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sábado, 22 de julho de 2023

A DANÇARINA DE RUA

 

    Era uma vez uma linda e elegante rapariga, mascarada, vestida com cores coloridas.     Todos os dias vestia uma roupa diferente, tal como fazia com as pinturas da sua cara. 

      Fazia parte do seu trabalho uma bola de acrílico, grande, transparente, às vezes preenchida com luzes, outras vezes brilhantes, cores e água. 

      As suas atuações eram tão mágicas que pareciam fáceis, deixavam todos na expectativa e às vezes assustados quando ela dançava e lançava a bola ao ar. 

     Adoravam vê-la pôr a bola a girar nas pontas dos dedos, um por um, em cada mão, e parecia tão leve como penas, em conjunto com o que tinha nas bolas, e o seu sorriso a mostrar ao público. 

      Dançava, contorcia-se, ondulava o corpo, soprava, deitava-se, a bola parecia ter cola no ar, quando se deitava a bola caía sobre as pontas dos dedos dos pés, e ela girava-as. 

      Aplaudiam-na, ela sorria, outras vezes utilizava várias bolas que flutuavam e não caiam ao chão, ela brincava com elas, soprava-lhes, e elas dançavam sozinhas no ar, misturavam-se, o que dava um efeito tão bonito que quem via parecia ficar hipnotizado! 

       A rapariga dobrava uma perna para trás, atirava a bola, ou várias bolas para as costas, elas desciam a rolar pelas costas e pousavam direitinho nos pés. 

       Quando chegavam aos pés, ela saltava como se tivesse uma corda nas mãos, e as bolas giravam, cruzavam, iam de um lado para o outro, umas para cima, outras para baixo e voltavam a subir. 

       Noutros espetáculos, a jovem dançava com as bolas e as mãos, era muito bonito de ver. Às vezes atirava as bolas livremente e estas percorriam os seus longos cabelos, como se estivessem a penteá-los, e ela apanhava-as no fundo das costas, atirando-as novamente para a frente, soprando e dançando com elas, como se fossem gente. 

       Eram todos tão bonitos, diferentes, tão apreciados...mas um dia cansou! Ficou sem ideias para os seus espetáculos. Olhava para as suas bolas, triste, e perguntava: 

- O que vou fazer convosco? Porque é que isto tinha de acontecer comigo? E agora? 

        Deixou de atuar duas noites, pensou, repensou, deambulou pelas ruas à procura de ideias, chorou, perguntou aos pais, mas os pais também não sabiam, parou na ponte a olhar para o rio. 

        Uma menina adolescente reconheceu-a: 

- Olá! Porque não estás a atuar? Gostamos tanto de te ver, mas não te temos visto! Está tudo bem? 

- Óh minha querida, obrigada...está tudo...

- Então porque estás a chorar? 

- É...porque...o rio...emociona-me...

- Claro, e eu nasci ontem! 

- Fizeste anos ontem? 

- (ri) Não, o que eu quero dizer é que sei que não estás a chorar porque o rio emociona-te! Mas não és obrigada a contar-me. Se precisares, eu estou aqui, só gostaria que voltasses a atuar. 

- (sorri) Tão querida! Pois, tens razão, eu não estou assim porque o rio emociona-me. Gosto do rio, claro que sim, mas estou mais triste por outra coisa. É que estou sem ideias para os meus espetáculos, e procuro novas ideias. 

- Sei o que sentes, eu sou igual, quando não consigo fazer trabalhos de grupo ou individuais, quando estou sem ideias, ou a pensar noutras coisas. Mas porque queres novas ideias? 

- Porque as pessoas não gostam dever sempre a mesma coisa, todos os dias. 

- Mas não são sempre as mesmas pessoas que te veem, e se forem, gostam de ver. Aquelas tuas bolas são mágicas, não cansam, apetece ver mais e mais. Adoro. Olha, porque não convidas quem te vê a brincar também com as tuas bolas? 

        A jovem fica pensativa, olha para a adolescente:

- Tu...achas que iam gostar? 

- Tu gostas do que fazes? 

- Adoro! 

- Eu adoro ver-te. Acho que ficamos todos com vontade de tocar e brincar com as tuas bolas. 

- A sério? 

- Sim, para saber se são leves, e como tu seguras nas pontas dos dedos, sem as deixar cair...como é que elas descem dos teus cabelos e tu consegues apanhá-las no fundo das costas, elas voltam a subir e parece que flutuam, que dançam contigo. É tão bonito! E tu danças tão bem! 

