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quarta-feira, 23 de março de 2016

O LOBO SENSÍVEL


Era uma vez, uma floresta muito perto de uma grande cidade, onde viviam muitos animais, entre eles uma matilha de lobos. Os lobos têm por hábito caçar, sem olhar a quê, mas o lobinho desta história é diferente e especial.
Certo dia, de manhã bem cedo o lobo saiu com a sua família para caçar. Uns foram para um lado, outros para outro e ficaram de se encontrar em casa com a caça.
Todos caçaram várias peças de carne, de animais diferentes, mas o lobinho não teve a mesma sorte. Não foi porque ele não soubesse caçar…outros motivos não permitiram que ele caçasse. Querem ver quais foram? Continuem a ler.
Começou a andar e sentiu o cheiro a carne…uns passarinhos chilrearam agitados quando viram o lobo.
CORO – Cuidado coelhinho…está aí o lobo…!

P1 – Foge!

P2 – Esconde-te…!

P3 – Ele vai-te comer…foge…foge.

Abriu bem as narinas, agachou-se, levantou as orelhas, cheirou a terra…e foi a rastejar, encontrando-se com um coelho tão fofinho…!

LOBO (murmura) – Calem-se idiotas…não me afugentem o pequeno almoço…já sinto fraqueza… ai…que fome! E vocês serão os próximos. (p.c) hhuuummm…coelho…que delicia!
       
           E põe a pata em cima da cauda do coelho.

CORO – Pobre coelhinho…!

P1 – Coitadinhos dos filhotes…!

P2 – Lobo maldito…

P3 – Não tens coração?

P4 – Devias era comer pedras…seu malvadão! Ou alguém da tua raça. (p.c)
Deixa o coelhinho em paz.

P1 – Que pouca sorte…!

P2 – Temos que fazer alguma coisa por ele.

P3 – Cala-te…pára quieto…ou queres ser o almoço dele…?!

P4 – Nós bem o avisamos para ele fugir. Mas não nos ouviu.

P1 – É agora que ele vai ser comido…ai…que horror!
P2 – Estes monstros não deviam existir…só vem perturbar a paz da floresta.

CORO – Pois. 

O coelho estremece e começa a gritar, assustado, a tremer.

LOBO (sorri) – Bom dia! Já tomaste o pequeno-almoço não já?!

COELHO (a tremer) – Bom dia…sim, já tomei. E tu?

LOBO (sorri) – Eu não… (com ar sério e ameaçador) mas vou tomar…! Agora!

COELHO (a tremer) – Áh…então bom apetite. (p.c) Eu não tenho aqui nada para te dar, se tivesse de sobra dava-te com bom gosto!

LOBO (sorri) – Óh…que simpático…tens um bom coração! (p.c) Tu…vais ser o meu pequeno almoço…!

COELHO (nervoso, assustado) – Óh… não! Por favor…eu não!

LOBO (sorridente) – A tua carne é deliciosa! Eu era muito burro se te deixasse escapar. Huuuummmm…e com o teu pelinho vou conseguir uma bela manta para me cobrir do frio…Óóóhhhh…todos vão ficar muito orgulhosos de mim. Como tu és bonzinho e simpático, eu sei que vais deixar-me comer-te.

COELHO (nervoso, implora) – Eu compreendo a tua fome…mas por favor…come outro qualquer…mas a mim não! (p.c) Eu…tenho filhos ainda muito pequenos, eles precisam de mim, porque a mãe está a trabalhar longe…! Eu vim buscar o pequeno-almoço para eles! (p.c) Acredita que tenho pena de ti, e que te dava alguma coisa para comer, mas não tenho. Vim ao mesmo que tu.

LOBO (com pena, mais meigo) – Mas…eu estou cheio de fome! Também preciso de comer.

COELHO (nervoso) – Se não me comeres, eu prometo que te preparo um belo pequeno-almoço na minha casa!

