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quinta-feira, 24 de março de 2016

o violinista e a arara


        Era uma vez um rapaz jovem, chamado Hugo, simpático, estudante, que tocava violino para ganhar alguns trocos e ter dinheiro para a sua independência.
   Numa tarde cinzenta, fria, sem sol, ameaçava chover a qualquer altura, lá estava o Hugo. 
     Quem o ouvia nas ruas por onde passava, batia palmas, ficava deliciado e era embalado pelas melodias fantásticas que o rapaz tocava, tão docemente, tão suave. 
        Deixava muitas raparigas a suspirar e a sonhar alto. Havia muitos casais que até dançavam ao som das melodias e deixavam sempre umas moedinhas.
         Ele ia passar numa rua e estava uma senhora velhinha, triste à janela. Hugo teve pena dela e tocou-lhe uma melodia. A senhora abriu um grande sorriso e disse feliz:
- Ai, meu querido…que bom que voltaste…luz dos meus dias…! Fizeste-me tanta falta…
         Hugo sorri, vaidoso e derretido e responde:
- Obrigada, avozinha…com todo o respeito…! Como tem passado?
         A senhora sorri e responde:
- Ai, meu filho, rejuvenesci agora mesmo uns anos! (p.c) A tua música faz-me sentir muito feliz, e sinto muito a tua falta quando não vens.
         Hugo sorri e responde:
- A sério? Não sabia que era assim tão importante para si…se não tinha vindo mais vezes.
         A senhora convida-o para entrar:
- Entra um bocadinho, querido filho…se puderes!
         Hugo sorri e responde intrigado:
- Está bem, eu entro. Já que faz tanta questão.
         Ele entra na casa da senhora, que abre a porta com um grande sorriso, e diz:
- Entra filho.
         Hugo entra.
- Com licença.
         A senhora feliz manda-o sentar.
- Senta-te aqui. Vou preparar um chá para ti.
         Hugo sorri e responde.
- Não se preocupe. Eu estou bem.
         A senhora faz questão, e responde a sorrir.
- Eu faço questão! Vou buscar.
         Hugo está um pouco acanhado e responde.
- Não se incomode. Quer ajuda?
         A senhora recusa.
- Não, filho, obrigada. Sabes, eu sempre gostei de te ouvir a tocar, e ouvi-te desde o início…mas de repente não te ouvia já há uns tempos e ia para a janela, à espera que viesses…não aparecias…comecei a ficar muito triste! Não estiveste doente pois não?
         Hugo responde.
- Não, não. Está tudo bem comigo, eu é que não vinha aqui há uns dias porque fui tocar para outras ruas…aqui já não estava a ser muito bom.
         A senhora respira de alívio.
- Áh…está bem. Mas eu senti a tua falta.
         Hugo sorri e pergunta.
- Mas porque é que gosta da minha música?
         A senhora responde.
- Porque tu transmites coisas muito bonitas no que tocas. Sabes, eu estudei música há muitos anos, e ainda toco qualquer coisa de vez em quando…agora não como eu queria, porque os meus ossos e os meus olhos já não ajudam muito…sinto ainda muitas vezes a música que tocava no meu coração. E quando te ouvia a tocar, todo o meu ser vibrava…sentia-se muito feliz, jovem…
         Hugo está deliciado a ouvir a senhora e responde.
- A sério? A senhora tem muita sensibilidade para a música…com certeza a música era uma paixão para si…
         A senhora interrompe o rapaz.
- Ai, filho, trata-me por Avó, por favor. Não gosto do termo senhora. (p.c) Sim, a música sempre foi a minha paixão…e ainda é. Tal como é para ti.
         Hugo sorri e responde.
- Está bem, eu chamo-lhe Avó!
         A senhora fala novamente de si.
