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quinta-feira, 24 de março de 2016

O ANÃO, A ÁRVORE, O OVO MISTERIOSO E A CEGONHA


Era uma vez um anão que vivia na paz de uma imensa floresta, com a sua família, numa casa deita num tronco de árvore. O anão era pequenino mas tinha um enorme coração, muito bondoso, sempre preocupado com os outros, e ajudava em tudo o que precisava.
            Um dia passeava pela floresta, com os seus filhos, e viu alguma coisa encostada a um tronco de outra árvore.
- Huummm…o que temos aqui? – Pergunta o anão para si mesmo.
Aproximou-se discretamente, pé ante pé, e olha muito atento para o que tinha visto.
- Um…ovo? – Pergunta o anão.
- Sim, é um ovo…xxxxiiiuuuuu…! – Recomenda a árvore.
            O anão encolhe-se assustado.
- Não precisas de ficar assustado…é só…um ovo! – Diz a árvore.
- Mas o que tem o ovo? – Pergunta o anão.
- Verás daqui a uns dias. – Responde a árvore.
- É…um ser vivo? – Pergunta o anão.
- Claro que é um ser vivo. – Responde a árvore intrigada com a pergunta do anão.
- Um…homem como eu? – Pergunta o anão.
            A árvore ri.
- Um homem como tu…essa é boa…! Não, não é um homem…é um animal.
- Porque é que te riste? Eu sou um homem.
- Sim, tens toda a razão…desculpa, não te quis ofender…
- Estás a falar do meu tamanho, é? Podes rir à vontade…eu não me importo…sim, sou minúsculo, mas acho que sou um bom homem, com bons sentimentos, e sempre me disseram que isso é o que importa.
- Claro que sim, tens toda a razão! Eu não estava a gozar com o teu tamanho, mas ri-me de teres perguntado se era um homem como tu…! Um homem não está dentro de um ovo, amigo! Muito menos encostado à árvore…! – Explica a árvore.
- Mas, que espécie de animal…? – Pergunta o anão.
- Não sei! – Diz a árvore.
- Não sabes? Como não sabes? – Pergunta o anão.
- Não sei, mesmo! Apareceu aqui, não sei quem o deixou…- Diz a árvore.
- Mas se estás sempre aqui, como é que não viste que quem o deixou? – Pergunta o anão.
- Não vi…estou sempre aqui, mas às vezes também descanso e durmo…não vejo tudo o que se passa à minha volta…assim como tu, que quando dormes, também não vês…não é? – Explica e pergunta a árvore.
- Claro.
- Devem-no ter deixado aqui enquanto dormi.
- Sim, pode ter sido…mas…ele é tão…perfeito! – Diz o anão a olhar para o ovo atentamente. 
- Não faço a mais pequena ideia do que vai sair daqui. – Diz a árvore.
- Pois…eu também não, mas adorava saber. Olha…quando ele começar a partir, chama-me logo, está bem? – Pede o anão.
- Não sei quanto tempo vai demorar a nascer…mas está bem! – Promete a árvore.
- Tomas conta dele? – Pergunta o anão?
- Tomo. – Promete a árvore.
- Boa…obrigada. Até breve! – Diz o anão.
- Até breve. – Responde a árvore.
            O anão não diz nada aos filhos, e vai para casa, muito pensativo…procura em livros, e no computador aquele formato de ovo, para ver se descobria o que nasceria daquele ovo tão perfeito.
Encontrou muitos parecidos, mas nenhum lhe parecia igual. A noite passou, e o dia seguinte, e outro dia…e finalmente…o ovo começa a estalar. A árvore que estava desperta, assobia e grita pelo anão…estica um tronco, e bate na janela da casa do anão, que era muito perto. O anão assusta-se e sai de casa com uma lanterna, entusiasmado.
- Oh…o ovo…vamos ver o que será…! Já venho, querida…! – Diz o anão.
- Onde vais…? – Pergunta a mulher do anão, assustada.
            Não teve resposta. O anão já estava quase junto da árvore. A árvore estava feliz e sorridente, na expectativa.
- É agora…é agora que vamos ver o que está aqui…! – Diz a árvore entusiasmada.
- Óóóhhh…que maravilha…é tão bonito ver coisas a nascer… - Diz o anão a sorrir.
