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sexta-feira, 8 de maio de 2015

AS PESTANAS

           Era uma vez uma joaninha que tinha uns lindos olhos verdes enormes, e umas pestanas ainda maiores, reviradas para cima. Toda a sua família tinha esse pormenor que fazia a diferença das outras famílias de joaninhas.
        As suas pestanas eram muitas vezes visitadas por borboletas e pirilampos que não resistiam em experimentar, pousavam nelas, deixavam-se escorregar e até baloiçavam. Queriam ver e sentir de que eram feitas.
          Quando a invasão começou, no início, a joaninha até achou alguma piada, e permitiu que tocassem ou pousassem nas suas enormes pestanas, mas cansou-se, e começou a ficar com os olhos muito irritados de tanto bichinho que pousava lá.
            Não queria cortar as pestanas, porque elas eram bonitas e uma defesa para os seus lindos olhos verdes, mas também não queria ser má e correr o risco de perder as amizades que tinha construído com quem pousava nas pestanas.
Como é que ela ia resolver? Não podia ter tudo…ou cortava as pestanas e deixava de ter os olhos irritados, ou mandava os bichinhos embora e ia ficar de certeza muito triste porque perdia os amigos.
O que é que ela ia fazer? Mas que grande dúvida. Foi conversar com a sua madrinha, uma formiga grande, e simpática, muito amiga da família, a quem ela chamava com muito carinho «Dlinda». Contou-lhe o que estava a acontecer, e pediu ajuda para a sua dificuldade.
- O que faço, Dlinda…?
A madrinha aconselhou-a:
- Olha: deves dizer aos teus amigos, a verdade! Diz-lhes que gostas muito deles, que deixaste que eles tocassem e sentissem nas tuas pestanas mas eles não vão poder fazer mais isso porque estás com os olhos irritados, e se eles pousarem nas tuas pestanas vão irritar ainda mais os teus olhos. Além disso, também eles podem ficar doentes, se continuarem a tocar nas tuas pestanas assim.
- A sério?
- Sim! Essa irritação nos olhos é contagiosa! Se tocarem ai podem apanhar. É como o vírus que provoca a constipação.
- Áh! Não sabia.
- Sim, é mesmo.
- Mas eu acho que eles vão ficar muito tristes comigo!
- Não vão nada! Eles são teus amigos, e vão continuar a ser, só não vão mais para as tuas pestanas, até porque as tuas pestanas não são um parque de diversões, certo?
- Certo.
- Por muito que eles gostem das tuas pestanas, não têm o direito de brincar com elas, ou de se divertirem com elas. Eles vão continuar a ser teus amigos, e a brincar nos sítios onde é para brincar…nos mesmos onde tu brincas.
- Entendi. E se mesmo assim eles ficarem zangados comigo?
- Não lhes ligues…
- Obrigada, Dlinda…
- De nada, querida. Até logo…
- Até logo.
            E a joaninha sai de casa da madrinha. Encontra os amigos que costumavam pousar nas suas pestanas.
- Óh, não amigos…por favor…não pousem mais nas minhas pestanas. Eu sei que gostam muito delas, e eu também gosto muito de vocês, mas não vão poder pousar mais aqui. Podem ficar doentes…isto pega-se…como as constipações. Estão irritadas.
- Óh! Desculpa! – Dizem todos os amigos
- Coitadinha…estás doente? – Comenta uma borboleta
- Isto passa. – Diz a joaninha
- Por nossa causa? – Pergunta um pirilampo
- Talvez não tenha sido por vossa causa. – Diz a joaninha
- Já podias ter dito há mais tempo, amiga. – Diz outra borboleta
- Gostamos muito de ti…- Dizem todos
- Tens toda a razão…as pestanas não são sítios para pousar. – Diz outra borboleta
- Mas podemos brincar noutro sítio… - Diz a joaninha
- Claro! – Dizem todos
- No parque, no jardim, no campo… - Sugere outra borboleta
- Então não ficaram tristes comigo? – Pergunta a joaninha
- Claro que não! – Dizem todos
- Nós é que temos que te pedir desculpa… - Diz uma borboleta
- Ficaste doente por nossa causa! – Diz outra borboleta
- Vamos brincar? – Diz a joaninha
- Vamos! – Gritam todas
            E vão todos com a joaninha, de patinhas no chão, ou a voar, e a cantarolar, a conversar e a rir para o campo. De repente, sentam-se à sombra debaixo de uma flor enorme, e caem das pétalas, duas gotas de chuva nas pestanas da joaninha, uma em cada olho.
- Ai…está a chover? – Pergunta a joaninha
- Não! – Respondem todas
- Caiu-me uma gota nas pestanas.
            As duas gotinhas riem, escorregam e brincam com as pestanas.
- Ei…saiam daí. – Gritam todas
- Os olhos dela estão irritados. – Lembra uma borboleta
- Não podem tocar aí. Vão ficar doentes. – Lembra outra borboleta
- Não te preocupes! – Dizem as gotas
- Nós estamos a lavar as pestanas. – Diz uma gota
- É para isso que servimos…lavar…desinfectar… - Diz outra gota
- Daqui a pouco já não tens nada! – Diz uma gota
- É como quando se chora! – Diz outra gota
- Isso mesmo! As lágrimas também lavam. – Diz uma gota
- Fecha os olhos! – Diz outra gota
            A joaninha fecha os olhos e as pestanas ficam para a frente. As borboletas estão muito curiosas e atentas.
- Vejam lá o que vão fazer aos olhos da nossa amiga! – Diz uma borboleta preocupada
- Fica descansada. – Assegura uma lágrima
- Sabemos o que estamos a fazer! – Diz outra lágrima
- Não abras antes de dizermos. – Diz uma lágrima
- Está bem. – Diz a joaninha
            E as duas gostas, enrolam-se sobre si mesmas, e lançam um grande jacto de água, lavando as enormes pestanas da joaninha, como se fosse um chuveiro, deslizam sobre as pestanas e parece que estão a esfregá-las. A água suja cai toda no chão sem molhar a cara da joaninha, e toda a irritação desaparece. As borboletas estão espantadas.
- Áhhh…! – Exclamam todas
- Como é possível?
- Desapareceu tudo!
- Tudo? As pestanas também? – Pergunta a joaninha assustada
- Não! Tudo o que era irritação. As pestanas estão aí, continuam enormes e lindas.
- Áh! Que susto! – Diz a joaninha a rir
- Estás óptima! – Diz uma gota
- Obrigada! – Diz a joaninha
- Como vos posso agradecer? – Pergunta a joaninha
- Chama-nos sempre que precisares! – Diz outra gota
- Encontras-nos sempre aqui. – Diz uma gota
            E a joaninha volta a brincar feliz. As gotinhas vão trabalhar para outros sítios, e sempre que ela fica com os olhos irritados, lá estão as gotinhas. As nossas pestanas não são tão enormes como as da joaninha, mas também ficam irritadas e sujas de vez em quando, mesmo sem querermos.
A água limpa tudo…a da torneira ou as lágrimas, e as pestanas protegem-nos os olhos…abrem e fecham quando vamos dormir, ou quando está vento e muito sol, para o lixo não entrar. É para isso que elas existem!

FIM
Lálá
(8/Maio/2015)


              

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