- Sempre que te ouvia tocar, não era só eu que ficava feliz! Todo o meu ser…a minha alma dançava e punha todo o meu corpo a dançar, até me esquecia dos ossos. A minha cara sorria tanto que as paredes da casa até ficavam com mais luz, a minha pele ficava sem rugas, a minha criança interior ficava tranquila…
         O Hugo sorri e responde.
- Que coisas tão bonitas que disse. A criança interior…é o seu neto…?
         A senhora ri com vontade e responde.
- Neto…? Não querido…eu tenho muitos netos, e amo-os, vem cá ver-me muitas vezes, mas a criança interior que estou a falar…sou eu mesma…quando era pequenina! Tu também tens uma criança interior viva…espero eu…apesar de seres um rapaz bonitão e formado…ai, se eu fosse mais nova…( Riem)
Ouve-se um bebé a chorar. A senhora diz.
- O chá já está pronto.
         Estão os dois na sala, sentados no sofá e ouve-se outra vez a chorar. Hugo diz. 
- Deixe-me servi-la Avozinha…!
         A senhora ri.
- Ai, que rapaz tão querido…cavalheiro…educado…! Já que queres…devia ser eu a servir a visita, mas se queres servir-me…
         Hugo serve a senhora, e ela aprecia-o deliciada. Ele pergunta.
- Quer açúcar? 
         A senhora responde.
- Sim, um bocadinho.
         O bebé continua a chorar desesperado. Hugo pergunta.
- Está um bebé a chorar…será…um dos seus netos?
         A senhora levanta-se, vai à janela e vê uma mãe adolescente com um ar muito triste, a pedir e com um bebé ao colo. É ele que está a chorar. De imediato, manda a rapariga entrar.
- Óh, rapariga, anda cá.
         A rapariga muito triste sobe o lance de escadas, a Senhora abre a porta, olha para o bebé e para ela, e diz.
- Mas o que venha a ser isto…? Uma rapariga tão nova que devia estar na escola, com bonecos ao colo e está com um bebé…? É teu filho?
         A rapariga assustada responde.
- Sim,…é meu filho. (p.c) Não me vai denunciar pois não?
         A senhora responde.
- Não. Entra.
         A rapariga pergunta envergonhada.
- Desculpe, minha senhora…mas por acaso não tem aí um bocadinho de leite para o meu bebé?
         A senhora responde.
- Claro que tenho, filha. Senta-te aí. Vou trazer alguma coisa para ti, também.
         A rapariga diz.
- Desculpe…eu não queria incomodá-la.
         A senhora sorri.
- Ora essa, rapariga. Senta-te.
         Enquanto a boa senhora aquece o leite para o bebé, e aquece sopa para a mãe do bebé, Hugo toca uma melodia para o bebé, que fica calminho. A senhora e a rapariga sorriem, ouvem deliciadas e o bebé fica sossegado. As duas batem palmas.
         A rapariga pergunta.
- Que bem que tocas…essa música é lindíssima! És filho da senhora?
         Hugo agradece e responde.
- Obrigada. Não, não sou filho da senhora.
         A senhora responde.
- Bem que podia ser…até meu neto…! Sou uma fã deste rapaz. Come à vontade, que eu dou o leite ao teu filho.
         A rapariga, sorri e responde.
- Ai, que vergonha! Não queria incomodá-la.
         A senhora pega no bebé, deliciada e com muito carinho.
- Ai que coisa linda…tão querido. Não te preocupes, eu tenho muita prática com bebés…fui mãe de oito filhos e sou avó de doze netos. Ainda todos pequenotes. Cuidei deles todos. Fala-me de ti…que idade tens?
         A rapariga responde.
- 14 anos.
         Hugo fica surpreso. A senhora responde.
- Ai, valha-nos todos os santos…e são poucos…
         A rapariga responde.
- São coisas que acontecem.
         A senhora responde, enquanto dá o leite ao pequenino.
- Não sei onde é que estes jovens tem as cabeças.
         A rapariga acrescenta.