LOBO (surpreso) – O quê…? Vais-me deixar comer os teus filhotes?!

CORO – O quê?

P1 – Ele está louco.

P4 – Não, deve ser o medo a falar por ele.

P3 – Pois…bem me parece que ele não sabe o que está a dizer.

COELHO (nervoso) – Nem penses! Eu dou-te um pequeno-almoço especial. (p.c) Vá lá…por favor, não me comas, os meus filhos precisam de mim. Tal como tu precisas dos teus pais.

LOBO (comovido) – Sim, eu preciso muito dos meus pais…e adoro-os, mas tenho que caçar para comer, e aparecer com a caça em casa.

COELHO – Mas leva outra coisa. Também não gostavas que alguém comesse os teus pais pois não?

LOBO (triste) – Não, claro que não.

COELHO (nervoso) – Imagina que tinhas filhos ainda muito pequeninos, e eras coelho…vinhas buscar o teu pequeno-almoço, e o deles, porque a tua mulher estava a trabalhar longe…imagina…gostavas que eu fosse lobo, e te comesse…? Com os teus filhotes muito pequenos em casa à espera…? Os teus pais com certeza, também não te deixaram sozinho em muito pequeno…pois não?

        O lobo fica pensativo, triste e com pena do coelho.

LOBO – Mas…que pequeno-almoço é que me vais dar, se não tens para os teus filhos?

COELHO – Há-de se arranjar qualquer coisa, mas por favor…os meus filhos não, nem a mim!

        O lobo rosna frustrado, uiva irado, e põe-se em posição de ataque com ar ameaçador e o coelho treme a chorar, muito assustado. O lobo olha para o coelho e fica comovido. Grita muito zangado e frustrado:

LOBO – Vai-te embora! Para bem longe de mim!

COELHO (a chorar) – Muito obrigado…tu és um bom lobo…! (p.c) Vais encontrar um manjar dos deuses para pequeno-almoço…vais ter uma boa recompensa por não me teres comido! Até logo.

        O coelho desata a correr, e o lobo rosna e uiva frustrado.

CORO (surpreso) – Ááááhhh…! Ele não o comeu!

P1 – Este lobo é diferente…será que era mesmo um lobo…?

P2 – Sim, era mesmo um lobo, mas este era…afinal…bonzinho!

P3 – Pode ser que não estivesse com muita fome. Se estivesse mesmo esfomeado, comia-o.

P4 – Mas o coelhinho foi inteligente…falou-lhe nos filhotes.

P1 – Nunca vi um lobo assim, que ficasse com pena da presa…!

CORO – Nem eu.

P4 – Mas ainda bem que não o comeu. Coitado do coelho.

P2 – Teve muita sorte.

CORO – Sim, pois foi.

LOBO – Raios! (p.c) Aquele coelhinho vinha mesmo a calhar…era…apetitoso…e esteve mesmo debaixo da minha pata…mas falou nos filhos…e na mulher que estava a trabalhar longe, e levantou-se muito cedo… (p.c) que raiva! Aaaaaaaúúúúúú…tive pena dele…fiquei sem pequeno-almoço! (p.c) Que tristeza! (p.c) Onde é que eu vou buscar agora o pequeno-almoço?

        De repente sobrevoa uma águia. O lobo olha para cima e esconde-se assustado atrás de um arbusto…e murmura:

LOBO – Óóóhhhh…não acredito! Esta tinha que vir para aqui estragar tudo. Agora que eu ia atrás de pequeno-almoço. O que é que eu fiz para merecer isto…?

        Ele ouve uma ovelha, a bramir. Levanta as orelhas, olha para um lado e para o outro…avista a ovelha, olha para cima e murmura:

LOBO – Espero que aquela selvagem cheia de penas fique bem longe…no canto dela! (p.c) Ai…esta ovelhinha…tão linda…tão…tenrinha…mnhã, mnhã…! Tão sozinha…! Coitadinha…esta não escapa.

