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sexta-feira, 25 de março de 2016

A queda das máscaras (teatro, adolescentes e adultos)




NARRADORA – Era uma vez três bruxas: uma chamava-se Safira, outra Esmeralda e outra Rubi. Viviam num enorme palácio, que ficava escondido no meio de grandes árvores, no pico do monte. As três bruxas não eram más, muito pelo contrário. Eram poderosas e conseguiam destruir o mal, que outras bruxas tentavam lançar contra as pessoas. Sempre que soava o alarme, as três saiam do Castelo, montadas nos seus unicórnios brancos, vestidas com capas pretas e lançavam os seus poderes contra as maldosas. Safira tinha o poder de congelar, e transformar em vidro. Esmeralda tinha o poder de prender com enormes algas pegajosas que lançava, como se fossem garras de pega monstros, e apertavam. Rubi tinha o poder de lançar chicotes a arder que batiam e sacudiam as pessoas. Um dia, todas as bruxas foram convidadas para um baile de máscaras. Boas e más…! Estavam muito bem mascadas…tão bem, que não de reconheceram. Quer dizer…pelo menos não demonstraram que se conheciam. A ideia do baile tinha sido de Ametista, uma poderosa senhora com 120 anos, mas muito jovem de cabeça e muito bem-disposta, Avó de Safira, Esmeralda e Rubi, que vivia num tronco de uma árvore muito velha, no jardim do castelo das netas. Ninguém sabia porque é que ia haver esse baile, nem as próprias netas da dona Ametista. Com este baile, dona Ametista, queria acabar com as diferenças, e com a disputa entre as bruxas boas, e as bruxas más, e mostrar que não tão diferentes quanto pensam, umas das outras. Ela queria unir as mulheres. Na noite do baile, todas se reúnem no sítio marcado, todas se cumprimentam, e dançam alegremente, mesmo sem saberem quem eram as bruxas boas, e as bruxas más. Chegada a hora do jantar, depois de um belo banquete, acontece uma coisa muito estranha! As máscaras começam a desfazer-se sem mais nem menos…a escorregar pelas caras tipo gelatina, ou lama…uma a seguir à outra. Não escapa nenhuma. Começam todas a olhar umas para as outras, e aos gritos, em pânico.
TODAS – Ááááááááhhhhhh!
BRUXA 1 – Que nojo!
TODAS – Lhec.
BRUXA 2 – O que está a acontecer contigo?
BRUXA 1 – Já olhaste para ti…?
BRUXA 2 – O que é que eu tenho?
BRUXA 1 – Estás a derreter…
BRUXA 2 – Que nojo…a derreter…? Como assim?
BRUXA 1 – A tua cara…
BRUXA 2 – O quê?
BRUXA 3 – E tu também estás a derreter…
BRUXA 4 – Não!
BRUXA 3  Sim.
BRUXA 5 – Este baile foi uma armadilha…
BRUXA 6 – Estamos todas horríveis…
BRUXA 7 – Mas quem fez isto?
BRUXA 8 – Ai, se eu apanho quem fez isto…! Que nojo…e agora?
TODAS (gritam) – Maldição…!
NARRADORA – Instala-se a confusão. Reconhecem-se umas às outras, começam todas a gritar umas com as outras, a agredirem-se e a trocar insultos. Dona Ametista entra triunfante.
D. AMETISTA – Mas o que se passa aqui?
RUBI – Avó, puseram-nos alguma coisa na comida!
D. AMETISTA – Como?
ESMERALDA – Alguma coisa, fez derreter as máscaras todas! Olhe para isto…como nós estamos!
D. AMETISTA – Mas estão tão bem assim!
TODAS – O quê?
BRUXA 8 – Também gostava de estar com a sua cara a derreter?
SAFIRA – Ei, óh peste…vê lá como falas com a minha Avó…!
ESMERALDA – Damos cabo de ti.
SAFIRA – Nem sabemos quem nos convidou para este baile.
D. AMETISTA – E porque querem saber quem vos convidou para este baile? Não estão bem?
TODAS – Não!
D. AMETISTA – Ora, ora…são muito exigentes…! Um baile tão agradável…e estão a reclamar. O que vos falta? Gostam tanto de festas…
RUBI – Avó…gostamos de festas, mas isto não aconteceu em nenhuma até agora!
SAFIRA – Que coisa horrível…olhe para isto, Avó…
D. AMETISTA – Eu já disse que estão óptimas. Porque estavam a lutar e a insultar-se umas às outras…se antes estiveram a dançar umas com as outras, alegremente?
TODAS – Não sabíamos quem era.
D. AMETISTA – E se soubessem, não dançavam na mesma?
TODAS – Não.
BRUXA 4 – Que nojo…se eu dancei com esta coisa…! Diabos…
D. AMETISTA – Porque é que estás a dizer…coisa…? Dançaste com uma mulher como tu…!
BRUXA 4 – Estávamos mascaradas…
D. AMETISTA – E o que é que aconteceu quando as máscaras caíram?
RUBI – Descobrimos quem éramos.
D. AMETISTA – Certo! E isso justifica tratarem-se como cães e gatos bravos? São mulheres ou machos…?
ESMERALDA – Elas são bruxas más, e há aqui outras bruxas além de nós, que são boas.
D. AMETISTA – Sim, mas o que é que isso tem de especial? É motivo para andarem à sapatada?
BRUXA 2 – Somos muito diferentes, temos funções muito diferentes…!