- Mas…amo muito o meu filho. Ele é tudo para mim. (p.c) Os avós dele não querem saber dele…nem de mim…foi uma Instituição que tomou conta de mim. Entretanto conheci um rapaz…encantamo-nos um pelo outro e…pronto…mas ele também não tem dinheiro para sustentar.
         A senhora pergunta.
- Tu trabalhas?
         A rapariga responde.
- Trabalhei algum tempo, até ele nascer…agora estou à procura de outro emprego, mas até agora nada…a senhora por acaso não sabe de nada? Eu faço qualquer coisa.
         A senhora responde.
- Olha, se quiseres trabalhar para mim, e para mais outras amigas minhas, já arranjas emprego hoje. Fazes-me companhia, eu pago-te, dou-te um quarto, comida, roupa…e tomo conta do teu menino…o que precisares. Que dizes? Estás disposta?
         A rapariga fica surpresa, abre um grande sorriso, com lágrimas nos olhos, e responde.
- Mas…é claro que aceito já! Nem sei como lhe agradecer! (p.c) Até estou sem jeito…! (p.c) Assim, saio já da Instituição. É que logo que conseguisse emprego, saia da Instituição. Vou só lá informar que já tenho emprego e buscar as minhas coisas.
         O Hugo fica feliz, e sorridente. A senhora sorri e responde.
- Se a Instituição precisar de alguma coisa, diz.
         A rapariga sorri e pergunta.
- Posso dar-lhe um abraço e um beijinho?
         A senhora responde sorridente.
- Óh minha querida…quantos quiseres. Isso nem se pergunta. Hugo, pega aqui no menino, se faz favor.
         O Hugo pega no bebé ao colo, carinhoso, a sorri. A senhora e a rapariga abraçam-se e a rapariga dá vários beijos à senhora. A senhora sorri e retribui. Hugo diz comovido, com um grande sorriso.
- A Avozinha tem um enorme coração…lindo…maravilhoso…vê se tratas bem este ser maravilhoso!
         A rapariga sorri, e responde.
- Podes ter a certeza absoluta que vou cuidar muito bem desta Avó. Posso chamar-lhe assim não posso?
         A senhora ri-se.
- Claro que sim, minha filha.
         A rapariga acrescenta.
- Acho que a minha vida toda vai ser pouca para lhe agradecer tudo o que está a fazer por mim.
         A senhora ri-se e diz.
- Ora, pára com isso rapariga. Queres mais alguma coisa? Eu estava a beber chá com este meu neto adoptivo.
         Todos riem. A rapariga pega no bebé ao colo, a Senhora prepara mais comida e os três conversam alegremente, Hugo toca mais algumas músicas, aplaudem, o bebé adormece e o Hugo volta feliz para a rua, com a promessa de voltar no mesmo dia, ou no dia seguinte para fazer a senhora feliz. A senhora Avó dá dinheiro ao rapaz. A rapariga fica na casa da senhora e é uma excelente ajudante, amorosa e simpática. Hugo toca tão bem que pelas ruas por onde passa toda a gente lhe dá dinheiro, aplaude a aprecia a sua música. Ele agradece sempre com um sorriso, uma vénia e um obrigado. Como está muito feliz e deliciado com o que viveu nessa tarde, toca mais e músicas mais bonitas.
         Chega a um jardim da cidade, senta-se um pouco no banco, apoiado no violino a descansar. Olha em volta para se inspirar. Por cima dele sobrevoa uma arara, linda, grande, com penas coloridas. A arara observa-o, suspira e comenta.
- Ai, adoro aquele instrumento…! Deixa-me a voar…quer dizer…isso já faço…mas…é um voar diferente…faz-me…faz-me…sei lá…muito feliz…acho que esse o termo…(p.c) Éh lá…temos gente nova…boa! Faz bem falta.
         Ela sobrevoa mais um pouco sempre de olho no violinista, e murmura.
