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sexta-feira, 25 de março de 2016

A conquista do coelhinho malhadinho



PERSONAGENS:
- Coelhinho Malhadinho
- Coelhinha Luisinha
- Uma borboleta
- Lavradores – SR. DIOGO; SRA. GLÓRIA
- 4 Filhos – Huguinho, David, Nuno, Naná
- Figurinos (outros coelhos, outros animais)

         Era uma vez uma linda floresta onde viviam muitos animais. Com a chegada da Primavera, tudo acorda do sono gelado do Inverno: as flores sorriem ao sol, o sol fica mais feliz e luminoso, é mais quente, há uma brisa suave do amigo vento que refresca…e às vezes aparece a chuva. Os animais que vivem nas tocas, saem, e correm livres e felizes pela floresta, tudo fica muito mais bonito.
         Além da floresta que desperta, também nasce o amor. Foi o que aconteceu com o coelhinho Malhadinho…que numa bela manhã de Primavera, saiu de casa com os irmãos, e como de costume foi correr e brincar alegremente. De repente, com a correria, ia tão rápido que não teve tempo de parar e chocou com uma linda coelhinha, a Luisinha, deitando-a abaixo. A coelhinha Luisinha grita:
- Aaaaaiiii…! Bruto!
         Ela empurra o coelhinho. Os dois levantam-se, envergonhados, sacodem-se e os dois têm uma conversa:
- Óhhhh…desculpa…eu vinha a correr…e…tu apareceste de repente…ups…! Magoaste-te?
- Que estouvado! Devias andar com mais cuidado!
         Olham-se fixamente, sorriem, e o Coelhinho e a Coelhinha continuam a conversar:
- Tens razão…desculpa! Mas…magoaste-te?
- (sorri) Pára de pedir desculpa…! (p.c) Não, não me magoei…assustei-me!
- És nova aqui?
- Sim. Mudei-me para aqui há pouco…! É tu? (p.c) Já vives há muito tempo aqui?
- Sim, já nasci aqui! (p.c) Estás a gostar de estar aqui?
- Sim! É um sítio muito bonito!
         Uma coelha, Mãe de Luisinha grita:
- Luisinha, anda comer!
         A coelhinha fica embaraçada e grita:
- (baixinho) Óhhhh…não! (p.c) Já vou mamã.
         O Coelhinho sorri e pergunta, a coelhinha responde:
- Chamas-te Luisinha?
- (sorri) Sim…e tu?
- Malhadinho.
- (sorri) Olha…tenho de ir…vemo-nos por aí, está bem?
- (sorri) Sim, claro! (p.c) Eu costumo estar por aqui, nesta área a brincar…se quiseres aparece hoje no fim do almoço para brincarmos.
- Está bem…até logo.
- (sorridente) Até logo.
         A Coelhinha volta para casa, o Coelhinho segue-a com os olhos…e com um sorriso de orelha a orelha.
- (sorridente) Ai…ela é tão bonita!
         Uma borboleta assistiu a tudo, pousada numa flor, a rir, às gargalhadas. O Coelhinho surpreso e chateado olha à volta, pergunta e recebe as respostas. Os dois falam um com o outro:
- Quem é que se está a rir?
- (a rir) Sou eu…! Porquê? (p.c) Aqui… (p.c) Na flor.
         O Coelhinho procura, olha para um lado e para o outro, e a borboleta acena com a asa. O Coelhinho pergunta:
- Do que é que te estás a rir?
- (a rir) Não posso?
- (sorri) Sim…podes! Se estás feliz! (p.c) Posso saber porque é que te estás a rir tanto? (p.c) Eu ouvi as tuas gargalhadas.
- (a rir) Estás apaixonado! (p.c) Pareces um cão São Bernardo.
- (zangado) Porque é que me estás a comparar com um cão…? É só para me irritar não é…?
- (a rir) Para te irritar…?! Não…! (ri) É que estás com cara de palerma babado! (p.c) Vê-se a milhas que ficaste caidinho por aquela coelhinha!
- (Sorri) Sim! (p.c) É verdade! (suspira) Ai, ai…ela é tão linda!
- (Sorri) Sim, é linda!
- (Sorri) Quem me dera que ela gostasse de mim!