            O anão ilumina mais, e o ovo descasca cada vez mais. Os dois assistem com expectativa e ao mesmo tempo com algum receio. Quando o ovo abre totalmente…que grande decepção…aparece uma criatura…horrível…do mais feio que podia haver…! Não sabiam o que aquilo era sequer. Os dois gritam assustados.
- Áááááááááááhhhhhh…! – Gritam os dois.
- Que coisa nojenta é esta? – Pergunta a árvore a estremecer.
- Que horror…isto não é um animal…é um monstro…! – Acrescenta a árvore enojada.
- Não acredito que de um ovo tão perfeito, tão bonito, saiu esta coisa…lhec! – Diz o anão enojado.
- E eu…que esperei tanto tempo, andei a proteger…uma criatura asquerosa…nojenta…feia…transparente…lhec…ai, que nojo…leva-me isto para bem longe.
Era uma coisa transparente, sem penas, com umas peles que pareciam barbatanas…e um focinho que parecia uma mistura de morcego com…bem…uma coisa muito difícil de descrever.
Eles estavam mesmo incomodados. Nunca tinham visto um animal tão feio como este. O anão, muito enojado, faz a vontade à árvore e leva o animal com os restos de ovo para o lago. Atira-o e foge.
O ovo flutua, e leva a misteriosa criatura para longe. Ao chegar á berma do lago, choca com um candeeiro, e por cima do candeeiro, vive uma cegonha, com um ninho muito bem feito, e os seus filhotes.
A cegonha olha para ele, e a luz do candeeiro onde vive, ainda o torna mais feio, mas a maternal cegonha, fica com pena dele:
- Ai, valha-me…o que é isto? Como é que isto veio aqui parar…? Cruzes…! Um ovo tão bonito e perfeito, para sair isto…?! Ai…que estranho e que feio que tu és…! Bem…seja o que for…vou acolher-te, e tratar de ti…não sei que espécie és, mas se vieste aqui ter, e se te vi, é porque te posso ser útil.
Ela faz um ninho por baixo da luz do candeeiro, e coloca lá o animal estranho. Vai buscar comida e bebida para os pequenos, e para o misterioso bicharoco, e vigia-o, como faz com os filhotes. A luz aquece o bichinho, como se estivesse dentro de uma manta. Ele está feliz e aconchegado.
Os dias passam, e os filhotes da cegonha, e a cegonha, afeiçoam-se ao bicho, embora feio…brincam uns com os outros, passeiam-se, e dão-se todos bem. Ao fim de uma semana, o animal que era horrível, desaparece.
- Óh…mas onde está? – Pergunta a cegonha.
- Óóóhhh…eu até estava a gostar dele! – Diz uma cegonha bebé
- Eu também…! – Respondem todos em coro.
- Pode ser que ele volte… - Diz a cegonha mãe.
            E a cegonha mãe tinha razão. Ele voltou mesmo, mas agora transformado num enorme pássaro, lindo, com as penas do peito azuladas, e a cabecinha azul mais escura, elegante. As suas penas e a sua cauda eram transparentes, finas e tinham as cores do arco-íris, brilhantes nas pontas. Que lindo! Ele voa e pousa junto do candeeiro.
- Que lindo pássaro…! – Dizem todos em coro.
- Nunca vi um pássaro assim! – Diz uma cegonha pequena.
- Nem eu! – Respondem todos em coro, encantados.
- Mas que maravilha…! – Diz outra cegonha pequena.
- Sinto que o conheço…! – Diz a mãe cegonha.
- Olá mãe…olá manos! – Diz o pássaro, sorridente.
- Filho…! – Diz a cegonha mãe, emocionada, sorridente e feliz.
- Mano…! – Dizem todos em coro.
- Sim, sou eu, aquela coisa horrível que estava dentro do ovo! – Diz o pássaro que estava no ovo.
- Óh…mas o que é que aconteceu? Estás tão diferente…! – Pergunta a cegonha mãe.
- Eu cresci! Graças a ti, tornei-me no que sou hoje…tu é que me alimentaste, tu é que me deste de beber, tu é que me aqueceste…e fizeste-me um ninho…ainda por cima, deste-me amor e carinho de mãe! E irmãos…que adoro! – Responde o pássaro.
- Ora, filho…eu só fiz o que o meu coração mandou…tinha filhos pequeninos, depois de te ver, não te podia abandonar, mesmo sem saber quem eras! – Diz a cegonha mãe a sorrir orgulhosa.