        O lobo aparece de repetente e agarra a ovelha. Ainda a prende e morde-a, mas para azar do lobo aparecem outras ovelhas, com os cães atrás. A ovelha brame fortemente. As outras bramem em conjunto, e os cães apercebem-se e tentam atacar o lobo. O lobo larga a ovelha, e envolve-se numa luta com os cães. As ovelhas fogem assustadas. O lavrador escorraça o lobo, e este desata a fugir, ferido, frustrado e nervoso. Pára na berma de um lago onde há patos. Os patos escondem-se todos enquanto o lobo se refresca, e falam uns com os outros, surpresos.

PATO 1 – Mas…o que é isto?

PATA 1 – Nós aqui tão sossegados, e de repente chega um intruso deste tamanho.

PATO 2 – Mas que raio! Como é que ele veio aqui cair?

PATO 3 – Se calhar está-se a proteger de um enxame de abelhas ou de pulgas.

PATO 4 – Ou tem o rabo a arder.

        Todos riem. 

PATA 1 – O rabo a arder…?! O juízo dele é que está a arder com certeza! Para se meter num lago…!

PATA 2 – Devíamos corrê-lo daqui à bicada.

PATA 3 – É melhor estarmos calados se não ainda servimos de almoço.

PATO 1 – Ele que nem se atreva…!

PATA 4 – Coitado de ti…ias fazer muito.

        As patas riem.

PATO 1 – Achas que eu não tinha coragem?

TODOS – Tinhas, tinhas…

LOBO (nervoso) – Humm…cheirava-me a patinho…onde é que eles se meteram?! (p.c) Óhhh…se calhar estava a alucinar! Isto já deve ser fome! E a vontade de comer!

        Passa uma galinha com os pintainhos, e o lobo atira-se a eles, por muito pouco conseguem escapar. Mais uma vez o lobo fica sem pequeno-almoço. E está cada vez mais zangado e nervoso. Como não sabe nadar, vai andando por terra, a chorar, devagar e murmura:

LOBO (a chorar) – E agora…?! Porque é que eu ainda não consegui apanhar nada…?! Deixei escapar aqueles petiscos…que raiva! O próximo animal que aparecer não vai escapar. (p.c) Porque é que eu sou bom?! (p.c) Não quero mais ser bom…nem sensível (p.c) Tenho que ser mau para sobreviver, se não…estou perdido…! (p.c) Ai…que fome! (p.c) Já estou a ficar sem forças…! (p.c) Acho que é melhor ir para casa! (p.c) Pode ser que haja alguma sobra…! (p.c) Ai…sou um fracasso!

        O Lobo vai para casa, fraco, ferido, triste, frustrado e zangado. Ao chegar a casa, os seus pais e irmãos estão a devorar deliciados um animal que encontraram. Todos param de comer e olham para ele.

PAI LOBO – Então, filho? Demoraste…deves ter caçado alguma coisa!

LOBINHA 1 – Ele está ferido! (p.c) Andaste à luta?

PAI LOBO (sorri) – É natural…é da raça.

LOBO (envergonhado) – Andei à luta, mas não cacei nada!

PAI LOBO (Zangado) – O quê? Como é que é possível?

LOBINHO 1 – Mas…tu és um lobo ou um maricas…?! Ou um boneco de
peluche?

LOBO – Sou…um lobo como vocês.

LOBINHA 2 – Como nós não és, se não tinhas trazido caça.

MÃE LOBA – Então meninos…respeitem o vosso irmão.

LOBINHA 1 – Esse palerminha é uma vergonha…nem deve ser meu irmão…porque nenhum de nós é igual a ele…

LOBINHA 2 – Felizmente…! Eu não gostava de ser como ele…tão feia que eu era...

        As duas Lobinhas e o irmão riem. A Mãe recrimina-as com o olhar. Elas calam-se.

MÃE LOBA – Anda comer daqui, filho! Ainda há de sobra!