- Aquele instrumento hipnotiza-me…! Ai, ai, ai…não resisto. Vou-lhe dar as boas vindas. Até já estou cheia de calor…até fico com as penas levantadas…Uuuuiii…que brasa…
         Ela pousa no cimo do violino sorridente e olha para o Hugo, sorri-lhe e diz, sedutora.
- Olá bonitão…esse acessório fica-te mesmo bem…assenta-te que nem uma luva.
         Hugo olha sério para a arara e resmunga.
- Um pássaro pousado no meu violino…!
         A arara resmunga com ele.
- Que bruto! Isso são maneiras de tratar uma senhora? É assim que tratas as senhoras? Deves fazer muito sucesso entre elas…deves…a falar dessa maneira! (p.c) Eu não sou um pássaro qualquer.
         Hugo responde-lhe agressivo.
- Para mim não passas de um pássaro como outro qualquer. Agora põe-te a andar…xôôôôôôô…basa…vais dar cabo dele com essas garras de dois quilómetros.
         A arara responde-lhe á letra e resmunga-lhe.
- Óh bronco…parolo…vê lá como falas comigo, e se queres que te espete as minhas lindas garrinhas. (p.c) Qual é o mal eu estar pousada no teu violino? Todos os dias param aqui montes de violinistas e deixam-me pousar no violino deles…e muito bem…não lhes como nenhum pedaço. (p.c) Eu vim dar-te as boas vindas e tu agora tratas-me assim…(p.c) porque é que os mais bonitos possuem toneladas de estupidez?  (p.c) bem…pode ser que seja uma compensação.
         Hugo responde brusco.
- Ei…agora ofendeste-me…
         A arara responde chateada.
- Ui, coitadinho, que pena que tenho de ti…
         Hugo responde.
- Tens muitas penas tens…não precisas de mas dar.
         A arara responde.
- Antes ter penas, do que ter essa porcaria pelo corpo todo…pelos…ou cabelos…onde já se viu…
         Hugo responde.
- Lá porque os outros te tratam bem, eu não tenho que fazer o mesmo. Não quero que pouses no meu violino e ponto final. (grita-lhe) Sai. Preciso de me concentrar.
         A arara recusa-se a sair.
- Não saio.
         Hugo tenta bater-lhe mas ela levanta voo e grita com as garras espetadas e viradas para Hugo.
- Estás a pedi-las…! Vais – te arrepender. Ninguém te mandou ter um instrumento tão sedutor. Besta.
         Hugo resmunga.
- Ai de ti que tenhas arranhado o meu instrumento.
         A arara fica triste, fica pousada no chão, cabisbaixa e murcha, enrolada sobre as suas penas. Hugo começa a tocar, a arara ignora-o mas mete-se dentro de um tronco da árvore. Sacode as penas, e começa a dançar energicamente ao som da música, sorridente. Hugo pergunta.
- Gostaste desta música?
         A arara não lhe responde, volta a enrolar-se sobre si mesma, dentro do tronco da árvore, e diz baixinho.
- Sim, é uma música muito bonita…como tu…mas não mereces ouvir este elogio.
         Hugo estranha o silêncio, põe-se de joelhos e espreita para a árvore. A arara não se mexe. Hugo pergunta novamente.
- Ei…gostaste desta música?
         Ele não obtém resposta, e questiona-se.
- Mas…estará a dormir, ou…doente?
         Ele toca-lhe nas penas, ela dá-lhe uma bicada na mão. Ele grita e tenta bater-lhe, mas ela dá-lhe outra bicada e tenta arranhá-la. Ele afasta-se agarrado à mão e a gemer, ela voa por cima dele, transforma-se numa bela rapariga de longos cabelos escuros, e penas azuis na roupa, olha para ele zangada, dá-lhe umas fustigadas com as penas e grita. Ele cospe as penas e ela grita.