- (zangada) Óh orelhudo, peludo…dentarrudo…como é que queres que ela goste de ti, se só te viu desta vez…uma única vez?! 
- Óh! Mas…eu também só a vi desta vez, e estou apaixonado por ela!
- E até parece que o amor nasce ao primeiro olhar entre dois animais…! Só se for apenas para aumentar à família. (p.c) É muito cedo para dizeres que estás apaixonado por ela! (p.c) Podes ter gostado do aspecto dela…e ela talvez tenha gostado do teu aspecto…ou não. Mas não sabes nada dela…não conheces como é que ela é…se é boa ou má coelhinha…nem podes obriga-la a gostar de ti!
- Não percebo!
- O que eu estou a dizer é que tens de a conquistar…tudo começa pela amizade…para as coisas mais sérias darem certo…(p.c) e mesmo assim não há garantias de nada! (p.c) Não te podes guiar pelos olhos…!
- Mas…e se ela não gostar de mim?
- Por isso é que eu te estou a dizer…tens de a conquistar aos bocadinhos…e vais vendo como é que ela reage…se gosta ou não… (p.c) mas também não a sufoques! (p.c) Vai devagar, se não…ela foge!
- Huuummm…! O que é que aconselhas?
- Olha…se ela aparecer aqui de tarde…(p.c) convida-a para brincar contigo! (p.c) Fala com ela…pergunta-lhe coisas sobre ela, e fala de ti, também…! (p.c) Depois…podes convidá-la para lanchar! (p.c) Se ela aceitar isso tudo, hoje…continuas mais uns dias a falar e a brincar com ela, e…(p.c) depois podes oferecer-lhe alguma coisita…!
- Áááááhhh…! Tu sabes muito!
         Os dois têm uma longa conversa. A borboleta dá importantes dicas ao coelho; e vai almoçar. No fim do almoço, o Coelhinho sai e nem de propósito…aparece a linda coelhinha Luisinha! O Coelhinho convida-a para brincar, e ela aceita. Os dois falam e riem bastante um com o outro, e com os amigos. Lancham juntos, a Borboletinha está sempre de olho, sorri, brinca também com eles, vai fazendo gestos de acordo discretamente ao coelho, ele sorri contente. À noite, cada um vai para sua casa, e na manhã seguinte, o Coelhinho levanta-se cedo, toma o pequeno-almoço e sai para a floresta à procura de alguma coisa para a coelhinha. Olha à volta, pára…e comenta:
- Huuummm…uma flor…?! (p.c) Não…só se não houver outra coisa…! (p.c) Um cogumelo…?! (p.c) Huuummm…não! (p.c) Não sei se gostará; talvez…não…nem lhe deve fazer muita falta. (p.c) Fruta…? (p.c) Huuummm…Não…ela não gosta…
         O coelhinho continua a andar e a procurar. De repente aparece a borboleta, sorri, cumprimenta o coelho, e os dois falam um com o outro:
- Bom dia! (p.c) Já de pé? O sol ainda nasceu há pouco…! (p.c) Já tomaste o pequeno-almoço?
- Bom dia! Sim, já tomei o pequeno-almoço e tu?
- (sorri) Eu também.
- (sorridente) Estava mesmo a precisar de falar contigo. Ainda bem que apareceste!
- Ai é…?! (sorri) Huuummm…diz lá!
- Queria oferecer alguma coisa à Luisinha…mas não sei o quê! (p.c) Já pensei em várias coisas, mas no fim…não gostei de nenhuma!
         Os dois trocam impressões, sorriem, e a Borboleta encaminha o coelhinho para uma casa de lavradores, que já estão a trabalhar no campo. A borboleta informa o coelhinho:
- Anda aqui, com cuidado! Se te apanham…vais parar à panela. (ele estremece) Talvez encontres alguma coisa diferente!
- O quê? (p.c) Mas que mazinha…mandas-me para aqui, um sítio onde estou a sujeito a ir parar à panela…?! Não…então não fico aqui!
- Vá lá…sê corajoso! Vai…procura!
- Não. Não vou arriscar a minha vida, por causa de uma coelhinha…!
- O quê? Mas…gostas dela ou não?
- Sim, gosto, mas arriscar a minha vida por ela, não…porque ela pode nem sequer gostar de mim.