PAI LOBO – Achas que ele merece? (p.c) Não fez nada para conseguir caçar…

LOBO (triste) – Fiz sim…até andei à luta com uns malditos cães, que me apanharam em flagrante quando ia comer uma ovelha, mas os desgraçados atacaram-me…e depois ainda apareceu o homem e escorraçou-me… (p.c) Aqueles monstros…

LOBO PAI (zangado) – O quê? Como é que te deixaste vencer por uns cães…?

LOBO (triste) – Ia caçar um coelho, mas tive pena dele, porque ele estava a buscar comida para os filhos ainda muito pequenos…e a mulher dele…saiu muito cedo para trabalhar!

LOBINHA 1 (a rir) – Que cromo…teve pena da presa…sinceramente!

LOBINHO 1 (a rir) – És mesmo palerma…!

LOBINHA 2 (a rir) – Nem pareces um lobo…pareces um gato melado…!

MÃE LOBA – Come filho, tens aqui! Anda…não ligues ao que estão a dizer!

PAI LOBO (grita) – Não comes nada. Queres comer, vai lá para fora e procura. (p.c) És um fiasco…és a vergonha da família! (p.c) Meninas, acho que vocês têm razão, ele não deve ser meu filho…a tua mãe deve-te ter tido de outro qualquer!

        A Mãe Loba fica muito nervosa, mas mantém a sua postura de orgulho e mostra-se indiferente, embora silenciosa. Não responde à provocação do marido, corta um pedaço daquela carne, e leva-o para fora de casa, chama o filho. O marido grita-lhe:

PAI LOBO – Mas…o que é isto?! (p.c) Estás a desobedecer-me…?! (p.c) E a deseducar o meu filho?

        A Mãe Loba não responde e diz ao filho:

MÃE LOBA – Come, filho…!

        O Lobo come deliciado, e a mãe vira o rabo para o marido. O marido continua a protestar:

PAI LOBO (nervoso) – Como é possível…e não me viras o rabo porque eu sou teu marido e tens de me respeitar! Ouviste? (p.c) Tinhas que estar do meu lado…em vez de apoiar esse desavergonhado, frango maricas…não pode ser meu filho. Se fosse não me envergonhava a fazer destas coisas…onde já se viu…não caça uma presa porque fica com pena dela…! (p.c) Ainda por cima, a Mãe está do lado dele…ainda o alimenta, e alimenta a preguiça e a trenguice do filho…lorpa…! (p.c) Não aprendeu nada…é mesmo burro este meu filho…que vergonha…! Se fosse meu filho era inteligente…!

        O Lobo pára de comer, triste e envergonhado. A Mãe Loba perde a paciência ao ouvir tanta humilhação e tanta crítica dirigida ao filho que rosna e grita bem alto:

MÃE LOBA – Cáááááááááááááááállllllllleeeeeeeeeeemmmmm-seeeee…! (p.c) Suas pestes!

        Todos estremecem e olham para ela assustados. Os lobitos escondem-se a tremer, atrás do sofá, e vai espreitando.

PAI LOBO (surpreso) – Mas…como é que ousas gritar desta maneira na minha frente?! Eu sou teu marido! 

MÃE LOBA (grita) – Dizes mais uma palavra e eu não me responsabilizo pelos meus actos…! (p.c) Agora quem vai falar sou eu! E tu, nem te atrevas a abrir mais a boca…porque se te ouço mais uma vez…arranco-te essa língua…só para começar…! (p.c) Tens noção do que disseste, e do exemplo que estás a dar aos teus filhos…?! (p.c) Com certeza não tens…mas quando te calares, e quando olhares para a tua cabeça…pensares no que disseste, vais perceber…! (p.c) Lá porque és homem achas que já podes dizer tudo o que queres, e humilhar os teus filhos, e a mim…?! (p.c) Quem és tu para me dar ordens ou instruções de como eu tenho que falar? (p.c) Quem és tu para falar de respeito? (p.c) Só eu, que sou tua mulher, é que tenho que te respeitar? (p.c) E tu, a mim, não tens que me respeitar…? (p.c) Que raio de respeito é que tiveste ao dizeres que o filho não é teu…e que ele é uma vergonha, ou um fracasso…? Humm…? (p.c) Isso é maneira de o incentivar…? (p.c) Desclassifica-lo o quanto mais pode, como queres que ele evolua…? (p.c) Tu já nasceste ensinado, a saber caçar?