- Mesmo que tivesse gostado da tua música nunca te direi que gostei. Tu não mereces. Tu merecias era que eu te furasse todo com as minhas garras, o meu bico e mais que fosse, que tivesse para te magoar…seu convencido, arrogante…! Não és um verdadeiro artista…não tocas por amor à música e ao instrumento musical que é tão especial…! Não tens qualquer sensibilidade nem para música nem para conquistar mulheres. 
         Ele fica estarrecido de susto. Ouve calado, e responde.
- Quem és tu?
         A arara (rapariga) responde-lhe zangada.
- Sou aquela arara que tu chutaste…a quem querias bater…que pousou em cima do teu violino.
         Hugo surpreso responde.
- Devo estar a delirar. Eu vi uma arara…não uma  rapariga.
         A arara responde.
- Não deixaste pousar no teu violino, eu também não deixei que me magoasses outra vez.
         Hugo ainda não acredita e diz.
- Foi um dia de muitas emoções…isto é consequência disso…estou a delirar. (p.c) Como é que eu agora vou tocar…magoaste-me.
         A arara responde-lhe fria.
- Arranja-te. Ninguém te mandou provocar-me. Se há mulheres que aceitam, eu não…e tenho a certeza que há muitas que não aceitam.
         Hugo pede-lhe ajuda.
- Desculpa…eu admito que não fui muito simpático contigo. Mas por favor, ajuda-me…eu preciso de ganhar dinheiro.
         A arara pergunta.
- E o que é que eu tenho a haver com isso? Não fui eu que to roubei…
         Hugo responde.
- Eu sei que não foste tu que mo roubaste, mas ferido não consigo tocar…!
         A arara responde.
- São mesmo fracos…nós temos de aguentar todas as dores, e vocês…umas porcariazinhas de uns arranhões já é o fim do mundo em cuecas…não se podem mexer mais. Francamente. Tem vergonha nessa cara…!
         Hugo volta a insistir.
- Vá lá…ajuda-me.
         A arara responde.
- Não achas que já estás a pedir de mais…depois da maneira como me trataste?
         Hugo responde desesperado.
- Eu já te pedi desculpa…
         A arara ri-se e responde.
- E pedir desculpa adianta alguma coisa?
         Hugo responde.
- Podia adiantar.
         A arara responde.
- Esquece. Quando te queria ajudar tu mandaste-me embora.
         Hugo pergunta.
- Mas…tu ofereceste-me ajuda? Ias estepurar o meu instrumento todo…chamas a isso ajuda?
         A arara suspira.
- Ai, que calhau com olhos…valha-me os santos todos…tanta ignorância…não vêem mesmo nada, a não ser o corpo da mulher…! Que limitação!
         Hugo não está a perceber.
- O que é que tem uma coisa a haver com a outra?
         A arara responde.
- É preciso dizer-vos tudo…!
         Hugo pede outra vez ajuda.
- Bem, não sei do que estás a falar…só te peço ajuda.
         A arara responde.
- Tu queres…usar-me para atrair as pessoas que passam para te dar dinheiro, acertei?
         Hugo fica embasbacado.
- Não é bem…usar-te…mas…tu és tão bonita que podias estar presente enquanto eu toco, dançar…
         A arara ri-se.
- Eu sabia. (p.c) Não contes comigo para isso. Tu é que tens que ser o centro das atenções.
         Hugo põe-se de joelhos e implora á Arara, agarra-se às pernas de arara.
- Vá lá, minha beleza rara…eu faço tudo o que tu quiseres…mas ajuda-me!
         A arara ri-se e grita.
- Não. Desenrasca-te! Toca e faz o que entenderes…sem mim.
         Hugo chora, a arara ri-se. Hugo pede.
- Ao menos trata-me esta mão.
         A arara ri-se outra vez e desvia-se. Transforma-se outra vez em arara e mete-se no tronco da árvore. Hugo toca, cheio de dores, e começam a aproximar-se pessoas, que ficam deliciadas a ouvir, aplaudem e dão dinheiro, e seguem. A arara espreita, sorri e diz-lhe.
