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segunda-feira, 4 de maio de 2015

A aldeia cereja

             
desenhado e pintado por Lara Rocha 

             Era uma vez uma pequenina aldeia entre duas montanhas muito diferente das outras. Os seus habitantes mais velhos contam uma lenda romântica sobre a origem da aldeia.
            Contam que inicialmente só existiam as duas montanhas, depois um jovem, aquele que veio a ser o primeiro habitante da aldeia, diz ter avistado nos céus, um enorme pássaro misterioso, feito de estrelas que voou por cima das montanhas, e do seu bico caíram umas luzes brilhantes na terra.
            Como o terreno era natural, ainda sem a mão do homem, as sementes de luz, transformaram-se em lindas árvores cerejeiras, que deram flores e frutos encantadores, grandes e suculentos.
            A cereja passou a ser, entre outros produtos da terra, o primeiro sustento do seu habitante, que conheceu o amor da sua vida e foi viver para lá. Ele e a esposa construíram a sua casa, de forma muito diferente das outras casas…em vez de ser em pedra e cimento, aprenderam ao ver como os pássaros construíam os ninhos, e fizeram a sua casinha, como um grande ninho, sem repararem que quase ganhou a forma de uma cereja, entre duas cerejeiras com pauzinhos de cerejas, palha, erva, alguns troncos grossos e outros materiais muito primários que encontravam por lá.
            Embora fosse uma casa frágil, tinham um tecto onde dormir, e estavam protegidos do tempo frio, da chuva, do vento, e tinham porta para não entrarem animais como lobos.
            De dois, passaram a quatro, porque tiveram dois filhos gémeos, e o homem construiu outra casa maior, ao lado, quase com os mesmos materiais e as condições foram melhorando.
            Uns anos mais tarde, outros visitantes gostaram tanto do sítio que foram para lá viver. Diz a lenda que o pássaro de estrelas voltou a largar sementes de cerejeiras e nasceram várias dezenas espalhadas pelo vale.
            Os seus troncos serviram para construir as pequeninas casas em forma de ninhos e depois em forma de cereja. Os seus habitantes já tinham provado as cerejas, e passaram a utilizá-las para fazer bolos, compotas, sumos, cremes e champôs de cereja, porque sabiam que faz muito bem à saúde e é fonte de rendimento.
            Para agradecer a generosidade do pássaro, e tudo de bom que esse acontecimento trouxe ao vale, os habitantes decidiram fazer um baile, uma festa.
            Prepararam um banquete, puseram troncos das cerejeiras a servir de mesas e de bancos, cadeiras desenhadas em forma de cerejas pelo artista do vale, com cerejas bordadas nas toalhas, feitas com muito carinho pelas senhoras, tudo decorado com raminhos de cerejas.
            As mulheres e as crianças estavam lindas, com roupas para o jantar, cheias de cerejas nos tecidos, brincos e colares feitos de cerejas, tudo tinha toque de cereja.
            As lanterninhas de luz tinham forma e cor de cereja, assim como as velas que iluminavam todo o vale, além de cheirarem a cereja. Estava um ambiente mesmo bom e bonito, perfumado, e animado.
            A decoração estava mesmo deliciosa, sentia-se um cheirinho a cereja por todo o lado. Os pratos que prepararam foram servidos em travessas, pratos e talheres com formato de cereja, e cerejas pintadas.
            As cozinheiras fizeram bolos de chocolate com cerejas a decorar, sumo de cereja. O primeiro habitante foi quem fez o discurso de agradecimento. No final, todos aplaudem e agradecem em coro.
            O pássaro feito de estrelas, ouviu tudo, e até deixou escapar algumas lágrimas de alegria e emoção pela festa…as lágrimas e os sorrisos do pássaro, foram vistas na terra, em forma de estrelas cadentes. Foi uma surpresa para todos.
            O pássaro só apareceu no céu, no final do discurso. Nessa noite, todos o viram e acharam lindo! Ele dançou para os habitantes, leve, brilhante, elegante, para agradecer, e retribuiu todo o carinho e atenção, lançando outras sementes, de novos frutos e produtos para experimentarem e variarem. O pássaro faz desenhos de cerejas com estrelas, que deram as mãos, e muitas outras imagens… os habitantes nunca tinham visto.
            E ainda voou por cima de todas as casas frágeis, que tinham forma de ninho, parecidas com cerejas, e com as estrelas que deixou cair das suas penas, transformou-as e melhorou-as por fora e por dentro.
            Nunca tinham visto nada tão especial e tão bonito. O pássaro nunca mais os abandonou, nem eles ao pássaro, e visitava-os muitas vezes, levando-lhes sempre algum miminho surpresa, que eles não deixavam de retribuir.
            Lenda ou realidade? Quem saberá? O que se sabe é que esse vale existe, e tudo, mas mesmo tudo tem forma, sabor, cor e cheiro a cereja! Talvez inspirados na lenda, os habitantes construíram as suas casas em forma de cereja, decoradas com imagens de cerejas, e a cereja é o seu meio de sobrevivência!
            Não é lenda aproveitarmos tudo, ao máximo, o que a natureza nos dá, pois não? Se pensarmos bem, comemos tudo o que há na terra…ou…quase tudo o que é possível para sobrevivermos e termos saúde, alimentar-mo-nos.
            Às vezes, ela ganha a forma de mãos, outras vezes, de sementes leves, levadas pelo vento, que pousam e nascem, outras perdem-se. Tudo isto…é um mistério real, tal como a vida é real.

                                                           FIM
                                                           Lálá

                                               (29/Abril/2015) 

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