- Obrigada, princesa! - diz a jovem a sorrir 

- Faz mais espetáculos desses! E se queres fazer diferente, podes...pintar as bolas com outras coisas, sei lá...botões, balões, feijões, cascas, musgo, folhas secas, flores, pintas, conchas, areia, digo eu...não sei como as fazes, mas já vi pessoas a fazer isso, ou numas parecidas. E podes convidar o público a atuar contigo, ou outros amigos teus...! 

       A jovem abre um grande sorriso, abraça a adolescente, feliz e diz: 

- Mas que ideias maravilhosas que m deste hoje! Óh! Não sei como te agradecer. Já sei...queres ajudar-me a encher as bolas com coisas diferentes, e serás a primeira a ser convidada quando fores ver os meus espetáculos. 

- Eu aceito! - diz a adolescente feliz 

- Eu falo com os teus pais. Onde estão? 

- Ali! 

     A adolescente dá a mão à jovem e vai ter com os pais que ralham com ela: 

- O que é isto? Onde foste? Estávamos preocupadas contigo à tua procura, e agora aparecem com...ahhhh....é a jovem que atua, não é? (sorriem) 

- É. 

- Sim, sou eu, os senhores têm uma filha de ouro! - diz a jovem

- Ela estava triste, eu reconheci-a. 

- E se não fosse ela? - disse a mãe 

- Se não fosse ela, e estivesse em apuros, ia na mesma! Mas eu sabia que era ela. 

- Tem razão! - diz a jovem 

- Mas devias ter avisado...desapareces assim de repente... - ralha o pai 

- Desculpem, estavam a falar com aqueles amigos vosso... 

- Jovem, muitos parabéns pelo trabalho! - diz o pai a sorrir 

- Muito obrigada! - sorri a jovem

- Que bonita que és, com máscaras e sem máscaras! - diz a mãe a sorrir 

- Condizem com  os espetáculos! - acrescenta a adolescente 

- É verdade! - dizem todos 

- Obrigada! - diz a jovem a sorrir 

- Não te temos visto! - diz a mãe 

- Estava sem ideias, mas a vossa filha acabou de me dar umas excelentes ideias. 

        A jovem conta aos pais, e pede autorização, os pais sorriem orgulhosos. 

- Claro que sim! - dizem os dois

- Se os pais também tiverem ideias são muito bem vindas! - diz a jovem a sorrir 

- Vamos ver...quem sabe! - diz a mãe

- Mas realmente não deixe de atuar! - diz o pai 

        Os pais combinam com a jovem, como vão fazer, e o que fazer. 

- Muito obrigada! - diz a jovem 

        As duas abraçam-se. Nos dias seguinte, a adolescente e a jovem encontram-se na casa da adolescente, e as duas divertem-se como nunca. A mãe também dá sugestões, e ajuda, a conversar alegremente. 

        Vão em busca de plantas, flores, enchem algumas bolas de areia, pedrinhas, feijões, flores, pintam de várias cores, cantam, ensaiam juntas. 

       E a jovem volta a fazer lindos espetáculos, a fazer as delícias de todos os que viam, deixando sempre moedinhas e notas num saquinho, embora ela não o fizesse com esse objetivo, como já antes acontecia. 

       Convida o público para participar nas brincadeiras e espetáculos, tão bonitos, tao mágicos, como os dela. Aplaudem, fotografam, riem, interagem com ela, com muita gargalhada, dança, música, alegria e voltou a sentir-se feliz, com cada vez mais público a vê-la. 

       Nos espetáculos, pedia opinião aos espectadores sobre o que gostavam de ver, o que imaginavam que tinham aquelas bolas, e com isso ela ganhava novas ideias para mudar os espetáculos. 

      Cansou, mas não desistiu. Às vezes também cansamos, ficamos sem ideias, tristes, parece que os pensamentos nos fogem ou que estamos perdidos, mas encontramos uma nova inspiração e uma nova alegria, em pequenas coisas, pequenos carinhos, palavras de incentivo, conversas, partilhas, paisagens. 

       Se é mesmo o que gostamos, às vezes podemos mudar alguma coisa e tudo volta a ser como antes. 

E vocês? O que punham nas bolas? Podem imaginar e deixar nos comentários. 

                                                    FIM 

                                                Lara Rocha       

                                             8/Julho/2023                                      

                                           



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