Peruana, Irlandesa… ou outra qualquer, temos liberdade para circular por todo o mundo, como tu tens liberdade de passear, viver ou mudares para outra cidade, outro país. 
Sou de um país diferente, e depois? Sou humano, como tu, tenho um corpo como o teu, igual ao teu, por dentro, tenho uma família como a tua, tenhos os mesmos direitos e deveres que tu, porque me chamas nomes ofensivos, pela minha cor diferente? 
Porque gozas com o meu sotaque, porque fazes piadas com as crenças do meu povo? Porque ofendes a minha crença, se eu não sou da tua, mas respeito-a? 

Tenho uma deficiência, mas sou humano como tu, que não tens deficiência, mas podias, ou ainda podes vir a tê-la. São situações que ninguém escolhe, e podem acontecer a qualquer um. 
Porque gozas com a minha deficiência? Porque não me tratas como um igual a ti, que sou? Tenho essa diferença, mas tu também és diferente, e eu gosto de ti. 
Não quero, nem preciso que tenhas pena de mim, nem que digas que sou um coitadinho, muito menos que faças por mim, coisas que consigo fazer. Só quero que me respeites como sou, que me mostres o teu respeito e carinho, a tua amizade, e que me acolhas, que me abraces, que brinques comigo, que converses comigo. 
Pensamos de forma diferente, mas porque tentas obrigar-me a pensar como tu? Temos direito e liberdade de pensar o que quisermos sobre os mesmos assuntos. 
Porque temos de ter a mesma ideia ou opinião sobre os mesmos assuntos, pessoas ou acontecimentos? Temos sempre coisas em comum, apesar das diferenças, e temos de respeitar, mesmo não concordando, podemos respeitar e muitas vezes até enriquecemos trabalhos ou fortalecemos amizades, conciliamos ideias que podem funcionar. 
Temos direito a pensar diferente, e todos pensamos diferente, mas não temos o direito de impor as nossas ideias, crenças e pensamentos aos outros. Todos temos direito à nossa liberdade de expressão, opinião, pensamento e ação, desde que não façamos mal ao outro, nem o outro a nós. 
Todos temos direito a uma casa, família, ao sentimento de pertença, ao afeto, ao cuidado, à saúde, à educação, à liberdade individual, à escolha sexual, ao trabalho, ao respeito, à valorização, realização pessoal e à dignidade.
Todos temos direito a ser tratados como seres humanos, como pessoas dignas de respeito, a não ser as que maltratam, matam, violam ou aprisionam os outros. 
Nos dias de hoje, ainda há muitos direitos que ficam aquém do acesso a todos. Ainda há muito a fazer. 




Inspirado no 2º Artigo dos Direitos Humanos 

                                                              Lara Rocha 
                                                              30/Maio/2020 



                                                                  


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