- Claro que ela pode não gostar de ti, mas queres oferecer-lhe uma coisa diferente…e acho muito bem…portanto…aqui deves encontrar…nem que para isso tenhas de arriscar. Anda lá, não sejas mariquinhas.
         O coelhinho olha em volta, anda de um lado para o outro, e a filha do casal, Naná, grita:
- Papá…Mamã…está ali alguma coisa a mexer!
         A borboleta recomenda ao coelhinho:
- Esconde-te, e fica bem quietinho.
         O Coelhinho murmura assustado:
- Óh não…ela descobriu-me…estou feito!
         Ele esconde-se, o pai e a filha vão ver. O Sr. Diogo pergunta à filha Naná:
- Onde é que mexeu, Naná?
- Aqui, Papá!
- Não, Naná…aqui não há nada…deves ter visto mal! Se calhar foi o vento! (p.c) Ou um bicho vadio.
- Óóóóhhh…!
         O Sr. Diogo mexe na relva, espreita para um lado e para o outro e diz chateado:
- Não está aqui nada, Naná! (resmunga) Estou a perder tempo…com a imaginação de crianças…!
         A menina não ficou convencida! Vai com o pai, sempre a olhar para trás. O coelhinho suspira de alívio:
- Ufff…que susto! Já me livrei!
         Ele olha em volta e dá de caras com um galinheiro, com ovos. Ele tem uma ideia brilhante:
- Vou oferecer-lhe um ovo.
         A borboleta apoia:
- Sim…parece-me bem…bem decorado! (p.c) Mas…vai com cuidado.
         O coelhinho encaminha-se para o galinheiro pé ante pé, devagarinho, mas não reparou que estavam lá galinhas. Quer dizer…ele deve ter visto as galinhas mas…pensou que elas estavam a dormir. Quando o coelhinho estava quase a chegar ao ovo, as galinhas saltam-lhe para cima, a cacarejar, a dar patadas e bicadas ao coelho, ele apanha um grande susto, tenta fugir mas as galinhas não o deixam sair. Umas galinhas gritam zangadas, e o coelhinho tenta responder sem mostrar que estava nervoso:
- O que temos aqui…?!
- Um felpudo…Huuummm…
- Vieste-nos visitar…?
- Sim!
- (todas) Óóóóhhh…! Tão querido!
- O que estás aqui a fazer…?
- (nervoso disfarçado) Eu…não vos vinha roubar nada…!
- (todas) Naaaa…!
- (sorri) Não…claro que não…! Eu estava a passear…e…estava tão distraído que entrei aqui…por engano…
- (todas) Pois…!
- Achas que nascemos ontem…?!
- Vinhas à caça… não era seu malvadão!
- Erraste no sítio…aqui não há nada para ti…!
- Mas já que entraste, e não tens boas intenções…
         As galinhas agridem o pobre coelhinho. O coelhinho tenta livrar-se nervoso, mas não consegue, e murmura:
- Óh, não…! Estou frito! Vais pagar bem caro, borboleta parvalhona, mafiosa…desgraçada…trouxeste-me de propósito para aqui…! (p.c) Ai…larguem-me.
Os lavradores vão ver o que se passa, com os filhos. O Sr. Diogo pergunta, e a Sra. Glória acrescenta:
- O que se passa aqui?!
- Um coelhinho…!
- Huuummm…mas nós ainda não soltamos os nossos coelhos.
- Pois não! Este não é nosso.
         As crianças ficam felizes e eufóricas, sorriem e dizem:
- Óóóóhhh…que lindo!
         O pai grita e ordena:
- Não toquem no bicho…pode estar doente…ou ser uma armadilha…! (p.c) Não é nosso, não podemos habituá-lo mal.
         Naná lembra:
- Papá, se calhar este era o que estava ali…e mexeu com a relva!
         O Pai responde:
- Sim…pode ter sido.
         A mãe pergunta, e o Pai responde:
- De onde é que ele será?
- Não sei! Também não me parece da vizinhança.
- Como é que ele terá vindo aqui parar…?!
- Não sei!
         Huguinho lembra-se:
- Se calha fugiu de alguma casa…
         David acrescenta:
- Não…para mim saiu de alguma cartola de um mágico…num circo qualquer…ali na cidade.