- Viste…não precisaste de mim para nada.
         Hugo põe-se de joelhos e implora outra vez.
- Por favor, ajuda-me. Eu preciso de ti.
         A arara responde.
- Não. Tu consegues tudo sem mim.
         Hugo volta a tocar chateado, a arara estava distraída, e tão envolvida na música, que saiu do tronco, transformou-se em rapariga e começou a dançar sensualmente ao som da música, a fazer habilidades com um efeito visual deslumbrante. Hugo nem quer acreditar, e as pessoas que passam dão mais dinheiro, batem muitas palmas, parece que ficam hipnotizadas com a beleza da música e principalmente da rapariga arara, tiram fotografias, ela dança com as pessoas da plateia, sorriem…e Hugo está feliz, mesmo magoado na mão. As pessoas seguem caminho, e Hugo diz.
- Uau, tu és maravilhosa…! Danças tão bem, tão bonito…
         A arara agradece e acrescenta.
- Obrigada. Mas não penses que fiz isto por ti…para te ajudar…foi simplesmente porque não resisti ao som desse instrumento mágico, e amo dançar…!
         Hugo sorri,
- Sim, ok…seja o que for…muito obrigada. Graças a ti, recebi muito mais dinheiro…estás contratada…! Sempre que quiseres participar estás à vontade! És tão bonita, que ninguém consegue passar indiferente a ti…e é justo que se te derem dinheiro, aceites. Aliás, até de vou dar metade do que recebi.
         A arara sorri.
- Não…fica com ele todo para ti. Tu é que precisas. O dinheiro que me deres nunca vai pagar todo o amor que tenho pela dança.
         Hugo sorri e responde.
- Sim, isso dá para ver. Por favor trabalha comigo…perdoa-me se te magoei,,,acho que podemos ser amigos, e felizes por partilhar o amor pela música e pela dança…o que te parece?
         A arara responde.
- Bem, depende da amizade…se for verdadeira…está o negócio fechado. Sabes o que quero dizer com isso não sabes?
         Hugo sorri e responde.
- Sim, claro que sei. Podes ter a certeza que terás a minha amizade verdadeira…trabalhas comigo? É que é um regalo ver-te dançar. Amigos?
         A arara responde.
- Espero que saibas muito bem e que faças justiça a esse nome tão bonito…Amizade!
         Hugo responde.
- Fica descansada…!
         A arara acrescenta.
- Desculpa ter-te magoado há bocado…e obrigada por esta oportunidade, de fazer o que mais amo e que me deixa tão feliz!
         Hugo sorri e responde.
- Não te preocupes…eu percebi que ficaste triste comigo e com razão…não fui muito simpático contigo. (p.c) Vamos ao trabalho?
         A arara responde.
- Com todo o gosto.
         E assim nasce uma verdadeira e linda amizade, que apesar de não ter começado da melhor maneira, ambos acabaram por se entender e porque partilhavam a mesma paixão. Além disto, passaram a trabalhar juntos, o Hugo juntou o triplo do dinheiro com a presença da arara em forma de rapariga. Todos os dias passou pela rua da Avozinha e apresentou a sua amiga. Todos se deram tão bem que eram quase uma família, e entre a arara e o Hugo nasceu um grande amor, forte, puro, sincero…de respeito, e tiveram 4 lindos filhos, gémeos dois a dois. A arara e o Hugo foram padrinhos do bebé da mãe adolescente, que estava na casa da Avozinha. Hugo acabou o curso e arranjou trabalho, e ainda conseguiu ajudar a sua família biológica, dando-lhes o dinheiro que juntava dos espectáculos de violino, que fizeram os dois, todos os dias. Um dos segredos para uma boa relação é a existência da amizade e do respeito um pelo outro…partilhar paixões comuns e, ou, diferentes…e fazer com que haja felicidade.

                                               Fim!
                                               Lálá 
                                      (25/Maio/2011)



        



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