PAI LOBO (assustado e com o orgulho ferido, mais calmo) – Não nasci ensinado, mas aprendi rapidinho, que remédio, tive que me desunhar…mas garanto-te que não me punha com peninhas das presas…como esse!

MÃE LOBA – Devias ter vergonha!

PAI LOBA – Eu tinha vergonha era se fosse como esse.

MÃE LOBA (grita) – Esse, é teu filho! Quer tu queiras, quer não!

PAI LOBO – Ele que continue a ser um idiota e a ter pena das presas…bem que morre à fome!

MÃE LOBA – Não enquanto eu estiver por perto. (p.c) E ai de algum de vocês que seja contra ou que faça qualquer coisa contra… (p.c) se tal acontecer, vocês vão ver uma loba que nunca conheceram, e é melhor que não a conheçam.

LOBINHA 1 (baixinho) – A mamã está má!

LOBINHA 2 (baixinho) – Coitadinho do papá!

LOBINHO 1 (baixinho) – Nunca vi assim a mamã…até tenho medo!

LOBINHAS (baixinho) – Eu também!

PAI LOBO – Tu deves é picá-lo para ele acordar e deixar de ser maricas.

MÃE LOBA (grita) – Deixa-o comigo!

PAI LOBO – Duvido que consigas fazer alguma coisa desse atrasado!

MÃE LOBA (zangada) – Tu ainda vais engolir um sapo. Ai de ti que eu te ouça mais alguma vez a humilhar o nosso filho…!

PAI LOBO (orgulhoso) – Meninos…vamos até lá fora! Não me quero chatear mais. Os lobinhos passam a correr ainda assustados. O Lobo está destroçado, o pai vai brincar com os outros pequenos para o quintal. O Lobo fica com a mãe, muito triste, e ela está a arrumar a cozinha.

LOBO – Mamã…o papá não gosta de mim, pois não?

MÃE LOBA – Gosta sim, filho! Muito. Porque é que não havia de gostar…? (p.c) Já viste algum pai não gostar dos filhos?

LOBO – Mas…o meu não gosta! Ouviste o que ele disse de mim? Ele tem vergonha de mim! Diz que sou um maricas.

MÃE LOBA – E achas que isso é verdade…? Ele só disse isso da boca para fora. Com a cabeça quente, mas é claro que ele não razão.

LOBO – Sim…se calhar tem razão! Eu devia ter sido capaz de caçar…mas…tive pena do coelho…! (p.c) Isso não é comum nos lobos, pois não?

MÃE LOBA – E porque não filho? (p.c) Todos nós…lobos…temos o nosso lado sensível. Por sermos lobos, e por termos de caçar, não quer dizer que ataquemos todos os animais que nos passam pela frente, só porque temos fome. (p.c) Temos fome, somos caçadores, mas também temos as nossas preferências de carne, e as nossas afinidades. (p.c) Tu és um bom lobo! (p.c) Estás a fazer como eu também fiz no inicio, muitas vezes…tive pena de muitas presas, de quem hoje sou amiga…mas isso foi só no inicio. Em breve vais habituar-te!

LOBO (surpreso) – A sério? Também tiveste pena das tuas presas…? Aquele coelho que eu prendi…era pai…e acho que isso mexeu comigo… (p.c) ele pediu-me para não o comer…a história dele…não me deixou atacá-lo…porque se eu fosse pai…ou se fosse pequenino também não queria ficar sem pai…ou sem os meus filhos.