         Nuno pensa alto:
- Áááááhhh…! É agora…o mágico não vai poder fazer esse número!
         Perguntam em coro:
- Porquê?
         O Nuno responde:
- Porque o coelho fugiu…!
         Naná pensa alto:
- Se ele é mágico, deve ter mais coelhos!
         Huguinho acrescenta:
- Claro! Ou até faz aparecer este outra vez!
         David pergunta:
- E agora, o que fazemos com ele?
         O Sr. Diogo sugere:
- Metemo-lo na panela!
         As crianças gritam em coro:
- Não!
         A mãe está do lado das crianças e acrescenta:
- Deixemo-lo livre!
Naná sugere:
- Mamã: vamos dar-lhe alguma coisa para ele comer e beber!
         O pai protesta zangado:
- Nem penses! (p.c) Não vamos alimentar um vadio…depois ele habitua-se, e não nos sai mais da porta! (p.c) Já temos bichedo que chegue!
         A mãe responde:
- Não! (p.c) Damos-lhe de comer e de beber e deixamo-lo livre! (p.c) Com certeza vai, voltar para o sítio de onde veio.
         O Sr. Diogo contrariado responde:
- Ide lá buscar o que comer e beber para o bicho…ai…vocês e essa mania de ter pena de tudo o que é bicho! (p.c) É só desta vez, porque imaginem que ele é de algum vizinho…ainda me dão cabo de tudo por vingança!
         As crianças saltitam contentes, sorriem, dão beijinhos ao pai e á mãe, dão erva fresca e água ao coelhinho que está muito assustado e a tremer de medo. O pai informa:
- Vamos voltar ao trabalho!
         O casal afasta-se com os filhos. Só Naná fica a olhar para o coelhinho. O coelhinho está muito nervoso e chateada. Naná elogia. Os dois falam um com o outro:
- És tão bonito…tão fofinho, coelhinho!
- (sorri) Obrigado…
- De onde vieste, coelhinho? 
- Tu…podes ouvir-me…e eu posso falar contigo…?
- Sim!
- Boa! Mas não digas aos teus pais, porque eles vão achar que és tu que estás a imaginar!        
- Está bem, eu não lhes digo! Mas de onde vieste?
- Daqui de perto! (p.c) Que susto que eu apanhei…pensei que era o meu fim.
- Desculpa…não te queríamos fazer mal.
- Não foi isso que me pareceu. A vontade daquele homem era meter-me na panela…! (p.c) Obrigado por me teres salvo…e pela erva e…pela água.
- (sorri) De nada! (p.c) És de algum vizinho nosso?
- Não. Eu vivo numa toca ali…na floresta.
- Áááááhhh…! (p.c) E como é que vieste aqui parar? (p.c) Eu nunca te tinha visto aqui antes!
- Pois não! (p.c) Nós sabemos que estes sítios são perigosos, por isso afasta-mo-nos. Só vim mesmo hoje…e já me arrependi.
- O que vieste cá fazer?
- Vim à procura de uma prenda para oferecer a uma coelhinha muito especial…
- (sorri) Áááááhhh…! É a tua namorada!
- Não…não sei se alguma vez ser, mas pelo menos, vou tentar!
- Que lindo! (p.c) Mas…aqui…? (p.c) O que é que há de especial…? Se calhar no sítio onde vives há coisas mais bonitas para oferecer a uma coelha não?
- Huuummm…não! Eu procurei, não vi nada!
- E aqui?
- Aqui…tinha visto…um ovo! (p.c) Para decorar a casca…mas aquelas nojentas não deixaram! Estragaram tudo!
- Que estranho! Tu ias oferecer um ovo…de galinha…decorado? Mas…o ovo estraga-se!
         O coelhinho explica à menina o que queria. A menina sorri e responde:
- Já percebi! Espera…anda comigo! (p.c) Tenho uma ideia melhor.
         Naná leva o coelhinho a um anão que faz trabalhos de decoração em qualquer tipo de material. A borboleta ronda o coelhinho, mas este não lhe liga nenhuma. Está chateado. Naná bate à porta. O simpático anão, abre a porta, e fala com a Naná:
- Olá linda Naná…estás boa?
- (sorri) Olá Sr. Pedro! Estou boa, obrigada. E o Sr.?