- Sim, não fizeste o que os outros me fizeram…que me atiraram ao lago, por eu ser assim…! – Diz o pássaro
- Mas tu és lindo! – Diz a cegonha
- Agora sim, e graças a ti…ao teu cuidado, amor, dedicação e tudo o que me ensinaste! Sei que em pequeno era muito feio. – Responde o pássaro.
- E tu lembras-te de te terem enviado para aqui? – Pergunta a cegonha.
- Sim…há coisas que o coração nunca esquece…podemos perdoar…mas o coração magoado não esquece… – Explica o pássaro.
- Por favor…não vás embora! – Pedem as cegonhas pequenas.
- Não! Nunca irei virar as costas a quem me ama, e a quem cuida de mim. Estou diferente, apenas fisicamente, mas continuo o mesmo pássaro…! – Explica o pássaro.
            O pássaro vai brincar com os irmãos, enquanto a cegonha prepara comida para eles. O anão vai pescar, e sem querer desequilibra-se, cai ao lago, e começa a esbracejar e a pedir socorro, porque não sabe nadar e está muito assustado. O lindo pássaro sobrevoa o lago e agarra no anão pelos suspensórios, levando-o para a margem do lago.
            Já na margem o anão tosse, e está ofegante, a olhar para o pássaro.
- Um anjo…és um anjo que me salvaste…óhhh, sim…és tão bonito que só podes ter sido enviado lá de cima…óhhh…muito obrigado! Ai, que susto…ai…! – Diz o anão, mais aliviado. 
- Já passou…estás a salvo! – Diz o pássaro.
- De onde és…? Nunca te vi…! – Diz o anão.
- Pois eu conheço-te muito bem! – Responde o pássaro.
- Conheces-me…? (tosse) De onde? – Pergunta o anão.
- Deste mesmo lago! – Responde o pássaro.
- Pois eu nunca te vi por aqui antes…nem de qualquer outra parte da floresta! – Diz o anão convicto.
- Sou aquela coisa horrível, asquerosa, monstruosa, nojenta…que estava no ovo…e tu atiraste para aqui com a casca…para bem longe da tua vista…e da árvore que me aconchegou até eu nascer! – Responde o pássaro.
- O quê? O ovo…? Aquele ovo que estava encostado à árvore…? Aquele ovo tão lindo e tão perfeito, deu uma coisa tão…feia no inicio, e agora estás assim…? Óh…não posso acreditar! – Pergunta o anão.
- Sim…esse mesmo! – Responde o pássaro.
- Ai…agora fiquei tão envergonhado…Óóóhhh…se te fiz tanto mal, porque me salvaste…? Se me conhecias…e estavas magoado comigo…com razão, porque eu fui cruel…mas acredita que fiquei muitas noites acordado, com remorsos, a pensar onde estarias, e se alguém te teria encontrado…! – Diz o anão para compor.
- Acredito! Tu és um bom homem…! Mas os teus olhos atraiçoaram-te não foi…? Quando me viste! – Responde o pássaro.
- Mas porque me salvaste…devias ter-me deixado afogar…! – Diz o anão.
- Eu sou muito mais que uma aparência bonita…era muito feio, mas sempre tive coração, e sentimentos…e a mãe que me criou, ama-me, os meus irmãos também, e eu a eles…ela ensina-me coisas muito bonitas, muito boas…ensina-me a ser bom, e a fazer o que o meu coração manda, independentemente de ele estar magoado…e de quem for! Ensina-me a amar, mesmo não sendo amado! – Diz o pássaro.
- Ai, que vergonha…! Mil perdões... - Pede o anão…! – Tudo o que eu puder fazer por ti, farei! – Acrescenta o anão.
- Já te perdoei…desde o dia em que fui ter com a minha mãe do coração! Não te preocupes com isso…! Aliás, sinto alguma gratidão por ti, e por aquela árvore, porque enquanto estive lá, não fui devorado por outros animais…vocês protegeram-me! Muito obrigado. E compreendo que me tenham expulsado, como eu era muito feio…! Não sabiam o que eu era, nem de onde vinha…ficaram com medo. – Explica o pássaro.
- Sim, foi mesmo isso…é mesmo verdade! – Diz o anão.
            E os dois passam a ser amigos, o pássaro também ensinou o anão a olhar para quem não tem uma aparência muito agradável, e a olhar para o seu interior, a ser mais bondoso. O pássaro regressou ao seu lar, da mãe cegonha, que ficou muito orgulhosa dele, quando soube.


FIM
Lálá 
(2/Setembro/2013) 

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