MÃE LOBA – Claro filho…o teu pai também teve os seus momentos de fraqueza…no inicio todos temos, mas aprendemos com isso!

LOBO – Mas…tu não ficavas envergonhada por não conseguir?

MÃE LOBA – Sim, claro que sim, mas os teus avós compreendiam-me, e nunca me humilharam! Sempre tiveram paciência comigo.

LOBO – Como é que tu deixaste de ter vergonha?

MÃE LOBA – Depois, à medida que eu fui crescendo, habituei-me a caçar…e contigo também vai acontecer isso! (p.c) Não dês ouvidos ao que o teu pai disse! (p.c) Ele a mim também diz coisas que me ofendem, mas eu já não lhe dou importância…sou mais forte, e mais valiosa que as humilhações dele. (p.c) O teu pai já se esqueceu que também foi criança…!

LOBO – Mas os manos conseguem caçar! Porque é que eu não consigo?

MÃE LOBA – Não tens nada que te comparar com os teus manos. São todos diferentes, mas todos são meus filhos, e amo todos por igual! Eu e o teu pai também somos diferentes um do outro, em gostos e em muitas outras coisas.

LOBO – Mas acho que o papá ficou mesmo chateado comigo…ainda bem que ao menos tu, mamã, deste-me de comer, mesmo contra as ordens do papá!

MÃE LOBA (a rir) – Claro filho! Não faltava mais nada, eu obedecer a tudo o que o vosso pai manda…! Somos casados, mas não temos que nos submeter um ao outro, em tudo! Nem ele manda em mim, nem eu nele…! Completamo-nos, respeitamo-nos…quase sempre (sorri) pelo menos o teu pai nem sempre me respeita, mas somos adultos, sabemos lidar com isso. Eu também nem sempre o respeito, porque há coisas que não concordo, por isso não cedo aos comentários e reclamações dele! Mas nunca nos tratamos mal. Discutimos, mas tudo se resolve!

LOBO – Vocês adultos são estranhos! (p.c) Mas é mau ser sensível, não é mamã?

MÃE LOBA (sorri) – Não é bom, nem mau…é só a tua maneira de ser…como a minha! (p.c) Claro que podemos ter algumas desvantagens em sermos sensíveis e bons…mas devemos respeitar essa característica e aceitá-la. (p.c) É bonito sermos bons e sensíveis! (p.c) Eu tenho muito orgulho em ti. (p.c) Daqui para a frente, passas a vir comigo caçar, está bem?

LOBO (sorri) – Está bem! Obrigada, mamã. Mas eu não quero que tu e o papá fiquem zangados um com o outro, por minha causa!

MÃE LOBA – E quem disse que estamos chateados…e logo por tua causa! Nem penses numa coisa dessas! Daqui a pouco arrefecemos as cabeças e está tudo bem!

        Sorriem, abraçam-se, trocam uns carinhos, a mãe cura as feridas do lobo, e nos dias seguintes, o lobo vai para a caça com a mãe. A mãe ensina-lhe truques pacientemente.
Alguns animais, ele não consegue caçar porque fica com pena deles, e a mãe nunca o recrimina por isso. Pouco tempo depois, o lobo torna-se num caçador autónomo, sedutor, vaidoso, orgulhoso e todos ficam felizes com a evolução dele.

PAI LOBO (sorri) – Estou muito orgulhoso de ti, filho! Cresceste e estás um verdadeiro caçador…um lobo autêntico!

MÃE LOBA (sorri) – Eu disse que ainda ias engolir o que disseste sobre o nosso filho!

        Graças aos elogios, paciência, o amor e os incentivos da mãe, o Lobo cresceu, tornou-se mais autoconfiante e autónomo, surpreendendo toda a restante família que o humilhou e não acreditava nele.
                                 
                                  FIM! 
                                Lálá 
                             14/Janeiro/2011



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