- (sorridente) Eu também, filha, obrigado. Então…o que te trouxe por cá?! (p.c) Vieste acompanhada.
- Trouxe um amigo que quer oferecer um ovo decorado a uma coelhinha especial…e…eu lembrei-me de si!
- (contente) Óh, minha querida! Vieste ao sítio certo! Ora…óh coelho…chega aqui por favor!
         O Anão mostra ao coelho todos os modelos que ele tem, as cores que pode usar, os desenhos, sorri contente, diz preços…e o coelhinho escolhe o que quer. O Anão elogia:
- (entusiasmado) Excelente escolha, amigo coelho. Tenho a certeza que a tua coelhinha vai adorar.
- (sorridente) Obrigado! Quando posso vir busca-lo?
- Amanhã! Vou pintá-lo a seguir e precisa de secar! Mas amanhã de manhã está prontíssimo.
- Muito bem! (sorri) Combinado!
- Podes vir busca-lo à hora que quiseres.
- Muito obrigado. Até amanhã!
- (sorri) Até amanhã.
        Naná também agradece, e o Anão retribui:
- Obrigada, Sr. Pedro, beijinhos para a sua esposa e para os seus filhos!
- (sorri) Obrigada, pequena…serão entregues…cumprimentos aos teus paizinhos e manos também!
- Obrigada! Se precisar de alguma coisa já sabe!
- Está bem, filha, eu sei…vocês também. Até logo.
- Até logo.
         Os dois saem. Ouve-se o Pai de Naná aos gritos, a chamar por ela, e os irmãos à procura dela e a chamá-la. Naná responde-lhes:
- Óh não…(grita) Já vou!
         O coelhinho sorri e agradece, Naná retribui:
- Muito obrigado, Naná!
- De nada! Boa sorte com a coelhinha. Eu tenho a certeza que ela vai adorar. (p.c) Depois…aparece por aqui, para me contares como foi, está bem?
- Sim, está bem.
         Os dois abraçam-se sorridentes, Naná faz-lhe umas festinhas e vai para a beira dos pais. O coelho escapa de fininho. Os pais perguntam ao mesmo tempo:
- Onde estavas…?
         O pai resmunga, Naná defende o coelho e a mãe defende a filha, e pai e mãe discutem:
- Foste atrás daquele maldito coelho…com certeza…!
- Ele não é maldito…é muito querido, e é meu amigo!
- Por falar nele…onde é que ele está?
- Foi embora!
- E tu foste atrás dele?
- Não…estive a brincar com ele.
- Cala-te homem…! Deixa a nossa filha e o coelho em paz! Ele não nos fez mal nenhum…! Com certeza que teve as suas razões para vir aqui!
- Veio roubar!
- Roubar…?! Tu tens noção do que estás a dizer? (p.c) Os animais roubam? Quem rouba é o estafermo do homem…como nós!
- Não posso acreditar que ainda vives no mundo da fantasia…! Sabes os perigos que a nossa filha correu a meter-se com um coelho?
- O quê…?! Perigos…?! O que é que tem de tão perigoso a nosso filha brincar com um bicho?
- Ai não sabes a quantidade de doenças que ela pode apanhar ao mexer nele…! 
- Doenças…? Tu é que estás doente da cabeça…! (p.c) Não dizes coisa com coisa…! (p.c) Alguma vez apanhaste alguma doença por mexer num coelho?
- Não…também nunca mexi com eles.
- Pois…o mal foi esse…! E nós…que mexemos nos coelhos todos os dias…alguma vez apanhamos alguma doença deles…?
- Felizmente não. Porque são bem tratados.
- Tanta ignorância junta! Nunca pensei…!
- Não queres ver as coisas como elas são…
- Olha…vai para o raio que te parta, e mais a tua tacanhice…!
- Aquele miserável que não volte a aparecer aqui…se não…!
- Se não o quê…?
- Eu mato-o…!
         As crianças gritam, a mãe acalma-os:
- Não!
- Ai de ti…! (p.c) Vamos mas é almoçar, que esta conversa já está a ir longe demais…e não é necessário.
         O casal e os filhos entram em casa, e o coelho escondido respira de alívio. A borboleta ronda-o, mas ele está chateado com ela, e não lhe responde. Enquanto o coelho volta para a sua floresta, a borboleta fala com ele:
- Então…?