D. AMETISTA – Com certeza! E ainda bem. Mas isso justifica o darem-se tão mal? Então também tinham que me tratar mal, porque sou diferente de todas.
TODAS – Não.
D. AMETISTA – Não o quê?
BRUXA 10 – A D. Ametista é uma senhora de respeito…
BRUXA 9 – Foi nossa professora, e…
D. AMETISTA – E…sou velha, queres tu dizer…
TODAS – Não.
D. AMETISTA – Tens razão…mas sou mulher…boa e má…e daí? Vocês também são boas e más. Mas porque dançaram tão bem no inicio umas com as outras?
TODAS – Não sabíamos.
ESMERALDA – Dançamos porque gostamos de dançar…
RUBI – E não queríamos dançar sozinhas…
SAFIRA – Estávamos todas muito bem mascaradas, mas se soubéssemos quem eram…nunca teríamos dançado.
D. AMETISTA – Porque não?
BRUXA 9 – Já mais dançaria com uma rival.
D. AMETISTA – Porque é que lhe chamas rival?
BRUXA 9 – Porque lutamos por coisas diferentes…ela é boa, e eu sou má.
BRUXA 7 – Nunca poderíamos gostar de opostos.
D. AMETISTA – Que disparate…! Umas são feias, outras são bonitas…e daí? (grita) Calem-se todas… (p.c) nada do que vocês dizem faz qualquer sentido! (p.c) Nada do que utilizam como justificação, serve de justificação! (p.c) Nem têm consciência do que dizem! Vocês são todas ridículas! (p.c) Só são valor umas às outras, pelas máscaras…onde já se viu? Como se atrevem a assumir papéis que cabem aos homens? (p.c) Tudo é muito bonito enquanto a máscara de fora enche os olhos de quem nos vê, o pior…é que a máscara de fora cai-nos muitas vezes! Mesmo sem querermos…tal como aconteceu com as vossas aqui no baile! Então…olhem umas para as outras…em silêncio. (todas olham umas para as outras) Sem máscaras…assim…a nu…! (caem mais máscaras) Tanta máscara que usamos…umas por cima das outras. Agora…olhem-se nos olhos, e descubram-se! Somos todas mulheres! Não rivais! Não fazemos parte de um jogo…fazemos parte do mesmo mundo, do mesmo universo, que não é nada sem nós, mulheres! Somos diferentes, sim, claro…ainda bem, mas somos iguais no género…nas emoções, na nossa condição e na fragilidade ou força! Para que é que tentamos ser superiores umas às outras? Isso não existe…o que existe é a função de boa ou má, e mesmo assim, todas as más conseguem ser boas, e todas as boas conseguem ser más. É ridículo lutarmos umas contra as outras…não somos homens pré-históricos, nem de outra idade qualquer. Nós…somos mulheres! Temos a emoção, a sensibilidade, a delicadeza…a maternidade, a dedicação, o carinho, a protecção! O sexo oposto não é um exemplo a seguir por nós. São homens…muito diferentes de nós…são macacos, cheios de bloqueios e limitações. Não são nada sem nós. Claro que não nos dão valor, porque nunca souberam, e jamais saberão o que é ser mulher. Este baile é a oportunidade para vos conhecerdes! Debaixo de todas as máscaras que usam. Olhos nos olhos. A festa vai começar. (D. Ametista põe música, e manda todas olharem-se nos olhos enquanto dançam, e dançam umas com as outras). Deixem cair todas as máscaras! Eu sei que debaixo delas, há almas de mulheres…para quê escondê-las? São verdadeiras pedras preciosas! Vamos…sem medo! Permitam-se ver-se...permitam-se ouvir-se…permitam-se sentir-se…! Somos todas mulheres. Temos de nos unir cada vez mais umas às outras, não nos distanciarmos mais umas das outras…ou lutarmos umas contra as outras! Todas temos força…todas somos muito mais fortes juntas…todas podemos mudar o mundo juntas. Precisamos umas das outras…e de estar lado a lado nesta luta pelo bem e pela nossa valorização, pelo nosso respeito! Só podemos contar umas com as outras, principalmente nos piores momentos! (grita) Vamos, mulheres, acordem!
NARRADORA – Este foi o baile mais emocionante da vida de todas as bruxas. E todas as bruxas tiveram coragem e capacidade de se olharem nos olhos, de se conhecerem e de deixarem cair as máscaras que usavam, guiadas pela D. Ametista. D. Ametista tinha toda a razão, e desde essa noite, as bruxas, apesar das suas funções diferentes, passaram a lutar juntas, lado a lado, em vez de umas contra as outras, tornando-se verdadeiras amigas. Muitas vezes, os papéis inverteram-se nas lutas…as bruxas más, e as bruxas boas, usavam os seus poderes contrários. D. Ametista, está muito orgulhosa, e com razão! Todos nós, seres humanos, temos máscaras invisíveis, que muitas vezes deixamos cair…sem querer…máscaras que usamos bonitas por fora, que ao serem tocadas pelos olhares, tornam-se visíveis...umas vezes boas máscaras, mostram-se más, e máscaras que nos parecem feias…guardam verdadeiros tesouros.

FIM
Lálá 
(31/Dezembro/2013)




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