         O coelho fulmina-a com os olhos e vira-lhe o rabo. A borboleta encolhe-se assustada e responde ofendida, e o coelho responde irado:
- Uiii…eu não gosto desse teu olhar…parece que me atravessaste…! Até senti facas a atravessar-me…! Ai…até fiquei sem forças…!
- Isso era o que tu merecias…se eu tivesse facas ou lanças…ou outra coisa qualquer…acho que até um chinelo era suficiente…alguma coisa que te desfizesse…! Usaria o que quer que fosse…!
         O coelho vira-lhe o rabo, a borboleta responde-lhe ofendida:
- Ei, estás assanhado demais…como é…?! Não estás a lidar com uma qualquer…! (p.c) Que atrevido…eu quero ver a tua cara e os teus olhos, não o teu rabo!
- (irado) Não tenho nada para falar contigo! Aliás, nem devia ter começado a falar contigo!
- Mas…porquê? (p.c) Eu ajudo-te…e tu…ainda me dizes essas coisas…? Seu ingrato!
- (irado) Uuuuiii…Ajudaste-me muito…realmente…! (p.c) Tanto, que quase virei jantar! Aquele labrego, bruta montes…! (p.c) O que me valeu foi a menina.
- Eu?
- Sim, tu é que me levaste para aquela quinta!
- Ora pensa comigo…esquece a raiva que tens de mim, e pensa comigo se não te ajudei…se não me tivesses ouvido, não tinhas chegado à menina que te levou ao senhor pequenino…aquele que vai fazer a prenda para seduzires a tua adorada…! (O coelho fica pensativo e em silêncio) Tu…andavas à procura de alguma coisa muito especial…diferente…não vias nada! Era tudo…comum…! (p.c) Seguiste-me…eu fui para aquela quinta…lá…antes de seres apanhado pelo brutamontes, e pelas galinhas….encontraste a coisa especial ou não…? (p.c) Sim, o ovo! Mas aquele que ias roubar não ia servir para nada! (p.c) Ela não pode comer o seu conteúdo. (p.c) Este que arranjaste também não pode comer, mas pode ficar encantada com ele…pelo desenho…e pela utilidade! (p.c) Se não fosses apanhado, ainda agora andas à procura e não tinhas encontrado nada!
- Sim! Tudo isso é muito bonito e é verdade! Mas eu arrisquei a minha vida e a minha pele, e ia parar à panela.
- Tenho a certeza que valeu a pena.
- Como é que sabias que havia aquele senhor…?! Ovos…e essas coisas?
- Eu sabia tanto como tu! Simplesmente também gostei da ideia dos ovos…só não percebia muito bem qual a sua função…! (p.c) Eu sou mulher…sei o que todas gostamos…! Apesar das diferenças, há coisas que todas gostamos! (p.c) Vocês homens não têm essa sensibilidade.
- Vocês são complicadas.
- Não! Vocês é que não sabem olhar para nós. Não é fácil conquistar-nos.
- Pois não!
- Mas uma coisa digo-te com certeza: se ela gostar mesmo de ti…não vai ser pelas ofertas que lhe fizeres, mas sim…as várias partes do teu coração que lhe ofereceres.
- (assustado) O quê? Também vou ter que fazer uma operação e tirar pedaços do meu coração para lhe dar…? (p.c) Nem pensar! (p.c) Isso não lhe vou dar…posso dar-lhe muitas outras coisas mas partes do meu coração…ter de ser aberto…ou abrir-me para tirar partes do meu coração…santa paciência. Para isso fico só com a amizade dela. Que exigências…!
         A borboleta fica boquiaberta. Nem quer acreditar…desata a rir:
- (às gargalhadas) Daaaaahhhh…! Que calhau com olhos…! (p.c) Deves ter um cérebro mais pequeno do que o das galinhas! (p.c) Que palerma! (p.c) É claro que não vais ter que fazer uma operação e arrancar pedaços do teu coração para lhe dar. (p.c) O que eu quero dizer é que ela vai gostar do que tu…como coelho…como és com ao outros…(p.c) Ela vai gostar de ti se fores meigo com ela…(p.c) se lhe deres muita atenção, carinho…se fores simpático…sincero…(p.c) As tuas qualidades…as coisas que tu tens de bom…essas são as partes do coração que lhe vais dar, e que ela vai gostar…(p.c) Se ela gostar de ti…também ela te vai dar algumas partes do seu coração…o que ela tem de bom como coelha, e que vais gostar certamente!
- (sorri) Áááááhhh…! (p.c) Já percebi! (p.c) Que susto! Pensei que tinha que arrancar pedaços meus…abrir-me e oferecer-lhe.
- Óh, ignorância…achas que isso é possível?
- (ri) Áh, áh, áh…! Não! Acho que não…
         Os dois têm uma longa e animada conversa. A borboleta dá algumas indicações importantes para o coelhinho conquistar a coelhinha. O dia passa a correr, e o coelhinho faz tudo o que costuma fazer. Ele está em pulgas para que chegue a manhã seguinte. Na manhã seguinte, bem cedo, depois de tomar o pequeno-almoço…o coelhinho vai buscar o ovo como combinado. Paga, muito contente, agradece e pelo caminho encontra a coelhinha. Param frente a frente, olham-se, sorriem e a coelhinha diz:
- (sorridente) Bom dia! De onde vens…tão cedo?
- (embaraçado, sorri) Áh…ah…ah…vim de…fazer a minha ginástica matinal. E tu?
- (sorri) Eu, vou fazer umas compras para o almoço.
- (simpático) Posso ir contigo?
- (sorri) Está bem!
         Os dois vão sorridentes, a falar alegremente. A coelhinha faz as compras e no regresso a casa, o coelhinho carrega as compras. A coelhinha está muito bem impressionada e contente com o coelhinho. À porta de casa, a coelhinha agradece:
- (sorridente) Muito obrigada!
- (sorridente) De nada! (p.c) Espera…tenho uma coisa para ti…
- (surpresa) Para mim?! (p.c) Mas…eu não faço anos!
- (sorri) Óh…não é preciso fazer anos para se oferecer alguma coisa a uma amiga pois não?
- (sorri) Não! Pode oferecer-se sempre que se quiser!
         O coelhinho puxa o fio onde tem pendurado o ovo, e estende a pata com o embrulho. A coelhinha abre, solta uma grande exclamação, sorri, dá um abraço e um sonoro beijo ao coelhinho, ele quase desmaia…com um grande sorriso.
- (feliz e sorridente) Que lindo! (p.c) Nunca recebi uma prenda assim! (p.c) Tão bonito! (p.c) Muito obrigada…! (p.c) És mesmo querido!
- (feliz, sorridente) Aaaaaahhhh…achas? (p.c) Que bom…! Obrigado…fico muito feliz que tenhas gostado!
         Passado poucos dias começam a namorar, gostam mesmo de verdade um do outro, passam momentos de muita cumplicidade, brincadeira, felicidade, amizade, carinho…e constituem família. A borboleta murmura:
- Boa, coelhinho! (p.c) Conseguiste! (p.c) Viste? (p.c) Tu deste algumas metades do teu coração, ela…deu-te também algumas metades do seu coração! E só com esta entrega de boas metades de corações entre duas pessoas, é que as relações funcionam, essas pessoas são felizes! (p.c) E o amor passa a fazer parte das suas vidas! (p.c) O pior é quando só um deles dá as suas metades do coração e o outro…não recebe…ou recebe e maltrata. Aí não há amor!
         É verdade! Para existir a Primavera na vida das pessoas…dias e luz nos olhos e nos sorrisos…é preciso que os corações se dividam em partes e que essas partes se entreguem a outras, encaixando outras partes nesses espaços que ficam vazios, depois de entregar as partes com amor!
Às vezes acontece que as pessoas entregam grandes partes do seu coração, a outras pessoas que não dão as suas metades…com amor…nessas situações aparece o Inverno gelado!
É melhor que haja sempre Primavera, que se dê sempre Primavera aos outros, mesmo que se receba em troca…partes de Inverno dos corações de outras pessoas! Mesmo que algumas pessoas que amamos e a quem damos Primavera nos dê pedaços de Inverno do seu coração, há sempre alguém do nosso lado, com Inverno no coração que precisa e quer receber Primavera ou Verão…!

FIM
Lálá
(27/ABRIL/2011)


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